quinta-feira, 30 de janeiro de 2014

Santos massacra o Corinthians no primeiro clássico de 2014 - "Uh tererê", grita torcida na Vila


Veja os gols do jogo ao final desta postagem

Divulgação


"Uh tererê, Uh tererê", "olé, olé, olé", cantava a torcida alvinegra da Vila no alçapão, após o massacre no primeiro clássico do ano: Santos 5 x 1 Corinthians.

Arouca, Gabriel, Thiago Ribeiro, Bruno Peres e Thiago Ribeiro anotaram para o Peixe, em jogadas trabalhadas e rápidas, ao estilo do Santos dos bons tempos. Cinco golaços. Guilherme, num belo chute de fora da área, achou o gol corintiano ainda no primeiro tempo, que acabou 2 a 1.

Como todo mundo sabe, 2 a 0 ou 2 a 1 contra o Corinthians não é resultado. Mas o que se viu foi um Corinthians perdido, envolvido pela rapidez santista, em contra-ataques envolventes, inversões de jogo e movimentação permanente do meio de campo para a frente com Arouca, Alan Santos, Cícero, Thiago Ribeiro, Geuvânio e Gabriel (depois Stefano Yuri). Assim, o Peixe abria a defesa do Timão, já cheia de buracos e espaços a partir do meio de campo, muito longe da equipe compacta da época de Tite.

Arouca, um gigante, fez até gol, coisa rara (o terceiro em 213 jogos pelo clube). Na zaga, a que se dá pouca atenção numa goleada como essa, destaque para o zagueiro Gustavo Henrique, com grande atuação.

Um começo nada ruim para o time de Oswaldo de Oliveira, e principalmente para a torcida santista, que domingo já havia comemorado o título da Copinha diante do... Corinthians.

E Mano Menezes, nessa toada, vai ter que desligar o fogo porque senão sua batata já vai assar. "Não é mole não, tem que ser hôme pra jogar no Timão", gritava a torcida enquanto Mano falava à imprensa...

É muito cedo para comemorações, mas o Alvinegro da Vila parece caminhar num rumo interessante, investindo na base, colocando a molecada para jogar, misturada a jogadores mais experientes e também talentosos como o meia Cícero e o atacante Thiago Ribeiro.

E com um técnico que privilegia o jogo ofensivo. O Espírito do Santos está de volta?

Veja os gols:



quarta-feira, 29 de janeiro de 2014

O simbolismo da reabertura do Cine Belas Artes


A reabertura do Cine Belas Artes em São Paulo, prevista para acontecer em cerca de 4 meses, deve ser vista como mais importante do que o fato em si, pelo caráter simbólico. O prefeito Fernando Haddad disse ontem que a reinauguração das salas de cinema “se insere num contexto maior” de sua gestão. Segundo ele, a cultura deve ocupar os espaços públicos como disseminadora da cidadania.


Foto Letícia Macedo


O secretário Juca Ferreira afirmou que o mandato do atual prefeito “resgata uma cidade que estimula o espaço público como espaço da cultura”.

Outro dado muito relevante é que, conforme explicou Haddad, a prefeitura participará da parceria fechada com a Caixa Econômica Federal com um instrumento recém-criado, e valioso, a SP Cine, que vai ter o direito de utilizar as salas de exibição para o cinema brasileiro e para os filmes produzidos pela própria empresa municipal. “A SP Cine vai ter uma sala no Belas Artes, patrocinando o cinema brasileiro ou o que é produzido no Brasil”, disse ele.

No final de dezembro, o prefeito sancionou a criação da SP Cine, agência municipal de fomento ao cinema na cidade, antiga reivindicação de produtores, diretores e atores paulistanos.

Quem conhece São Paulo sabe do simbolismo da reinauguração do Belas Artes, na esquina da Rua da Consolação com avenida Paulista, e do estado de deterioração a que esse local chegou nos últimos anos.

O túnel que passa por baixo da Consolação, do Belas Artes ao Riviera, vai virar um espaço cultural.

Enfim, há quem não dê tanta importância à política cultural de uma gestão. Mas ela revela de fato muito mais do que parece.


Leia mais sobre a reinauguração do Belas Artes em matéria da RBA.

sábado, 25 de janeiro de 2014

Às vezes lembro de Leonel Brizola


Francamente, acho que Josias de Souza, jornalista do Grupo Folha, manifesta tanto ódio em suas análises (às vezes elucubrações) políticas, que sua credibilidade profissional fica comprometida.

