sexta-feira, 30 de março de 2012

Artistas de rua – Divino Oliveira, um músico. Avenida Paulista, São Paulo




Pensamento para sexta-feira [número 28] – a literatura russa e a culpa


Li esta semana uma pequena novela do grande Tolstói, O Diabo, e fiquei a refletir sobre a literatura russa.


Fiódor Dostoiévski
 Dois dos maiores livros que li são obras desse gigante país do Oriente: Os Irmãos Karamázov e Crime e Castigo, de Dostoiévski, que com certeza estariam em uma lista dos 30 livros que eu levaria para uma ilha deserta.

Mas em minha reflexão desses dias – e esta nota está longe de pretender ser mais do que isso mesmo: uma humilde nota – pensei o seguinte: se hipoteticamente qualquer pessoa lesse um livro por dia durante todos os dias de sua vida, ainda assim morreria conhecendo uma fração do que se produziu em literatura no mundo: um volume lido por dia ao final de 70 anos daria um total de 25.550 obras. Só a título comparativo, calcula-se que a colossal biblioteca de Alexandria, destruída pelos árabes no século VII de nossa era, tinha 700 mil livros.

E foi pensando nisso, após ler O Diabo de Tolstói, que refleti: talvez eu já tenha lido o suficiente de literatura russa em minha vida. Com 50 anos, se eu viver mais 30 acho que não terei mais tempo para me debruçar sobre uma vertente literária que, aliás, e convenhamos, após a Revolução de 1917 deixou de existir tal como aprendemos a amá-la. Reduziu-se a escritores que não sobreviveram ao stalinismo, ou se tornaram porta-vozes do ideário bolchevique, como o enfadonho Máximo Górki (1868-1936), ou saíram do país para escapar à morte ou ao silêncio, como Vladimir Nabokov (1899-1977).

De resto, digo que talvez não tenha mais tempo para a literatura russa – pelo menos não com a dedicação com que já devorei os grandiosos Alexander Púchkin, Dostoiévski, Tchekov, Tolstói e Gogol – porque há muito o que ler na infinita literatura universal. E também fiquei um pouco cansado da culpa interminável que permeia os romances e contos russos.
Liev Tolstói


O diabo e a culpa

Em O Diabo, por exemplo, uma obra menor de Tolstói (autor da pequena obra-prima A Morte de Ivan Ilitch, para não falar de Guerra e Paz, Ana Karênina e incontáveis grandes contos e novelas), um jovem homem solteiro, Evguêni, tem um caso com uma camponesa, Stepanida, com quem se encontra furtivamente em uma cabana ou nos bosques nas redondezas de sua propriedade. Depois de casado, embora ame sua mulher Liza, ele não consegue esquecer os prazeres que viveu com a camponesa e, por mais que se esforce para sufocá-lo, seu desejo por ela só aumenta. E, aprisionado por uma culpa doentia, ele passa a viver um inferno, e culpa, por sua vez, a jovem camponesa que passa a ser para ele a encarnação do diabo, daí o título.

E é disso que, a esta altura da vida, cansei nos romances, contos e novelas russos: a culpa. A literatura do país de Dostoiévski do século XIX é impregnada da culpa e de um elemento que podemos chamar de um atávico complexo de Édipo patriótico: a veneração cega pela Grande Mãe, a “mãezinha” onipresente que atormenta ou inspira seus personagens, e A Mãe, de Máximo Gorki, não é mais do que a expressão máxima desse espírito que funde mãe e nação. Talvez Lolita de Nabokov, conscientemente ou não, seja como um grito de libertação desse fantasma. Quem dirá que não?

Seja como for, ter conhecido a maravilhosa literatura da grande Rússia foi fundamental para mim. “Eu sou os livros que li”, disse Sartre. Apesar disso, não tenho mais muita paciência para tanta culpa e tanta pátria.

quarta-feira, 28 de março de 2012

Papos com Millôr Fernandes


Em uma entrevista de 2001, o escritor me falou o seguinte sobre o quadro Abaporu, de Tarsila do Amaral: "é a pintura mais feia do mundo"


Morreu hoje, aos 88 anos, em Ipanema, Millôr Fernandes, escritor, humorista, dramaturgo, desenhista e outras coisas mais.

Quando Jorge Amado morreu, em agosto de 2001, o jornalista chileno então radicado no México Enrique Portilla me pediu uma matéria para o jornal Reforma, do México (Reforma.com), repercutindo a morte do grande escritor baiano junto a intelectuais e colegas brasileiros de literatura. A matéria ("El heroe de Bahia"), que deveria conter a opinião dessas personalidades sobre a importância da obra do autor de Gabriela, Cravo e Canela, está até hoje no site do jornal, mas infelizmente só para assinantes do impresso mexicano.

Entre outras personalidades, como Lygia Fagundes Telles, Moacyr Scliar e Autran Dourado, entrevistei Millôr Fernandes para a matéria. Millôr era o tipo do cara que você podia tentar entrevistar abordando-o num evento, num lançamento de livro, se conseguisse que ele o atendesse, ou valendo-se de um amigo ou conhecido comum. Em outras circunstâncias, era impossível. Eu tinha o telefone da casa dele. Sabedor de sua fama de um homem que não dava entrevistas facilmente, muito menos por telefone (ao qual raramente atendia), liguei meio sem esperança de obter uma declaração. Mas, eis que ele atende!

– Alô?
– Millôr?

Ele disse que sim, era ele. O primeiro desafio estava vencido. Millôr atendera o telefone! O segundo, talvez mais difícil, pensei, seria conseguir as aspas para minha matéria. Fui o mais direto possível, pois uma falha, um gaguejo, um vacilo teria sido suficiente para ele me dispensar. Além de objetivo, tentei agradar seu ego:

– Millôr, sou o jornalista Eduardo Maretti. Estou fazendo uma matéria para o jornal Reforma, do México, e preciso da opinião de pessoas importantes da cultura e da literatura brasileiras sobre Jorge Amado.

Num primeiro momento ele quis recusar. Disse que gostava de A Morte e a Morte de Quincas Berro D’água (1959), deixou transparecer que não era nem um pouco fã de Amado e completou dizendo que não queria julgar um autor que havia morrido e que, portanto, não lhe poderia responder. Entendi que, ao afirmar que Jorge Amado não poderia retrucar, ele não teria nada muito elogioso a dizer, e, evitando irritá-lo (e um jornalista irritá-lo não era nada difícil), usei de rodeios para tentar uma opinião mais clara.

Millôr era de uma inteligência feroz e fulminante e acho que gostou de uma interlocução que, suponho, ele entendeu que deliberadamente fazia seu jogo, e, enfim, falou algo bastante claro sobre o que pensava do escritor baiano, mas, como era de seu estilo, fugindo ao lugar-comum, por meio de uma associação com a pintora modernista Tarsila do Amaral. “Uma vez escrevi que Abaporu, o quadro de Tarsila do Amaral, é a pintura mais feia do mundo. O quadro se transformou num mito. Jorge Amado já faz parte da mitologia brasileira; não se discute. É inútil discutir”.

Enfim, tinha eu para minha matéria o depoimento de Millôr, heroicamente obtido por telefone!, irônico, metafórico, por assim dizer totalmente Millôr, e em que era cristalina sua falta de amor, digamos assim, pela obra de Jorge Amado. Ou, por outras palavras: ele não partilhava da unanimidade em torno da literatura do escritor.

Do que eu discordo, pois acho a literatura de Jorge Amado de uma grandeza inigualável na literatura brasileira.

xxxxxx


"A tragédia vem embutida em piadas"

No meu livro Escritores (pela editora Limiar, que reúne 43 entrevistas com autores brasileiros e internacionais organizadas a partir de material produzido para Revista Submarino, hoje extinta), tem também uma entrevista com Millôr Fernandes, obtida a fórceps pela repórter Camila Claro quando do relançamento de seu Livro Vermelho dos Pensamentos (Ed. Senac). A entrevista – intitulada "A tragédia vem embutida em piadas" – fazia parte de uma edição especial sobre os 20 anos da morte de Nelson Rodrigues, por isso o autor de Vestido de Noiva é o foco.

Segue um trecho da improvisada e quase telegráfica entrevista (adoro entrevistas improvisadas) de Camila com Millôr:

Como e quando você conheceu Nelson Rodrigues?
Eu era menino (13 anos) quando comecei a trabalhar na revista O Cruzeiro, Nelson teria uns 12 mais do que eu. Vivemos horas, diariamente, dentro e fora da redação. Só muitos anos mais tarde nos separaríamos, mas nunca deixamos de nos ver, ocasionalmente.

Você se lembra do apelido “Filósofo” ou outros que Nelson teria dentro da redação de O Globo?
Não. Nem nunca soube desse. E [olha que] mesmo quando não estava com ele, até o fim de sua vida, sabia dele diariamente por amigos comuns.

Você se lembra de Nelson como alguém de hábitos religiosos?
Não que visse.

Na biografia O Anjo Pornográfico, Ruy Castro escreveu que as três irmãs de Nelson eram apaixonadas por você. É verdade?
Ruy é um excelente ficcionista. Pergunte a ele.

Ruy conta também que, na redação de O Cruzeiro, você e o Hélio Jaguaribe aproveitavam as saídas de Nelson para adicionar algumas linhas a seus textos. Ele não percebia essas malandragens (...)?
Claro que percebia. E não se importava. Quem escrevia como Suzana Flag [pseudônimo de Nelso Robrigues] não pensava estar escrevendo um texto irretocável. Nossa vida era uma brincadeira permanente. A tragédia inúmeras vezes vem embutida em piadas. 

