sábado, 31 de agosto de 2013

Obama diz que Estados Unidos estão prontos para ação militar na Síria


A matéria abaixo reproduzo da agência de notícias do governo federal. Antes, só quero dizer que me sinto um completo tolo por ter achado, em 2008, que a eleição de Obama era um avanço pro mundo, como era incrível e simbólico os Estados Unidos da América terem elegido um presidente negro. Qual! Vi ao vivo o pronunciamento do presidente agora há pouco, neste sábado, 31 de agosto, anunciando que o ataque à Síria estava decidido: "Pode ser amanhã, daqui a uma semana, daqui a um mês", disse, feito um John Wayne negro.

Eu realmente não acredito que o regime de Bashar Al Assad seja responsável pelo ataque químico que chocou o mundo na semana passada. O ataque é apenas o pretexto de que os EUA precisavam para atacar.

"Acreditamos no direito dos indivíduos de viver em paz", disse ainda Obama, neste sábado.

Reprodução


Da Agência Brasil

Os Estados Unidos estão prontos para uma intervenção militar na Síria, declarou hoje (31) o presidente norte-americano Barack Obama, em pronunciamento na Casa Branca. Obama ressaltou, porém, que vai pedir o aval do Congresso americano, que está em recesso até 9 de setembro.

O presidente disse que não espera a concordância de todos os países com a ação militar na Síria, mas pediu que aqueles que estiverem de acordo declarem isso publicamente. Ele afirmou que tomará a decisão mesmo sem aprovação do Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU).

Segundo o chefe do governo americano, o governo sírio cometeu violência contra a dignidade humana e fere a segurança dos Estados Unidos, uma vez que pode estimular o uso de armas químicas e proliferação de grupos terroristas. Obama reforçou que considera o governo sírio responsável pelo ataque ao próprio povo. Ele destacou que os Estados Unidos têm de que agir diante desse ato na Síria, que, conforme relatos de serviços secretos americanos, provocou a morte de mais de mil pessoas, entre elas crianças.

A oposição e países ocidentais acusam o regime de Bashar Al Assad de ter usado gás tóxico no ataque do dia 21 deste mês, nos arredores de Damasco, capital síria. O governo sírio rejeita as acusações e atribui a responsabilidade pelo ataque aos rebeldes.

O conflito na Síria já fez, desde março de 2011, mais de 100 mil mortos e levou o país a ser suspenso dos trabalhos da Liga Árabe.

quinta-feira, 29 de agosto de 2013

O Habib's, o cachorro e o Judiciário


Gabriel Machado
Um curioso caso jurídico, acontecido em Piracicaba, interior de São Paulo, é bastante interessante e didático.

Certo dia, uma funcionária de uma loja do Habib’s resolveu, com toda a razão, colocar para fora do restaurante um cachorro que, ao que parece, ali entrara ou insistia em ali entrar. Como consequência da atitude da funcionária, o cachorro morreu atropelado na avenida Independência, naquela cidade.

Indignadas, três mulheres organizaram um protesto pelo Facebook contra o Habib’s, em fevereiro último, chamado “Boicote Geral ao Habib’s Piracicaba”. Elas disseram ser voluntárias de uma ONG de proteção aos animais. A loja de fast food entrou com uma ação na Justiça. E ganhou. Segundo o juiz Marcos Douglas Veloso Balbino da Silva, as mulheres incitaram a sociedade contra o estabelecimento e induziram as pessoas a não consumirem no restaurante. As incautas consumidoras foram condenados, por dano moral, a pagar indenização de R$ 100 mil ao Habib’s, R$ 33 mil cada uma.

Disse o juiz em sua decisão: “Infelizmente, as rés, como outras pessoas, utilizam as redes sociais do conforto de seus lares ou trabalho como verdadeiro tribunal de exceção. Acusam, denunciam, condenam e aplicam a pena, sem pensarem na repercussão de seus atos para os acusados, que, em sua maioria, não terão chance a uma apelação ou revisão no tribunal de exceção. Uma acusação feita nas redes sociais vira verdade absoluta e condena a pessoa ou entidade para sempre”.

Claro que o advogado das mulheres recorreu. O recurso ainda não foi julgado.

Eu disse acima que o caso é interessante e didático. E é, sob dois aspectos:

1 – Muitas pessoas não entendem que animal não é gente. Em matéria publicada sobre o caso num portal de internet, li o comentário de um internauta dizendo (na íntegra, sem correções): “Meu Deus do céu..hahaha a ignorância impera....desde de quando um restaurante tem obrigação de abrigar cachorros?”. É exatamente isso.

Eu, particularmente, gosto muito de animais, principalmente os selvagens, que são as maiores vítimas do instinto humano contra a vida. Tive cachorros na infância, quando adulto tive um lindo gato preto que morreu atropelado e me fez chorar muito. Se tivesse um sítio ou uma chácara, teria cachorros; se morasse numa casa, e não num apartamento, teria gatos.

Mas não dá pra aceitar que restaurantes, padarias, lanchonetes, cafés ou supermercados abriguem cães, como disse o internauta citado. E como minha avó dizia, “lugar de cachorro é no quintal”.

Afinal, como já escrevi aqui, Vivemos numa sociedade humana ou canina?

2 – As pessoas ainda não entenderam que não podem dizer o que querem contra quem quiserem nas redes sociais. Chega a ser engraçado como postam comentários estúpidos (e o recente caso dos médicos cubanos é um exemplo cabal), como se o mundo “virtual” fosse resumido a seu pequeno círculo de familiares e amigos que compartilham os mesmos pensamentos. O mundo virtual, como se vê, não é tão virtual assim. É preciso cuidado. Ninguém pode sair por aí, ou melhor, pelo Twitter, Facebook, blogs etc. a fazer campanhas contra pessoas e empresas, sejam quem forem.

Essa ingenuidade pode custar caro. Além de render boas risadas, como é o caso das defensoras do cachorro atropelado em Piracicaba.

A matéria do Jornal de Piracicaba sobre o caso está aqui: Juiz condena 3 mulheres por postagem no Facebook


quarta-feira, 28 de agosto de 2013

O Brasil racista que envergonha o Brasil



Vergonha. Os brasileiros moralmente sadios só podemos sentir isso diante do povo cubano e principalmente dos médicos cubanos, hostilizados pelos bem nascidos da classe média odiada por Marilena Chaui.

© Jarbas Oliveira/Folhapress

Esse é um dia que vai com certeza entrar para a história.

Uma jornalista potiguar chamada Micheline Borges que diz para todo mundo ler no Facebook: "essas médicas cubanas tem (sic) uma Cara de empregadas domésticas". Notem como é significativo: ela coloca a palavra "Cara" com "C" maiúsculo, graficamente enfatizando o significado que quer dar à palavra, carregando-a de seu preconceito tosco, visceral, a expressar a cara racista da classe média brasileira travestida de doutores.

Negros vindos de Cuba são vaiados, chamados de "escravos" e hostilizados por médicos brancos que não têm noção de quantas vidas podem ser salvas nos rincões em que se negam a trabalhar, nem que seja por um tempo, como forma de devolver, em forma de trabalho, o dinheiro público que pagou muitos dos seus diplomas, que penduram em suas paredes nos consultórios cheirosos dos Jardins, em São Paulo, ou nos bairros classe média de qualquer capital do país.

Aliás, acho que me engano. Esses médicos brancos têm, sim, noção de quantas vidas podem ser salvas por alguns médicos naqueles rincões. Por isso merecem desprezo e repulsa.

Facebook da jornalista
Muito já se falou hoje (na verdade ontem) sobre o assunto. A palavra vergonha foi inclusive muito utilizada para registrar o sentimento de muitos brasileiros indignados com a atitude dessa gente egoísta e cínica e, em duas palavras, racista e xenófoba. Por isso não vou me alongar.

“(...) tem muita truculência, muita incitação ao preconceito e à xenofobia. (...) Lamento veementemente a postura de alguns profissionais - porque eu acho que é um grupo isolado - de ter atitudes truculentas, [que] incitam o preconceito, a xenofobia. Participaram de um verdadeiro 'corredor polonês' da xenofobia, atacando médicos que vieram de outros países para atender a nossa população”, disse o ministro da saúde, Alexandre Padilha.

Faço uma ressalva às palavras de Padilha. Tenho sérias dúvidas se são de fato "um grupo isolado". Pois eles expressam um pensamento disseminado e na maioria das vezes oculto, pronto a aflorar em momentos propícios, como uma doença. A chegada dos médicos cubanos (e não só cubanos, diga-se) serviu como catalisador desse preconceito recalcado e desse corporativismo sem-vergonha.

