quarta-feira, 30 de março de 2011

Professor espera que, desta vez, Bolsonaro "tenha o que merece"

Ricardo Dias/ Foto: Eduardo Metroviche

Professor do departamento de Comunicação Social do Unifieo, em Osasco, Ricardo Dias falou ao blog sobre o deputado federal Jair Bolsonaro (PP-RJ). Na última segunda-feira, no programa CQC, ao responder a uma pergunta da cantora Preta Gil sobre o que ele diria se seu filho se apaixonasse por uma negra, o parlamentar afirmou: “não vou discutir promiscuidade com quem quer que seja”.

Diante da repercussão, em entrevista a Terra Magazine o deputado disse, depois, que tinha entendido a pergunta errado: “Eu entendi que ela me perguntou o que eu faria se meu filho namorasse um gay”. Leia depoimento do professor Ricardo Dias.

Fatos Etc - Como o senhor recebe as declarações racistas e homofóbicas do deputado Bolsonaro ao programa CQC?
Ricardo Dias - É uma pessoa desclassificada, uma pessoa desprezível. Nós sabemos que ele tem um histórico de denúncias, de ter sido denunciado por crimes e não ter sido condenado. Eu imagino o seguinte: se o tipo de declaração que ele deu já não tem algum propósito no sentido de criar essa dúvida na cabeça das pessoas. Então, na verdade, ele estava se referindo ao negro ou estava se referindo aos homossexuais? Como se uma declaração dessas, com relação aos homossexuais, não fosse também passível de crime de homofobia. Mas eu fico pensando se ele não fez isso de propósito para confundir qualquer julgamento por parte da Justiça. Eu espero que isso não aconteça e que ele, se possível, seja condenado não só por racismo, como também por homofobia.

O mais assustador é que ele é um homem público, eleito deputado federal, que deliberadamente comete um crime inafiançável que é o racismo, como se nada o amedrontasse. O senhor teme a impunidade mais uma vez, nesse caso?
Temo. Temo sim, porque a questão foi colocada nesses termos, para causar dúvida. E infelizmente nós sabemos que, por questões jurídicas, é em dúvida pro-réu [In dubio pro reo, princípio jurídico da presunção da inocência]. Mas nós estamos sentindo bons ventos soprando com relação à Justiça, que tem se posicionado de forma cada vez mais coerente, mais clara. Então quem sabe desta vez ele tenha o que merece.

A morte de José Alencar é uma metáfora da política brasileira

O ex-presidente Luiz Inácio da Silva fala sobre José Alencar, seu vice de 2003 a 2010, morto na tarde desta terça-feira, aos 79 anos.



No pronunciamento emocionado em Portugal, onde estava com a presidente Dilma Rousseff, do qual acima está um pequeno trecho, Lula não deixou, porém, de falar de política, pois Lula não consegue não ser político. Especificamente, falou sobre a importância de Minas Gerais no processo que o levou a ser eleito duas vezes, em 2002 e 2006. “Todo mundo sabe que perdi muitas eleições no Brasil, eu tinha 30% ou 32% e precisava encontrar o restante. E o restante encontrei no Zé Alencar”, disse o ex-presidente. A morte do mineiro José Alencar é como se fosse uma metáfora da política brasileira. Minas Gerais (“Esses gerais são sem tamanho”, como define o personagem Riobaldo de Grande Sertão: Veredas) é uma incógnita para 2014.

Lembremos que, em 2010, Aécio Neves começou a abandonar o barco de José Serra antes mesmo da oficialização da candidatura tucana. O adeus de Aécio à nau do PSDB paulista ficou claro num editorial inequívoco do jornal O Estado de Minas, que postei aqui no blog em 4 de março de 2010: Mineiros repelem a arrogância de José Serra.

Nesse editorial, o jornal repudiava a “demonstração de arrogância, que esconde amadorismo e inabilidade” do tucanato serrista. O recado em tom definitivo, a própria voz de MG, terminava com essas palavras do célebre editorial: “Minas desta vez precisa dizer não”.

E disse. Mas, em 2014, supõe-se que Aécio Neves deve poder contar com Minas, o que não foi privilégio nem de Alckmin em 2006 contra Lula, nem de Serra em 2010 frente a Dilma. Isso é o “óbvio ululante”. O que não é óbvia é a conta: de onde sairão os votos no resto do país para compensar a possível perda dos eleitores de Minas que Aécio deve arrebanhar? A estratégia deve ser mudar o jogo em São Paulo. E esse é o maior desafio da esquerda para 2014. Se perder Minas e não virar em São Paulo, já era.

segunda-feira, 28 de março de 2011

Para não dizer que não falei de Rogério Ceni

W. Carmo/ Inovafoto/Vipcomm

Com algum atraso, vai aqui uma nota sobre Rogério Ceni, esse extraordinário jogador do São Paulo F.C. Como não sou são-paulino, terminado o grande jogo em que o time do Morumbi bateu o Corinthians por 2 a 1 na Arena Barueri, ao invés de pelo menos escrever um post, eu, que já tinha tomado algumas, dormi (conheço são-paulino que chorou, outro que teve dores no peito, outro que tomou calmante...).

Mas o fato é que, como todo mundo já disse, um goleiro chegar ao 100° gol é espetacular. Segundo levantamento publicado no blog do Paulo Vinícius Coelho, Ceni é o 18° maior artilheiro da história do clube. Seis gols atrás de Friedenreich e 15 menos que Careca. O maior de todos é Serginho Chulapa, com 242.