Roma está no MASP


Relevo com gladiadores - fim de I a.C.

Você ainda tem 26 dias, até 22 de abril, para ver a espetacular exposição Roma - A Vida e os Imperadores, que está no Museu de Arte de São Paulo (MASP) desde janeiro e é a abertura da programação do MASP para o "Momento Itália Brasil 2011-2012". Poucas vezes se viu ou verá uma reunião de peças tão valiosas a mostrar a arte, a cultura e a história romanas, da qual a civilização ocidental é irrevogavelmente debitária.

Estátua do deus Júpiter
Segundo os organizadores da mostra,”o desafio é recontar a trajetória do povo e dos imperadores romanos no período tardio da República e primeiros séculos do Império Romano por meio da arte, da arquitetura triunfal, das cerimônias de poder, da vida cotidiana, das célebres conquistas e da opulência do Império”.

O acervo sai da Itália pela primeira vez e você tem a oportunidade de ver reunidas peças do Museu Arqueológico Nacional de Florença, do Museu Nacional Romano, do Museu Nacional de Nápoles, do Antiquário de Pompeia, do Museu Arqueológico de Fiesole e da Galeria Uffizi.

A exposição é formada por quatro núcleos:

1. Entre César e Augusto: o nascimento do Império. A dinastia, a vida e o legado de Júlio César (séculos I a.C. a III d.C).

2. Nero. O luxo e a opulência que marcaram o legado do imperador Nero, que se tornou soberano aos 17 anos.

3. O apogeu do Império. Destacando os jogos do Circo e do Coliseu, em que a força e o poder se manifestam nas lutas de gladiadores.

Estátua da deusa Ísis
4. Um Império multicultural. Mostra as origens dos costumes romanos. O sincretismo formador da cultura de Roma, do qual uma magnífica estátua da deusa egípcia Ísis em mármore preto e mármore branco é um emblema fabuloso.

É emocionante estar diante da riqueza representada pela exposição. Se você gosta de cultura, arte e história, e mesmo assim perder a oportunidade de ver a mostra Roma - A Vida e os Imperadores no MASP, tenha certeza de que estará cometendo um pecado do qual talvez jamais se perdoe.

Para mais informações, acesse este link do Museu de Arte de São Paulo.

Serviço
MASP
Avenida Paulista, 1578 - São Paulo - SP
Telefone (55 - 11) 3251-5644
Próximo à estação do metrô Trianon-MASP

Net fecha com Fox Sports, mas parte dos assinantes terá de pagar R$ 9,90 a mais

Finalmente a Net assinou um acordo com a Fox Sports e agora os assinantes (mas nem todos) da operadora poderão assistir à Copa Libertadores. O canal disponibilizado é o 97 da NET digital, já a partir desta quarta-feira. O acerto se deu duas semanas depois de a Sky fechar com a emissora que agora detém os direitos de transmissão exclusivos da mais importante competição do continente.

Neste momento, por exemplo, o canal 97 da Net está transmitindo Olímpia do Paraguai e Flamengo.

Porém, a Net informou que boa parte dos assinantes está apenas “degustando” a novidade, que será fechada. Isso porque os clientes que têm os pacotes NET Mais TV, Diversão, Atualidade e Estilo precisarão pagar o pacote Esportes à parte, a um custo de R$ 9,90 mensais, para assistir o canal 97.

terça-feira, 27 de março de 2012

Dia do Circo!


Hoje, 27 de março, é um dia em que se comemora a alegria e a arte.

Ninguém sabe ao certo como e onde começou a arte circense, mas pinturas indicam que os chineses já faziam malabares, acrobacias e coreografias circenses há 5 mil anos. Porém, o circo "moderno" surgiu na Roma antiga, com o Circo Máximo (Circus Maximus, em latim), localizado no vale entre a colina Palatina e a colina Aventina.

Clique para ampliar
Marcio "Mágico" Keller e Caela Terra - da Arte e Circo

Fica então aqui registrada a homenagem a essas criaturas dedicadas a levar alegria e encantamento às pessoas e às crianças, como a trupe da Arte e Circo, de Florianópolis, que faz animação de festas e eventos na capital catarinense, onde é bastante conhecida. A rioclarense Caela Terra e o gaúcho Márcio "Mágico" Keller, casal que comanda a galera, justificadamente ilustram este post.

domingo, 25 de março de 2012

Corinthians vira e derrota Palmeiras. Santos vence fácil o Bragantino


No Pacaembu, um derby de dois tempos. No primeiro, com o golaço (mais um) de Marcos Assunção, o Palmeiras foi superior e mereceu amplamente o 1 a 0. E, por falar em merecimento, o Corinthians deveria ter saído para o intervalo com no mínimo um jogador a menos. O zagueiro Chicão deu uma entrada no tornozelo do avante Barcos digna de Código Penal. Um absurdo, tomou só amarelo. E, se o árbitro Marcelo Rogério fosse rigoroso, poderia ter expulsado Liedson pela dividida com o goleiro Deola. O velho Chaves diria que foi bem “sem querer querendo”. Nesse lance, o senhor juiz fica com o benefício da dúvida, pois trata-se do chamado lance interpretativo. Mas aquela perna esticada não engana quem jogou um pouquinho de futebol que seja.



No segundo tempo o Verdão “entrou com sono”, como definiu Valdívia depois do jogo, e, antes que o time acordasse, o Corinthians já havia virado, com a contribuição camarada do volante Marcio Araújo, que entregou o primeiro gol aos 4 e, logo depois, não satisfeito, se encarregou ele mesmo de mandar para as redes. Aos 6 minutos, já estava para 2 a 1 para o Alvinegro. Imediatamente associei aquele momento da partida a uma luta de boxe: um típico caso de nocaute técnico. E não deu outra. O placar era o definitivo.

Ressalva à arbitragem feita, o resultado acabou sendo justo, pois o Palmeiras pouco produziu para merecer reverter o quadro. Valdívia ainda teve a chance de empatar ao driblar Julio César, mas, como ele não é craque, adiantou a bola e perdeu o gol. Diante da como sempre bem postada e ótima zaga corintiana, nem Maikon Leite nem Ricardo Bueno fizeram qualquer coisa que parecesse obra de atacante e mostraram que o argentino Barcos precisa de um companheiro de ataque, senão à altura, no mínimo capaz de vestir a camisa titular palmeirense.

Mais uma tragédia: Outra vez a insanidade e a estupidez prevalecem. O palmeirense André Alves, de 21 anos, morreu após uma briga na manhã do domingo, ao que parece baleado. Em agosto do ano passado, briga entre as mesmas torcidas terminou com a morte do corintiano Doulgas Karin Silva, encontrado boiando no rio Tietê.


Peixe ganha e Neymar diz: “Zagueiro bate e diz ‘Deus te abençoe’ ”




Para ganhar do Bragantino por 2 a 0 na Vila e se manter no 4° lugar, fugindo ao desgaste de pegar um grande já nas quartas, Muricy escalou quase todos os titulares, poupando apenas Fucile, Dracena e Borges, substituídos respectivamente por Maranhão, Bruno Rodrigo e Alan Kardec. Mais interessante do que a fácil vitória peixeira foi um episódio na saída do intervalo da partida: o repórter perguntou a Neymar sobre a marcação, e a resposta foi ótima: “ele [o zagueiro Junior Lopes] bate e depois diz ‘Deus te abençoe”, afirmou o camisa 11, com sorriso sarcástico. Ótimo isso.

Numa época em que a cada cinco palavras esses jogadores brasileiros falam duas ou três vezes “Jesus” ou "Senhor”, é uma forma de dizer que falar em Deus não significa ter caráter. Neymar não é estrela apenas por ser craque, mas também porque tem carisma e não é otário.

No segundo tempo, o treinador santista colocou Ibson na vaga de Henrique (poupado) e Borges na de Alan Kardec (que não vinha bem). Em má fase, Borges desencantou e fez um gol, embora esse até eu fizesse. Com 2 a 0 aos 10 do segundo tempo e um jogador a mais a partir dos 27, Muricy poderia ter dado oportunidade ao jovem Dimba no lugar de Neymar, poupando o principal jogador santista, que não para de jogar e apanhar enquanto a partida não acaba.

Antes, ao invés de Íbson entrar para sair Henrique no intervalo, a opção poderia ter sido Elano na vaga de Ganso, com Elano como meia, mais à frente do que tem jogado no esquema do treinador, assim poupando também o camisa 10, que vem de maratona de jogos. São opções que estão a sua disposição, mas, como se sabe, o que uma baleia tem de gordura Muricy Ramalho tem de cautela.

sexta-feira, 23 de março de 2012

Uma bela criança


Na célebre foto, Capote e Marilyn dançam
“A Beautiful Child”, no original em inglês, é o título de uma maravilhosa narrativa de Truman Capote publicada no livro Música para Camaleões (1980). Nela, o autor de A Sangue Frio conta um episódio que viveu com a atriz Marilyn Monroe a partir de um encontro que tiveram nos funerais de Constance Collier, “uma das maiores atrizes shakespearianas da Inglaterra”, diz Capote, e que nas últimas décadas de vida fora professora de teatro de pessoas que já fossem profissionais. Marilyn, que lhe fora apresentada por Capote, era uma dessas alunas.

