sexta-feira, 10 de fevereiro de 2012

Pensamento para sexta-feira [número 25] – Eu e os insetos (fatos reais!)

CRÔNICA DE VERÃO



Foto: Gabriel Maretti (clique em qualquer foto para ampliar)
Imagine uma dessa esvoaçando no seu pescoço

Moro num bairro (Butantã, em São Paulo) onde ainda há muita vegetação. Por aqui, até sapo se ouve à noite. Isso é muito bom, viva a natureza! Mas no verão os inconvenientes não são poucos. O calor literalmente infernal como o dos últimos dias em São Paulo nos faz prisioneiros de uma modorra invencível, incômoda. A menos que eu esteja à beira da praia desfrutando de uma boa cerveja gelada, o calor verdadeiramente me irrita.

E freqüentes episódios com insetos que resolvem me atacar sem mais nem menos estão me dando cada vez mais saudades do inverno. Por que insetos me atacam, sempre traiçoeiramente, à noite? Ora, porque está muito quente, as janelas ficam abertas, algumas luzes acesas, e então eles vêm. Não sou entomologista, mas essa explicação é fácil.

Umas semanas atrás estava eu falando de política ao telefone com uma amiga. Senti um pequeno arranhão nas costas, logo acima da nádega direita, mas não liguei, até que, instantes antes de levar a mão para coçar, o negócio já estava me arranhando de fato, forte... Assustado, bati a mão no local atacado e saiu voando um besouro, que ainda veio pra cima de mim, voando. Ele estava tentando me devorar, suponho. Maldito! A natureza é satânica também, como defendia Baudelaire. Aquele besouro me deu arrepios.

Foto: Eduardo Maretti
Esse besouro gosta de carne de camarão e humana

E eu, que sou um radical defensor da natureza, que canso de devolver as criaturas que invadem meu lar pela janela para voltarem para seu lugar, que nunca matei um passarinho sequer (nem com estilingue, nem espingardinha de pressão) eu não tive piedade de esguichar nesse besouro uma dose mais do que letal de Baygon. Incrível a força daquelas garras, minhas costas ficaram com um vergão vermelho que levou três dias para desaparecer. O besouro era igual (mas maior) a esse aí da foto acima, que uns três verões atrás pousou no prato do meu último e suculento camarão! O da foto teve melhor sorte, não me lembro de tê-lo matado, apesar da afronta de pousar sobre meu camarão.

À noite, sempre à noite, outro episódio, esse no verão passado, se deu com um inseto estranho. Eu não o conhecia. Ele parece uma pequena mariposa noturna. Quando o tal pousou na porta do armário embutido, cheguei perto para ver, e ele tinha antenas nervosas, parecendo mais uma vespa disfarçada de mariposa. Me dei mal quando meu espírito de protetor da natureza resolveu agir. Oh céus. Fui pô-lo numa caixinha para jogá-lo pela janela, devolvê-lo à linda natureza, mas ele escapou e, aparentemente com raiva, veio para cima de mim. Dei-lhe um tapa com o jornal que virou minha arma, ele caiu mas retomou o ataque. E a cena, mais cômica do que dramática, depois de um embate, terminou com a vespa-borboleta desaparecendo. Passei um tempo com medo de que o bicho surgisse de alguma sombra e me atacasse, mas nunca mais o vi.

Foto: Eduardo Maretti
Essa aí é uma mariposa vaidosa, pousada no espelho
O inseto esquisito voltou a me visitar neste verão de 2012. Desta vez esguichei-lhe álcool, e o bicho demorou muito, vários minutos, a se render. Joguei-o pela janela, não sei se sobreviveu.

E as mariposas que entram feito baratas tontas nessas noites de verão, procurando a lâmpada que para elas é o sol? Algumas são escuras e enormes. O pior é quando entram e você não vê. De repente, está você alegre e feliz com sua cervejinha e dá de cara com aquele monstro que parece um morcego. Já dei de cara com essas mariposas-morcego e o susto foi tal que, por um instante, pensei estar sendo visitado pelo conde Drácula em um de seus disfarces insidiosos. Recentemente, na semana passada, uma das não muito grandes entrou pela janela e veio direto ao meu pescoço. Éramos dois, eu ela, a nos debater apavorados. Meu deus, que susto, de novo. Meu impulso foi matá-la, mas fiquei com dó, e para sua sorte ela pousou na janela e foi fácil empurrá-la para fora.

Foto: Carmem Machado
O inseto cuida da sua prole (credo)
Já faz uma semana que não sofro ataques. Isso me preocupa, pois quanto mais o tempo passa, mais parece iminente uma nova investida. Talvez de um besouro, de uma vespa noturna, uma mariposa gigante, um enxame de filhotes (deve ser terrível!) como os da foto acima, ou sabe-se lá qual criatura dessa vez.

7 comentários:

Mayra disse...

Lendo assim, de longe, é tudo muito engraçado e tal, mas quando a gente passa por uma dessas, é só terror! Foi o que aconteceu comigo ontem: uma barata gigante entrou voando pela janela do meu quarto. Fiquei um tempão tentando mirar bem a danada pra dar uma chinelada certeira, mas, claro, minha chinelada não foi certeira, e o monstro foi embora apavorado pro outro quarto. Depois de uma over de SBP, tranquei a porta e a janela e fiquei cozinhando, sem monstros pelo menos.