E, por fim, sim, parte significativa do Brasil é racista. Mas não só. Morre de medo do comunismo, também. Mas isso é o de menos. No fim, vai ser feito o trabalho que precisa ser feito.


segunda-feira, 26 de agosto de 2013

Homenagem aos 99 anos do Palestra Itália


Reprodução


Leão; Eurico, Luís Pereira, Alfredo e Zeca; Dudu e Ademir da Guia; Edu, Leivinha César e Nei.

Essa é uma das poucas escalações que sei na ponta da língua. Do Palmeiras de 1972/1973, equipe que foi chamada de Segunda Academia. 

Fica este post como homenagem aos 99 anos da Sociedade Esportiva Palmeiras, antigo Palestra Itália, fundado em 26 de agosto de 1914, pelo que representa o clube para o futebol e também na minha história, pessoal e familiar.

A foto acima é de um pôster que muito provavelmente esteve pregado na parede do meu quarto, meu e de meus irmãos. De um lado, havia as fotos palmeirenses; de outro, a do santista solitário, este blogueiro. Filho de um palmeirense e uma santista, sou o único dos três irmãos que se tornou alvinegro. De maneira que, na minha casa, sempre houve uma rivalidade especial. Infelizmente, nunca vimos uma final entre os dois times. Não há registro na minha memória de um Santos x Palmeiras disputando uma final de Paulista, Brasileiro, Copa do Brasil, Libertadores, nada.

Ironicamente, a primeira vez que assisti a uma partida de futebol num estádio foi um Santos x Corinthians em 1971, levado pelo palmeirense seu Oswaldo, meu pai. Um gesto generoso.

Aliás, o time do Palestra Itália sempre foi uma espécie de asa negra na história do Santos. De 1958 a 1969 (até o São Paulo ganhar em 1970) o time de Pelé e companhia só não foi dez vezes campeão paulista consecutivamente porque em 1959, 63 e 66 o Palmeiras quebrou a série. Era o único grande que batia o Peixe e equilibrava o prélio.

Apenas para recordar mais um exemplo (de muitos), é incrível que o time de Diego, Robinho, Elano, Renato e companhia levantou o Brasileirão de 2002, após bater o Corinthians na final (2 a 0 e 3 a 2), sem vencer o Verdão. O único grande de São Paulo que aquele time não venceu. Na época, o campeonato era de um turno só e a única partida terminou 1 a 1 na Vila. Houve três expuslos: o Palmeiras acabou o jogo com 9 atletas em campo e o Santos com 10. Mesmo com um a menos que o adversário, o Verdão quase ganhou o jogo e ainda teve um gol não validado, de Zinho, que mandou uma bomba de fora da área, a bola bateu no travessão, caiu dentro mas o árbitro não deu. Os gols foram de Robinho e Arce.

Bem, são apenas algumas humildes lembranças.

Títulos

O Palmeiras tem uma Libertadores (1999) e 8 títulos nacionais: 4 Brasileiros (1972, 1973, 1993 e 1994);  2 Taças Brasil (1960 e 1967) e 2 Roberto Gomes Pedrosa (1967 e 1969). O clube ganhou também a Copa do Brasil de 1998 e 2012 e foi campeão paulista 22 vezes.

Parabéns ao Palmeiras e aos palmeirenses.

PS: Por uma ironia do destino, este é o post número 1.000 deste blog.

domingo, 25 de agosto de 2013

Morre Gylmar, o goleiro da era Pelé


 Divulgação/Santos FC
O ex-goleiro da Seleção Brasileira Gylmar dos Santos Neves morreu no início da noite de hoje (25). Ele estava internado desde o último dia 8 de agosto, no Hospital Sírio-Libanês, em São Paulo, depois de ter sofrido um infarto agudo do miocárdio. Ele já tinha sequelas de um acidente vascular cerebral (AVC), sofria de insuficiência cardíaca e teve o quadro de saúde agravado, nos últimos dias, por uma infecção urinária.

No último dia 22, Gylmar havia completado 83 anos de idade. O atleta chegou à consagração ao atuar pela Seleção Brasileira nas copas de 1958 e 1962 . Depois de estrear em equipes amadoras, em Santos, jogou no Sport Club Corinthians Paulista antes de entrar para o Santos Futebol Clube, onde ficou até o final da carreira.

No time do Santos foi contemporâneo de Pelé e dos craques Coutinho e Pepe e defendeu a equipe santista em 330 partidas. Pela Vila Belmiro, participou dos títulos dos campeonatos paulistas de 1962, 1964, 1965, 1967 e 1968 entre outros como a Taça Libertadores da América de 1962 e 1963.

Da Agência Brasil



sexta-feira, 23 de agosto de 2013

Pensamento para sexta-feira [45] - Que o Cairo e Damasco sobrevivam



Dedico o pensamento desta sexta-feira às vítimas inocentes da insanidade tardia dos genocidas do século XXI – e, embora eu não creia no juízo final, desejo de todo coração que eles não tenham perdão;

às crianças mortas pelas armas químicas e por todas as armas na Síria, essa imagem horrenda que me recuso a olhar;

aos civis executados em praça pública, às centenas, no Cairo.

Que muitos milhões de orações sejam entoadas em nome deles.

Amém.

quarta-feira, 21 de agosto de 2013

A batalha da saúde


Agência Brasil
Está sendo travada uma batalha explícita entre o governo federal, de um lado, e, de outro, a classe médica e as operadoras de mercado dos chamados planos de saúde. Tanto médicos como operadoras acham que saúde é um direito de classe. As operadoras se acostumaram a descumprir compromissos com a saúde das pessoas que pagam por seus serviços como se fosse natural descumprir contratos.

O episódio mais recente, a notícia mais fresca, é que a Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) suspendeu nesta terça-feira (20) 212 planos de saúde de 21 operadoras. As empresas ficam proibidas de vender novos planos até resolverem os problemas pendentes de atendimento aos clientes atuais. Em bom português: ficam proibidas de fazer novos contratos por não cumprirem os contratos firmados anteriormente.

Estamos num país onde uma desempregada que furta um pacote de manteiga pena em presídios deletérios enquanto empresas com belos logotipos e milhões para investir em propaganda dão calote no consumidor e acham que tudo deve ficar por isso mesmo.

A batalha de que falei no primeiro parágrafo não passa apenas pela atuação do Ministério da Saúde contra essa verdadeira máfia que se instalou no país, que se vale da saúde e da doença para construir impérios do lucro inadmissíveis numa sociedade digna.

A batalha passa também pelo programa Mais Médicos, uma solução social contra a qual uma corporação, a dos profissionais médicos, formados, por exemplo, na USP, uma instituição do Estado, se insurge em nome de interesses privados.

A batalha passa ainda pelo veto da presidente Dilma a pontos da chamada Lei do Ato Médico. O Projeto de Lei 7703/06, aprovado no Congresso, teve dispositivos vetados pela presidente porque, em resumo, dava aos médicos a exclusividade de procedimentos que ameaçavam até mesmo os protocolos do SUS. No limite, daqui a pouco vai ficar proibido enfermeiros e enfermeiras darem injeção e tirarem a pressão das pessoas, ou um chinês ou japonês administrar acupuntura sem uma receita médica.

Segundo a justificativa de Dilma, os dispositivos vetados do Ato Médico ameaçam “programas de prevenção e controle à malária, tuberculose, hanseníase e doenças sexualmente transmissíveis, dentre outros. Assim, a sanção do texto poderia comprometer as políticas públicas da área de saúde, além de introduzir elevado risco de judicialização da matéria". Foi o que disse a presidente na mensagem enviada ao Congresso.

A batalha do direito das pessoas por um sistema de saúde decente, diante da categoria dos médicos, mesquinha e ignorante, e dos planos de saúde, sedentas insaciáveis do lucro fácil, vai continuar.