Na cerimônia fúnebre, na qual estabelecem um diálogo delicioso, mordaz, bem-humorado (o bom humor é da narrativa, não necessariamente do diálogo), eles discutem, por exemplo, quando Capote diz que vai esperá-la fora da capela. “Preciso fumar um cigarro”, diz ele. O papo segue:

Marilyn: “Não pode me deixar sozinha! Meu Deus! Fume aqui”.
Capote: “Aqui? Na capela?”
Marilyn: “Por que não? O que você vai fumar? Maconha?”

Você pode praticamente ver a cena de um baixinho assumidamente gay discutindo num funeral com uma deslumbrante loira escondida sob um figurino “apropriado a uma abadessa de um convento em audiência privada com o papa”, segundo descreve o autor. Não querendo ser reconhecida pelos fotógrafos, eles esperam o evento e a capela esvaziarem. “Seja paciente. Assim que pudermos sair, iremos a algum lugar e eu comprarei uma garrafa de champanhe para nós”, diz a atriz. Enquanto isso, continuam a conversa e depois de se certificar que não será fotografada, eles saem a peregrinar pelas ruas de Nova York.

Segue-se uma adorável pequena odisséia de ambos ao redor de vitrines de lojas de antiguidades até acabarem em um restaurante na Segunda Avenida. Ali, entre muitos drinks (fora os famosos comprimidos que a atriz, como se sabe, usava), trocam desafios sobre amores e amantes, e discorrem sobre as estrelas de Hollywood. Fazem fofocas mil, essa coisa que todo mundo nega mas adora, a partir de um jogo de adivinhação em que Capote tenta descobrir quem seria o amante de Marilyn. E as fofocas seguem. Tyrone Power tinha um caso com Errol Flyn, fica-se sabendo.

Constance Collier

Mas, embora pareça ser alimentado por meras futilidades, o texto é um registro poderoso e inigualável, eu diria espiritual, da figura de Marilyn Monroe, não como a estrela maravilhosamente bela e glamurosa que provocou tantas fantasias, mas principalmente como portadora da alma de “uma bela criança”, como diz o título, segundo a sensível visão de Capote, termo, aliás, usado pela própria Constance Collier, no enterro de quem o episódio inicia e de quem é a melhor definição da mitológica loira (que não era loira real e nem uma atriz na acepção do termo): “O que ela tem – essa presença, essa luminosidade, essa inteligência lampejante – jamais poderia vir à tona no palco (...) É como um beija-flor em pleno vôo”.
Marilyn Monroe, que foi amante do presidente John Kennedy, morreria em 5 de agosto de 1962 com 36 anos, em circunstâncias misteriosas até hoje não esclarecidas.

Ao contrário de outros ensaios em que aborda celebridades, neste o autor nos aproxima do objeto de sua narrativa e admiração, compartilhando conosco sua intimidade com a estrela por meio de sua técnica narrativa de riquíssimos recursos que se conhece como literatura de não-ficção. Ao contar seu encontro com Marlon Brando em “O Duque em seu domínio”, por exemplo (texto que está em Ensaios, da editora LeYa), há um enorme distanciamento, uma frieza mesmo, nenhum elo de ligação pessoal ou afetiva, entre o narrador (Capote) e o objeto narrado (Brando).

“Uma bela criança” está em dois livros facilmente encontráveis nas livrarias: Ensaios (editora LeYa), uma coletânea reunindo textos de vários livros, e Música para Camaleões (Cia. das Letras), reunião feita pelo próprio Capote publicada sob esse mesmo título nos Estados Unidos em 1980. Apesar desta última edição ser a tradução de uma obra fechada pelo autor, prefira a da LeYa.

Leia também, sobre Truman Capote:

Impressões sobre Ensaios

Nota sobre A Sangue Frio

quinta-feira, 22 de março de 2012

As arenas de São Paulo e o futuro (sombrio) do Pacaembu


No 2° Fórum Aberto dos Torcedores, realizado no Museu do Futebol (Pacembu) na noite de terça-feira, 20, o tema do debate foram as novas arenas e o futuro dos estádios de futebol em São Paulo. Participaram o secretário de esportes do município, Bebetto Haddad; o assessor da presidência do São Paulo, José Francisco Mansur; o vice-presidente do Corinthians, Luis Paulo Rosemberg; e José Roberto Generoso, membro da comissão de obras do Palmeiras. A apresentação do evento foi do jornalista Mauro Betting. O presidente Luis Álvaro Ribeiro, do Santos, cujo nome constava do convite, não foi.

Foto: Edu Maretti


A principal questão debatida, para mim, foi o futuro do estádio do Pacaembu. Segundo o secretário Haddad, o “equipamento” tem um custo de R$ 400 mil mensais. Com os projetos de Palmeiras e Corinthians, além do Morumbi, que será reformado para também entrar na nova era das arenas, o futuro do estádio municipal pode ser sombrio, afirmou Haddad, posto que não terá mais os jogos de Timão e Verdão e shows são vetados por ações movidas pela Associação Viva Pacaembu. Assim, o estádio ficará sem receita, disse Bebetto Haddad.

Um complicador com o qual Mansur, do São Paulo, concorda, é que o Pacaembu é tombado. Ao contrário do que se imagina, segundo os debatedores, esse é um dado que só prejudica ainda mais o futuro do estádio mais charmoso da capital. Isso porque qualquer pequena reforma (pintura de banheiros, por exemplo) depende de autorização dos órgãos responsáveis e a degradação avança com essa burocracia.

Mansur, do São Paulo, foi além e afirmou que o tombamento é uma estratégia maquiavélica de inviabilizar os estádios. Entidades de moradores também cogitam o tombamento do Morumbi. Ele mostrou uma foto aérea das obras nos anos 1950 em que não se vê nada ao redor, a não ser mato num raio de muitos quilômetros, para argumentar que não foi o estádio que interferiu na vida dos moradores, mas estes é que com o tempo ocuparam a área. Disse ainda que tem usado a bela foto, “infelizmente”, como argumento em ações movidas por moradores na Justiça.

De resto, os debatedores falaram sobre as arenas de seus clubes. A diferença entre a do Palmeiras e a do Corinthians é clara: o do Timão conta com financiamento público e será do próprio clube imediatamente. Já as obras do novo Palestra não têm “um centavo” de verbas públicas, mas o clube será uma espécie de “cliente” (termo usado por José Roberto Generoso) da WTorre por 30 anos, período em que a construtora administrará as receitas, repassando uma parte ao Palmeiras.

Perguntado por este blogueiro sobre o que acha das denúncias de que moradores do entorno do Itaquerão serão expulsos de onde moram para as obras de urbanização sem ter seus direitos respeitados, e também se um corintiano pobre vai poder pagar o preço de um ingresso na futura arena, ele não respondeu. Mais tarde, fez um raciocínio curioso, dizendo que cobrar ingressos caros é uma forma de combater os cambistas.

terça-feira, 20 de março de 2012

Perguntar não ofende: o Brasil tem ministro de Minas e Energia ou do Meio Ambiente?


A pergunta do título me ocorre porque mais uma tragédia ambiental de responsabilidade da gigante do petróleo Chevron veio a público na semana passada e até agora não se ouviu um pio de Edison Lobão, aquele mesmo do grupo de José Sarney, ex-PFL, que se bandeou para o PMDB e hoje, dizem, é o suposto ministro das Minas e Energia.

Chevron destrói litoral brasileiro e governo nada diz

Devo ser mesmo um ingênuo. Não consigo entender como uma mega-companhia destrói o meio ambiente de um país, continua operando e causando tragédias ambientais e o homem que responde pelo governo brasileiro sobre Minas e Energia permanece mudo como um boneco de cera.

Ah, sim, deve ser porque o governo brasileiro possui uma pasta chamada de Ministério do Meio Ambiente, pela qual responde a ministra Izabella Teixeira. Esta, figura meramente decorativa, manifestou-se duas vezes, de maneira pífia, na semana passada. Na primeira, afirmou: "Pelas primeiras informações, foi um vazamento de pequeno porte, não expressivo, mas estamos esperando dados concretos”. Na segunda, sua fala foi ainda pior: num debate sobre economia ambiental no evento "Rumo à Rio+20", ela se recusou a comentar o caso: “Não vou falar sobre a Chevron. Aqui é outro fórum: o debate é a Rio +20. A gente ainda está aguardando informações.”

Representantes da Chevron terão que prestar esclarecimentos à Comissão de Meio Ambiente do Senado sobre o novo vazamento, no Campo de Frade, na Bacia de Campos. E isso vai resolver alguma coisa ou v ai ser mais um espetáculo de cinismo?

E, no último sábado, a Justiça Federal do Rio, a pedido do Ministério Público Federal, determinou que 17 executivos das empresas Chevron e Transocean estão proibidos de deixar o país sem autorização judicial. Segundo a Folha de S. Paulo de hoje, o MPF apurou que a "operação temerária que causou o dano ambiental" (em novembro de 2011) foi "planejada ou aprovada ou operada por todos os requeridos, cientes de que perfuravam zona mais alta de pressão" (íntegra para assinantes).

A Chevron foi multada em US$ 27 milhões pelos danos ambientais causados em novembro. O valor equivale a 0,014% da receita de US$ 198 bilhões da companhia em 2010, segundo o Radar Econômico, do Estadão.

