O partido espanhol de esquerda Podemos tem servido de
inspiração, modelo e exemplo para várias pessoas, no Brasil inclusive. Pensando
nisso, achei interessante o que disse hoje um de seus porta-vozes, o advogado
Rafael Mayoral, sobre a questão da identidade, ou não, entre os movimentos de esquerda no mundo.
O dirigente disse o seguinte, ao ser instado a opinar sobre o
“bolivarianismo” sul-americano, questão que pressupõe a comparação entre os
exemplos venezuelano e espanhol como caminhos (paralelos ou não?) da esquerda: “Nós
não copiamos ninguém. Podemos funciona porque é uma expressão política que
responde às necessidades e às aspirações do nosso povo. Quando deixarmos de ser
assim, deixaremos de funcionar. Se nos perguntarem o que se deve fazer,
responderemos: que ninguém nos copie. Copiar é um erro.”
Membro da executiva do Podemos, o ativista concedeu coletiva
a jornalistas na manhã/tarde desta quarta-feira no Centro de Estudos de Mídia
Barão de Itararé, em São Paulo, onde estive como repórter da RBA (a matéria
aqui).
Essa abordagem (“copiar é um erro") das idiossincrasias nacionais é interessante, e de certo modo nova, politicamente, apesar do tom que denota também o conhecido orgulho espanhol. Mas a posição manifestada pelo dirigente do Podemos é, como eu disse, interessante.
Sou um dos muitos que cresceram sob a égide da luta ideológica
entre facções esquerdistas, que, segundo as conveniências ou meros gostos
pessoais (muitas vezes baseados no desconhecimento das Culturas nacionais – com
C maiúsculo mesmo), adotam esta ou aquela “corrente”.
“Sou trotskista”; “sou stalinista”; “não, a revolução é maoista”;
“sou leninista”, “sou castrista, viva Cuba”; “acredito no PCI”...
Em 1989 a esquerda brasileira se dividiu entre Brizola e
Lula – e deu em Collor.
Reflexões.
Mayoral enfatizou (ou se esforçou para esclarecer) que o
projeto do Podemos, segundo ele, tem como uma das bases um princípio jurídico, o que é importante: “Queremos um projeto alternativo que converta a
Declaração dos Direitos Humanos em uma realidade para os povos. Defendemos a
necessidade da tipificação de delitos econômicos de lesa-humanidade”. O aumento
da mortalidade infantil na Grécia, “sendo submetida a um terrorismo econômico”,
é um exemplo de violação dos direitos humanos, disse.
No Brasil ainda estamos falando em golpe, algo que
supostamente a Constituição de 1988 tinha abolido.
A Constituição brasileira de 1988 incorpora, ainda que
tardiamente, o próprio espírito da Declaração dos Direitos Humanos das Nações Unidas,
que é do longínquo dia 10 de dezembro de 1948.
Diz a Declaração das Nações Unidas, por exemplo:
“Todos os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade
e direitos.”
“Todo ser humano tem capacidade para gozar os direitos e as
liberdades estabelecidos nesta
Declaração, sem distinção de qualquer espécie, seja de raça, cor, sexo, idioma,
religião, opinião política ou de outra natureza, origem nacional ou social,
riqueza, nascimento, ou qualquer outra condição.”
A semelhança com os princípios inscritos no artigo 5° da nossa
Constituição de 1988 não é mera coincidência. Mas esses princípios infelizmente ainda não
vigoram no Brasil, nem em várias partes do mundo.