PS (às 12:09): ontem à noite o Congresso Nacional votou os vetos da presidente Dilma. Entre eles, os da Lei do Ato Médico, cujos vetos deputados e senadores mantiveram. Ainda bem que a vitória no COngresso veio, nesse caso.

sábado, 17 de agosto de 2013

Primavera árabe


Texto e ilustração: Rice Araújo

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Infelizmente meus pressentimentos sobre os perigos da volta dos militares no Egito estão se confirmando. Após 50 anos de regime militar o presidente eleito ter sido derrubado em menos de dois anos me cheirou muito mal... hoje o cheiro do sangue nas ruas lá me embrulha o estômago. E algumas perguntas ficam rodando na minha cabeça... a quem interessa isso? Quais contratos o ex-presidente interrompeu pelo bem do seu país? Quais empresas tiveram prejuízo com o ex-presidente e agora voltaram a ganhar dinheiro no Egito? Quais governos ficam mais a vontade com o "novo" governo militar egípcio?

quinta-feira, 15 de agosto de 2013

Luis Álvaro cai


Divulgação/Santos FC
Depois da pressão que já vinha crescendo nos bastidores e se tornou enorme com a exposição do clube a um dos maiores vexames de sua história (a derrota de 8 a 0 para o Barcelona), que foi mais um dos efeitos da falta de planejamento e/ou comando em sua segunda gestão, Luis Álvaro Ribeiro, o Laor, pediu licença de um ano da presidência, alegando motivos de saúde.

Sou dos que defendiam a renúncia ou até mesmo o impeachment, mas discordo de manifestações apaixonadas como li no Facebook: “Triste fim de um santista”, ou “Além de incompetente, é covarde”.

Primeiro, porque não me parece respeitoso. Em segundo lugar, porque, se é verdade ou não, ele alega problemas de saúde que parecem verdadeiros, haja vista as constantes internações. Não sou maniqueísta, dos que veem as coisas como a eterna oposição mal x bem, certo x errado, Lennon ou McCartney, Chico ou Caetano e por aí vai. O trabalho de Laor tem méritos inegáveis, como os seis títulos conquistados desde 2010.

Feita a ressalva, as coisas precisam mudar. Tudo na vida é assim.  A gestão estava sem rumo. Assim, a opção pela licença soa como uma espécie de renúncia branca, uma saída à francesa e, acho eu, definitiva (espero). Em resumo, uma solução diplomática para uma necessidade política.

Canso de ouvir conceituados “cronistas esportivos” dizerem, quando um treinador é demitido, avaliações como: “no Brasil é assim, o culpado é sempre o técnico”, “falta profissionalismo” e outros clichês. Tudo bobagem. Se Adilson Batista não tivesse dado lugar a Muricy Ramalho em 2011, o Santos não teria ganhado a Libertadores; mas, se Luis Álvaro tivesse usado sua autoridade de presidente ao invés de delegar tudo ao tal “comitê de gestão” e tivesse demitido Muricy quando era preciso, a era Neymar não teria sido a sucessão de dois anos de péssimo futebol e decepções, o que só desgastou o presidente desde a conquista da Libertadores em 2011. Desde então, os títulos paulista (2012) e da Recopa (2012) não chegaram a enganar os santistas mais atentos e só serviram para prolongar a malfadada permanência de Ramalho na Vila, ganhando estratosféricos R$ 700 mil por mês, ele e sua panelinha de auxiliares e assessores inúteis.

O vice Odílio Rodrigues assumirá o cargo. Resta saber se a falta de planejamento e de comando vai ser corrigida para que o clube possa retomar seu caminho vitorioso, o que é urgente nesse momento de reformulação. Por mim, caíam fora também o tal Comitê de Gestão, o próprio Odílio e se convocavam novas eleições.

De resto, de minha parte, desejo sorte a Luis Álvaro e que recupere sua saúde. 

Egito, 14 de agosto de 2013





A inocente alegria que muitos sentimos quando Hosni Mubarak caiu, dois anos e meio atrás, quando compartilhamos a celebração da Primavera Árabe, do povo nas ruas, na praça Praça Tahrir (ميدان التحرير, - Midan al-Tahrir, "Praça da Libertação"), tudo isso foi enterrado hoje num dos mais horríveis e perversos episódios das últimas décadas.

Tropas do Exército massacraram no Cairo centenas de integrantes da Irmandade Muçulmana que manifestavam seu inconformismo com a deposição, em julho passado, do presidente Mohamed Morsi, primeiro civil eleito democraticamente no país após décadas de ditadura militar.

Estado de exceção, 19 generais impostos como governadores regionais, poder do Exército para prender e arrebentar, supressão de direitos constitucionais.

Mais um sonho chega ao fim. Pelo menos no Egito, a Primavera Árabe acabou.



quarta-feira, 14 de agosto de 2013

Em qual manifestação você vai: no Anhangabaú ou na Assembleia Legislativa?


Reprodução


Nesta quarta-feira, as manifestações cujo mote (aparentemente) é a necessidade de apuração do escândalo do propinoduto tucano estarão divididas em duas frentes. De um lado, a CUT, a militância do PT e a CMP-SP (Central dos Movimentos Populares) indicam que devem privilegiar o ato na Assembleia Legislativa, a partir das 17 horas.

De outro lado, haverá manifestação no Anhangabaú, marcada para as 15 horas, convocada pelo Sindicato dos Metroviários do Estado de São Paulo, afiliado à Central Sindical e Popular (CSP-Conlutas) e cuja diretoria é ligada ao PSTU, com apoio do Movimento Passe Livre (MPL).

Por óbvio, é um racha, mesmo que não manifestado explicitamente.

Não é de hoje que tenho argumentado, em rodas de amigos e militantes, que, para mim, se a motivação das manifestações é de esquerda, o palco unificado do ato de hoje deveria ser necessariamente a Assembleia Legislativa, onde a maioria esmagadora de Geraldo Alckmin historicamente não deixa passar uma CPI sequer contra os interesses do governo tucano, quanto mais agora, quando se trata do cartel do sistema de metrô e trens urbanos da Grande São Paulo.

Por que o MPL e o Sindicato dos Metroviários preferem o Anhangabaú, ao lado da prefeitura de São Paulo, comandada por Fernando Haddad? (Pergunta ainda a responder.)

Mas ouvi argumentos segundo os quais o MPL é um movimento que quer mais do que a política institucional, que a política institucional não é o bastante, que CPI não apura nada, e o protesto na Assembleia Legislativa seria, portanto, conceitual e politicamente fora do eixo (desculpem o trocadilho, foi sem querer). Tá bom.

Vamos ver qual será o resultado da quarta-feira 14 de agosto, da qual se esperava muito, mas, ao que parece, não se pode mais esperar tanto.

segunda-feira, 12 de agosto de 2013

São Paulo em imagens – Inverno


Algumas fotos do Oeste após o sol se pôr, visto de uma janela no Butantã, no inverno de 2013, em São Paulo, Brasil.



Fotos: Carmem Machado -Arquivo Fatos Etc. (clique para ampliar)








Foto: Edu Maretti


Veja também, da série São Paulo em Imagens:

Rua São Bento

Di Cavalcanti

Estação da Luz

Escultura de fios

Verão na cidade

Outono na cidade

Nossa Senhora do Crack

sexta-feira, 9 de agosto de 2013

Beatriz Seigner sobre Fora do Eixo


Publico abaixo, como registro, para reflexão, o texto da cineasta Beatriz Seigner sobre o coletivo Fora do Eixo, que repercutiu em toda a rede nesta quinta-feira 8 de agosto.

Já escrevi sobre FdE e Mídia Ninja. Mas não posso julgar, já que não conheço as pessoas do FdE, nem seus dogmas, embora tenha ouvido relatos que coincidem com o que conta Beatriz Seigner, que, aliás, também não conheço, e cujo nome, confesso, ouvi pela primeira vez hoje.

Jornalista tem a mania de querer parecer onisciente, mas Antonio Gramsci disse que o jornalista sabe tudo superficialmente, mas nada em profundidade (cito sem aspas porque cito de memória). Sempre penso nisso na minha rotina de jornalista, e por isso me esforço para ser o menos superficial quanto possível, o que, no dia a dia, não é fácil.

Li o texto-resposta de Bruno Torturra a Beatriz Seigner, mas acho que não preciso publicar, nem mesmo em nome da Lei da Imparcialidade Jornalística, pois é muito fácil achar o texto do Torturra com uma básica pesquisa na web. Mas achei o texto do Bruno publicado (como o de Beatriz) no Facebook muito sentimental e pouco objetivo quanto a responder algumas questões importantes que a cineasta coloca sobre os (supostos) métodos do FdE e da Mídia Ninja.

Então, segue o registro:


Fora do Fora do Eixo
Beatriz Seigner
(7/08/2013)

Conheci um representante da rede Fora do Eixo durante um trajeto de ônibus do Festival de Cinema de Gramado de 2011, onde eu havia sido convidada para exibir meu filme “Bollywood Dream – O Sonho Bollywoodiano” e ele havia sido convidado a participar de um debate sobre formas alternativas de distribuição de filmes no Brasil.