Também hoje, de acordo com a Agência Brasil, um inspetor da Marinha brasileira sobrevoou o Campo de Frade, na Bacia de Campos, para verificar a extensão da mancha de óleo. Detalhe: o sobrevoo foi feito em uma aeronave da Chevron Brasil Upstream, empresa responsável pela extração de óleo no local.

A atual gestão ambiental no país mostra que o Meio Ambiente está muito longe de ser uma preocupação do governo Dilma. Mais ou menos como a Cultura, pasta na qual a ministra Ana de Hollanda resiste incrivelmente contra tudo e contra toda a comunidade cultural brasileira, apoiando descaradamente a política do Ecad e sendo apoiada inexplicavelmente pela presidente Dilma.

domingo, 18 de março de 2012

Em jogaço no Morumbi, São Paulo vence o Santos por 3 a 2, como em 2002


Foto: Divulgação: Santos FC

Absolutamente justa a vitória do São Paulo sobre o Santos por 3 a 2 no Morumbi, num jogaço pela 14ª rodada do Paulistão 2012. Lucas foi de longe o melhor em campo. Veloz e habilidoso, expôs problemas da zaga santista: a lentidão dos zagueiros Dracena e Durval, mas sobretudo a lateral esquerda, que continua como ponto vulnerável do time de Muricy, seja com Juan (que hoje não jogou por pertencer ao São Paulo), seja com o reserva Paulo Henrique. Fucile, na direita, tampouco tem demonstrado a velocidade que a posição requer no futebol atual.

O primeiro gol são-paulino saiu logo aos 8 min de jogo, quando Casemiro teve tempo e espaço para receber, pensar, olhar, pensar na vida e chutar. Dracena ainda ficou naquela: coloco cabeça na bola como macho ou saio da frente pro goleiro ter visão? Ficou no meio termo e pôs pra dentro num gol quase contra.





Era esperado que a motivação tricolor fosse maior do que a do Peixe, que quinta-feira pega o Juan Aurich, do Peru, no Pacaembu, pela Libertadores, time que bateu por 3 a 1 na semana passada num campo de futebol society. Time fraco, é verdade, mas Libertadores é Libertadores. O São Paulo de Emerson Leão, por sua vez, vinha de um 4 a 0 contra o Independente do Pará pela Copa do Brasil, a competição que um dia Rogério Ceni disse que não se imaginava disputando.

Marcação dura

O São Paulo não deu mole contra o Santos, com marcação implacável e não raro violenta, como é do estilo histórico do time do Morumbi desde o velho Rubens Minelli dos anos 70 (estilo que Telê Santana interrompeu por um tempo). O lateral improvisado Rodrigo Caio (que nome invocado esse!) foi expulso logo aos 8 minutos do segundo tempo e já atrasado, pois era para ter tomado o segundo amarelo ainda na primeira etapa, depois de dar um pontapé em Neymar quando já tinha um amarelo.

Seja como for, o árbitro não interferiu no resultado. O Alvinegro disputou todo o segundo tempo com um jogador a mais, mas o São Paulo continuava melhor, e, ironicamente, justo quando o time da Vila parecia que ia virar o jogo, após Neymar anotar 2 a 2, a defesa deu uma bobeira generalizada e deixou o camisa 7 são-paulino fazer 3 a 2 aos 42 do segundo tempo.

Ganso amarelou

Se Lucas foi o nome do Tricolor, Ganso decepcionou no Alvinegro. Nos últimos jogos (o 3 a 1 contra o Juan Aurich, por exemplo) a imprensa encheu a bola do camisa 10 santista. Mas a verdade é que num jogo duro, um clássico de muita rivalidade como o de hoje, Ganso amarelou. Jogou muito parado, movimentou-se pouco, errou passes sem conta e se escondeu por trás de uma marcação à qual se rendeu sem muita luta.

Ganso continua devendo. Precisa de atuações de alto nível contra grandes times como o São Paulo para provar que voltou. Na vitória de 1 a 0 contra o Corinthians, jogou bem, mas, como escrevi aqui, aquele foi um jogo de compadres. Quanto à meia direita, Íbson no primeiro tempo e Elano no segundo tiveram atuações abaixo da crítica, mas Elano pelo menos é um perigo em bolas paradas (por exemplo, saiu dele, em cobrança de corner, o primeiro gol peixeiro).

Relembrando 2002

Mas a derrota é normal e não tira o São Paulo da caderneta do Santos como um freguês contumaz, e faz tempo. Há dez anos, num outro jogaço no Morumbi (eu estava lá! com o companheiro Gabriel), pela fase de classificação do Brasileirão 2002, o São Paulo também ganhou pelos mesmos 3 a 2. Foi quando Diego comemorou um gol pulando sobre o escudo do São Paulo. Rogério Ceni teve um ataque histérico. Foi um jogo espetacular e o Tricolor ganhou, mas, como tem ocorrido na última década, a vitória da esquadra do Morumbi pouco valeu. Naquele ano, o Santos comandado por Emerson Leão foi campeão brasileiro tendo eliminado o mesmo São Paulo nas quartas-de-final.

Exceto na final do Paulistão de 2000, quando foi campeão, o SPFC não ganhou do Santos a não ser jogos que, concretamente, pouco ou nada valiam, a não ser a rivalidade, o que fica muito nítido nos últimos dois anos (abaixo).

Para relembrar 2002:




O confronto San-São nos últimos dois anos
:

07/02/2010 - São Paulo 1 x 2 Santos - Arena Barueri - Paulista
11/04/2010 - São Paulo 2 x 3 Santos - Morumbi – (semifinal do Paulista)
18/04/2010 - Santos 3 x 0 São Paulo - Vila Belmiro – (semifinal do Paulista)
25/07/2010 - Santos 1 x 0 São Paulo - Vila Belmiro - Brasileiro
17/10/2010 - São Paulo 4 x 3 Santos - Morumbi - Brasileiro (ambos os times só cumpriam tabela)
30/01/2011 - Santos 2 x 0 São Paulo - Arena Barueri - Paulista
30/04/2011 - São Paulo 0 x 2 Santos - Morumbi - Paulista
28/08/2011 - Santos 1 x 1 São Paulo - Vila Belmiro - Brasileiro
04/12/2011 - São Paulo 4 x 1 Santos - Mogi Mirim – Brasileiro (o Santos jogou com dez reservas)
18/03/2012 – São Paulo 3 x 2 Santos - Morumbi - Paulista

sexta-feira, 16 de março de 2012

A personalidade das moscas

Pensamento para sexta-feira [27]


A Drosophila melanogaster (mosca de banana)
Esta semana, li uma matéria que parece piada, mas é muito interessante: “Moscas rejeitadas ingerem álcool para afogar as mágoas”, diz o título, explicando que “estudo feito com drosófilas mostrou comportamento diferente entre insetos machos que foram desprezados e aqueles que copularam”.

E ainda: “A cena é corriqueira: o cara leva um fora e vai para o bar afogar as mágoas de um amor malsucedido. A novidade é que cientistas americanos descobriram que as moscas-de-fruta (também chamadas de drosófilas) também fazem coisa parecida quando a fêmea refuta o acasalamento. O estudo mostrou que os machos da espécie Drosophila melanogaster ingeriram mais álcool após levar um não”, em redação de matéria do iG.

A conclusão do estudo pode parecer bizarra, mas me remeteu imediatamente a uma passagem do livro O Andarilho das Estrelas, de Jack London (1876-1916), um dos mais importantes escritores norte-americanos. No livro, um condenado à prisão perpétua (depois seria condenado à morte) passa os dias na solitária e procura coisas para passar o tempo e vencer o tédio e a dor. Aprende a meditar e faz viagens astrais em que relembra suas reencarnações na Terra (London dedicou esta obra à mãe, que era espírita, enquanto ele próprio dizia não acreditar em espírito e era socialista). Antes de dominar essa técnica, porém, o narrador condenado já tinha outros passatempos. Um deles é estudar a personalidade das moscas e brincar com elas por meio de um jogo que ele inventa.

Jack London (na foto ao lado) foi um dos escritores que mais profundamente conseguiram penetrar na alma humana. E mais: ele parecia conhecer também a mente animal, por incrível que pareça. No livro Caninos Brancos (uma de suas obras-primas) ele conta a história de um lobo (já escrevi sobre esse livro – o link está abaixo no post). Claro que ele dominava como poucos a técnica narrativa. Mas é impressionante e magistral.

Abaixo, segue o trecho de O Andarilho das Estrelas em que o personagem de London descreve sua relação com as moscas.