O que mais me impressiona em Rogério é a precisão de seu passe. No primeiro tempo da vitória sobre o Corinthians, ele deu um lançamento de sua grande área que atravessou o campo e foi cair, precisa, quase milagrosamente, na ponta esquerda, nos pés (se não me falha a memória) de Dagoberto. Artilheiro, líbero, líder do elenco e dentro do clube, o atleta é para muitos o maior jogador da história do SPFC. Não acho que seja exagero.

No jogo em que seu time, com um gol seu, quebrou um tabu de quatro anos (11 jogos) sem vencer o rival Corinthians, o centésimo gol coloca Rogério Ceni definitivamente como uma lenda do futebol brasileiro.

Veja os gols de São Paulo 2 x 1 Corinthians com a narração de Oscar Ulisses, da rádio Globo:

sábado, 26 de março de 2011

"A melhor volta da história"

O texto abaixo, com o respectivo link, foi publicado como comentário no post Ayrton Senna - Interlagos, 1991. Mas acho que deve ser elevado da categoria de comentário para post propriamente dito.

Por Felipe Cabañas da Silva

Épico, de fato. Tem uma coleção de corridas épicas, como em Donington Park em 1993, em que Senna pulou de 4° a 1° na primeira volta debaixo de chuva, a volta que ficou conhecida como "a melhor volta da história" (a narração também é do Galvão Bueno, infelizmente).

 

Pois é. O Senna é um dos meus ídolos de infância. Domingos inesquecíveis assistindo corrida com meu pai. Quando ele morreu eu tinha 11 anos, e não me envergonho de ter chorado. O ufanismo bobal do Galvão Bueno não invalida o mito. Embora todo mito tenha seu lado perverso, que se relaciona ao processo de mitificação, e não ao sujeito mitificado, continuo achando que o Senna merece respeito.

E perto de um monstro genial capaz de acabar a corrida com cãibra no corpo todo, dizendo que "não sobrou nada", a Fórmula 1 de hoje é brincadeira de playstation. Também não perco meu tempo. Cada vez mais sem graça. Por mais que que o Bernie Ecclestone invente, por mais que todo ano se invente um monte de regras para tornar a corrida "mais emocionante", já virou protocolo. E nesse caso, por mais que o Piquet seja um babaca, ele está certo quando diz que o sujeito que senta na frente da televisão pra ver uma corrida de automóveis quer ver o circo pegar fogo (leia-se em sentido próprio e figurado), e não uma procissão de comadres guiadas por controle remoto trocando de posição nos boxes. Enfim, bem mais divertido ver uma pelada qualquer, mesmo que seja Ibis x Bangu.

sexta-feira, 25 de março de 2011

Pensamento para domingo: Ayrton Senna - Interlagos, 1991

Na semana que está acabando, fez 20 anos da primeira vitória no Brasil, em Interlagos, e piloto teria completado 51 anos

Domingo começa a temporada de Fórmula 1 (na Austrália, às 3h da manhã - horário de Brasília) e cabe uma lembrança: a dos 20 anos da primeira, e antológica, vitória de Ayrton Senna no GP Brasil, em 24 de março de 1991, em Interlagos. Naquele ano, ele seria tricampeão do mundo.

O piloto terminou a prova sem a terceira, quarta e quinta marchas de sua McLaren-Honda, e cruzou a linha de chegada à frente da Williams-Renault de Ricardo Patrese num êxtase nervoso, gritando e chorando no cockpit.

Ayrton e Gustavo Kuerten, nosso Guga, foram os únicos esportistas que me faziam acordar regularmente aos domingos pela manhã, o que para mim sempre foi um sacrifício. Mas para ver Senna e Guga era um prazer. Depois que um morreu e o outro parou, eu acordo menos vezes cedo, aos domingos.

Este post surgiu da conjunção de dois fatores: a associação entre futebol e Fórmula 1, feita pelo Victor e depois pelo Felipe em comentário no post sobre Muricy no Santos, e a efeméride do 24 de março, que me foi informada por nossa solerte imprensa. Depois, uma pesquisa básica me informou que em 21 de março, a última segunda-feira, Senna faria 51 anos.

Não postei antes porque havia compromissos profissionais mais urgentes.

Em tempo, não pretendo perder a madrugada de domingo assistindo o GP da Austrália.

Abaixo a entrevista que Senna concedeu logo após a vitória épica de 1991 em Interlagos. Ele encerra a entrevista com uma frase emblemática de sua personalidade obcecada e alucinada pela vitória, movida como que por um nirvana antibudista feito de paixão e adrenalina: “O resultado só podia ser esse mesmo, acabar a corrida sem nada sobrando”. No outro vídeo, as 10 últimas voltas (sim, caro internauta, a narração é do Galvão Bueno: não tem outra).







Leia também sobre Ayrton Senna: A Melhor volta da história

quarta-feira, 23 de março de 2011

Após inúmeros adiamentos, estação Butantã do Metrô começa a operar dia 28

Estação Butantã/ Foto: Carmem Machado

Depois de muitos adiamentos, o governo de São Paulo finalmente vai entregar a esperada estação Butantã do Metrô, da Linha 4-Amarela, na próxima segunda-feira, 28, segundo o governador Geraldo Alckmin. Mas a estação, como as outras duas já inauguradas nesse ramal (Faria Lima e Paulista), vai entrar em operação para funcionar inicialmente apenas em horário reduzido, das 8 às 15 horas.