Digo isso a propósito de um texto assinado por ele em seu blog no Uol, hoje (24/01/2014), cujo título é: “Davos: Dilma estreia como mágica às avessas”. Democraticamente, disponibilizo o link do texto dele aqui.

Escreve Josias de Souza:

Depois de ignorar por três anos o palco de Davos, na Suíça, Dilma finalmente exibiu-se no Fórum Econômico Mundial. Escolheu para a estreia o papel de mágica às avessas. Vendeu o mercado interno brasileiro com a volúpia de uma caixeira-viajante. Referiu-se ao Brasil como uma oportunidade a ser aproveitada por produtores de automóveis, computadores, celulares, refrigeradores, freezers, máquinas de lavar, tevês planas, fármacos, cosméticos…”

Este é um texto semanticamente chulo, e politicamente lacerdista. Releiam, e prestem atenção no que ele diz nas entrelinhas.

Será que, mesmo sendo oposição, não dá para ter um pouco mais de elegância com a presidente da República eleita pelo povo brasileiro, que está na Suíça negociando pontos de uma agenda internacional que interessa a todos os brasileiros, de oposição ou situação? 

Uma coisa é a crítica, outra bem diferente é a bílis (o ódio de classe) se sobrepor à razão.

Brizola teria feito 92 anos no último dia 22 de janeiro. Às vezes me lembro de Leonel Brizola. Amanhã (hoje) é 25 de janeiro, aniversário de São Paulo.

terça-feira, 21 de janeiro de 2014

Ciro Gomes x Rodrigo Constantino – socialismo vs liberalismo


Da seção Recordar é viver

Um debate didático (veja vídeo abaixo).

Rodrigo Constantino, economista, colunista, colaborador de publicações como Veja e O Globo, e um dos fundadores do Instituto Millenium, citando Adam Smith (1723-1790): "Não é da benevolência de um açougueiro que vem a minha comida, e sim da busca dos próprios interesses dele. Não quero depender de solidariedade de governo ou empresário algum para ter minhas demandas satisfeitas, mas de um mercado competitivo".

Ciro Gomes, ex-governador do Ceará e ex-ministro da Integração Nacional (2003-2006) do governo Lula: "Cuba consegue, num regime deplorável, numa economia ridícula, botar 48 de cada 100 de seus garotos [de 18 a 25 anos] em nível superior. O Brasil bota seis e acha que está gastando demais, que tem governo demais".



quinta-feira, 16 de janeiro de 2014

Quando a ciência se aproxima do espiritual



Reprodução
Imagem de 2001 - uma Odisséia no espaço, de Stanley Kubrick


Estava lendo um artigo interessante sobre o cientista Robert Lanza. Ele tem uma teoria, obviamente ainda não demonstrada, segundo a qual a vida não termina com a morte do corpo. O cientista trabalha com conceitos de física, mecânica quântica e astrofísica. Norte-americano de Boston (Massachusetts), ele fez parte da equipe que clonou os primeiros embriões humanos em estágio precoce, com o objetivo de gerar células-tronco embrionárias, e seus estudos chegaram à Harvard Medical School.

Longe de mim querer entrar em discussões tão complexas, minha ignorância me impede.

Mas, segundo o cientista tenta demonstrar, a consciência precede a matéria. Nós carregaríamos o espaço/tempo em torno de nós, como (numa analogia possível e simples) a tartaruga carrega seu casco.

(Particularmente, penso numa metáfora mais impressionante, que é a da borboleta. A lagarta virar borboleta é uma metáfora muito significativa para simbolizar a transformação, as dimensões da vida e o que a anima, o que é conhecido como alma, anima em latim. Edgar Allan Poe tinha certas teorias a respeito de a borboleta significar o espírito em relação à matéria – a lagarta.)

Bem, mas divagações à parte, a teoria de Robert Lanza, de que a morte da consciência não existe, já que ela precede o corpo, remete claramente à teoria das ideias, de Platão. Com instrumentos científicos do século XXI que Platão não teve à sua disposição (pelo menos não conscientemente), Lanza postula, segundo o artigo que li, que a consciência existe fora das restrições de tempo e espaço e pode estar em qualquer lugar: no corpo humano e no exterior do corpo. “Em outras palavras, a consciência é ou está num não-lugar, no mesmo sentido que os objetos quânticos são ou estão num não-lugar.”