Meu filme havia sido lançado naquele mesmo ano no circuito comercial de cinemas, em mais de 19 cidades brasileiras, distribuído pela Espaço Filmes, e o rapaz me contava de como o Fora do Eixo estava articulando pela internet os cerca de 1000 cineclubes do programa do governo Cine Mais Cultura, assim como outros cineclubes de pontos de cultura, escolas, universidades, coletivos e pontos de exibição alternativos, que estavam conectados à internet nas cidades mais longínquas do Brasil, para fazerem exibição simultânea de filmes com debate tanto presencialmente, quanto ao vivo, por skype. Eu achei a idéia o máximo. Me disponibilizei, a mim e ao meu filme para participar destas exibições, pois realmente acredito na necessidade de democratizar o acesso aos bens culturais no país, e sei como é angustiante, nestas cidades distantes, viver sem acesso à cultura alternativa e mais diversas artes.

Foi então organizado o lançamento do meu filme nos cineclubes associados à rede Fora do Eixo durante o Grito Rock 2012, no qual eu também me disponibilizei a participar de uma tournée de debates no interior de São Paulo, na cidade do Rio de Janeiro, e por skype com outros cineclubes que aderissem à “campanha de exibição”, como eles chamam.

Com relação à remuneração eles me explicaram que aquele ainda era um projeto embrionário, sem recursos próprios, mas que podiam pagá-lo com “Cubo Card”, a moeda solidária deles, que poderia ser trocada por serviços de design, de construção de sites, entre outras coisas. Já adianto aqui que nunca vi nem sequer nenhum centavo deste cubo card, ou a plataforma com ‘menu de serviços’ onde esta moeda é trocada.

E fiquei sabendo que algumas destas exibições com debate presencial no interior de SP seriam patrocinadas pelo SESC – pois o SESC pede a assinatura do artista que vai fazer a performance ou exibir seu filme nos seus contratos, independente do intermediário. E só por eles pedirem isso é que fiquei sabendo que algumas destas exibições tinham sim, patrocinador. Fui descobrir outros patrocinadores nos posters e banners do Grito Rock de cada cidade. Destes eu não recebi um centavo.

No entanto, foi realmente muito animador ver a quantidade de pessoas sedentas por cultura alternativa em todas as cidades de pequeno e médio porte pelas quais passei. Foi também incrível conversar com cinéfilos por skype de cidadezinhas do Acre, Manaus, Rio Grande do Sul, Minas Gerais, Bahia, Paraíba, Mato Grosso, Goiania, Santa Catarina, Distrito Federal, Rio de Janeiro, São Paulo, entre outras cidades. Pelo que eu via, tinha entre 50 a 150 pessoas em cada sessão. Eu perdi a conta de quantos debates e exibições foram feitas, mas o Fora do Eixo havia me prometido como contra-partida uma foto de cada exibição onde fosse visível o número de público destas, e uma tabela com as cidades e quantidades de exibições que foram feitas. Coisa que também nunca recebi.

De qualquer maneira, empolgada com esta quantidade de pessoas que não querem consumir cultura de massa, em todas estas cidades, entrei em contato com colegas cineastas e distribuidores para que também disponibilizassem seus filmes, pois via o potencial de fortalecimento destes pontos de exibição em todos estes lugares, de crescimento do número de cinéfilos, e de pessoas que têm o desejo de desfrutar coletivamente de um filme, ou de outra obra de arte, de discuti-la, pesquisá-la, e se possível debatê-la com seus realizadores. Estava realmente impressionada com a quantidade de pessoas em todas estas cidades sedentas por arte. Se eu tivesse nascido em uma delas, via que seguramente seria uma delas, e mal conseguia imaginar como deve ser insuportável viver em uma cidade onde não há teatro, cinema alternativo, e muitas vezes nem sequer bibliotecas.

A idéia seria então de fazer um projeto para captar recursos para viabilizar estas exibições. Pensamos em algo como cada cineclube ou ponto de exibição que exibisse um filme receberia 100 reais para organizar e divulgar a sessão, e cada cineasta receberia o mesmo valor pelos diretos de exibição de seu filme naquele lugar. E caso houvesse debate presencial receberia mais cerca de mil reais de cachê pelo debate, e por skype ao vivo cerca de 500 reais pelo debate de até 3 horas.

Pensando em rede, se mil cineclubes exibissem um filme, o cineasta poderia receber, no mínimo, 100 mil reais por estas exibições. Eu ainda acho que é um projeto que deve ser realizado. E que esta ligação entre os cineclubes deveria ser feita por uma plataforma pública online do governo, onde ficaria o armazenamento destes filmes para download com senha e crédito paypal para estes pontos de exibição (sejam eles cineclubes, escolas, universidades, pontos de cultura etc).

Assim como também acho que os “Céus das Artes” que estão sendo construídos no país todo deveriam ter salas de cinema separadas dos teatros, com programação diária, constante, aumentando em 15% o parque exibidor brasileiro, e capacitando o governo de fazer políticas de exibição de filmes gratuitas ou com preços populares, em lugares onde simplesmente não há cinemas, muito menos, de arte.

Mas isso já é outra história. Voltemos ao Fora do Eixo.

E quando foi que o projeto degringolou? ou quando foi que me assustei com o Fora do Eixo?

Meu primeiro susto foi quando perguntaram se podiam colocar a logomarca deles no meu filme – para ser uma ‘realização Fora do Eixo’, em seu catálogo. Eu disse que o filme havia sido feito sem nenhum recurso público e que a cota mínima para um patrocinador ter sua logomarca nele era de 50 mil reais. Eles desistiram.

O segundo susto veio justamente na exibição com debate em um SESC do interior de SP, quando recebi o contrato do SESC, e vi que o Fora do Eixo estava recebendo por aquela sessão, em meu nome, e não haviam me consultado sobre aquilo. Assinei o contrato minutos antes da exibição e cobrei do Fora do Eixo aquele valor descrito ali como sendo de meu cachê, coisa que eles me repassaram mais de 9 meses depois, porque os cobrei, publicamente.

O terceiro susto veio quando me levaram para jantar na casa da diretora de marketing da Vale do Rio Doce, no Rio de Janeiro, onde falavam dos números fabulosos (e sempre superfaturados) da quantidade de pessoas que estavam comparecendo às sessões dos filmes, aos festivais de música, e do poder do Fora do Eixo em articular todas aquelas pessoas em todas estas cidades. Falavam do público que compareciam a estas exibições e espetáculos como sendo filiados à eles. Ou como se eles tivessem qualquer poder sobre este público.

Foi aí que conheci pela primeira vez o Pablo Capilé, fundador da marca/rede Fora do Eixo, um pouco antes deste jantar. Até então haviam me dito que a rede era descentralizada, e eu havia acreditado, mas imediatamente quando vi a reverência com que todos o escutam, o obedecem, não o contradizem ou criticam, percebi que ele é o líder daqueles jovens, e que ao redor dele orbitavam aqueles que eles chamam de “cúpula” ou “primeiro escalão” do FdE.

O susto veio, não apenas por conta de perceber esta centralidade de liderança, mas porque o Pablo Capilé dizia que não deveria haver curadoria dos filmes a serem exibidos neste circuito de cineclubes, que se a Xuxa liberasse os filmes dela, eles seguramente fariam campanha para estes filmes serem consumidos pois dariam mais visibilidade ao Fora do Eixo, e trariam mais pessoas para ‘curtir’ as fotos e a rede deles – pessoas estas que ele contabilizaria, para seus patrocinadores tanto no âmbito público, quanto privado. “Olha só quantas pessoas fizemos sair de suas casas”. E que ele era contra pagar cachês aos artistas, pois se pagasse valorizaria a atividade dos mesmos e incentivaria a pessoa ‘lá na ponta’ da rede, como eles dizem, a serem artistas e não ‘DUTO’ como ele precisava. Eu perguntei o que ele queria dizer com “duto”, ele falou sem a menor cerimônia: “duto, os canos por onde passam o esgoto”.