Segundo o governo, o horário passará a ser das 4h40 à 0h15 com a entrega da estação Pinheiros (aquela da tragédia do início de 2007), prevista para o fim de abril. Os adiamentos e promessas não cumpridas relativos a essa Linha 4 Amarela foram tantos até agora que tudo o que for promessa ou meta deve ser encarado com desconfiança.

De qualquer maneira, a incrivelmente esquecida região do Butantã, onde fica a USP, maior universidade do país, entra na era do metrô quase 40 anos depois de inaugura a Linha 1 Azul, na primeira metade dos anos 1970. O que, por um lado, é bom. Mas, por outro, já que metrô traz enorme especulação imobiliária, é muito ruim para os moradores antigos.

A Linha 4 Amarela está prevista para ser entregue em toda a sua extensão apenas no fim de 2014. Se concluída como foi projetada e prometida pelo governo tucano, ela terá 11 estações: Luz – República – Higienópolis – Paulista *– Oscar Freire – Fradique Coutinho – Faria Lima * – Pinheiros** – Butantã – Morumbi – Vila Sônia. Ao iniciar sua gestão como governador de São Paulo em 2007, após deixar a prefeitura no meio do mandato, José Serra (PSDB) prometeu que entregaria seis estações da Linha 4-Amarela em fins de 2008

*estações em funcionamento (das 8 às 15 horas)
** prevista para fim de abril

terça-feira, 22 de março de 2011

Hoje só Muricy pode dar um jeito no Santos

Futebol é uma das coisas da vida em que é mais fácil você mudar de opinião. Uns admitem isso, outros não. Nesse blog mesmo, eu fui bastante crítico de Muricy Ramalho. Como treinador, claro, pois não o conheço. Mas me parece ser um bom caráter, do tipo que cumpre sua palavra, como demonstrou no episódio Fluminense x Seleção Brasileira.

Foto: Wallace Teixeira/ Photocamera
Como técnico, o uso freqüente do 3-5-2 e o estilo defensivo nunca me agradaram. Apesar de tudo, não se pode negar a competência de um cara quatro vezes campeão brasileiro na era dos pontos corridos (só Vanderlei Luxemburgo, com cinco, tem mais títulos do Brasileirão). No ano passado, o Fluminense de Muricy foi campeão brasileiro merecidamente.

"Só falta acertar valores”

Exatos seis meses após a saída de Dorival Júnior, uma experiência desastrosa com Adilson Batista e duas fracassadas com Marcelo Martelotte, à beira de um fiasco na Libertadores, sem comando, sem plano tático, o caríssimo time do Santos é um barco à deriva. Por isso, acredito que hoje a chegada de Muricy é desejada por quase a unanimidade dos santistas, este blogueiro entres eles. Um amigo meu de Santos me disse o seguinte: “diz a lenda aqui em Santos que só falta acertar valores”.

O técnico tricampeão brasileiro pelo São Paulo (2006, 2007 e 2008) foi muito criticado até por vários são-paulinos devido ao “futebol feio”. Além disso, Muricy nunca obteve sucesso na Libertadores. A seu favor, diga-se que muito do estilo pouco encantador se devia ao próprio elenco daquele time são-paulino, cheio de bons zagueiros e volantes, mas carente de meias e atacantes, o que o próprio treinador reconheceu ontem em entrevista à Rádio Globo (ouça abaixo). Sobre a Libertadores, ele não é o único com cartel vencedor que é virgem nessa competição. Luxemburgo também é.

Um time com as características do Santos, de vocação ofensiva, que conta com jogadores como Elano, Paulo Henrique Ganso (até quando?) e Neymar é outra coisa. E Muricy não é bobo. Boba é a defesa do Santos, mal protegida por um meio de campo capenga com Adriano e Danilo e uma zaga grotesca, principalmente pela farsa que atende pelo nome de Edu Dracena (ou será que ele pode virar um bom zagueiro com Muricy?). O problema da defesa santista se arrasta desde Dorival Júnior, mas tem se agravado mais e mais.

Num post de 3 de março, quando nem se falava na saída de Muricy do Fluminense, eu escrevi o seguinte: "Conjectura: o andar da carruagem pode acabar levando Muricy Ramalho à baixada santista. Desgastado no Fluminense, ele poderia ... vir a ser a tábua de salvação na Vila".

Enfim, na entrevista à Globo de ontem, em que o presidente Luis Álvaro e Muricy trocaram amabilidades, deu-se a entender que uma capirinha com um camarãozinho poderiam ajudar a resolver tudo, para o bem do Santos (ou será que há quem prefira Joel Santana?). Tomara que a capirinha tenha gelo.

Ouça a entrevista de Muricy e Luis Álvaro à Rádio Globo:

http://radioglobo.globoradio.globo.com/futebol/2011/03/21/ENTREVISTA-EXCLUSIVA-MURICY-RAMALHO.htm

segunda-feira, 21 de março de 2011

A questão sobre o blog da Maria Bethânia não é a Maria Bethânia

O título deste post é verdade pelo menos para mim. A Música Popular Brasileira foi um fator essencial na formação da minha geração. E nesse panteão, a baiana de Santo Amaro da Purificação, seu irmão Caetano, Chico Buarque, Nara Leão, Gilberto Gil e Gal eram os maiores (cabem outros nomes aí, obviamente)

Exceto Chico, que detestava palcos, esses grandes artistas eram míticos, para nós. Meus irmãos, meus amigos e eu tivemos o privilégio de assistir aos shows numa época em que não havia essas casas de espetáculos horrorosas e impessoais de hoje. Víamos nossos ídolos no teatro. O show “Álibi”, de Maria Bethânia, no Tuca (teatro da PUC), em São Paulo, no ano da graça de 1978, é um desses acontecimentos que nunca mais se descolam de nossas retinas tão fatigadas. Bethânia levava-nos às lágrimas com seu domínio absoluto do palco, sua voz que ecoava como a de um orixá poderoso. Nunca esquecerei o brilho dos olhos de Bethânia que eu via cintilar do fundo da escuridão onde nos encontrávamos, na plateia.