A teoria de Lanza, científica e filosoficamente, se opõe (ou vai além) da concepção mais ortodoxa que é expressa pelo cientista brasileiro Marcelo Gleiser, por exemplo, mais fiel aos cânones das teorias e princípios comprovados, uma ciência que, até prova em contrário, rejeita a tese de que há vida fora da Terra.

Seja como for, para os curiosos e perseverantes, deixo abaixo dois links, caso queiram ler um pouco mais.

O primeiro é o artigo que li sobre a teoria de Robert Lanza (em inglês):
Cientistas afirmam que a teoria quântica prova que a consciência se movimenta para outro universo na morte

O segundo, uma humilde resenha deste blogueiro sobre o livro Criação  Imperfeita, de Marcelo Gleiser:
Nota sobre Criação Imperfeita, de Marcelo Gleiser ("Só sei que nada sei")



quarta-feira, 15 de janeiro de 2014

Enio Squeff doa quadro a Genoino e diz: até quando país vai aturar Joaquim Barbosa?


“O STF está tão comprometido, que acho muito difícil ele fugir da pecha que lhe está pesando, de ser um tribunal de exceção, um tribunal parcial, a favor da oposição no Brasil. Sinceramente, me preocupa muito, como cidadão brasileiro. Eu vivi sob a ditadura, me livrei por pouco de ser preso e torturado, como várias pessoas foram, como o Genoino. E é isso que temos hoje: uma reiteração dos tribunais de exceção da ditadura, quando o sujeito era condenado pelas ideias que tinha.”

A frase é do artista plástico Enio Squeff, que doou um quadro à campanha para ajudar na arrecadação de contribuições e pagamento da multa à qual José Genoino foi condenado a pagar na Ação Penal 470. Conversei com ele para fazer uma matéria para a RBA  nesta terça-feira, 14.




O quadro doado faz parte de uma série com as estrofes do Hino Nacional e se refere ao trecho “deste solo és mãe gentil/Pátria amada Brasil”. Seu valor é calculado em R$ 6 mil. Mostra uma mãe com uma criança, sobre um morro, e embaixo uma favela que se estende até a cidade.

"Faço isso porque, em primeiro lugar, quero ajudar o Genoino, um homem de bem que foi injustamente condenado. E em segundo, porque acho que tenho que ajudá-lo. A longa militância, o sofrimento dele por esse país merece isso, e muito mais”, disse Squeff.

E sobre o presidente do STF, disse Squeff: “Do Joaquim Barbosa eu só sei uma coisa. É um homem mau, que leva o ódio dele até as últimas consequências (...) Até quando este país vai aturar que esse homem faça o que bem entende? Até quando o STF vai ficar submetido a essa crítica de ter feito um julgamento de exceção, em pleno estado democrático de direito?”

segunda-feira, 13 de janeiro de 2014

Uma notícia está chegando lá do Maranhão


“No presídio de Pedrinhas, cabeças são cortadas. Resta saber se, para além dos muros da prisão, alguém um dia irá para a guilhotina.”

Zeca Baleiro
(Publicado originalmente na Folha de S. Paulo)

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Leio com assombro as notícias que chegam do Maranhão. Imagens e relatos dolorosos e repugnantes despejados em tempo real em sites, jornais e telejornais, escancarando a nossa vergonha e impotência diante de barbaridades que já extrapolam nossas fronteiras e repercutem mundo afora.

Como todos, estou pasmo. Mas nem tanto. Nasci no Maranhão e sei que a barbárie (a todos agora revelada de um modo talvez sem precedentes) já impera há anos na prática de seus governantes vitalícios, que agem como os velhos donos das capitanias hereditárias do passado.

Se o crime organizado neste momento dá as cartas e oprime o povo com ameaças e ações dignas dos mais perigosos terroristas, é porque há uma natural permissão --a impunidade crônica dos oligarcas senhores feudais, que comandam (?) o Estado com mãos de ferro há 47 anos (a minha idade exatamente) e que, ao longo desse tempo, vem cometendo atrocidades sem castigo, com igual maldade, típica dos grandes tiranos e ditadores.

Esses donos do poder maranhense (e nunca dantes a palavra "dono" foi empregada com tanta adequação como aqui e agora) são exemplo e espelho para que criminosos ajam sem nenhum medo da punição.