Eu fiquei chocada. Não apenas pela total falta de respeito por aqueles que dedicam a maior quantidades de horas de sua vida para o desenvolvimento da produção artística (e quando eu argumentava isso ele tirava sarro dizendo ‘todo mundo é artista’ ao que eu respondia ‘todo mundo é esportista também – mas quantos têm a vocação e prazer de ficar mais de 8 horas diárias treinando e se aprofundando em determinada forma de expressão? quantas pessoas que jogam uma pelada no fim de semana querem e têm o talento para serem jogadores profissionais?” “mas se pudesse escolher todo mundo seria artista” “não necessariamente, leia as biografias de todos os grandes compositores, escritores, cineastas, coreógrafos, músicos, dançarinos – quero ver quem gostaria de ter aquelas infâncias violentadas, viver na miséria econômicas, passar horas de dedicando-se a coisas consideradas inúteis por outros - vai ver se quem é artista, se pudesse escolher outra forma de vocação se não escolheria ter vontade de ser feliz sendo médico, advogado, empresário, cientista social.”).

Enfim, o fato é que eu acreditava e continuo acreditando que se a pessoa na ponta da rede, seja no Acre ou onde quer que seja, se esta pessoa tiver vontade de passar a maior quantidade de tempo possível praticando qualquer forma de expressão artística, seja encarando páginas em branco, lapidando textos, lapidando filmes, treinando danças, coreografias, teatro, seja praticando um instrumento musical (e quem toca instrumentos musicais sabe a quantidade de horas de prática para se chegar à liberdade de domínio do instrumento e de seu próprio corpo, os tais 99% de suor para 1% de inspiração), quem quer que seja que encontre felicidade nestas horas e horas de prática cotidiana artística deve produzir tais obras e não ser DUTO de coisa alguma.

Pois existem pessoas no mundo que não têm este prazer de produção artística, mas têm prazer em exibir, promover, e compartilhar estas obras. E tá tudo certo. Temos diversos exemplos de pessoas assim: vejam a paixão com que o Leon Cakof e a Renata de Almeida produziam e produzem a Mostra de São Paulo. O pessoal da Mostra de Tiradentes. E de tantas outras. Existe paixão pra tudo. E não, exibidores, programadores, curadores, professores, críticos de cinema ou de arte não são artistas frustrados – mas pessoas cuja a paixão deles é esta: analisar, comentar, debater, ensinar, deflagrar e ampliar o pensamento e a reflexão sobre as diversos âmbitos de atuação humanos. Que bom que tem gente com estas paixões tão complementares!

E o meu choque ao discutir com o Pablo Capilé foi ver que ele não tem paixão alguma pela produção cultural ou artística, que ele diz que ver filmes é “perda de tempo”, que livros, mesmo os clássicos, (que continuam sendo lidos e necessários há séculos), são “tecnologias ultrapassadas”, e que ele simplesmente não cultiva nada daquilo que ele quer representar. Nem ele nem os outros moradores das casas Fora do Eixo (já explico melhor sobre isso).

Ou seja, ele quer fazer shows, exibir filmes, peças de teatro, dança, simplesmente porque estas ações culturais/artísticas juntam muita gente em qualquer lugar, que vão sair nas fotos que eles tiram e mostram aos seus patrocinadores dizendo que mobilizam “tantas mil pessoas” junto ao poder público e privado, e que por tanto, querem mais dinheiro, ou privilégios políticos.

Vejam que esperto: se Pablo Capilé dizer que vai falar num palanque, não iria aparecer nem meia dúzia de pessoas para ouvi-lo, mas se disserem que o Criolo vai dar um show, aparecem milhares. Ou seja, quem mobiliza é o Criolo, e não ele. Mas depois ele tira as fotos do show do Criolo, e vai na Secretaria da Cultura dizendo que foi ele e sua rede que mobilizou aquelas pessoas. E assim, consequentemente, com todos os artistas que fazem participação em qualquer evento ligado à rede FdE. Acredito que, como eu, a maioria destes artistas não saibam o quanto Pablo Capilé capitaliza em cima deles, e de seus públicos.

Mesmo porque ele diz que as planilhas do orçamento do Fora do Eixo são transparentes e abertas na internet, sendo isso outra grande mentira lavada – tais planilhas não encontram-se na internet, nem sequer os próprios moradores das casas Fora do Eixo as viram, ou sabem onde estão. Em recente entrevista no Roda Viva, Capilé disse que arrecadam entre 3 e 5 milhões de reais por ano. Quanto disso é redistribuído para os artistas que se apresentam na rede?

O último dado que tive é que o Criolo recebia cerca de 20 mil reais para um show com eles, enquanto outra banda desconhecida não recebe nem 250 reais, na casa FdE São Paulo.

Mas seria extremamente importante que os patrocinadores destes milhões exigissem o contrato assinado com cada um destes artistas, baseado pelo menos no mínimo sindical de cada uma das áreas, para ter certeza que tais recursos estão sendo repassados, como faz o SESC.

Depois deste choque com o discurso do Pablo Capilé, ainda acompanhei a dinâmica da rede por mais alguns meses (foi cerca de 1 ano que tive contato constante com eles), pois queria ver se este ódio que ele carrega contra as artes e os artistas era algo particular dele, ou se estendia à toda a rede. Para a minha surpresa, me deparei com algo ainda mais assustador: as pessoas que moram e trabalham nas casas do Fora do Eixo simplesmente não têm tempo para desfrutar os filmes, peças de teatro, dança, livros, shows, pois estão 24 horas por dia, 7 dias por semana, trabalhando na campanha de marketing das ações do FdE no facebook, twitter e demais redes sociais.

E como elas vivem e trabalham coletivamente no mesmo espaço, gera-se um frenesi coletivo por produtividade, que, aliado ao fato de todos ali não terem horário de trabalho definido, acreditarem no mantra ‘trabalho é vida’, e não receberem salário, e portanto se sentirem constantemente devedores ao caixa coletivo, da verba que vem da produção de ações que acontecem “na ponta”, em outros coletivos aliados à rede, faz com que simplesmente, na casa Fora do Eixo em São Paulo, não se encontre nenhum indivíduo lendo um livro, vendo uma peça, assistindo a um filme, fazendo qualquer curso, fora da rede. Quem já cruzou com eles em festivais nos quais eles entraram como parceiros sabem do que estou falando: eles não entram para assistir a nenhum filme, nem assistem/participam de nenhum debate que não seja o deles. O que faz com que, depois de um tempo, eles não consigam falar de outra coisa que não sejam eles mesmos.

Sim, soa como seita religiosa.

Eu comecei a questionar esta prática: como vocês querem promover a cultura, se não a cultivam? Ao que me responderam “enquanto o povo brasileiro todo não puder assistir a um filme no cinema, nós também não vamos”. Eu perguntei se eles sabiam que havia mostras gratuitas de filmes, peças de teatro, dança, bibliotecas públicas, universidades públicas onde pode-se assistir a qualquer aula/curso – ao que me responderam que eles não têm tempo para perder com estas coisas.

Pode parecer algo muito minimalista, mas eu acho chocante eles se denominarem o “movimento social da cultura”, e não cultivar nem a produção nem o desfrute das atividades artísticas da cidade onde estão, considerando-se mártires por isso, orgulhando-se de serem chamados de “precariado cognitivo” (sem perceber o tamanho desta ofensa – podemos nos conformar em viver no precariado material, mas cultivar e querer espalhar o precariado de pensamentos, de massa crítica, de sensibilidade cognitiva, é algo muito grave para o desenvolvimento de seres humanos, e consequentemente da humanidade).

Concomitantemente a isso, reparei que aquela massa de pessoas que trabalham 24 horas por dia naquelas campanhas de publicidade das ações da rede FdE, não assinam nenhuma de suas criações: sejam textos, fotos, vídeos, pôsters, sites, ações, produções. Pois assinar aquilo que se diz, aquilo que se mostra, que se faz, ou que se cria, é considerado “egóico” para eles. Toda a produção que fazem é assinada simplesmente com a logomarca do Fora do Eixo, o que faz com que não saibamos quem são aquele exercito de criadores, mas sabemos que estão sob o teto e comando de Pablo Capilé, o fundador da marca.

E que não, a marca do fora do Eixo não está ligada a um CNPJ, nem de ONG, nem de Associação, nem de Cooperativa, nem de nada – pois se estivesse, ele seguramente já estaria sendo processado por trabalho escravo e estelionato de suas criações, por dezenas de pessoas que passaram um período de suas vidas nas casas Fora do Eixo, e saem das mesmas, ao se deparar com estas mesmas questões que exponho aqui, e outras ainda mais obscuras e complexas.