Foto da capa do disco
"Pássaro da Manhã" (1977)
A questão do blog é outra. Bethânia virou foco porque no Brasil os talentos nascem como nascem os craques de futebol, e a esmagadora maioria desses talentos está excluída pelo deus mercado. Sendo assim, o que caberia ao Estado? Por exemplo, proporcionar com seus instrumentos as oportunidades que a perversa indústria cultural veda (*) aos incontáveis excluídos. Com leis de incentivo mais transparentes, por exemplo. A Lei Rouanet está caduca e é base de um sistema semelhante a um cartório de cartas marcadas. Por isso são justificadíssimos os clamores que reverberam, na sociedade dos excluídos, pela democratização das instituições culturais no país.

Qualquer cidadão pode inscrever um projeto cultural no Ministério da Cultura para obter recursos de isenção fiscal? OK! Vá lá então apresentar seu projeto, cidadão brasileiro. A Constituição de 1988 diz expressamente em seu artigo 5°: “Todos são iguais perante a lei”. Mas qualquer cidadão mais informado sabe que essas palavras são letra morta. Com a cultura, não é diferente.

Os interesses da indústria cultural
Ao que tudo indica, a política de Ana de Hollanda serve para agradar interesses muito específicos. Uma matéria esclarecedora sobre o tema é "Quem tem medo da mudança?", de Tatiana de Mello Dias e Rafael Cabral, do Estadão. Uma política mais democratizante, que passasse pela reforma da lei dos direitos autorais, estaria desagradando altas personagens da indústria cultural e do próprio governo dos Estados Unidos. “Com os norte-americanos insatisfeitos, o Brasil poderia começar a sofrer retaliações comerciais. Por isso, o novo MinC teria decidido se alinhar à cartilha dos grandes conglomerados da música e do cinema”, informa a matéria, que ouviu Pablo Ortellado, do Grupo de Políticas Públicas para o Acesso à Informação, da USP. “As pequenas ações da ministra apontam basicamente para a realização da agenda da indústria cultural”, disse ele.

Por tudo isso, e por muito mais, é que Bethânia se tornou o foco de tantos protestos e críticas. Acredito que em sua grandeza Bethânia deve saber disso.

Com todo respeito, acho totalmente enviesado o post do cineasta Jorge Furtado, em seu blog, intitulado: “A gritaria contra o blog de Maria Bethânia é uma mistura de ignorância, preconceito e mau-caratismo”. Entre outras coisas, ele atribui a “gritaria contra o blog” de Bethânia ao “preconceito contra os nordestinos”, até com piadas vindas do “gueto branco direitista no enclave paulista, enfim, os eleitores de Kassab e Serra”. O texto, que, pelo menos segundo o próprio autor, faz sucesso na internet, é inteiramente baseado em sofismas.

No meu caso, não há nenhum preconceito. Até porque, sendo paulista, eu amava Maria Bethânia e minha avó materna, a dona Milu, era baiana.

Claro, cada um defende o seu. Essa parece ser a regra a guiar os alinhados à atual ministra da cultura. Não sei se Jorge Furtado sabe (tenho quase certeza de que sim), mas a produção de cinema na Bahia existe. Só que não encontra canais de distribuição, porque não interessa à indústria cultural, cujo ideário (os fatos são cada vez mais claros) está bancando a poderosa Ana de Hollanda no MinC.

*Atualizado às 14:14

Leia também sobre o MinC de Ana de Hollanda:

O Ministério da Cultura e o compadrio

Ato de Ana de Hollanda sobre Creative Commons causa perplexidade e indignação

Ana de Hollanda deu uma canetada e se escondeu na concha

Dilma tem que pôr fim à arrogância de Ana de Hollanda

sexta-feira, 18 de março de 2011

Brother, não seja burro, você tem que entender que a visita de Obama é importante


Valter Campanato/ABr
 Com todo o respeito, mas uma parte da “esquerda” brasileira ainda não saiu da adolescência política. Exemplo: a visita oficial de Barack Obama ao Brasil, que começa no sábado, 19, dia de São José e de lua cheia. Dá pra ver essa imaturidade irritante pelo twitter. Figurinhas carimbadas (ou que se consideram carimbadas, com milhares de seguidores) acham, claro, que receber bem o presidente dos Estados Unidos é subserviência, que a política de Obama é um fracasso, que Obama é um mero perpetuador do império, que Obama é quase a besta do Apocalipse. Que o governo de Dilma Rousseff está traindo o legado de Lula, que o governo cortar R$ 50 bilhões do orçamento e a aprovação do salário mínimo em R$ 545 provam que Dilma parece até ser contra os trabalhadores (tente ler a entrevista da presidente ao Valor Econômico do dia 15).

Ao ler essas babaquices muito prestigiadas por veículos de imprensa de “esquerda”, opiniões dos que se acham muito poderosos por causar rebuliço no twitter, você pode nem perceber, mas está lendo versões muito apropriadas para o que a direita republicana estadunidense e demo-tucana brasileira querem que você pense. Boa parte da “extrema” esquerda brasileira é de direita. Não sei se é consciente ou inconsciente.