Pois a miséria extrema que assola o Estado há décadas, o analfabetismo estimulado pela sanha dos coiotes ávidos de votos, a cultura antiga de currais eleitorais, a corrupção mais descarada do mundo e o atentado ao patrimônio histórico de sua bela e triste capital são crimes tão hediondos quanto os cometidos no complexo penitenciário de Pedrinhas.

A diferença crucial é que, enquanto os bandidos que agora aterrorizam (e matam) a população aos olhos assustados da nação estão em presídios infectos e superlotados, os criminosos de colarinho branco (e terninho bege) habitam palácios.

No meio do caos, soa tão patética quanto simbólica a notícia veiculada dias atrás neste jornal sobre abertura de licitação para o abastecimento das residências oficiais da governadora.

A lista de compras é de um rigor e de uma opulência espantosos. Parece coisa da monarquia francesa nos dias que antecederam sua queda.

No presídio de Pedrinhas, cabeças são cortadas. Resta saber se, para além dos muros da prisão, alguém um dia irá para a guilhotina.



quinta-feira, 9 de janeiro de 2014

Simone de Beauvoir





Hoje, Simone de Beauvoir (1908-1986) faria 106 anos. Muitas jovens feministas de hoje, que consideram revolucionário, que acham demais fazer manifestações de nudismo para reafirmar sua independência, o que só reproduz uma visão de mundo hedonista sem nenhum conteúdo relevante, provavelmente desconhecem que essa francesa que nasceu e morreu em Paris publicou, em 1949, O Segundo Sexo, o primeiro ensaio importante que discutiu filosoficamente a condição da mulher na civilização contemporânea e mais tarde inspirou e em parte embasou o movimento feminista.

Para não ficar, aqui, numa análise superficial de obra tão vasta, tão complexa e tão importante, para não repetir os velhos chavões de sua relação com Jean-Paul Sartre, e também porque eu não teria nada mais bonito a dizer, reproduzo abaixo trechos de um belíssimo texto da nossa grande Lygia Fagundes Telles no livro de crônicas (memória e ficção) Aquele Estranho Chá, em que Lygia narra um encontro seu com a fundamental escritora francesa.

Ela, de traços delicados que ainda guardavam uma discreta beleza da juventude, cabeça pequena de aristocrata, corpo atarracado de camponesa. Mãos fortes e olhar tão intenso que recuei um pouco quando ela firmou o olhar em mim e começou com suas perguntas sobre a condição da mulher no Brasil. Essas perguntas prosseguiram nos contatos seguintes que tivemos, era inesgotável sua curiosidade. Interessou-se muito pela ditadura de Vargas, como os jovens reagiram? E como o país, ou melhor, como a mentalidade brasileira interferiu no processo da minha profissão de escritora?”

(...)

"Fomos almoçar num bistrô do bairro, era outono e a folhagem das grandes árvores estava esbraseada. Achei-a mais magra. Mais envelhecida no casaco de couro e botas da cor da folhagem. Voltou aos seus temas preferidos, o movimento feminista. Política. Literatura. E de repente, a pergunta incisiva: “Você tem medo de envelhecer?” Comecei a ramificar nas minhas curvas mas ela queria a linha reta. Tocou com firmeza na minha mão: “Então está com medo.” Não pude deixar de sorrir: ali estava a pensadora tão lúcida, tão racionalista, a ensaísta que esgotara tão terrivelmente num alentado ensaio todo o problema da velhice [referência ao livro A Velhice – 1970] e ainda preocupada com a idade da decadência, vulnerável como uma dona de casa que se procura no espelho e se assusta. Num dos seus belos romances, a personagem em plena l’âge de discrétion também se encolhera como um coelho: “Tenho medo. E não posso chamar ninguém para me socorrer. Tenho medo.” Fiquei olhando o vinho vermelho no copo transparente. O pão dourado na cesta.

“Setenta anos? Setenta anos. Em toda sua obra ausente de Deus, a mesma preocupação constante com a fragilidade da condição humana, a mesma marca da insegurança, do medo. O antigo espanto diante da velhice e da finitude e a busca desesperada de uma resposta que pudesse romper o mistério. Evidente sua obsessão – comum a todo artista – de permanência, de duração. E a tranqüila filosofia estruturada na certeza de que a imortalidade seria a morte da vida. Só a idéia da morte, última chave da última porta – só essa idéia, apesar de tudo, torna nossa existência mais feliz.”

