sexta-feira, 22 de outubro de 2010

Relatos sobre a truculência tucana [2] – Vila Madalena

Por Mayra Pinto

Fui à caminhada pró-Dilma no sábado, 16 de outubro, e passei por uma experiência que não via há tempos – na verdade, pela intensidade, acho que nunca vi. Andamos ali da Fradique Coutinho com a rua Wisard até a praça Benedito Calixto.

No trajeto, praticamente só as pessoas mais humildes recebiam os panfletos que eram dados e se comunicavam de um modo amistoso com o povo da caminhada. O resto, a classe média da Vila, simplesmente virava a cara com nojo – uma amiga chegou a ser chamada de assassina e vagabunda por uma mulher dentro de um carro...

Por um lado, essa polarização, acho, é bem benéfica, ainda mais em se tratando da classe média serrista, historicamente acovardada em se manifestar, ou hipócrita mesmo – como é o caso da mulher dele, que falou o que falou da Dilma e agora, porque deus existe às vezes, foi desmascarada na questão do aborto. O benéfico, pra mim, é que essas pessoas estão dando a cara à tapa, estão se mostrando com todo o enorme peso do preconceito de classes que vige neste país.

Com tudo o que a gente tem de crítica ao governo Lula, ainda assim, foi um governo que possibilitou alguma vida digna aos miseráveis e aos pobres. Pra classe média reacionária brasileira – como para a americana, vide a era Bush e agora o gigantesco ódio ao negro Obama – isso é imperdoável.

*Mayra Pinto é autora da tese de doutorado Noel Rosa: o humor na canção, pela Faculdade de Educação da USP, que será lançada em 2011 pela Ateliê Editorial.

PS (do autor do blog): A truculência tucana, como eu já disse, não é só física. A Vila Madalena, para quem não sabe, é um bairro de classe média e média alta na zona Oeste de São Paulo, repleto de bares, onde vão os que gostam de baladas com trânsito, stress, preços altíssimos e toda espécie de gente metida a importante, de burgueses elitistas e preconceituosos assumidos a pessoas de esquerda que preferem trânsito, stress e preços altíssimos a um bom botequim.

Leia também:
Relatos sobre a truculência tucana [1] – Osasco

3 comentários:

Felipe Cabañas da Silva disse...

Que existe um ódio de classe no Brasil eu não tenho a menor dúvida. Ele sempre existiu, mas era velado porque a massa pobre da base da pirâmide estava desmobilizada, alienada da participação e da consciência política, e portanto obediente e resignada.

Getúlio, que ganhou o apelido de "pai dos pobres", era originário da elite agrária do Rio Grande do Sul. Logo, Getúlio era popular por ser populista, tendo o povo como massa de manobra.

Embora Lula às vezes flerte com o populismo, é evidente que o feito absolutamente inédito na história do Brasil de um filho da miséria chegar ao poder tem efeitos na auto-estima do povo, em sua relação com a política e com o exercício da cidadania.

Embora eu tenha sido um crítico aqui mesmo neste espaço de várias questões do governo Lula, o operário no poder representa no mínimo um equilíbrio mais justo da gangorra da luta de classes na sociedade brasileira.
Quando o pobre sobe um pouco e o rico desce um pouco, mesmo que um pouquinho, o rico fica muito bravo.

Paulo M disse...

Saudações à Mayra...
Derrotar o Serra significa mesmo, mais do que isso, derrotar valores obsoletos e racistas. Significa derrotar a Globo e seus serviços à população e à ditadura militar e aos seus próprios interesses. E eles que se cuidem, pois o povo parece não mais acreditar nas notícias montadas em bastidores. Parece desconfiar das telas coloridas, suntuosas, com HDTV a que não tem acesso. Adiós, José Serra, você vai ter que nos engolir...

João disse...

nossa, eu nao moro mais em sp. mas se tem um lugar que nao tenho saudade é a vila madalena