sábado, 30 de agosto de 2014

Marina se dobra a Malafaia. Imagine Marina presidente



Malafaia comemora no Twitter o recuo de Marina e ataca Jean Wyllys









Marina Silva deu a primeira grande brecha em sua campanha. Apenas 24 horas depois de lançar seu programa de governo, no qual defendia o casamento civil entre homossexuais, ela voltou atrás. A campanha da candidata alegou, em nota oficial, que o recuo foi causado por “uma falha de diagramação”. “Agora, a nova redação não defende alterações na legislação. Ressalta apenas a garantia 'de direitos oriundo da união civil entre pessoas do mesmo sexo', o que já foi reconhecido pelo Supremo Tribunal Federal (STF)”, esclarece matéria do Correio Braziliense. Ontem, no lançamento do seu programa de governo, Marina Silva já  havia dito, sobre o aborto, que defende o que prevê a lei já existente.

Mas isso não é tudo. A candidata do PSB recuou após pressão feita pelo deputado Silas Malafaia em sua conta no Twitter. Depois da divulgação do programa de governo de Marina, Malafaia chamou a proposta sobre a causa LGBT de “vergonha pior do que do PT e do PSDB”.  "Aguardo até segunda uma posição de Marina. Se isso não acontecer, na terça será a mais dura fala que já dei até hoje sobre um presidenciável", escreveu no twitter.

 O jornalista Ricardo Noblat, que todo mundo sabe não ser nenhum esquerdista que come criancinha, escreveu: "Pegou mal. Ontem, Marina retificou parte do seu programa de governo sobre energia nuclear. Hoje, sobre LGBT. O que de fato ela pensa?"

“Bastaram quatro tuites do pastor Malafaia para que, em apenas 24 horas, a candidata se esquecesse dos compromissos de ontem, anunciados em um ato público transmitido por televisão, e desmentisse seu próprio programa de governo, impresso em cores e divulgado pelas redes”, escreveu o deputado do PSOL do Rio de Janeiro Jean Wyllys no Facebook. “Marina, você não merece a confiança do povo brasileiro!”, acrescentou o parlamentar.

Imaginem Marina presidente do Brasil. Cedendo a pressões das bancadas mais reacionárias da política brasileira e do Congresso Nacional. Manipulável por neopentecostais, ruralistas, banqueiros e grandes empresários. E com uma fraqueza política comparável a Collor e Jânio Quadros.

Seria o pior dos mundos.

Chame-se Marina do que for, menos de "nova política" ou "terceira via"






O que explica que Marina Silva, uma candidata sem partido (hospedada temporariamente no PSB para não ficar de fora das eleições presidenciais deste ano), com um discurso que alterna diletantismo e conservadorismo, em crise com sua base política, alçada à condição de candidata pelo acaso e ainda com propostas confusas para diversas áreas, possa aparecer como uma opção viável de "terceira via" ou "nova política"?

Creio que, em parte, porque o massacre midiático anti-PT atingiu níveis críticos e, neste ano, parte expressiva do eleitorado está mais preocupada com quem vai sair do que com quem vai entrar, o que costuma ser uma opção eleitoral suicida.

Por outro lado, o PSDB passa por uma séria crise (a não ser, evidentemente, em seu feudo particular, o estado de São Paulo), e não se apresenta mais, mesmo com o candidato que muitos chegaram a ver como o mais promissor desde FHC, como opção de transformação. Esta mesma crise passará a rondar o PT se o partido perder o governo federal e não perceber que é já hoje um partido que carece de reformulação e da ascensão de novas lideranças, como Fernando Haddad.

De todo modo, podemos dizer que, se há uma "imprensa de oposição" (e há, embora alguns veículos assumam oficialmente, como o próprio Estadão, e outros não), o tiro da campanha negativa anti-PT sairá pela culatra: o preço será a promoção de uma incógnita, ao contrário do que seria a eleição de Aécio Neves.