(Lygia Fagundes Telles, em Aquele Estranho Chá)



Homenagem do Google a Simone, neste 9/01/2014

Obras de Simone de Beauvoir


A convidada (1943)
Pyrrhus e Cinéas (1944)
O sangue dos outros (1945)
As Bocas Inúteis (1945)
Todos os homens são mortais (1946)
Por uma Moral da Ambigüidade (1947)
A América dia a dia (1948)
O segundo sexo (1949)
Os mandarins (1954)
Privilèges (1955)
A Longa Marcha (1957)
Memórias de uma moça bem-comportada (1958)
Na Força da Idade (1960)
A força das coisas (1963)
Uma Morte Muito Suave (1964)
As Belas Imagens (1966)
A Mulher Desiludida (1967)
A velhice (1970)
Tudo dito e feito (1972)
Quando o Espiritual Domina (1979)
A cerimônia do adeus (1981)

Leia também:



terça-feira, 7 de janeiro de 2014

O "casamento" bem-sucedido de
Martin Scorsese e Leonardo DiCaprio



Reprodução


Assisti na semana passada ao filme O Aviador (do original The Aviator), de Martin Scorsese, sem saber que o diretor e o ator Leonardo DiCaprio estão novamente juntos, agora em pleno trabalho de divulgação da nova produção de Scorsese, O Lobo de Wall Street. O novo filme do diretor é violentamente criticado por colocar no pedestal, digamos assim, um personagem real e nada nobre: Jordan Belfort, operador do mercado financeiro reconhecidamente um homem inescrupuloso, “pilantra” e corrupto, que levou pessoas à bancarrota com suas especulações e sede de dinheiro e poder. O “herói” de Scorsese é interpretado por DiCaprio.

Scorsese e DiCaprio estão se especializando em filmar magnatas americanos poderosos. O Aviador é um épico que conta um período da vida do milionário Howard Hughes (1905-1976), homem inquieto, extremamente inteligente, que foi aviador, produtor e diretor de cinema, homem de negócios, projetista de aviões e controlador da companhia aérea TWA dos anos 1940 até 1966.

Independentemente dos méritos dos personagens que escolhe, o fato é que Scorsese sabe fazer cinema. O Aviador tem quase três horas de duração, mas é um filme que você não vê passar. Além da trama bem amarrada, de achados fílmicos impressionantes, há momentos absolutamente espetaculares, como a epifânica sequência em que Hughes/DiCaprio filma (filme dentro do filme) um combate de Hell's Angels, produção de cinema que “na vida real” o empresário lançou em 1930 com estrondoso sucesso ao custo astronômico, para a época, de quase 4 milhões de dólares.

Ou a sequência em que, ao testar um novo projeto (o próprio Hughes pilotava os aviões que projetava), a aeronave, o XF-1, caiu e por milagre o piloto-criador não morreu.

O Aviador também é interessante ao traçar e construir a personalidade de Hughes, a partir da curta introdução em que mostra sua mãe superprotetora, cuja fobia de micróbios levou o filho a crescer com graves sequelas psicológicas que nunca o abandonaram. O filme mostra com grande competência o contraste desse homem louco que em um momento estava confinado em uma crise de loucura e em outro podia pôr no bolso um senador que, fazendo o lobby da poderosa concorrente da TWA, a Pan Am, o interrogava em uma CPI com o objetivo de destruí-lo e tirá-lo do nascente mercado da aviação norte-americana que se expandia rumo à Europa.

Há também o humor, por exemplo quando Hughes/DiCaprio lava as mãos no banheiro obsessivamente, ou outras situações em que fica clara sua condição de vítima de uma espécie de transtorno obsessivo-compulsivo (TOC). Enfim, um belíssimo filme.

O problema é que, diferentemente de Howard Hughes, rico e excêntrico, sim, mas que tinha sua grandeza, um personagem rico também do ponto de vista humano, glamouroso, amante e produtor de cinema e aviões, o novo objeto da lente do diretor, o especulador Jordan Belfort de O Lobo de Wall Street, não tem nada de charmoso ou nobre, muito pelo contrário, e por isso Scorsese tem sido criticado e atacado pelos que consideram sua escolha uma afronta imoral. Francamente, é um filme que não tenho vontade de ver.