E o tempo passava muito devagar, as horas eram muito longas. Brinquei até com as moscas; as moscas domésticas que se infiltravam na solitária, com a luz cinzenta do dia. Então, descobri que elas também tinham um instinto competitivo. Por exemplo, deitado no chão da cela, estabelecia uma linha imaginária ao longo da parede, a um metro do chão e quando elas pousavam na parede acima dessa linha, eu as deixava em paz. No momento em que elas cruzavam essa linha, eu tentava pegá-las, tomando cuidado para não feri-las. Com o tempo, elas sabiam tão precisamente como eu onde estava a linha imaginária. Quando elas queriam brincar, cruzavam a linha e, frequentemente, uma única mosca jogava comigo por mais de uma hora. Quando se cansava, ia repousar no território seguro acima da linha.
“Dentre a dúzia de moscas que conviviam comigo, havia somente uma que não ligava para o jogo. Ela se recusava firmemente a jogar e, tendo aprendido a penalidade por cruzar a linha, evitava cuidadosamente o território inseguro. Aquela mosca era mal-humorada, enfadada; como diriam os condenados, “resmungava” contra o mundo e tampouco brincava com as outras moscas. Era forte e saudável. Eu a estudei por algum tempo. Sua indisposição para brincadeiras era temperamental, não física.
“Acredite, leitor, eu conhecia todas aquelas moscas (...) Ah, cada uma tinha sua individualidade, não apenas em relação ao tamanho e às características, mas à força, à velocidade de vôo, à maneira e jeito de voar e brincar, de fugir e correr, de voar em círculos e repetir ou inverter a direção, de tocar e caminhar sobre a área proibida ou fingir tocá-la e depois tocar em outro lugar, dentro da zona de segurança (...)
“Eu conhecia as mais nervosas, as fleumáticas. Havia uma pequenina que voava furiosa em verdadeiras rasantes, disparando às vezes contra mim, às vezes contra suas companheiras (...) havia uma mosca, a jogadora mais perspicaz de todas, que, depois de descer três ou quatro vezes sucessivas na zona de perigo, conseguindo escapar de minha mão, fechada em concha, ficava tão excitada e jubilante que voava ao redor de minha cabeça em plena velocidade, rodopiando, mudando de direção, invertendo o curso, mas sempre se mantendo dentro dos limites do estreito círculo no qual celebrava seu triunfo sobre mim (...)
Para mim foi uma glória quando a 'resmungona', que nunca brincava, pousou, num momento de distração, dentro da zona proibida e foi capturada imediatamente por minha mão. Depois disso, ela ficou amuada durante uma hora.”

Leia também:

A natureza selvagem segundo Jack London

Pensamento para sexta-feira: Eu e os insetos (ou, motivos para ter medo de insetos)

A íntegra da matéria do iG

Na resenha esportiva da semana, destaque para Libertadores e Didier Drogba

Num medonho campo de futebol society grande, o Santos bateu o Juan Aurich em Chiclayo, no Peru, por 3 a 1, pela terceira rodada da fase de grupos da Libertadores. Com a vitória fora de casa, o Alvinegro fica confortável no grupo 1. A única dúvida é sobre qual time será o líder da chave, o próprio Santos ou o Internacional. Inter, Santos e The Strongest, em 3 jogos, somam seis pontos. O Aurich tem zero. O time de Muricy Ramalho, cada vez mais forte, fará na volta dois jogos em casa (The Strongest e Aurich) e um fora (Inter). A tabela do Colorado é inversa: pega bolivianos e peruanos fora e recebe o Santos no Beira Rio (na Vila, 3 a 1 para o Peixe - relembre aqui).




(Parênteses: a Libertadores ainda vive na “idade média” do futebol. No jogo Cruz Azul 0 x 0 Corinthians, o meia Alex não podia bater um escanteio tamanha era a quantidade de objetos de todos os tipos que lhe eram atirados. Ao fim do jogo, o time brasileiro teve dificuldades para sair do campo. Na partida do Santos, os atletas jogaram com um tipo de tênis para se adequar a um campo grotesco de borracha. No vale-tudo da Libertadores, cartões amarelos não acumulam de um jogo para outro, o que significa que a pancadaria é liberada. O futebol no continente ainda está no século passado, e é incrível que, passa ano e entra ano, tudo continua igual.)

Voltando. No grupo 6, o Corinthians está sossegado. Contra o Cruz Azul, na quarta, fora de casa, deu um banho nos mexicanos e só não ganhou porque o time, principalmente com Liédson e Paulinho, desperdiçou as chances que teve, embora (quem não faz, toma) a esquadra de Tite só não tenha tomado o gol da derrota no fim do jogo porque Chicão tirou milagrosamente uma bola quase de dentro da meta, como um cirurgião. O Timão só não pode tropeçar contra o mesmo Cruz Azul na semana que vem no Pacaembu.

No grupo 5, embora vice-líder, o Vasco da Gama está namorando com a tragédia de cair na primeira fase. Tudo depende da próxima rodada, quando a equipe cruzmaltina fará contra o Libertad (time ardiloso) sua última partida em casa, das três que restam. Se só empatar e o Nacional (URU) bater o Alianza Lima, acho que bau-bau.

No grupo 2, o Flamengo tropeçou contra o Olímpia do Paraguai, empatando no Rio em 3 a 3 nesta quinta. Fará agora dois jogos fora (Olímpia e Emelec) e um em casa (Lanús), na última rodada. O Rubro-Negro lidera, mas o grupo é equilibrado e ele está apenas dois pontos à frente do quarto colocado (Emelec) e um do 2° e do 3° (Olímpia e Lanús).

No grupo 4, o Fluminense segue em vôo de cruzeiro. Três jogos e três vitórias, inclusive contra o Boca Juniors em La Bombonera. Mas em Libertadores isso pode não significar nada.

O espetacular Drogba avança com o Chelsea

Dito tudo isso, viajando à Europa, encerro com a figura que para mim foi o destaque da semana. O grande Didier Drogba, que, junto com o meia Lampard e o zagueiro capitão Terry, levou o até então cambaleante Chelsea às quartas-de-final da Liga dos Campeões, ao bater o Nápoli em Londres por um improvável 4 a 1 (no jogo de ida, o time italiano vencera os ingleses por 3 a 1). Não gosto do Chelsea, torci pelo Nápoli. Mas Drogba, hoje com 34 anos, que nunca está na lista dos mais badalados, é para mim um dos maiores do mundo. E a vitória do seu time foi espetacular.

quinta-feira, 15 de março de 2012

O caos nos transportes e o cinismo do governador de São Paulo

Foto: José Cruz/ ABr
Após o inacreditável caos provocado por panes sucessivas na Linha 9 - Esmeralda da CPTM e Linha Vermelha do metrô, que redundaram em um efeito dominó de grandes proporções e afetaram no mínimo 200 mil pessoas na manhã de ontem (quarta, 14), em São Paulo, a população pode ficar tranqüila. O solerte governador Geraldo Alckmin já anunciou, no fim da manhã de hoje, que a Linha 9 terá a circulação interrompida em alguns domingos, para manutenção, segundo o portal Terra.

O governador afirmou ainda que os problemas que geraram o caos "estão sendo averiguados com absoluto rigor para avaliar se é falha técnica, se é falha humana”, disse ele. Alckmin não mencionou o sucateamento, falta de investimento, precarização do trabalho e outros probleminhas que não passam de intriga da oposição.

Quer dizer, caro internauta, que durante a semana você pode ir se acostumando, se ainda não se acostumou, com os problemas gigantescos que podem surgir a qualquer momento. Já aos domingos, quando é dia de passear com a família, ir a um jogo de futebol, no teatro ou fazer uma visita, quem não tem carro e precisa da Linha 9 da CPTM que fique em casa. Trabalhador pobre foi feito para isso mesmo, segundo a concepção de governo tucano que vige em São Paulo há 16 anos.

No mínimo 200 mil usuários padeceram em mais uma manhã apocalíptica na capital

E a justificativa do ilustre governador para a manhã apocalíptica de quarta-feira? Ele argumentou solenemente que as falhas são poucas em relação ao grande movimento do sistema. "De janeiro a 12 de março deste ano, foi uma ocorrência a cada 16 milhões de passageiros transportados e 19 viagens", raciocinou.

Curiosa matemática essa, a do governador. Quer dizer que é bom parar de usar a insuficiente malha ferroviária metropolitana de São Paulo, pois quanto mais usuários, mais problemas. Então, não use trens nem metrô, caro usuário. Opte por andar a pé ou de bicicleta. Nesse caso, para facilitar sua vida e não chegar no trabalho todo suado ou acabar morto quando sua bicicleta for atropelada por um ônibus, mude-se para uma casa perto do trabalho.

O governo do Estado de São Paulo agradece.

quarta-feira, 14 de março de 2012

Assinantes da Sky já podem ver Libertadores. Net ainda ignora assinantes


Torcedor do Santos assinante da Net terá de apelar a transmissões instáveis pela internet para assistir à partida com o Juan Aurich, às 19:45 desta quinta-feira

“A partir desta quarta, às 12h, o canal Fox Sports está disponível para os assinantes da Sky, a maior operadora de TV por assinatura via satélite. O acordo prevê a inclusão do Fox Sports em substituição ao Speed Channel, no canal 28.”

Flu de Deco vem de grande vitória contra o Boca
A informação está no próprio site da Fox Sports. Assim, segundo a empresa, o torcedor que assina a Sky já poderá ver hoje mesmo as partidas da Libertadores:

Fluminense x Zamora, às 19h45
Cruz Azul x Corinthians, às 22 horas

A emissora ainda usará o sinal do canal FX para passar Libertad x Vasco da Gama, por ser esta partida no mesmo horário do jogo do Corinthians, às 22 horas.

*Na quinta-feira, 15, os santistas que têm Fox Sports poderão ver Juan Aurich x Santos (direto do Peru), às 19:45. Mais tarde, às 21:45,  o canal transmite Flamengo x Olímpia.

Net continua ignorando seus assinantes

Resta a Claro TV e a Net. Esta última, segundo se divulga, detém aproximadamente 38% do mercado, mas por enquanto ignora seus assinantes, não lhe dá satisfação e parece estar apenas retaliando a concorrente, que resolveu exercer este ano seu direito de exclusividade e tirou a Net da parada. Oi, TVA, GVT, CTBC, Nossa TV, Telefônica, RCA e NeoTV já fecharam acordo com a Fox Sports, mas, juntas, elas detém apenas cerca de 15% do mercado. A Sky tem 30%.