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Nos últimos dias temos ouvido falar da candidatura de Marina Silva como "terceira via". Creio que este é um conceito maltratado, muito mal utilizado e, com toda a certeza, boa parte do suposto eleitorado da ex-petista não tem a menor ideia do que seja.

Em termos de pensamento político no pós-guerra fria, terceira via significa sobretudo o meio termo entre o capitalismo liberal e socialismo de Estado, este último supostamente morto com a queda do muro. No caso, configurou-se na década de 1990 sobretudo como uma proposta socialdemocrata – e, por isso, com muitas raízes fincadas na esquerda, no pensamento progressista –, tendo Anthony Giddens como referência importante.

Ora, companheiros, não é preciso ser nenhum gênio para compreender que o governo do PT configura-se como uma via entre o capitalismo liberal desenfreado e o socialismo dirigista de Estado – tanto é que apanha tanto da extrema-esquerda, que gostaria de ver um governo mais radical, quanto da direita liberal por ser "muito estatista".

O que quero dizer é: um candidato que se assume como "Terceira Via" deve, antes, dizer a qual conceito de terceira via se refere. Se Marina Silva se refere ao conceito socialdemocrata de terceira via, ela está obviamente perdida politicamente, não conseguindo enxergar que o governo atual é, já, uma terceira via.

Se quer definir uma outra terceira via, deveria deixar claro em que ela consiste; se se refere unicamente a uma terceira via enquanto "mais uma opção além de PT-PSDB", está usando o conceito de forma equivocada. Enfim, chame-se a candidata do que for, menos de "nova política", e dificilmente de "terceira via".

quinta-feira, 28 de agosto de 2014

Sobre eleições e teorias da conspiração



Valter Campanato/Agência Brasil
Marina e Roberto Amaral, presidente do PSB

Raramente gosto de conversar quando surge qualquer teoria da conspiração. Acho um tipo de raciocínio anti-historicista. São sofismas, e sofismas simplistas.

Lembremos o que é sofisma, segundo o dicionário (Houaiss): “argumento ou raciocínio concebido com o objetivo de produzir a ilusão da verdade, que, embora simule um acordo com as regras da lógica, apresenta, na realidade, uma estrutura interna inconsistente, incorreta e deliberadamente enganosa”.

As teorias conspiratórias nascem sempre de fatos importantes. Em vez de raciocinar sobre causas e efeitos (políticos, esportivos, cotidianos ou cósmicos), a mente do teórico-conspiratório projeta uma explicação simplificada do que acha que serve a suas premissas (quase sempre falsas) e produz a tal ilusão. Quando se sentem incapazes de explicar alguma coisa, as pessoas tendem a procurar deuses, fantasias ou ilusões.

Todas as teorias conspiratórias me irritam. Seja na política, seja no futebol.

A tragédia da queda do avião de Eduardo Campos, que na minha opinião fez mal para o Brasil e, do ponto de vista político ou humano, foi muito triste, é a mais recente fonte de teorias do gênero.

Os atentados às Torres Gêmeas no 11 de setembro de 2001 foram uma das mais ricas fontes de inúmeras teorias do tipo.

É só a seleção brasileira de futebol perder, que lá vêm as teorias conspiratórias: perdeu de 3 a 0 da França em 1998 porque o time se vendeu, Ronaldo não teve convulsão nenhuma etc etc. Já em 2014, perdemos da Alemanha de 7 a 1 porque, na verdade, tudo fazia parte de um esquema para prejudicar a Dilma nas eleições etc etc. Os teóricos conspiratórios não enxergam que o time de Zidane em 98 era um grande time, muito superior ao medíocre Brasil de Zagalo; e que o time de Felipão de 2014 foi um dos piores da história do futebol brasileiro, senão o pior.

Outros, de espectro político oposto, diziam antes da Copa do Mundo deste ano que a Copa já estava comprada. “A Dilma e o PT já compraram, o Brasil vai ganhar a Copa, pode escrever”, me garantiu uma pessoa em meados de maio de 2014. Pois é.