Seja como for, o “casamento” de Leonardo DiCaprio com Scorsese, ao que parece, vai muito bem. Além de O Aviador, eles já trabalharam juntos em Gangues de Nova York (2002), Os Infiltrados (2006), A Ilha do Medo (2010) e agora na nova e polêmica produção sobre o bilionário sem-vergonha do mercado financeiro estadunidense.

DiCaprio

Como Edgar Hoover, no filme de Clint Eastwood
Quanto a Leonardo DiCaprio, com o qual vi vários filmes, me parece um ótimo ator, e sua atuação em O Aviador e outros filmes mostra isso. É óbvio que ele não está sempre ao lado de grandes diretores por acaso. No mais recente dos que eu tinha assistido, está também excelente como J. Edgar Hoover (no filme J. Edgar, de Clint Eastwood, 2011). Talvez mereça ser colocado na seção Grandes atores. Vou pensar sobre isso... Mas ele me parece ainda um pouco aquele ator que interpreta sempre a si mesmo (mas Al Pacino não é o maior exemplo disso?). Ou então seus personagens têm sido muito semelhantes (homens que representam o poder e o dinheiro) e ele precise interpretar outras personalidades. 

Um de seus melhores papeis é no ótimo Prenda-me se for Capaz (Catch me if You Can,  2002), direção de Steven Spielberg, em que interpreta o personagem Frank Abagnale Jr. (também real), um falsário, estelionatário e farsante que se faz passar por médico, advogado e piloto de avião, ganhando muito dinheiro e fazendo a atônita polícia de trouxa. Um filme imperdível.

Talvez DiCaprio, que tem apenas 39 anos, precise de um pouco de estrada em sua carreira para amadurecer e se tornar realmente um dos grandes. Parece-me que é seu destino.

sexta-feira, 3 de janeiro de 2014

A gata Tuca





Essa linda gata é a Tuca (em foto de junho de 2012), que nasceu há 18 anos numa casa em que eu morava e pouco depois, quando mudamos para um apartamento, foi para a casa do meu irmão Alexandre e do meu pai. Era de todos nós, da família, e por último era da Luiza, filha do Alexandre, que a chamava de Tuquinha. Enfim, a Tuca desapareceu na semana entre o Natal e o ano novo. Esperávamos que ela não durasse mais muito mesmo, mas como ela sumiu três dias antes da virada do ano, tinha um vazio no Réveillon que fizemos na velha casa do Jardim Aeroporto. A Tuca se foi.

As linhas que se seguem são do Alexandre dando a notícia do desaparecimento da nossa velha Tuca e de Gabriel. O poema é um trecho de Charles Baudelaire.

Alexandre (29/12/2013): "Ela está desaparecida desde ontem à tarde,  poucas horas depois de eu tê-la visto descansando na garagem, na parte externa sem a cobertura, do lado esquerdo, próxima ao carro, quando a Luiza deu por sua falta".

Gabriel (02/01/2014): "quando fui aí e vi ela [no Natal], tive certeza de que ela não chegaria no meu aniversário. Fora isso, tenho o costume de pensar que o que dói é a vida. Morrer faz parte da vida, mas estar morto não dói. E a cada dia que passa tenho mais certeza de que quem morre nunca deseja a tristeza de quem fica. Então, comemoremos que essa linda gata teve uma vida longa e saudável, que veio de um tempo muito longe. Nada pode ser melhor que uma morte por cansaço (...) Ela teve talvez a morte mais natural possível: a do gato que sabe que vai morrer e foge pra morrer sozinho. (...) Ficará guardada no coração, junto com o Siruiz e a Guga. Agora são todos estrelas".


O Gato – parte II do poema 51 de As Flores do Mal - tradução livre
(Charles Baudelaire)

De seu pelo loiro e marrom
Verte um perfume tão doce, que uma noite
Eu estava possuído, por tê-lo
Acariciado uma vez, apenas uma.

É o espírito familiar do lugar;
Ele julga, preside, inspira
Todas as coisas dentro do seu império;
Será uma fada, será deus?

Quando meus olhos, voltados para esse gato que eu amo
Atraídos como por um ímã,
Voltam docemente
E eu me reconheço em mim mesmo,

Vejo com assombro
A luz de suas pupilas pálidas,
Claras lanternas, opalas vivas,
Que me contemplam fixamente.