Por Mayra Pinto
Fui à caminhada pró-Dilma no sábado, 16 de outubro, e passei por uma experiência que não via há tempos – na verdade, pela intensidade, acho que nunca vi. Andamos ali da Fradique Coutinho com a rua Wisard até a praça Benedito Calixto.
No trajeto, praticamente só as pessoas mais humildes recebiam os panfletos que eram dados e se comunicavam de um modo amistoso com o povo da caminhada. O resto, a classe média da Vila, simplesmente virava a cara com nojo – uma amiga chegou a ser chamada de assassina e vagabunda por uma mulher dentro de um carro...
Por um lado, essa polarização, acho, é bem benéfica, ainda mais em se tratando da classe média serrista, historicamente acovardada em se manifestar, ou hipócrita mesmo – como é o caso da mulher dele, que falou o que falou da Dilma e agora, porque deus existe às vezes, foi desmascarada na questão do aborto. O benéfico, pra mim, é que essas pessoas estão dando a cara à tapa, estão se mostrando com todo o enorme peso do preconceito de classes que vige neste país.
Com tudo o que a gente tem de crítica ao governo Lula, ainda assim, foi um governo que possibilitou alguma vida digna aos miseráveis e aos pobres. Pra classe média reacionária brasileira – como para a americana, vide a era Bush e agora o gigantesco ódio ao negro Obama – isso é imperdoável.
*Mayra Pinto é autora da tese de doutorado Noel Rosa: o humor na canção, pela Faculdade de Educação da USP, que será lançada em 2011 pela Ateliê Editorial.
PS (do autor do blog): A truculência tucana, como eu já disse, não é só física. A Vila Madalena, para quem não sabe, é um bairro de classe média e média alta na zona Oeste de São Paulo, repleto de bares, onde vão os que gostam de baladas com trânsito, stress, preços altíssimos e toda espécie de gente metida a importante, de burgueses elitistas e preconceituosos assumidos a pessoas de esquerda que preferem trânsito, stress e preços altíssimos a um bom botequim.
Leia também:
Relatos sobre a truculência tucana [1] – Osasco
3 comentários:
Que existe um ódio de classe no Brasil eu não tenho a menor dúvida. Ele sempre existiu, mas era velado porque a massa pobre da base da pirâmide estava desmobilizada, alienada da participação e da consciência política, e portanto obediente e resignada.
Getúlio, que ganhou o apelido de "pai dos pobres", era originário da elite agrária do Rio Grande do Sul. Logo, Getúlio era popular por ser populista, tendo o povo como massa de manobra.
Embora Lula às vezes flerte com o populismo, é evidente que o feito absolutamente inédito na história do Brasil de um filho da miséria chegar ao poder tem efeitos na auto-estima do povo, em sua relação com a política e com o exercício da cidadania.
Embora eu tenha sido um crítico aqui mesmo neste espaço de várias questões do governo Lula, o operário no poder representa no mínimo um equilíbrio mais justo da gangorra da luta de classes na sociedade brasileira.
Quando o pobre sobe um pouco e o rico desce um pouco, mesmo que um pouquinho, o rico fica muito bravo.
Saudações à Mayra...
Derrotar o Serra significa mesmo, mais do que isso, derrotar valores obsoletos e racistas. Significa derrotar a Globo e seus serviços à população e à ditadura militar e aos seus próprios interesses. E eles que se cuidem, pois o povo parece não mais acreditar nas notícias montadas em bastidores. Parece desconfiar das telas coloridas, suntuosas, com HDTV a que não tem acesso. Adiós, José Serra, você vai ter que nos engolir...
nossa, eu nao moro mais em sp. mas se tem um lugar que nao tenho saudade é a vila madalena
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