Me explico melhor: existem muitos dissidentes que se aproximam da rede pois vêem nela a possibilidade de viver da criação e circulação artística, de modificar suas cidades e fortalecer o impacto social da arte na população das mesmas, que depois de um tempo trabalhando para eles percebem, tal qual eu percebi, as incongruências do movimento Fora do Eixo. Que aquilo que falam, ou divulgam, não é aquilo que praticam. É a pura cultura da publicidade vazia enraizada nos hábitos diários daquelas pessoas.

E além disso, o que talvez seja mais grave: quem mora nas casas Fora do Eixo, abdicam de salários por meses e anos, e portanto não têm um centavo ou fundo de garantia para sair da rede. Também não adquirem portfólio de produção, uma vez que não assinaram nada do que fizeram lá dentro – nem fotos, nem cartazes, nem sites, nem textos, nem vídeos. E, portanto, acabam se submetendo àquela situação de escravidão (pós)moderna, simplesmente pois não vêem como sobreviver da produção e circulação artística, fora da rede. Muitas destas pessoas são incentivadas pelo próprio Pablo Capilé a abandonar suas faculdades para se dedicarem integralmente ao Fora do Eixo. Quanto menos autonomia intelectual e financeira estas pessoas tiverem, melhor para ele.

E quando algumas destas pessoas conseguem sair, pois têm meios financeiros independentes da rede FdE para isso, ficam com medo de retaliação, pois vêem o poder de intermediação que o Capilé conseguiu junto ao Estado e aos patrocinadores de cultura no país, e temem serem “queimados” com estes. Ou mesmo sofrer agressões físicas. Já três pessoas me contaram ouvir de um dos membros do FdE, ao se desligarem da rede, ameaças tais quais “você está falando de mais, se estivéssemos na década de 70 ou na faixa de gaza você já estaria morto/a.” Como alguns me contaram, “eles funcionam como uma seita religiosa-política, tem gente ali capaz de tudo” na tal ânsia de disputa por cada vez mais hegemonia de pensamento, por popularidade e poder político, capital simbólico e material, de adeptos. Por isso se calam.

Fiquei sabendo de uma menina que produziu o Grito Rock 2012 em Braga, em Portugal, no qual exibiram meu filme. Ela me contou que estava de intercâmbio da universidade lá, e uma amiga dela que havia sido “abduzida pelo Fora do Eixo” entrou em contato perguntando se ela e um amigo não queriam exibir o filme em Braga, produzir o show de uma banda na universidade, fazer a divulgação destas ações nas redes sociais. Ela achou boa a idéia e qual não foi sua surpresa quando viu que em todos os materiais de divulgação do evento que lhe enviaram estava escrito “realização Fora do Eixo”. “Eu nunca fui do Fora do Eixo, não tenho nada a ver com eles, como assim meu nome não saiu em nada? Não vou poder usar estas produções no meu currículo? E pior, eles agora falam que o Fora do Eixo está até em Portugal, e em sei lá quantos países. Isso é simplesmente mentira. Eu não sou, nem nunca fui do Fora do Eixo.”

O que leva a outro ponto grave das falácias do Fora do Eixo: sua falta de precisão numérica. Pablo Capilé, quando vai intermediar recursos junto ao poder público ou privado, para capitalizar a rede FdE, fala números completamente aleatórios “somos mais de 2 mil pessoas em mais de 200 cidades na America Latina”. Cadê a assinatura destas pessoas dizendo que são realmente filiadas à rede? Qualquer associação, cooperativa, partido político, fundação, ONG, ou movimento social tem estes dados. Reais, e não imaginários.

Quando visitei algumas das casas Fora do Eixo, estas pessoas morando e trabalhando lá não chegavam a 10% daquilo que ele diz a rede conter. E estas pessoas são treinadas com a estratégia de marketing da rede, de “englobar” no facebook e twitter alguém que eles consideram estrategicamente importante para o Fora do Eixo, seja um vereador, um intelectual, um artista, um secretário da cultura, e replicam simultaneamente as fotos e textos dos eventos do qual produzem, divulgam, ou simplesmente se aproximam (já vou falar dos outros movimentos sociais que expulsam o Fora do Eixo de suas manifestações – pois eles tiram fotos de si no meio destas ações dos outros e depois vão ao poder público dizer que as representam), ao redor daquelas pessoas estratégicas, política e economicamente para eles, que as adicionaram ao mesmo tempo, criando uma realidade virtual paralela que eles manipulam ao redor desta pessoa. Pois, se esta pessoa ‘englobada’ apertar ‘ocultar’ nas cerca de150 pessoas que trabalham nas casas Fora do Eixo, verá que muito raramente estas informações chegam por outras vias. Ou seja, eles simulam um impacto midiático muito maior de suas ações, apara aqueles que lhes interessam, do que o impacto real das mesmas nas populações e localizações onde aconteceram.

E com isso vão construindo esta realidade falsa, paralela. Controlada por eles, sob liderança do Pablo Capilé.

Dos movimentos sociais que começaram a expulsar os Fora do Eixo de suas manifestações e ações, pois estes, como os melhores mandrakes, ao tentar dominar a comunicação destas, iam depois ao poder público dizer representá-las, estão o movimento do Hip Hop em São Paulo, as Mãe de Maio (que encabeçam o movimento pela desmilitarização da PM aqui), o Cordão da Mentira (que une diversos coletivos e movimentos sociais para a passeata de 1º de Abril, dia do golpe Militar no Brasil, escrachando os lugares e instituições que contribuíram para o mesmo), a Associação de Moradores da Favela do Moinho, o coletivo Zagaia, o Passa-Palavra, o Ocupa Mídia, O Ocupa Sampa, o Ocupa Rio, Ocupa Funarte, entre outros. Até membros do Movimento Passe Livre tem discutido publicamente o assunto dizendo que o Fora do Eixo não os representam, e não podem falar em seu nome.

Sobre a transmissão de protestos e ocupações, são milhares de pessoas em diversos países que transmitem as manifestações no mundo todo, em tempo real, e acredito que os inventores que fizeram os primeiros smartphones conectando vídeo com internet, são realmente tão importantes para a comunicação na atualidade quanto os inventores do telégrafo foram em outra época.

Já o Fora do Eixo, agora denominados de Mídia Ninja, (antes era Mídia Fora do Eixo, mas como são muito expulsos de manifestações resolveram mudar de nome) utilizar os vídeos feitos por centenas de pessoas não ligadas ao Fora do Eixo, editá-los, subí-los no canal sob seu selo, e querer capitalizar em cima disso – sem repassar os recursos para as pessoas que realmente filmaram estes vídeos/fizeram estas fotos e textos – inclusive do PM infiltrado mudando de roupa e atirando o molotov - eu já acho bastante discutível eticamente.

Sobre a questão do anonimato nos textos e fotos, acredito que esta prática acaba fazendo com que eles façam exatamente aquilo que criticam na grande mídia: espalham boatos anônimos, sem o menor comprometimento com a verdade, com a pesquisa, com a acuidade dos dados e fatos.

Mas enfim, acho que a discussão é muito mais profunda do que a Midía Ninja em si, apesar deles também se beneficiarem do trabalho escravo daqueles que vivem nas casas Fora do Eixo.

Acredito com este relato estar dando minha contribuição pública à discussão de o que é o Fora do Eixo, como se financiam e sustentam a rede, quais seus lados bons e seus lados perversos, onde é que enganam as pessoas, dizendo-se transparentes, impunemente.

Contribuição esta que acredito ser meu dever público, uma vez que, ao me encantar com a rede, e haver vislumbrado a possibilidade de interagir com cinéfilos do rincões mais distantes do país, que não têm acesso aos bens culturais produzidos ou circulados por aqui, incentivei outros colegas cineastas a fazerem o mesmo. Já conversei pessoalmente com todos aqueles que pude, explicando tudo aquilo que exponho aqui também. Dos cineastas que soube que também liberaram seus filmes para serem exibidos pela rede, nenhum recebeu qualquer feedback destas exibições, sejam em fotos com o número de pessoas no públicos, seja com a tabela de cidades em que passaram, seja de eventuais patrocínio que os exibidores receberam. E como talvez tenha alguém mais com quem eu não tenha conseguido falar pessoalmente, fica aqui registrado o testemunho público sobre minha experiência com a rede Fora do Eixo, para que outras pessoas possam tomar a decisão de forma mais consciente caso queiram ou não colaborar com ela.

Espero que os patrocinadores da rede tomem também conhecimento de todas estas falácias, e cobrem do Fora do Eixo o número exato de participantes, com assinatura dos mesmos, os contratos e recibo de repasse das verbas que recebem aos autores das obras e espetáculos que eles dizem promover. E que jornalistas que investigam o trabalho escravo moderno se debrucem também sobre estas casas: pois acredito que as pessoas que estão lá e querem sair precisam de condições financeiras e psicológicas para isso.