Entre os países, o Brasil é hoje provavelmente a mais importante liderança emergente mundial, cujo apoio, política e economicamente, é mais cobiçado do que o da Índia, da China ou da Rússia. Isso começou com Lula, a quem Barack Obama, logo após ser eleito, se referiu dizendo: “esse é o cara”.

As pessoas precisam entender que não existe mais Libelu. Que o PCdoB não é mais do que um PMDB (muito) menor. Que o Brasil está inclusive deixando de ser um mero país emergente. Que o Brasil é grande. E que o Brasil ter os Estados Unidos como um interlocutor que nos respeita está de acordo com os paradigmas do século XXI. Que Brasil e Estados Unidos precisam ter bom diálogo como grandes países da América. E que os Estados Unidos e seu presidente sabem disso.

Eu também não concordo com Guantánamo. E acho que a presidente Dilma tem que se posicionar sobre o Ministério da Cultura, por exemplo. Mas um homem ou uma mulher não podem num passe de mágica mudar os rumos de um país ou de um império. Um homem negro norte-americano e uma mulher brasileira.
Reprodução

Os brasileiros governados por Dilma Rousseff, mas sobretudo seus eleitores, deveriam entender a visita do presidente Obama ao país na conjuntura assim anunciada pelo chanceler Antonio Patriota: “O Brasil quer uma relação de igual para igual. As circunstâncias no mundo de hoje favorecem isso”.

De resto, que vão à merda os esquerdistas de direita e os direitistas de esquerda. São todos iguais.

PS: podem me chamar de politicamente incorreto, mas eu não uso nem usarei o termo “presidenta”. Esse papo virou mais uma neurose esquerdozóide.

quarta-feira, 16 de março de 2011

O Ministério da Cultura e o compadrio

A volta do coronelismo cultural

Mais uma vez o Ministério da Cultura comandado por Ana de Hollanda é o centro das discussões. O assunto da vez é a cantora Maria Bethania, que em parceria com o cineasta Andrucha Waddington foi aquinhoada com a irrisória verba, pela Lei Rouanet, de nada menos do que R$ 1.356.858,00 para desenvolver o blog “O Mundo Precisa de Poesia”. Que bloguezinho caro, não? Evidente que esse e outros projetos já tramitavam antes, mas as aprovações foram divulgadas agora.

Os defensores de Bethânia, entre eles sua sobrinha e cantora Bellô Veloso, argumentam que a trajetória de Bethânia e o que ela deu à cultura do país justificam que verbas federais, no caso do MinC via Lei Rouanet [*ver Observação abaixo], financiem suas iniciativas. “Maria Bethânia é cultura!”, disse Bellô Veloso no twitter (@belovelloso). Citam outras verbas também aprovadas pelo MinC para justificar o R$ 1,3 milhão da baiana, como a dizer: se fulano recebe tanto, por que Bethania, que é muito mais importante, não receberia?

Um projeto musical chamado “Tchakabum é pura energia” (meu deus!) receberá R$ 1.629.000,00. A dileta filha de Elis Regina, Maria Rita, conseguiu a aprovação de verbas para seus shows na turnê “Redescobrir Elis - Shows de Maria Rita” no montante de R$ 2.195.800,00. E por aí vai (você pode ver a lista de projetos culturais aprovados e os respectivos valores clicando neste link).

Já muitos outros, como o cantor e compositor Lobão, atacaram o MinC. "Ô, Minc! eu quero um blog de poesia pra mim!”, escreveu ele em seu twitter (@lobaoeletrico).

Tudo isso é mais um indicador de que, sob Ana de Hollanda, o MinC voltará a ser o que era, privilegiando o individualismo e o compadrio, as amizades e influências, o Ecad, o privado em detrimento do social e os artistas que se viram órfãos no governo Lula sob a gestão de Gilberto Gil. Esses artistas são, entre muitos outros, o poeta Ferreira Gullar (ex-comunista), o cineasta Luiz Carlos Barreto, o ególatra Gerald Thomas e... Caetano Veloso, o gênio que odeia analfabetos, tio de Bellô Veloso e irmão de Maria Bethania. A equação é simples.

*Observação (às 18:32): há quem argumente que as verbas aprovadas via MinC/Lei Rouanet não são dinheiro público. Isso porque o MinC aprova a verba para que empresas possam abater do Imposto de Renda devido. Assim, se uma empresa deve R$ 100,00, ela dá, por exemplo, R$ 4,00 a Bethânia e R$ 96,00 à Receita Federal. Ora, os R$ 4,00 que o empresário deixou de dar ao governo para financiar o projeto de Bethania ou qualquer outro entram na conta chamada "renúncia fiscal". E isso é, sim, dinheiro público.

PS: Claro, precisa ser muito otário pra achar que as escolhas de projetos culturais beneficiados por leis de incentivo tenham sido, em algum momento, determinadas só pela qualidade e relevância cultural. O problema maior é que, com Ana de Hollanda, o que se vê é um recrudescimento do coronelismo cultural no Brasil e a revogação da democratização que a gestão anterior tentava implementar no setor. Triste.

PS 2:  Após o projeto em questão receber a chancela "aprovar" do MinC, significa o "ok" do Ministério. Portanto, não adianta a assessoria da Bethania vir dizer, como disse ao portal R7, que "por enquanto, ele está sendo avaliado para entrar na Lei Rouanet" e que "ainda precisará de um patrocínio para ser levado em frente". Precisará, é claro, e virá.