E assim é.

Não estou conseguindo ver a eleição presidencial sob a ótica da teoria da conspiração. Embora alguns vejam, paranoicamente, até a CIA implicada no processo político brasileiro atual, as coisas estão caminhando de acordo com a evolução político-histórica do Brasil contemporâneo. O que quero dizer é que acho que existem conspirações, dos Estados Unidos inclusive, e que coisas estranhas acontecem, mas não são apenas as conspirações e as coisas estranhas que explicam os fatos históricos. Se dependesse dos EUA, Fidel Castro teria sido assassinado há décadas.

Acho que vai ter segundo turno nas eleições de outubro, mas não considero Aécio já derrotado, apesar de a mídia aparentemente já ter tomado a decisão de apoiar Marina. Marina é uma figura ambígua, e perigosa. Esse discurso contra a política tradicional de um (a) eventual presidente sem sustentação política ou facilmente manipulável – esse filme já vimos. Mas Marina não é apenas como que um produto projetado por George Soros e companhia, como querem alguns, como se projetar presidentes da República fosse como resolver uma operação algébrica simples. Pensar assim é ignorar a complexidade da política brasileira. Aécio Neves, que nem sabe se estará no segundo turno, já anunciou no debate da Band que seu ministro da Fazenda será Armínio Fraga, que é muito próximo de George Soros.

Pode ser que Marina seja uma bolha eleitoral, pode ser que não. As próximas semanas vão esclarecer.

Se acontecer uma possível derrota de Dilma Rousseff na eleição, não terá sido (pelo menos não apenas) decorrente de conspirações, mas de muitos fatores conjugados. No momento me parece improvável uma derrota de Dilma.

O que faltou a Dilma durante seu mandato, e agora está fazendo falta em votos, é a capacidade de conversar e negociar com as diferentes forças políticas, inclusive com o mercado financeiro. A capacidade de Lula. Faltam quase 40 dias para o primeiro turno, muita água vai passar debaixo da ponte.

Acho que Dilma ganha a eleição, mas no segundo turno e sem facilidade. Dilma está sendo bombardeada por todos os lados e nem o PMDB de Michel Temer está ajudando no combate. Isso é política. O resto é teoria da conspiração.



sábado, 23 de agosto de 2014

Luciana Genro, uma adolescente de 43 anos



Fabio Rodrigues Pozzebom/ Agência Brasil


Apesar de seu discurso filosoficamente direitista, de vez em quando os "líderes" do PSOL conseguem acertar algumas frases. A candidata do partido à presidência da República, Luciana Genro, disse que “a alternativa Marina Silva é uma falácia, porque trata-se de segunda via do PSDB, no caso de Aécio (Neves) fracassar. Os economistas que a auxiliam são ligados aos tucanos. No entanto, o símbolo que ela tem é o da negação da política tradicional. Contudo, vou mostrar durante o processo eleitoral que quem é a terceira via é o nosso partido”.

Porém, a adolescente de 43 anos, filha de Tarso Genro, em entrevista ao Estadão, não perdeu a oportunidade de continuar a vociferar os ressentimentos do PSOL contra o PT. “O Lula, por exemplo, se revelou nunca ser de esquerda, mas apenas de oposição. Por que o Lula teve de fazer acordos e até o mensalão para aprovar assuntos no Congresso?"

Ora, Luciana, acho que você anda lendo demais a revista Veja. Você é muito confusa. Faz perguntas tolas. A seguir esse raciocínio, talvez em seu ortodoxo ministério coubesse um Joaquim Barbosa no Ministério da Justiça. Por que não? Ou, quem sabe, a Sininho para um futuro Ministério dos Direitos Civis?

Mas, falando sério, não que eu ache que não seja importante uma “oposição de esquerda” ao PT. Seria importante, se essa oposição à esquerda, que não existe, fosse capaz de construir uma crítica consistente. O PSOL é um partido que teria muito a acrescentar se sua prática e seu discurso incorporassem um mínimo conhecimento de História. Mas o discurso da “moça” é uma mistura de Reinaldo Azevedo mal construído com teorias políticas recortadas a partir de concepções estudantis incapazes de formular um pensamento digno de ser chamado de pensamento.