Curioso que ontem, 13, até o “professor” Joel Santana se dirigiu a um repórter da Fox Sports em tom de reclamação e brincadeira e disse: “Vocês não me deixam ver a Libertadores”. A frase agora deve ser dirigida à Net. Seus assinantes merecem no mínimo uma satisfação. O acordo entre Fox Sports e Sky tende a pressionar a Net e a Claro TV, que agora estão isoladas em sua intransigência arrogante.

*Atualizado às 21:40

terça-feira, 13 de março de 2012

Gestão de Ana de Hollanda está em fase terminal


Elza Fiúza/Agência Brasil
Hora de deixar o ministério?
A ministra Ana de Hollanda, da Cultura, entrou num inferno astral daqueles, a indicar que sua gestão está em fase terminal. Hoje, a Comissão de Educação, Cultura e Esporte do Senado aprovou convite para ela discorrer, digamos assim, sobre denúncia de suposto favorecimento, em sua pífia passagem de 14 meses pelo Minc, ao Escritório Central de Arrecadação e Distribuição (Ecad). O requerimento de convocação da irmã de Chico Buarque foi proposto pelo senador Randolfe Rodrigues (PSOL-AP).

Ontem, o jornalista Jotabê Medeiros publicou matéria sobre as relações perigosas do Minc com o Ecad segundo a qual “documentos que agora emergem dos bastidores do poder sugerem uma sintonia siamesa”.

E no Twiter, o jornalista João Villaverde, do Valor Econômico, disse agora há pouco que a ministra não deve chegar até o fim do mês no cargo (clique na imagem abaixo para ler melhor).


Cobrança de blogueiros

Recentemente, vários blogueiros começaram a receber cobranças de até R$ 352 do Ecad por usarem vídeos do Youtube em seus posts, o que é uma aberração, já que fere qualquer conceito de compartilhamento inerente à internet tal como a conhecemos. Diante de repercussão negativa nas redes sociais, no Brasil e até no mundo, e perante a reação da Google, dona do YouTube, o Ecad suspendeu a cobrança.

No último dia 9, a Google divulgou nota esclarecendo sua posição de maneira enfática e dura: “O Ecad não pode cobrar por vídeos do YouTube inseridos em sites de terceiros”. E acrescenta: “Nós esperamos que o ECAD pare com essa conduta e retire suas reclamações contra os usuários que inserem vídeos do YouTube em seus sites ou blogs”.

A nota da Google na íntegra: Sobre execução de música em vídeos do YouTube

Sobre o MinC de Ana de Hollanda, leia também:

Ato de Ana de Hollanda sobre Creative Commons causa perplexidade e indignação

Ana de Hollanda deu uma canetada e se escondeu na concha

Dilma tem que pôr fim à arrogância de Ana de Hollanda

segunda-feira, 12 de março de 2012

Sai Ricardo Teixeira, entra José Maria Marin, o homem da medalha. Isto é CBF


Uma das coisas que sempre me espantaram no futebol é o caráter de imutabilidade do poder.

O que muda com a renúncia de Ricardo Teixeira, que presidiu a “entidade máxima do futebol brasileiro” como um imperador romano por incríveis 23 anos? Apesar da satisfação pelo fim de sua dinastia em si, na verdade nada vai mudar. O que se pode dizer quando se sabe que seu sucessor é José Maria Marin, não exatamente um modelo de homem público nem de gestor do que quer que seja? Talvez as coisas até piorem, o que faria com que algum saudoso esquecido um dia dissesse: viu, e vocês falavam mal de Ricardo Teixeira! Último governador biônico de São Paulo, Marin exerceu um mandato tampão como substituto do padrinho Paulo Maluf entre 14 de maio de 1982 e 15 de março de 1983, antes de Franco Montoro, que foi eleito na primeira eleição direta pós-ditadura.

Como disse o Felipe Cabañas em comentário a post sobre a seleção brasileira, digo, balcão de negócios, na semana passada: "Eu nem sei mais se adianta o Ricardo Teixeira cair. Acho que a CBF precisa é de uma refundação! Só uma revolução pra fazer a faxina necessária". O temor, então, era que o escolhido para substituir Teixeira fosse Fernando Sarney, um dos vices da CBF.

Mas, se não é um apaniguado do clã Sarney, o novo chefão da entidade, que ficará no cargo até abril de 2015!, é o homem cuja imagem pública mais recente é a do furto da medalha da Copa São Paulo, em janeiro último:



Basta ou precisa dizer mais? A cara de pau dos homens que “administram” o futebol brasileiro é tanta que eles devem se divertir fartamente com a indignação alheia. "Vocês vão ter de me engolir." A frase, dita pelo Zagallo após título da Copa América em 1997, para mim, ilustra à perfeição o status quo do sistema milionário da entidade que administra a “maior paixão brasileira”.

Zagallo, aliás, hoje um respeitável velhinho, é outra figura que nunca topei, com seu ufanismo tosco e a soberba de quem se sabe protegido pelos chefões, entronizado que foi como um símbolo mitológico da “amarelinha”. Um mito de papel. E o brasileiro continuará a engolir sapos. Anfíbio, desta vez, representado pelo presidente tampão José Maria Marin. Rejubile-se, caro torcedor brasileiro.

domingo, 11 de março de 2012

Salve Iansã!


Um vídeo caseiro impressionista



Não seja otário: não compre DVDs piratas


Uma coisa que, depois deste sábado, não farei nunca mais novamente: comprar DVD pirata. Não tenho nada contra as pessoas trabalharem. Mas, realmente, ao adquirir esses produtos você está à mercê de pilantras que não pagam impostos, vivem fugindo do “rapa” (porque não passam de criminosos) e enganam o consumidor. Pobrezinhos deles, não é? Precisam tanto trabalhar!

Eu tinha três filmes para ver nesta noite de sábado, que comprei de camelôs. O primeiro, O Evangelho segundo São Mateus (obra-prima de Pier Paolo Pasolini que queria rever). O filme inicia e vejo que tem dois problemas graves:

- as opções de idioma do DVD são inglês e português, o que não tem o menor sentido, pois o filme de Pasolini é intrinsecamente italiano, sua alma e seu idioma são italianos. Pasolini em inglês é para otários ou ignorantes, e eu não sou nem uma coisa nem outra.

- O DVD que comprei do camelô é colorizado, o que tem menos ainda a ver com um filme neo-realista de 1964.

Ou seja, a pessoa que compra o filme e não o conhece está vendo uma obra deturpada sem saber. E quem conhece e quer rever, só pode ficar frustrado e se sentir enganado.

O segundo filme comprado de camelô (na rua Augusta, perto do Espaço Unibanco), ao qual tentei assistir neste sábado, é o mais recente do iraniano Asghar Farhadi, A Separação, que acaba de ganhar o Oscar de Melhor Filme Estrangeiro . Mas as legendas do DVD que comprei não casam com as falas. Você fica vendo os diálogos e, enquanto um personagem está falando, a legenda está mostrando uma fala anterior. Mais uma vez: me senti um otário e tirei o filme.

E, com ingênua esperança, pus no drive o terceiro DVD que comprei de camelô. Um hollywoodiano, Justiça para todos, com Al Pacino. Foi tudo bem, passou todos os trailers, uma beleza! Mas na hora de começar o filme propriamente dito, simplesmente não rodou!

Enfim, meus amigos, parece até piada, mas eu tinha três filmes para ver neste sábado e não assisti a nenhum! Perdi a noite, fiquei nervoso, gastei dinheiro à toa e estou aqui a escrever este post.

E ainda tem gente que defende os pobrezinhos dos camelôs que batalham tanto, fogem tanto do “rapa”, coitadinhos. Porém, na falta de adjetivo melhor, eu diria mesmo que não passam de uns pilantras e vagabundos.

Mas, de mim, tenham certeza, eles não vão ganhar nunca mais os “três real” por um DVD ou cinco por dois que cobram para enganar os otários, como me senti esta noite.

sábado, 10 de março de 2012

Agressões a moradores de rua serão discutidas por autoridades em reunião em Brasília


BARBÁRIE


Foto: ABr
Brasília – A secretária nacional de Promoção e Defesa dos Direitos Humanos (vinculada à Secretaria Nacional de Direitos Humanos), Salete Valesan Camba, condenou a onda de agressões a moradores de rua. Só hoje (10), dois moradores de rua foram mortos a tiros em Brasília e um terceiro queimado em Campo Grande (Mato Grosso do Sul). O assunto será tema da reunião da Coordenação do Comitê das Populações de Rua, no fim do mês, em Brasília.

“Há a necessidade de uma política federativa, construída a partir de ações comuns do governo federal com os governos estaduais e municipais e o apoio da sociedade. É preciso prevenir a violência e combatê-la”, disse à Agência Brasil Salete Camba. “Estamos muito preocupados. Parece que há uma circulação de violência. Isso é muito grave. A sociedade precisa se indignar e não pode aceitar tudo isso como normal.”

Segundo a secretária, desde o ano passado os governos se uniram em busca de alternativas para garantir assistência aos moradores de rua. Salete Camba lembrou que recentemente as agressões se voltaram às comunidades empobrecidas de São Paulo. “A partir daí, houve vários casos”, acrescentou.