Espero também que mais pessoas tomem coragem para publicar seus relatos (e sei que tem muita gente que poderia fazer o mesmo, mas que tem medo pelos motivos que expliquei a cima), e assim teremos uma polifonia importante para quebrar a máscara de consenso ao redor do Fora do Eixo.

E que, mesmo vivendo em plena era da cultura da publicidade, exijamos “mais integridade, por favor”, entre aquilo que dizem e aquilo que fazem aqueles que querem trabalhar, circular, exibir, criar, representar, pensar ou lutar pelo direito fundamental do Homem de produção e desfrute da diversidade artística e cultural de todas as épocas, em nosso tempo.

quinta-feira, 8 de agosto de 2013

O eterno 1 a 1


O 1 a 1 sempre foi pra mim um resultado bonito, seja no futebol de botão, quando fazíamos campeonatos espetaculares, seja no futebol até hoje. É que o 1 a 1 representa um embate, mais do que um empate. É um empate justo. Diferentemente do 0 a 0 (que é sempre decepcionante) e do 2 a 2 (que sempre deixa o sabor da derrota ou da vitória mais próximo, e por isso também decepcionante), o 1 a 1 parece a medida exata de um empate (um embate) justo no futebol. O empate entre dois que combateram bravamente, mas em algum momento reconheceram a igualdade. Não sei, tenho essa impressão.

Foi 1 a 1 o resultado do primeiro jogo de futebol que vi in loco, no campo, num dia de inverno, frio e com garoa, em 1971: Corinthians 1 x 1 Santos, com Pelé e Rivelino em campo, no Morumbi, levado por meu pai, palmeirense. Como já escrevi aqui, não lembro do jogo, de lances e nem mesmo dos gols. Lembro do 1 a 1 e do meu deslumbramento ao ver aquele gigantesco e lindo gramado verde, e as linhas brancas traçando a grande área, o meio-campo, as meias-luas, o círculo central.

Os gols da partida deste agosto de 2013


O 1 a 1 de hoje foi um belo jogo, disputado, com clima de Vila Belmiro – não pelo público, de parcos 8.120 mil pagantes, mas pelo comportamento aguerrido do time do Santos, desacreditado e abalado por uma crise política depois do vexame de Barcelona. O time mostrou que a crise é de gestão, e não técnica.

O Santos tomou um gol bobo logo aos 3 minutos do primeiro tempo, em cabeçada do zagueiro Paulo André graças a bobeira geral da zaga, que marcou a bola. Tomar 1 a 0 do Corinthians de Tite costuma ser difícil de reverter, pois a equipe é compactada, marca no campo todo, tem índices altos de posse de bola e um contra-ataque que costuma ser mortal, seja nos tempos de Émerson Sheik, seja hoje com Romarinho.

Mas o time de Claudinei Oliveira, que, pressionado pelo vexame no Camp Nou, começara a primeira etapa afobado e nervoso, conseguiu empatar logo aos 9 do segundo tempo (com justiça, diga-se). Foi um passe de Montillo que lembrou Diego em 2002, aquela enfiada para Alberto fazer o 1 a 0 no jogo de ida (que acabou 2 a 0) da final do Brasileiro de 11 anos atrás. Com o gol de William José, o Santos foi crescendo no segundo tempo. Encurralou o Timão e não ganhou por pouco.

(Parênteses para a arbitragem: o juiz Marcelo Aparecido de Souza acertadamente expulsou Paulo André e Willian José, mas o atacante do Santos foi tolo ao entrar na briga entre Neilton e Gil. Se Willian José não tivesse um chilique, Gil e Neilton teriam levado um amarelo cada um e tudo ficava por isso mesmo.)

A partir das expulsões, o Santos perdeu o ímpeto com que partia pra cima do Corinthians. Willian José, que fez o belo gol do empate, prejudicou muito o seu time (mas também, convenhamos, com esse nome não dá: ou é Willian ou é Zé – Wiiliam José é um nome péssimo para um camisa 9).

E foi 1 a 1. 

terça-feira, 6 de agosto de 2013

Pablo Capilé e Bruno Torturra, da Mídia Ninja, no Roda Viva



Coube ao jornalista Alberto Dines, na minha opinião, fazer as duas observações mais interessantes na entrevista concedida por Pablo Capilé e Bruno Torturra, da Mídia Ninja, na entrevista ao Roda Vida na noite desta segunda-feira.

Primeiro, ao lembrar a política da Folha de S. Paulo, em meados dos anos 70 para a frente, de incorporar algumas das demandas do ideário trazido nas páginas da chamada imprensa “alternativa” (Pasquim como símbolo dela) dos anos 1960 e 70.  Quem tem minha idade, um pouco menos ou mais, não há de se esquecer dos acalorados debates e fermentação de ideias que o chamado “projeto Folha” trouxe às suas páginas com Tarso de Castro, Lourenço Diaféria, Paulo Francis e outros.

A proposta da Mídia Ninja – que, aliás, não é invenção dela –, de fazer o jornalismo em tempo real, com um tom de militância ou não, tende obviamente a ser incorporada pela grande mídia de hoje, talvez de maneira mais rápida do que se espera. Portais importantes na internet desenvolvem esse “novo jornalismo” pulverizado e ao alcance de todos não é de hoje e eventos como o tsunami no Japão em março de 2011 mostram que um celular com câmera pode ser o suficiente para se fazer uma “grande reportagem”.

A segunda observação de Dines foi sobre um fato que realmente chamou a atenção: a Mídia Ninja, organização que tende a ser identificada com causas libertárias, ou no mínimo democráticas, praticamente ter ignorado a vinda do papa Francisco ao Brasil como gancho para discutir uma das pautas mais importantes no país atualmente: o Estado laico.

Afinal, debates sobre o direito das mulheres sobre o próprio corpo ou a questão da homofobia, entre outros temas, estão na ordem do dia permanentemente, numa conjuntura em que um grupo de evangélicos retrógrados se apossou da Comissão de Direitos Humanos da Câmara dos Deputados.

Quanto a esse negócio de moeda própria ou moeda alternativa e compartilhamento de casas fora do eixo, tenho cá a impressão de que se trata apenas de uma espécie de eufemismo econômico. Isso porque, admita-se ou não, com dinheiro de brinquedo ou de verdade, o que vigora ainda é a mais-valia. O que traz riqueza aos capitalistas é a força de trabalho. E ponto. Alguém trabalha e alguém lucra.

Na semana passada, o André Forastieri entrevistou o Bruno Torturra e lá pelas tantas o jornalista do coletivo jornalístico que é a sensação do momento, ex-revista Trip e TV Globo, perguntado sobre se é petista, respondeu o seguinte:

“Pessoalmente, votei no Haddad e fiz campanha para que fosse eleito. Também votei na Dilma, no Lula duas vezes. Assinei a ata de fundação da Rede Sustentabilidade da Marina Silva, faço parte de Rede Pense Livre, apadrinhada por FHC, acho o PSOL um partido cada vez mais interessante. E não, não sou petista, nem tucano, nem Marineiro... Não entendo a política como uma guerra de gangues”.

A concepção ideológica de Torturra me remeteu à célebre frase de Gilberto Kassab, ao fundar o PSD: “[O partido] Não será de direita, não será de esquerda, nem de centro. É um partido que terá um programa a favor do Brasil, como qualquer outro deve ter".

De resto, e aqui é uma elucubração a que me permito, com esse discurso tão Marina, talvez Torturra não esteja sendo tão inocente e idealista quanto parece.

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sábado, 3 de agosto de 2013

Conselheiro quer a renúncia de Luis Álvaro. Eu e muitos santistas também



Celso Leite, conselheiro do Santos há 12 anos, está fazendo uma mobilização para pedir a renúncia do presidente do Santos, Luis Alvaro de Oliveira Ribeiro, e do Comitê de Gestão do clube, que, pelo visto, está destruindo a imagem do Alvinegro.

Eu apoio. A vexatória, humilhante e histórica derrota por 8 a 0 para o Barcelona não pode ficar por isso mesmo.

“Foi um vexame mundial. Envergonhou o futebol brasileiro e maculou a história do clube. O sentimento é de revolta com quem dirige o clube. Colocaram os meninos em uma situação adversa. Um negócio estapafúrdio e sem nexo. Se o Barcelona ficou com a renda do jogo e também com o que arrecadou com a venda dos direitos de TV, não entendi porque o Santos fez isso”, disse o conselheiro, segundo o Globoesporte.com. Concordo.