“Meu Ministério da Reforma Agrária estaria nas mãos do MST”, diz a revolucionária. 

Para essa gente, o PT e o PSDB são, senão a mesma coisa, quase a mesma coisa. Criticam Lula e Dilma como se a história brasileira tivesse começado em 1994, com a primeira eleição de Fernando Henrique Cardoso, como se não tivessem existido Getúlio Vargas, João Goulart, ditadura militar, AI-5, luta contra a ditadura, torturados, pós-ditadura, redemocratização, Ulisses Guimarães, Sindicato dos Metalúrgicos...

Será que essa gente sabe da luta do Sindicato dos Metalúrgicos em São Bernardo, onde Lula começou?

Será que sabem que são de direita?

Às vezes acho que sabem e são mal intencionados. Às vezes acho que não sabem e são instrumentos da direita como uns bobos da corte, e só precisam de uma boa terapia. Ou umas boas palmadas que papai e mamãe não deram quando era preciso.

Quando vejo Luciana Genro falar, não me sai da cabeça que ela, no fundo, inconscientemente, só quer magoar papai Tarso. Luciana precisava se atualizar e conhecer que Freud não é novidade faz muito tempo. 

quarta-feira, 13 de agosto de 2014

Eduardo Campos, as mortes (segundo Borges) e o destino


Foto: PSB


Ontem, ao deitar, abri o livro Nova Antologia Pessoal, de Jorge Luis Borges, uma obra que há muitos anos, vez ou outra, eu abro, para ler um texto ao acaso. O que reli ontem (e do qual já não me lembrava) é intitulado "A outra morte". Conta a história de um homem, chamado Pedro Damián, sobre cuja vida havia um relato de que em certa batalha havia morrido, muito jovem, sem demonstrar a coragem de um verdadeiro guerreiro. Mas essa versão, de um militar que presenciara a morte desse soldado, foi depois desmentida por outros fatos, que estranhamente engendravam uma outra história segundo a qual esse homem havia encontrado a morte não como um covarde, mas como um bravo. As histórias se entrelaçam de tal maneira que ambas se confundem com certas verdades que comprovavam as duas.

A confusão se transforma em uma discussão metafísica sobre o destino e certas suposições metafísicas sobre o tempo.

O conto de Borges, até porque o li ontem, me veio à mente hoje, com a trágica  morte de Eduardo Campos. Assim como me ocorreu um pequeno poema que é a epígrafe do meu livreto de poesia publicado quando eu era muito jovem, Amuletos. A epígrafe é do meu irmão, Paulo Maretti, e diz:

O destino não mente
Ele desmente
Os corações das pessoas é que mentem
Para o destino que já vem vindo sem saber de nada.

Essas associações são a maneira como recebi a morte de Eduardo Campos, um jovem líder que, segundo alguns, se antecipou à ordem natural da política ao lançar-se à presidência da República após romper com o governo de Dilma, e com Lula, após ter sido ministro da Ciência e Tecnologia do presidente, como ele, pernambucano, entre 2004 e 2005.

Para além das análises e cálculos políticos a respeito do que a morte de Campos trará como consequências à eleição, me espanta nessa morte o aspecto súbito e chocante com que ela chegou nesse dia cinzento, frio e chuvoso, ceifando uma liderança política importante, num 13 de agosto que é também a data da morte do avô de Eduardo Campos, Miguel Arraes, um dos mais importantes líderes da esquerda brasileira no século passado.

Líderes de todas as vertentes políticas, de esquerda e de direita, alguns com sinceridade, outros com a sórdida máscara da política, lamentaram a perda. Eu estou entre os primeiros. Lamento sinceramente.

Eduardo Campos era, ou é, muito querido em Pernambuco. Por certo, não por acaso.