Na manhã de hoje, por volta das 7h, dois moradores de rua de Brasília foram assassinados a tiros. Eles dormiam sob árvores, em uma região nos arredores da capital. Pelas investigações preliminares, o atirador disparou várias vezes contra os homens.

O caso é investigado pela 21ª Delegacia de Polícia. Ainda não há informações sobre as motivações do crime. A perícia esteve no local e localizou cápsulas das balas utilizadas. Os dois homens mortos estavam sem documentos.

Em Campo Grande, Mato Grosso do Sul, um morador de rua também foi vítima de agressões hoje. O jovem, de 22 anos, foi amarrado a uma árvore e teve 40% do corpo queimados. Ele está internado.

Há duas semanas em Brasília, um comerciante contratou um grupo de jovens para queimar dois homens que moravem em frente à loja dele. Uma das vítimas morreu e a outra está internada em estado grave no Hospital Regional da Asa Norte (Hran).

A polícia identificou os homens que atearam fogo aos moradores de rua. Segundo os policiais, o comerciante que contratou os homens pagou R$ 100 pelo crime. De acordo com o comerciante, os moradores de rua atrapalhavam seu negócio.

No dia 20 de abril completa 15 anos de um crime que chocou o país. Jovens da classe média alta incendiaram e mataram o índio pataxó Galdino Jesus dos Santos. Em 1997, o índio foi morto no momento em que dormia em uma parada de ônibus na Asa Sul de Brasília. O local ganhou uma praça com o nome do indígena.

Da Agência Brasil

A queda do Imperador


"Adriano está fora da equipe, fora da concentração. Não treinou como eu gostaria que treinasse durante a semana e por isso está fora (...) Os trabalhos nessa semana não tiveram aplicação, intensidade e dedicação tal qual os outros.”

O camisa 9 quando chegou ao clube, há um ano

A fala de Tite na coletiva desta sexta-feira parece ter sido o ponto final na triste passagem de Adriano pelo Corinthians.

E pensar que houve quem dissesse que o tento que o camisa 9 marcou contra o Atlético-MG pelo Brasileirão de 2011 foi o “gol do título” do Corinthians, como se o “gol de R$ 4,5 milhões” tivesse valido mais do que o emprenho de todo o elenco e da comissão técnica, que durante toda a temporada suaram a camisa e trabalharam em busca do objetivo.O "atleta" ficou um ano no clube e fez acho que dois gols (ou pouco mais - sic).

A última imagem que deve ficar do jogador com a camisa alvinegra provavelmente será a do olé que tomou de Paulo Henrique Ganso na Vila Belmiro, no domingo 4 de março, quando o Peixe bateu o Timão por 1 a 0. Melancólica despedida de um ex-imperador.


quinta-feira, 8 de março de 2012

Neymar faz partida para a história do futebol e Santos destrói o forte Internacional na Vila


LIBERTADORES

Mais uma vez, quem viu, viu. Azar de quem não viu. Como se não bastasse a espetacular partida do time do Santos como um todo na grande vitória de 3 a 1 sobre o Internacional na Vila Belmiro pela segunda rodada da Libertadores, a jornada de Neymar foi uma daquelas para entrar nos anais da história do futebol.

Foram três gols do craque da camisa 11: o primeiro, de pênalti, sofrido por Borges, o único fato digno de nota do apagado 9 santista neste 2012; o segundo, antológico, do mesmo nível do que anotou contra o Flamengo no ano passado, que ganhou o prêmio FIFA de gol mais bonito da temporada no mundo; e o terceiro, logo após o Inter fazer 1 a 2, mais um de Rey. Este último foi só um chorinho de presente para o professor Dorival Júnior. Gosto de ver jogo no campo, e tenho inveja de quem esteve hoje na Vila Belmiro. Por isso tudo, este jogo merece uma ficha técnica para arquivar, que está abaixo no post.





Ganso, soberbo

Mas, fora o craque maior, Paulo Henrique Ganso fez de sua parte uma partida soberba, gigante. No segundo tempo, quando Dorival Junior colocou Tinga e Dagoberto, ambos ao que parece para bater, Ganso só não tirou Dagoberto do jogo com cartão vermelho porque o árbitro gaúcho da federação paranaense não quis. Ganso ganhou o temperamental Dagol na provocação, no drible, duas ou três vezes em poucos minutos, e o enfezado ex-são paulino revidou com pontapés o que não conseguiu combater jogando bola. Desde os tempos de São Paulo, eu presto atenção em Dagoberto num aspecto que ele só confirma: me parece um dos jogadores mais desleais dos grandes clubes brasileiros de hoje.

Foto: Ivan Storti/ Divulgação - Santos FC
Quem pode quando esses dois estão inspirados?

É bem verdade que Paulo Henrique deu uma entrada no primeiro tempo, no jovem meia Oscar, que poderia ter-lhe rendido o vermelho. Mas é certo que Ganso não entrou na partida, sua melhor com a camisa do Santos em 2012, para bater. Não é do seu feitio. Mas os gestos do Ganso de hoje me lembraram o Ganso da final contra o Santo André em 2010. Altivo, categórico, impondo-se e levando o adversário ao desespero, à raiva e à impotência.

E Arouca? Outro gigante. Atuou em todo o campo, como um motor, um dínamo. Até os 12 minutos do primeiro tempo, tinham sido dele três finalizações perigosas contra o gol colorado, uma delas salva em grande defesa do goleiro com nome de anjo, Muriel.

Acuado no primeiro tempo, o Inter porém quase se deu bem no único setor falho do Santos, a lateral esquerda, por onde o time gaúcho penetrou várias vezes, nas duas etapas da partida. Seja nas bolas que Juan tomou nas costas, seja pela falta de cobertura no vazio deixado pelo lateral que não voltava a tempo. Numa dessas bolas, já no segundo tempo, Rafael fez um milagre em finalização acho que de Damião. Na lateral direita, Fucile não comprometeu.

Os beques Dracena e Durval fizeram partida quase impecável, não fosse pela falha no gol colorado, mas que foi uma falha geral do time.

E o jogo terminou em olé. Os gaúchos, que levaram um baile de bola em Santos, não vão querer deixar barato na volta em Porto Alegre. Mas se forem muito afoitos, vão perder lá também.

Corinthians e Fluminense

Termino o post a tempo de dizer que o Corinthians ganhou de 2 a 0 do pobre Nacional do Paraguai (lógica absoluta) no Pacaembu e o Fluminense ganhou com autoridade do Boca Juniors em La Bombonera. Destaque para Deco, que fez um jogo primoroso, e Fred, decisivo como sempre.

Ficha Técnica

Santos 3 X 1 Internacional
(Vila Belmiro - Santos)

Santos: Rafael; Fucile (Bruno Rodrigo), Edu Dracena, Durval e Juan; Henrique, Henrique, Ibson (Elano) e Paulo Henrique Ganso; Neymar e Borges (Alan Kardec). Técnico - Muricy Ramalho.

Internacional: Muriel; Nei, Rodrigo Moledo, Índio e Kléber; Bolatti (Tinga), Guiñazu, Elton (Dátolo), D'Alessandro (Dagoberto) e Oscar; Leandro Damião. Técnico - Dorival Júnior.

Gols: Neymar (pênalti), aos 18 minutos do primeiro tempo. Neymar, aos 9, Leandro Damião aos 18 e Neymar 19 minutos do segundo tempo.

Árbitro: Evandro Rogério Roman (Fifa-PR)

terça-feira, 6 de março de 2012

Escalada de proibições e obscurantismo
avança no Brasil

Estamos realmente entrando em uma escalada autoritária, moralista e obscurantista cujo fim não se pode prever. Na esteira de uma proibição, vem sempre outra, e outra, e outra. Quando os incautos, ingênuos e ignorantes percebem, eles mesmos começam a ser vítimas dos tentáculos do polvo que antes defenderam.

Depois da proibição do fumo, que muita gente apoiou, embora proibir seja sempre o caminho mais perigoso, agora a Assembleia Legislativa de São Paulo se sente à vontade e deve apresentar esta semana um novo projeto, desta vez para proibir a venda e consumo de álcool nos espaços abertos. O projeto é de autoria de Campos Machado (PTB). Se aprovado e sancionado pelo governador Geraldo Alckmin (PSDB), segundo a Agência Estado, “ficarão proibidos a venda e o consumo de bebida alcoólica em ambientes públicos, como praias, calçadas, postos de gasolina e estádios, entre outros lugares”.

E mais: “Como ocorre em províncias canadenses e estados americanos, ainda haverá restrição ao porte de bebida nas ruas. Carregar garrafas só será permitido em público com embalagens que escondam o rótulo”.

Pergunto: estamos caminhando a uma volta ao período da Lei Seca dos anos 1920 dos Estados Unidos, que fomentou a máfia? Até onde vai a hipocrisia dos que querem ver as diferenças e as liberdades individuais proscritas? Você terá que andar escondendo uma latinha de cerveja na praia e na rua como se fosse um criminoso? E de fato será, caro leitor, pois está claro que afrontar uma lei é crime.

A propósito da proibição do fumo, acho que, como já escrevi aqui, “a legislação promove a discriminação das pessoas, incentiva a delação, prejudica o comércio, é inconstitucional e fascista”. No caso da lei do nobre Campos Machado, envereda-se pelo caminho do fascismo com uma sem-cerimônia assustadora.

