Foto: Carmem Machado - Baía de Todos os Santos
O governo Juscelino Kubistchek é responsável por instituir no Brasil o reino das rodovias, reino que não floresceria sem a premissa da destruição de nossos patrimônios naturais. Não defendo que vivêssemos num país sem estradas e ruas de asfalto, mas a falta de planejamento, o desenvolvimento a qualquer custo e a burrice urbanística deram no caos de hoje, simbolizado pelas enchentes sem fim.
Foi Juscelino, em nome do progresso, impelido pelo capital da indústria automobilística, que sucateou até a destruição a malha ferroviária que deveria interligar as regiões deste país continental.
Em Salvador (BA), uma nova ideia de destruição é causa de um debate que já virou abaixo-assinado inspirado pelo escritor João Ubaldo Ribeiro (ao final deste post, o manifesto e o link para quem quiser assinar), com a participação de Chico Buarque, Luis Fernando Verissimo, Cacá Diegues, Milton Hatoum e outros. O governo do estado, capitaneado pelo petista Jacques Wagner, quer construir uma ponte de 13 km para ligar Salvador à cidade de Itaparica, sobre a infinitamente bela Baía de Todos os Santos. Seria uma boa maneira, por exemplo, de acabar com o trabalho dos barqueiros que levam os turistas da metrópole para a ilha (foto deste post). Mas quem se importa com eles quando estão em jogo bilhões? As maiores interessadas são as grandes construtoras. Quem mais? Isso é que é ser de esquerda.
A quem conhece Itaparica não precisa dizer nada, basta imaginar a degradação ambiental da maior ilha marítima brasileira. Um dos líderes e principais defensores do projeto no governo de "esquerda" de Jacques Wagner é o secretário de Infraestrutura do governo da Bahia, João Leão (PP), deputado federal licenciado e ex-afilhado do ex-senador Antonio Carlos Magalhães.
A ideia do secretário do petista Wagner, claro, é o progresso. No texto que inspirou o abaixo-assinado, diz João Ubaldo, que viveu em Itaparica, onde sempre passa as férias: "Conheço esse progresso. É o progresso que acabou com o comércio local; que extinguiu os saveiros que faziam cabotagem no Recôncavo; que ao fim dos saveiros juntou o desaparecimento dos marinheiros, dos carpinas, dos fabricantes de velas e toda a economia em torno deles; que vem transformando as cidades brasileiras, inclusive e marcadamente Salvador, em agregados modernosos de condomínios e shoppings acuados pela violência criminosa que se alastra por onde quer que estejamos enfurnados, ilhas das quais só se sai de automóvel, entre avenidas áridas e desertas de gente".
Os signatários dizem no documento que é "dever do governo do Estado da Bahia abrir um abrangente debate público sobre o projeto da Ponte Salvador-Itaparica".
Clique aqui para acessar o texto de João Ubaldo e o abaixo-assinado.
Um comentário:
Para progresso de verdade seria melhor construir uma ponte entre a riqueza de um dos maiores PIBs do Brasil, que acontece em São Francisco do Conde, e a população, das mais pobres, que reside na mesma dita cidade do Recôncavo Bahiano.
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