Talvez conseguisse se alçar, no futuro, com reais chances de suceder um projeto popular com o apoio de Lula e Dilma, se se tivesse mantido aliado de Lula e Dilma, como um herdeiro legítimo das lutas que seu avô travou e das que, guardadas as diferenças de tempo e conjunturas políticas, como presidente, Lula realizou no Brasil. Mas num momento como esse, não são as vãs e mesquinhas conjecturas políticas aquilo que mais me assombra.

Quis o destino que Eduardo Campos encontrasse, prematuramente, uma outra morte, enigmática, traiçoeira e implacável, nesse 13 de agosto de 2014.

Quem sou eu para julgar, mais do que um homem, o destino de um homem que fez muito mais do que eu? O destino que já vinha vindo sem saber de nada.

PS: tive um único contato com Eduardo Campos. Eu estava cobrindo, como repórter, um evento do qual ele participou num hotel em São Paulo, poucos meses atrás. Quando ele chegou, eu estava sozinho à porta do hotel, e fui até ele para tentar algumas declarações exclusivas. Ele me olhou com aqueles olhos intensamente azuis e disse que não dava tempo, estava atrasado. Minutos depois, ao entrar no palco para sua palestra, me viu de longe e fez um gesto de cumprimento. Eu não retribuí, pensando que estava se dirigindo a outra pessoa (o que é muito comum em eventos dessa natureza).

Depois, vi que não havia ninguém atrás de mim. E só agora, ao ouvir relatos inclusive de pessoas de sua terra, segundo as quais era um homem muito educado, cordial e até doce, como me disse uma pessoa de Pernambuco, percebo que entre mim e ele ficou um gesto não retribuído, ou um gesto incompleto, e em mim um pequeno, pequeníssimo e incômodo remorso. 

sexta-feira, 8 de agosto de 2014

Robinho, quatro vezes campeão, volta para casa


Reprodução
Robinho volta ao Santos pela segunda vez.  Um amigo, são-paulino, disse no Facebook que é um “enganador”. Outro, palmeirense, afirmou anos atrás que “não vale nada”, e mais recentemente que é “covarde”.

Não sei por quais motivos as pessoas têm esses julgamentos. Considerando que meus amigos não conhecem Robinho pessoalmente, creio que só pode ser despeito, algo inerente ao futebol. Os santistas não temos nada a reclamar do menino das pedaladas. Robinho é sinal de títulos. Nas duas temporadas em que esteve na Vila Belmiro levantou troféus. Os campeonatos Brasileiros de 2002 e 2004, o Campeonato Paulista e a Copa do Brasil de 2010. Só não ganhou a Libertadores de 2011 porque saiu antes.

Nunca perdeu do Corinthians. Se não me trai a memória, foram sete vitórias e um empate contra o rival do Parque São Jorge.

Com uma perna só, poderia ter dado um brilho à seleção do general Felipão na Copa do Mundo que todos aqueles jogadores de quinta categoria que ele levou, juntos, jamais teriam a capacidade técnica, atlética ou mental de dar. Bernard, Jô, Hulk, a meia dúzia de volantes e outros. 

Dizem que está decadente. Vamos ver.

Em sua última passagem pela Vila Belmiro, jogou muito em 2010 e foi um dos principais protagonistas (junto com Neymar e Ganso) dos títulos paulista e da Copa do Brasil, de um time que foi um dos mais espetaculares do país nos últimos 20 anos.

Robinho disputou 213 jogos e marcou 94 gols pelo Santos. Dizem que já fez um golaço no treino. Na Vila, Robinho tem prazer de jogar. Não se pode dizer que vai arrebentar de novo.

Mas para os santistas, tanto faz que o adjetivem. Na Vila, ele está em casa.

Leia tambémO Espírito do Santos

domingo, 3 de agosto de 2014

Sininho e o dia seguinte na Terra do Nunca


Reproduzo aqui no blog pra registrar o que me parece ser a mais lúcida, cirúrgica e politicamente inteligente análise entre tudo o que li sobre a questão desde junho de 2013.


