É bastante didática a comparação de como o diário paulista dos Campos Elíseos aborda a questão das mulheres no governo Dilma Rousseff com, por exemplo, o texto de um jornal internacional do nível do El País, da Espanha.
Em editorial de terça-feira, 14 de junho (aqui – para assinantes), a Folha de S. Paulo diz o seguinte sobre a nova ministra Ideli Salvatti, em editorial intitulado “A escolha de Ideli”:
“A nomeação da senadora Ideli Salvatti, alçada do obscuro Ministério da Pesca para a até agora irrelevante pasta das Relações Institucionais, parece ter levado em consideração sua disposição inabalável, e muitas vezes beligerante, na defesa de aliados.
"Da linha de frente governista na batalha do mensalão, no auge do escândalo, ao apoio aos peemedebistas Renan Calheiros e José Sarney, a senadora sempre primou por combater ao lado do Planalto”, ataca o jornal da família Frias.
Mais para torcedor do desastre político do governo e fomentador de intrigas, o jornal dispara: “Embora Ideli seja credora da sigla do vice-presidente, Michel Temer, sua propensão para o confronto pode abrir novas frentes de atrito”.
Já o El País, de importância reconhecida na Europa, diz em sua edição online desta quarta-feira, 15, em matéria (íntegra aqui) assinada por Juan Arias:
“Chegou a hora da mulher no poder político no Brasil? ‘De repente, apesar de sua fama de machista, o Brasil desperta governado por mulheres’, escreveu ontem o famoso escritor [Carlos] Heitor Cony [curiosamente, na própria Folha – nota do blog]. Se refere à iniciativa recente da presidente Dilma Rousseff com a criação de um triunvirato de mulheres para governar o gigante sul-americano após a demissão do chefe de gabinete e ex-ministro da Fazenda estrela da era Lula, Antonio Palocci”.
O jornal europeu acrescenta: “Os três cargos mais importantes do Executivo estão com três mulheres: a própria presidente Dilma Rousseff; a nova ministra-chefe da Casa Civil, a senadora Gleisi Hoffmann; e a nova ministra de Relações Institucionais, a ex-senadora e ex-ministra da Pesca, Ideli Salvatti. Esta é responsável pelo sempre difícil entendimento entre a presidência, os dez partidos aliados do governo e o Congresso”.
Depois de analisar a conjuntura política e afirmar que a estratégia (por trás de demissão de Palocci e as novas nomeações) “revela maior autonomia de Rousseff em relação a Lula”, o El País diz que a cartada de Dilma representa uma “incógnita e uma aposta arriscada que poderá consolidar ou minar sua liderança política”, e conclui: “A grande polarização de grupos e líderes tem forçado aos sucessivos governos a forjar pactos e distribuir cargos e regalias para tornar possível a governabilidade. E o triunvirato não parece muito disposto a seguir esta tradição”.
A ministra que, para a Folha, "parece ter ciência das limitações com que assume", para o El País está num dos "três cargos mais importantes do Executivo".
Fica com o leitor a tarefa de comparar a rala e provinciana análise política do jornal paulista com a do diário espanhol. Eu vou me concentrar para assistir à final da Libertadores, daqui a pouco.
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