sexta-feira, 2 de março de 2012

O jornalismo, segundo Baudelaire – pensamento para sexta-feira (26)


"É impossível percorrer uma gazeta qualquer, seja de que dia for, ou de que mês, ou de que ano, sem nela encontrar, a cada linha, os sinais da perversidade humana mais espantosa, ao mesmo tempo que as gabolices mais surpreendentes de probidade, de bondade, de caridade, e as afirmações mais descaradas a respeito do progresso e da civilização.

Os jornais, sem exceção, da primeira à última linha, não passam dum tecido de horrores. Guerras, crimes, roubos, impudicícias, torturas, crimes dos príncipes, crimes das nações, crimes dos particulares, uma embriaguez de atrocidade universal.

É com esse repugnante aperitivo que o homem civilizado acompanha a sua refeição de cada manhã. Tudo, nesse mundo, transpira o crime: o jornal, a muralha e o semblante do homem. Não compreendo que uma mão pura possa tocar num jornal sem uma convulsão de repugnância."


"Meu coração desnudado" (Charles Baudelaire, texto 81
editora Nova Fronteira, 1981
Tradução: Aurélio Buarque de Holanda Ferreira
)

Um comentário:

Mayra disse...

Não é à toa que esse maluco genial é tido como o "pai" da modernidade. A modernidade, desde que nasceu, sempre foi criminosa e cínica.