Fernando Frazão/ Agência Brasil (11/02/2014)



Sininho como representação e o desencanto de uma geração adultescente que acreditou na inconsequência como ação de transformação revolucionária da realidade.

Não há como não se enternecer, de alguma forma, com a figura da personagem Sininho. Traz em si a figura da filha adolescente, frágil e radical.

Até o codinome – Sininho – lhe cai apropriadamente bem. Uma personagem que saiu da “Terra do Nunca” da internet e inspira a tropa dos “meninos perdidos” na sua tentativa de alcançar a utopia pela destruição do mundo real.

Sintomático dos dias atuais é que há Sininho e há meninos perdidos, mas não há um Peter Pan. Sininho é a líder dos meninos perdidos.

Mas Sininho é uma ficção. Não é professora, não é sindicalista, não é bailarina, não é socialite. É qualificada ora como “ativista”, ora como “produtora cultural”.

Seu cavalo, Elisa Quadros Sanzi, no entanto, chegou à casa dos trinta, muito provavelmente com formação superior e tendo recebido da família a estrutura necessária para ser, hoje, uma jovem adulta de quem se espera a consequência nas ações.  E a consequência é o que se espera de adultos, mesmo, e talvez principalmente, em ações que busquem a transformação da realidade.

O oposto disso é a principal característica do que chama “movimento” – a inconsequência.

Quem forma esse movimento?

Anarquistas de internet, carbonários anacrônicos, incendiários saídos da Academia ou de histórias em quadrinhos, punheteiros imberbes, a criminalidade comum e os oportunistas de toda ordem.

Isso forma um movimento?

Lênin – Vladimir Ilitch Ulianov, já dizia que batatas dentro de um saco formam um saco de batatas, mas não formam uma organização.

Pena que Sininho e seus amigos não tenham lido “Esquerdismo, doença infantil do comunismo”.

Teriam aprendido com um mestre revolucionário que a transformação do mundo se faz num passo-a-passo onde a revolução não é sequer o primeiro passo, quanto mais o último ou o fim.

A transformação do mundo não é nada divertida. Assemelha-se mais ao trabalho de operários.

Ao invés disso, Sininho e seus amigos retomaram o grito de “não sabemos o que queremos, mas sabemos o que não queremos”. E o que não queremos é o sistema – seja lá o que entendam como sendo “o sistema”.

Nada disso é novo. Quem empunhava essa bandeira aos dezoito anos hoje já está na terceira idade – é provavelmente um aposentado de 65 anos. Isso se sobreviveu a “sexo, drogas e rock and roll”.

Lutar contra o sistema traz em si um dilema a ser resolvido de antemão, quando não um paradoxo. Quando se destrói o sistema, algo deve ser colocado, ou se coloca por si próprio, em seu lugar. E, então, outro sistema se estabelece.

Essa é a lição de Lenin que Sininho e seus amigos não aprenderam.

Na Terra do Nunca não há dia seguinte, logo, não há um sistema a ser substituído por outro sistema. Mas Sininho e seus amigos não estão mais na Terra do Nunca, foram trazidos a força à terra dos homens.

Não admira que estejam todos sem chão diante da responsabilização judicial. O que esses “revolucionários” esperavam das forças da repressão, das forças do partido da ordem? Que se se limitassem a fazer a segurança do playground e os deixassem brincar em paz?

Interessante também é notar que essa geração é ingênua a ponto de não ter percebido o quanto a sua ilusão de transformação radical foi instrumentalizada pelo reacionarismo.

Serviram a quem interessava criar um ambiente de instabilidade que ajudasse a enfraquecer o governo da esquerda democrática para facilitar o retorno ao poder do conservadorismo.

Sininho e os meninos perdidos não são mais úteis a essas forças. Podem ser descartados.

Aprenderão da pior forma que o Judiciário é o lixeiro do sistema ao qual serviram pensando que o estavam combatendo.