Fora Comitê de Gestão. Fora Laor.

Vexame


Santos de Laor e São Paulo de Juvenal Juvêncio passam por dificuldades

O verbete Vexame, no dicionário Houaiss online: 1. ato ou efeito de vexar; vexação (...) 3. tudo o que causa vergonha ou afronta.

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Não quero parecer corneteiro, mas o Santos hoje conseguiu passar por um dos maiores vexames de sua história. Como dizia minha avó, “quem procura acha”. A humilhação já era esperada, mas foi demais para um time chamado grande. A impressão que se tinha é que era um time profissional contra um time de amadores.

Os gols do jogo estão abaixo.


Mas o que se podia esperar de uma equipe jovem, totalmente inexperiente, em reformulação, diante do poderoso Barcelona de Messi, Iniesta, Fábregas e... Neymar? A atual gestão do respeitável senhor Luis Álvaro de Oliveira Ribeiro faz o Santos Futebol Clube se comportar muito aquém de sua história em alguns momentos, embora tenha sido vencedor no primeiro biênio, reconheça-se. A partir do segundo mandato, entretanto, a falta de planejamento ficou visível.

Bonachão, autointitulado modernizador, simpático santista de quatro costados, infelizmente Laor, como é conhecido, “governa” o clube entre uma internação e outra para cuidar de sua saúde. Em meio a uma visita e outra ao hospital, o mandatário ou seus subordinados venderam Neymar (ok, precisava vender mesmo, por motivos conhecidos) e marcaram a partida de hoje como parte das negociações. Resultado no Camp Nou, em Barcelona: 8 a 0, “fora o frete”, como diz um amigo. 

"Talvez não tenha sido o melhor momento para enfrentar uma equipe do nível técnico do Barcelona", disse o técnico do Santos, Claudinei Oliveira. Bingo!

Claudinei não tem culpa de nada, mas a torcida santista (e ele próprio) continua sem saber se o atual treinador é efetivo ou interino, dois meses após a saída da farsa que atende pelo nome de Muricy Ramalho e infelizmente consumiu dois anos da era Neymar com aquele futebol de quinta categoria, responsável, aliás, pelo primeiro vexame contra o Barcelona, em 2011, e, em certa medida, pior do que hoje, já que era uma partida oficial, valendo o título mundial. O time, então campeão da América do Sul, mostrou que não tinha comando e nem proposta tática aceitável.

O Santos hoje, de certo modo, também deu azar, pois pagou o pato pela acachapante derrota da seleção da Espanha na final da Copa das Confederações, em julho, quando o Brasil fez 3 a 0, fácil. O Barcelona é a base da seleção espanhola. Logo, hoje, precisava dar o troco. E deu. Com a ajuda da falta de planejamento da atual diretoria do Santos F.C.

O episódio serve para mostrar que Luis Alvaro Ribeiro, o simpático bonachão, já deu sua contribuição. O Santos não pode se apequenar como se apequenou hoje.


O Tricolor do Morumbi

O papelão do time da Vila Belmiro superou em muito o do São Paulo, que esta semana perdeu de 2 a 0 do Bayern Munique e de 1 a 0 do Milan, ficando na lanterna de um torneio de verão europeu. Perto dos 8 a 0 que o Santos levou, o pesadelo do Tricolor acabou como um pesadelo cor-de-rosa, digamos assim, com o perdão do trocadilho, que foi sem intenção. Mas o fato é que o pesadelo do Peixe foi mais tenebroso...

O problema do São Paulo é que está mergulhado em uma crise política que se reflete em campo, sem precedentes talvez em 30 anos. A crise política se dá em função da sucessão do todo poderoso Juvenal Juvêncio (que lembra os eternos Mustafá Contursi, Alberto Dualib e Marcelo Teixeira), Juvêncio com sua arrogância típica e apegado ao poder; e, dentro das quatro linhas, o retrospecto Tricolor, com Ney Franco ou Auturori, nos últimos dois meses, é uma catástrofe: pelas minhas contas, foram 14 jogos desde 2 de junho, resultando em 11 derrotas e 3 empates.

A última vitória do time de Rogério Ceni foi em 29 de maio, quando goleou o Vasco da Gama, no Morumbi, por 5 a 1, pela 2ª rodada do Brasileiro.

O time do Morumbi já disputou 11 dos 38 jogos (29%) de sua tabela no Brasileirão. Em 18° lugar, à frente apenas de Portuguesa e Náutico, já fez um ou dois jogos a mais do que todos os seus concorrentes, pois adiantou dois jogos por conta de sua viagem à Europa, onde perdeu do Milan e do Bayern.

Se a crise política persistir e o time não reagir, o rebaixamento “está logo ali”, como se diz nas Minas Gerais.

sexta-feira, 2 de agosto de 2013

O propinoduto tucano e uma pergunta que não quer calar: cadê o Ministério Público?




De Covas a Alckmin, o mesmo esquema

Muitas pessoas que se manifestaram nas ruas em junho contra a corrupção e os políticos, empunharam cartazes contra a PEC 37, que ficou conhecida equivocadamente como “PEC da impunidade”.

A PEC 37, estigmatizada pelo Ministério Público e por muitos cidadãos que nem sabiam do que estavam falando, não fazia nada mais do que deixar clara uma determinação que já está na Constituição de 1988: as entidades responsáveis pelas investigações criminais são a Polícia Federal e a Polícia Civil, e ao Ministério Público incumbe a defesa da ordem jurídica, do regime democrático e dos interesses sociais e individuais indisponíveis, e suas funções são promover o inquérito civil e a ação civil pública, para a proteção do patrimônio público e social, do meio ambiente e de outros interesses difusos e coletivos. Tudo isso é a Constituição quem diz.

Pois bem, após o escândalo divulgado pela revista IstoÉ sobre o propinoduto tucano de desvio de R$ 400 milhões (valor que é uma ficção, porque na realidade é muito mais) pelo esquema do cartel de multinacionais, que trocavam (e trocam) contratos de obras e projetos do Metrô e da CPTM por propinas a políticos tucanos desde o governo Mário Covas, a questão do Ministério Público volta à tona. O PT tem 15 representações junto ao MP desde 2008, pedindo apuração das denúncias de propinas pagas pela Alstom a tucanos ligados ao governo estadual, das quais 13 estão sob sigilo e duas não têm resposta até hoje.

Onde estão, no caso da corrupção tucana, a celeridade e poder de investigação do Ministério Público?

Esta semana, o deputado estadual Luiz Cláudio Marcolino (PT) disse à Rádio Brasil Atual que o MP de São Paulo está demorando muito a agir. “A impressão é que foi montada uma estrutura de corrupção entre a empresa Siemens e a Alstom, que é outra empresa que opera no Metrô e CPTM, inclusive com repasses a executivos importantes do Estado. Viemos fazendo denúncias desde 2008 de irregularidades em contratos e não apuradas pelo MP estadual ou pelo Tribunal de Contas do Estado”, disse Marcolino.

Na semana passada, o deputado petista João Paulo Rillo (PT), que entrevistei para a RBA, protocolou pedido de apuração de denúncias de desvios de recursos públicos do Metrô e da CPTM ao procurador-geral de Justiça do Estado de São Paulo, Márcio Fernando Elias Rosa. Disse o deputado Rillo: “Espero que depois de tanto debate sobre a necessidade da liberdade de investigação do Ministério Público e de se garantir suas funções, elas sejam realmente aplicadas neste caso também”. O petista acrescentou: “É o que eu espero, para não ficar com a impressão de que o Ministério Público é seletivo e tem mais vontade de investigar coisas contra o governo federal do que contra o estadual”.

Pois é. A PEC 37 foi arquivada, o MP ganhou e estamos esperando resultados das investigações sobre os escândalos que começaram no governo de Mário Covas, governador do Estado de São Paulo de 1995 a 2001, quando morreu e foi sucedido pelo então vice Geraldo Alckmin, hoje governador. Um verdadeira roda viva sem fim.

O esquema denunciado pela Siemens ao Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica) vem de longa data e envolve gigantes como Alstom, Bombardier, CAF, Siemens, TTrans e Mitsui, entre outras empresas.

O Ministério Público está com a palavra. Até agora, e já faz anos, está mudo.

A íntegra da primeira matéria da IstoÉ sobre o escândalo está aqui: O esquema que saiu dos trilhos