Livros

A sanha proibitiva e, no fundo, como digo, fascista, não vem só do que chamamos de direita política. O episódio contra a obra de Monteiro Lobato em 2010 já mostrou que a chamada esquerda também tem gosto pela proibição. E de livros. Outro fato, este recentíssimo relativo a obras literárias, mira agora um outro livro. O dicionário Houaiss.

O Ministério Público Federal (MPF) entrou com ação na Justiça Federal em Uberlândia (MG) para tirar de circulação o dicionário, por discriminação ao povo cigano.

Ora, qualquer discriminação de cunho racista é abominável. Mas estamos falando de um dicionário, minha gente, pelo amor de Deus. O Houaiss registra várias acepções do termo cigano (como de qualquer outra etnia), entre as quais define expressamente como "pejorativa" esta: "aquele que trapaceia; velhaco, burlador".

O dicionário não está dizendo que o cigano é “velhaco”. Está dizendo que uma de suas acepções, “pejorativa”, é esta.

Concordo com o que diz Paulo Gurgel em seu blog EntreMentes: “o compromisso tácito” de “todo lexicógrafo que se preze” é o de “apresentar o repertório de significados atribuídos a cada palavra e indicar as particularidades de seu uso (‘informal’, ‘antiquado’, ‘chulo’, ‘regional’, etc.). Nosso douto procurador [Cléber Eustáquio Neves, que entrou com a ação contra o dicionário] deveria ter percebido que as informações apresentadas pelo Houaiss — que, desculpem lembrar a obviedade, não é uma enciclopédia — se referem ao termo, e não ao povo cigano. No dia em que registrar os valores depreciativos que certos vocábulos assumiram ao longo do tempo for considerado um crime, nossa língua — ou melhor, nossa civilização terá embarcado numa viagem sem volta para a noite escura da desmemória".

O caminho da proibição que se dissemina na sociedade brasileira – de fundo religioso, moralista, supostamente em prol da saúde ou em defesa do “direito das minorias”, seja qual for – é muito, muito preocupante. Já cansamos de ver na história (e não apenas no século XX) que esse é muitas vezes um caminho sem volta. Apoiado pela má-fé, por interesses obscuros e inconfessáveis ou pela ignorância.

PS (atualizado às 16:31): Logo após a publicação deste post, vi pelo twitter (por @ALuizCosta) que o Dicionário Houaiss divulgou release sobre sua posição a respeito do verbete "cigano", sugerindo uma solução para o problema em tais casos: "Registrar a palavra ou a acepção e dizer claramente, quando é o caso, que ela é pejorativa e preconceituosa". Íntegra aqui.

domingo, 4 de março de 2012

Peixe bate o Timão em jogo camarada


Peixe e Timão fizeram um jogo em ritmo de treino na volta do Peixe à Vila Belmiro após a reforma do gramado. Resultado: Santos 1 x 0 Corinthians, gol de Íbson, aos 12 minutos do segundo tempo.

Sem vários titulares (Liédson, Danilo, Alessandro, Chicão, Leandro Castán e Paulinho – que entrou no segundo tempo), o Timão fez valer o conjunto para tentar quebrar o óbvio favoritismo da equipe santista, com sua força máxima.

Só que a impressão que deu o clássico é que havia um acordo tácito, como se um time tivesse dito ao outro: quarta-feira tem Libertadores, vamos fazer um treininho sem drama! E assim foi.



O Santos fez uma partida de segurança. Neymar teve a atuação mais apagada de que tenho lembrança. Quem desequilibrou, cadenciando, dando inteligência e armando o time, foi Ganso. Foi dele o passe magistral para Íbson definir o placar aos 12 minutos do segundo tempo.

Enquanto o Corinthians fez seu jogo tradicional, pragmático, em que os desfalques parecem fazer menos efeito do que fariam se o time não tivesse um padrão de jogo tão definido como tem, goste-se dele ou não. Resumindo, foi um prélio de compadres, com poucas faltas duras (como têm sido os encontros entre os dois times nos últimos tempos) e uma gentileza de parte a parte de irritar torcedores que gostam de rivalidade e jogo pegado.

Na quarta-feira, 7, o Peixe tem partida importantíssima e difícil com o Internacional pela Libertadores na Vila precisando ganhar, já que perdeu do The Strongest na estréia (2 a 1). O Timão – que começou empatando com o Táchira na Venezuela (1 a 1) – enfrenta o Nacional do Paraguai no mesmo dia, no Pacaembu.

O clássico vovô de hoje foi mais importante como estatística do que como jogo ou classificação, num campeonato de regulamento político feito para classificar os grandes e mais quatro pequenos. Mas ganhar um clássico é bom até em jogo de botão. Então, está valendo, nação santista.

A última vitória do Corinthians sobre o Santos foi justamente na fase de classificação do Paulista do ano passado, por 3 a 1. Já são cinco jogos (links abaixo) sem vitória do Alvinegro do Parque São Jorge sobre o Alvinegro da Vila.

2011

Corinthians 3 x 1 Santos (Paulistão, primeira fase)

Corinthians 0 x 0 Santos (Paulistão, final - jogo de ida)

Santos 2 x 1 Corinthians (Paulistão, final - jogo de volta: Santos campeão)

Santos 0 x 0 Corinthians (Brasileiro, 1° turno)

Corinthians 1 x 3 Santos (Brasileiro, 2° turno)

2012

Santos 1 x 0 Corinthians (Vila Belmiro - Paulistão – primeira fase)

Ficha Técnica

Santos 1 x 0 Corinthians
Vila Belmiro, Santos, 4/3/2012
Árbitro: Wilson Luiz Seneme
Assistentes: Herman Brumel Vani (SP) e Danilo Ricardo Simon Manis (SP)
Renda/ público: R$ 284.240/ 12.818
GOL: Ibson 12′/2T (1-0)
Santos: Rafael; Fucile, Edu Dracena, Durval e Juan; Arouca (Felipe Anderson 44′/2T), Henrique, Ibson (Elano 25′/2T) e Ganso; Neymar e Borges (Alan Kardec 28′/2T). Técnico: Muricy Ramalho
Corinthians: Julio Cesar; Welder (Paulinho 34′/2T), Marquinhos, Wallace e Fábio Santos; Ralf, Edenilson, Willian (Ramírez 13′/2T) , Alex, Jorge Henrique; Adriano (Elton 24′/2T). Técnico: Tite



sábado, 3 de março de 2012

José Serra se transforma numa figura cômica. Ou: a política não foi feita para idealistas


Não tive tempo nesta sexta-feira, 2, de parar para postar aqui no blog. Mas (antes tarde do que nunca) ainda cabe a nota. O presidente do diretório do PSDB de Ermelino Matarazzo (zona Leste de São Paulo), Waldemiro Junior, passou uma descompostura no colega e pré-candidato tucano à prefeitura paulistana José Serra que reflete bem a divisão que a figura de Serra semeia no PSDB. Inclusive nacionalmente, pois a disputa surda entre ele e Aécio Neves é quase transparente, desde a eleição de 2010, aliás.

A mudança na fisionomia de Serra (e também de Bruno Covas) e o constrangimento geral durante a fala de seu correligionário de Ermelino Matarazzo (reduto de Marta Suplicy, diga-se) é notável, a partir do momento em que o tucano Waldemiro Junior diz, para espanto da assembléia: “Não é uma sensação agradável, Serra, hoje de tá aqui na sua frente”. Dá quase para ver a fumaça do ódio de José Serra invadir o ambiente.





Não por acaso, ocorreu-me a matéria de Fernando Rodriges na Folha de S. Paulo desta mesma sexta-feira, segundo a qual o prefeito Gilberto Kassab teria dito recentemente ao presidente nacional do PT, Rui Falcão, que “o Serra não vai mais ser candidato a presidente da República (...). Para a [presidente] Dilma, a melhor coisa que poderia acontecer é o Serra prefeito de São Paulo. Porque se tiver Dilma e Aécio, Serra é Dilma [na disputa presidencial de 2014]". Íntegra da matéria da Folha para assinantes . A política não foi feita para idealistas, meus amigos.

Não esqueçamos também a cômica passagem em que José Serra demonstra que não sabe nem mesmo qual é o nome do país que quis presidir, ao dizer a Boris Casoy que o Brasil chama "Estados Unidos do Brasil".

sexta-feira, 2 de março de 2012

O jornalismo, segundo Baudelaire – pensamento para sexta-feira (26)


"É impossível percorrer uma gazeta qualquer, seja de que dia for, ou de que mês, ou de que ano, sem nela encontrar, a cada linha, os sinais da perversidade humana mais espantosa, ao mesmo tempo que as gabolices mais surpreendentes de probidade, de bondade, de caridade, e as afirmações mais descaradas a respeito do progresso e da civilização.

Os jornais, sem exceção, da primeira à última linha, não passam dum tecido de horrores. Guerras, crimes, roubos, impudicícias, torturas, crimes dos príncipes, crimes das nações, crimes dos particulares, uma embriaguez de atrocidade universal.

É com esse repugnante aperitivo que o homem civilizado acompanha a sua refeição de cada manhã. Tudo, nesse mundo, transpira o crime: o jornal, a muralha e o semblante do homem. Não compreendo que uma mão pura possa tocar num jornal sem uma convulsão de repugnância."


"Meu coração desnudado" (Charles Baudelaire, texto 81
editora Nova Fronteira, 1981
Tradução: Aurélio Buarque de Holanda Ferreira
)