Sobre o MinC de Ana de Hollanda, leia também:

Ato de Ana de Hollanda sobre Creative Commons causa perplexidade e indignação

Ana de Hollanda deu uma canetada e se escondeu na concha

Dilma tem que pôr fim à arrogância de Ana de Hollanda

Atualizado às 18:32

segunda-feira, 14 de março de 2011

Reflexões a partir da tragédia japonesa

A tragédia japonesa, cujo saldo nem mesmo as autoridades do país oriental têm condições de precisar no momento, apontam para duas reflexões que transcendem os próprios eventos.

1) Como se sabe, o terremoto e o tsunami que devastaram as cidades da costa leste e nordeste do Japão provocaram explosões no complexo nuclear de Fukushima. Não se sabe ao certo as conseqüências de mais esse acidente nuclear, até porque os discursos oficiais sempre omitirão a verdade. O mundo está em permanente risco devido à quantidade de reatores nucleares existentes hoje. Nós mesmos temos aqui no Brasil, em nosso litoral, a usina de Angra dos Reis, idealizada ainda no regime militar.

Diante do ocorrido no Japão, ganham visibilidade discursos questionadores do modelo disseminado no mundo todo a partir da descoberta da fissão nuclear, em 1938, por Otto Hahn e Fritz Strassmann, na Alemanha, que conseguiram o feito ao bombardear com nêutrons o átomo de urânio (U-235) – descoberta que, ironicamente, foi testada como artefato militar em Hiroshima e Nagasaki.

Thanatos e Eros

Parece claro que o desenvolvimento do mundo no século XX levou o homem no plano coletivo a pender para o lado da morte. Ao desenvolver sua teoria psicanalítica, Sigmund Freud dotou o ser humano de dois instintos básicos ou primordiais: Thanatos (deus grego que simboliza a morte) e Eros (deus grego do amor e da vida). Se a premissa de que a teoria freudiana está correta, esses princípios ao mesmo tempo antagônicos e complementares são determinantes para os rumos da civilização. E o resultado do desequilíbrio, que decorre da prevalência da pulsão da morte sobre a pulsão da vida, é esse que estamos vendo. Usinas nucleares, o próprio câncer, incrustrado em todas as partes do planeta.


2) A segunda reflexão é mais simples. Diante da natureza, nós nada somos.




PS
: (um dia depois da postagem - atualizado às 16h55 de 15/03). "Fala-se de apocalipse e acredito que é um termo particularmente bem escolhido", disse o comissário europeu de Energia, Günther Oettinger, a uma comissão do Parlamento Europeu, em Bruxelas, sobre a situação a que chegou o desastre nuclear em Fukushima. "Praticamente tudo está fora de controle". A situação é de nível seis de gravidade em uma escala que vai até sete. O nível sete da escala da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) só se confirmou uma vez no mundo: na tragédia de Chernobyl, na Ucrânia, em 1986. O presidente da Autoridade de Segurança Nuclear francesa, André-Claude Lacoste, foi enfático: "Estamos em uma catástrofe evidente".

sábado, 12 de março de 2011

O menino de ouro está de volta


Craque voltou arrebentando/Foto: Reprodução
Algumas observações sobre Santos 2 x 1 Botafogo de Ribeirão Preto na Vila Belmiro agora há pouco, pela 13ª rodada do Paulistão 2011 (veja os gols abaixo).

– Meu deus, como Paulo Henrique Ganso joga bola. Entrou do primeiro para o segundo tempo e, a um minuto, na segunda vez em que pôs o mágico pé esquerdo na bola, deu um passe magistral para Zé Eduardo dominar com categoria e passar para Elano fazer um golaço, o nono dele no campeonato e 10° na temporada (marcou um na Libertadores). Além do futebol, esse guri Ganso tem cabeça. Tem um futuro bonito pela frente.

– Pará iniciou a jogada do segundo gol do Peixe pela direita, dando grande passe a Zé Eduardo, que cruzou forte para encontrar a perna esquerda de Ganso, feito um camisa 9. Eram 9 minutos da segunda etapa, 2 a 0.

– Zé Eduardo e Pará são jogadores importantes para o time do Santos. Apesar de os holofotes estarem todos voltados para Neymar e Ganso, Zé Eduardo é quase sempre decisivo. Hoje, por exemplo, saíram de seus pés os passes finais para os dois gols contra o Botafogo. Pena que já está negociado com o Genoa da Itália e só fica até junho. Pará entrou no lugar de Jonathan, lesionado, e o Santos saiu ganhando. Aguerrido, bom marcador, Pará supera com a raça as limitações técnicas. Foi campeão paulista e da Copa do Brasil em 2010 e para mim deve e merece ser titular.

– Que timinho sem vergonha esse violento Botafogo do técnico Argel. Bateram o jogo todo de maneira covarde, com a complacência do juiz banana Rodrigo Braghetto. O tal Fernando Miguel foi expulso depois de um carrinho maldoso logo no Ganso. Coisa de gente mau caráter.

– A volta de Ganso é muito importante para Neymar, não só pelo futebol magnífico do meia esquerda, do qual deu uma prévia contra esse, repito, timinho violento do Botafogo. É que Neymar vai poder descansar um pouco de ser sempre o foco da mídia. O pequeno grande craque vai poder trabalhar com mais tranqüilidade podendo dividir a responsabilidade com seu “irmãozinho” mais velho.

– O Santos precisa parar de subestimar Marcelo Martelotte e efetivá-lo. Não há solução melhor para o time. Martelotte é agregador, é da casa, fala sempre como parte do coletivo (“nós”, “a gente”), e não na primeira pessoa, é estimado pelo grupo, faz o feijão com arroz num time cheio de craques e não quer aparecer mais do que eles. Acho que é isso, o resto o time faz em campo.