Cristina Marques disse...

É meu caro, realmente, na minha opinião, a maior inconveniência do verão são os insetos atacados que veem nos atacar. E o pior é que minha filha tem alergia de insetos, está até fazendo um tratamento com vacinas para melhorar um pouco. Não sou tão corajosa como você, quando me sinto ameaçada por um inseto, chamo o maridão...hahaha
E, se ele não estiver em casa, isolo o local do bichinho e espero ele chegar. Sei que é ridículo, até porque costumo lidar com Pit Bulls e Rot Wailers e não deveria ter medo de um insetinho, mas é real.

Eduardo Maretti disse...

Mas, Cristina, eu não sou corajoso, ou, quando sou, é uma mera questão de "ele ou eu"! Luto pela minha sobrevivência! Se você visse a batalha travada entre mim e o besouro ou entre mim e a tal vespa-mariposa, vc ia ver que de ridículo todos temos um pouco. Apareça sempre aqui no blog, Cris!

E, Mayra, se neste AP aqui aparecem insetos, pelo menos não tem baratas!! Isso já é maravilhoso! Moro aqui há três anos e meio e nunca entrou uma!!!, a não ser uma pequena.

Depois dos comentários de vocês procurei em São Google e descobri que o medo dos insetos se chama entomofobia (também conhecida como insetofobia), que pode assumir "uma forma de inquietude ou um ataque de pânico" - hehe. Tá aqui >>

http://pt.wikipedia.org/wiki/Entomofobia

Já o medo de baratas tem um nome específico: catsaridafobia. Credo. Deve ser um medo atávico, arquetípico. Na pré-história diz que existiam baratas gigantescas, já pensaram?

Outra coisa: SBP pode ser ineficaz contra baratas. O melhor veneno contra elas é álcool puro (92° GL). Se você acerta em cheio, ela morre em meio minuto. Experimente, é infalível (não precisa fogo, o que pode acarretar uma tragédia, só álcool basta!). Curioso é que outros insetos não são vulneráveis ao álcool.

Tem outra receita, que aprendi com Clarice Lispector para casas onde têm muitas baratas mas ficam escondidas. Você mistura açúcar e cal (ou cimento branco) e coloca nos cantos e lugares onde elas circulam. É incrível, funciona, pois "esturrica o de-dentro delas" (Clarice, no conto "A quinta história").

E assim caminha a humanidade.

Paulo M disse...

Insetos são mesmo horríveis. Não à toa a palavra serve como adjetivo pejorativo: "Seu inseto", rsrs.
Barata, então, está mais abaixo ainda da classificação em que se encontram os insetos. É um monstro miniaturizado que aterroriza nosso psicológico e nos coloca diante da mais pura sensação de medo, e sabemos, no fundo, que algo insignificante nos apavora. E por que algo insignificnate nos apavora? As baratas não devem ser de todo inúteis. Mas descobri (só mesmo um manguaça) que elas adoram cerveja. Beba uma cerva e deixe a lata no quarto durante a noite. Se no dia seguinte não tiver uma dentro da arapuca, é porque seu quarto não tem barata.

Muito boa a crônica do post. E abaixo os insetos, com a mais que merecida exceção das abelhas, tão essencial quanto a água pra sobrevivermos.

alexandre disse...

Mas é no verão que podemos estar mais ativos, já que os insetos nos obrigam e nos forçam a atitudes decisivas. São sorrateiros, invazivos e deliberados à disputa pelo mesmo espaço, à luz do dia ou da noite. E ainda nos dá a oportunidade de fotografá-los, como nesse post. Acrescento ainda; num dia de calor, havia uma pequena borboletinha pousada numa coberta. Notei em suas asas um desenho simétrico, que lembrava uma santa sentada com as mãos em louvor. Fotografei o objeto da minha imaginação, mas vi esse desenho nas asas de um insignificante unseto. Podemos então dizer que os insetos nos faz presente. Travamos batalhas e temos nojo e medo deles.
essa foto do bezouro e do camarão é surreal, edu, provavelmente vc não comeu o camarão, devia estar uma delícia!!

Marco disse...

Edú, posso te enviar uns milhões de insetos desde aquí de Brasília para te inspirar mais crônicas! Ri muito imaginando sua luta com os insetos, ah demais. O besouro que te arranhou!? É muito! Fiquei esperando quando ia sair um - insetos vagabundos! Bão demais.

Lí o livro do Arrabal, achei ótimo! Essa pergunta de como o Stalin se fez possível? A política, mais que os insetos, é uma coisa maldita e realmente satânica. Na política se tem que fazer, e fazer é muito diferente de pensar, de pensar fazer. No livro isso é claro quando diz que stalin ora estava apoiando uma política e no momento seguinte justamente o contrário. .... enfim o stalinismo é algo que sempre intriga.

Denise disse...

Edu: e quando uma linda baratona resolveu dividir aquele pão recheado, que vc ambicionava comer no meio de um fechamento? Ahh, gritos ecoaram do subsolo para o primeiro andar, do primeiro pro segundo, e o machão que estava no segundo dizia: "Já vou, já vou...". Pergunte pra Carminha.