Libertadores

Quarta-feira que vem tem o esperado jogo com o Colo-Colo em Santiago pela terceira rodada da Libertadores. Com o surpreendente empate Cerro Porteño 1 x 1 Táchira em Assunção na quinta-feira, a situação do Santos no grupo 5 deu uma bela refrescada. Se vencer os chilenos, o Peixe termina a terceira rodada na liderança. Mesmo um empate não será ruim, já que, dos três últimos jogos, dois (Táchira e Colo-Colo) serão na Vila Belmiro.

*Atualizado às 14h53

Gols de Santos 2 x 1 Botafogo

sexta-feira, 11 de março de 2011

Santos F.C. coloca novo estatuto em votação para entrar no século XXI

Os sócios do Santos Futebol Clube votam neste sábado, 12, das 10h às 18h, o novo Estatuto Social do Clube. Embora este termo já tenha sido usado em outros sites, a verdade é que o estatuto é de fato revolucionário no contexto do futebol brasileiro, dominado em grande parte por modelos de cartolagem da “idade da pedra", digamos assim. O documento, aliás, varre da história do clube o tipo de gestão ave de rapina do antigo presidente Marcelo Teixeira.


Foto: Edu Maretti

Confira abaixo alguns dos principais pontos que os sócios poderão aprovar:

- A Vila Belmiro terá o endereço “Rua Princesa Isabel, s/nº” em vez de possuir o número “77”, adotado na administração anterior;

- A sede do Clube não poderá ser alterada de Santos. No Estatuto atual, ela pode ser transferida;

- Haverá as Embaixadas do Peixe, representações dos sócios do Clube com, no mínimo, 100 integrantes, em qualquer local. Nelas serão realizadas campanhas sociais, captação de novos associados, entre outros;

- O Peixe terá definido o uniforme branco como o principal da equipe. O Estatuto atual não define nenhum uniforme como o principal;

- O órgão executivo do Clube será o Comitê de Gestão, formado por um presidente e um vice, eleitos em Assembleia Geral. Os eleitos escolherão sete pessoas, que atuarão no Comitê como diretores;

- O mandato do Comitê de Gestão e do Conselho Deliberativo será de três anos;

- Só será possível uma reeleição;

- Para participar de votações, os sócios precisarão ter um ano de associação. Atualmente, são necessários três anos;

- Se decidido pelo Conselho, as eleições também poderão ser realizadas por correio ou internet;

- O Clube deverá divulgar o balanço financeiro a cada três meses;

- Os dirigentes do Santos FC não poderão emprestar dinheiro ao Clube (uma praga na gestão de Marcelo Teixeira);

- Para adiantar receita da próxima administração, o presidente deverá pedir autorização para o Conselho Deliberativo. Hoje não há impedimento para tal;

- A administração só poderá gerar dívidas de até 10% da receita. Para ultrapassar essa marca, será necessária a aprovação do Conselho Fiscal e do Conselho Deliberativo;

- O Futebol Profissional não poderá ter verba maior que 85% do orçamento total. Dessa porcentagem, pelo menos 10% deverão ser repassadas ao Futebol Amador. Os esportes olímpicos e amadores deverão ter pelo menos 1% do orçamento total de cada ano.

quinta-feira, 10 de março de 2011

Alegria parece estar voltando à Vila Belmiro

Como eu sempre defendi Neymar, mesmo quando quase a unanimidade da mídia adotou o rótulo de “monstro” que o perdedor René Simões achou numa noite de derrota, ou quando a mesma "crônica esportiva" resolveu colocar o “professor” Dorival como pobre vítima, me sinto à vontade para chamar a atenção para a manchete abaixo, do último dia 6, domingo de Carnaval, no Uol:

Não precisa falar muito sobre o que Neymar jogou contra a Portuguesa no tapete da Vila Belmiro, nesta quarta-feira. Quem viu, viu. Quem não viu, não viu. Fez dois golaços e deu uma beleza de passe para Léo fazer o terceiro. Fora o resto. E a manchete do Uol se torna apenas motivo de riso.

Como não dá para ver tudo, veja os gols de Santos 3 x 0 Portuguesa:




Aí, os mesmos mancheteiros de três dias atrás escrevem outra manchetezinha para vender: “Neymar ignora 'ressaca', finda jejum com dois golaços e comanda vitória do Santos”. Ora, mas que ressaca, cara-pálida? Resposta: a ressaca do que eles mesmos inventaram. Certa imprensa – e isso não vale apenas para o futebol – só funciona movida por um pêndulo que oscila entre o desejo do fracasso total e a necessidade da glória retumbante. E acha que pode mudar o mundo e os rumos da história, quando na verdade está sempre atrás de corrigir seus próprios equívocos.

Alegria voltou?
Léo lustra a chuteira do craque - Foto Ricardo Saibun/SFC

O que é de se ressaltar na vitória do Santos contra a Portuguesa é que nesse jogo a alegria de jogar, ir pra cima com um repertório indefensável, num ímpeto que vai além da mera vontade de vencer, parece estar voltando após o período sombrio de Adilson Batista. A comemoração de Léo ao fazer seu gol, no gesto de espantar a ziquizira, é emblemática.

Não sei até onde Marcelo Martelotte pode ir no comando do Santos. É covardia dizer que o grande teste será a partida do dia 16 contra o Colo Colo, no Chile. Porque Martelotte não poderá ser de modo algum culpado por uma decepção na Libertadores e nem ser chamado de burro. Ao contrário do hoje técnico da Portuguesa Jorginho, que refugou quando teve a oportunidade de assumir o Palmeiras em definitivo no ano passado, o hoje “interino” do Santos demonstra coragem ao se colocar como pronto para assumir o comando.

E ao contrário de Adilson Batista, que tinha uma estrutura pronta para brilhar mas preferiu implantar a sua (sabe-se lá se por egocentrismo, incompetência técnica, ignorância ou tudo junto), Martelotte aposta no feijão com arroz, não inventa, adota um esquema mais simples onde cada um pode fazer o que sabe mais facilmente. Neymar, livre dos esqueminhas de Batista, desnorteou a defesa da Portuguesa, que nunca sabia em que lado do campo o craque iria estar dali a alguns instantes; Zé Eduardo azucrinou a defesa com movimentação constante; Elano, embora não muito bem fisicamente, desequilibrou com sua visão de jogo, aguerrimento e passes primorosos, como o do primeiro gol contra a Lusa; Diogo, que cederá o posto a Ganso, jogou com garra, atrás da linha de atacantes. No time de Martelotte, lateral é lateral, volante é volante.

À Portuguesa, resta o consolo de ter sido brava e ter ameaçado a meta santista no primeiro tempo, com vários chutes perigosos de fora da área, como o de Henrique, que explodiu na trave direita de Rafael. De resto, o time do Canindé deve agradecer por não ter saído da Vila sob uma sonora goleada. 

terça-feira, 8 de março de 2011

Lembrando Sérgio Sampaio

Ou: canção para uma quarta-feira de Cinzas

A música abaixo é uma pequena pérola quase esquecida da MPB, de um cantor e compositor talentoso que ficou no meio do caminho, aos 47 anos.

O músico Sérgio Sampaio nasceu em Cachoeiro de Itapemirim em 1947 e morreu no Rio de Janeiro em 15 de maio de 1994. A canção “Eu Quero É Botar Meu Bloco na Rua” foi apresentada no IV Festival Internacional da Canção (FIC) em 1972. Fez um sucesso enorme, mas pouco destaque teve na crítica, que não atentou – ou não quis atentar, ocupada que estava com celebridades, digamos, mais consolidadas – para sua letra e arranjo fortes e nítidos ecos da efervescência tropicalista.

Chico César, Lenine, Zeca Baleiro, João Bosco, Luiz Melodia, entre outros, são admiradores de Sérgio Sampaio, que foi descoberto por Raul Seixas. Ambos se tornaram amigos. Não por acaso, foram ambos entronizados como artistas malditos.

O vídeo me foi enviado pela amiga e leitora Mayra e vem a calhar numa quarta-feira de Cinzas.

sábado, 5 de março de 2011

Cinema para quem precisa

Indicações de filmes para um carnaval sem folia

Se você não é chegado numa folia nem na rua nem na TV, e se também não é de viajar no feriadão, ou mesmo se gosta de carnaval mas topa opções, vão abaixo algumas dicas de filmes em DVD.

Antes, uma dica de filme que ainda está em cartaz em São Paulo: Além da vida (Hereafter, no original em inglês - 2010), o mais recente de Clint Eastwood, com Matt Damon e Cécile De France (neste Carnaval de 2011, no resistente cine Belas Artes/Sala Aleijadinho, 13h30, 16h, 18h40 e 21h10). Os destinos de três pessoas (uma jornalista, um vidente e um menino) se encontram por influências espirituais. Não é uma obra prima, mas é da cepa do velho e bom Clint Eastwood. Se quiser, leia sobre o filme neste link.

EM DVD

- Entre os Muros da Escola (Entre les murs) – 2007 - França). Esse é um excelente filme sobre a Paris dos dias de hoje vista a partir de uma sala de aula. O professor François Marin (interpretado por François Bégaudeau, que foi professor na vida real) dá aulas de língua francesa em uma escola de ensino médio na periferia da Cidade Luz. Os conflitos raciais, a realidade de uma cidade multicultural (meninos negros, árabes e os próprios brancos franceses), a complexidade das relações sociais e as dificuldades de um professor dentro desse contexto formam o eixo do roteiro desse belo filme.

Vincent Gallo, em Tetro
Tetro (dir. de Francis Ford Coppola – 2009). É em parte ambientado em Buenos Aires, com destaque para o bairro La Boca. Tetro (Vincent Gallo – na foto) é um homem solitário e enigmático que vive com sua companheira na capital argentina. Ele recebe a visita de seu irmão mais novo, Bennie (Alden Ehrenreich), em busca do contato perdido. Com esse filme, Coppola mostra que ainda existe arte no cinema. Imperdível. Se quiser saber mais, clique aqui.

- Um homem bom (Good – Direção: Vicente Amorim - 2008). Pode parecer um trocadilho infame, mas esse é talvez o mais delicado filme sobre o holocausto, muito valorizado pela atuação magistral de Viggo Mortensen como John Halder, um professor de literatura na Alemanha dos anos 30 que, devido a sua tese sobre a eutanásia, atrai a atenção do governo nazista. Halder se deixa envolver. A violência é psicológica, sem a híper-dramatização fácil dos filmes do gênero. Uma curiosidade: o diretor do filme, Vicente Amorim, é filho do ex-ministro das Relações Exteriores Celso Amorim.

Sobre o mesmo tema, holocausto, outro filme que vale a pena é O Menino do Pijama Listrado (dir. Mark Herman – 2008), uma impactante história de amizade entre dois meninos de sete ou oito anos, um judeu e um alemão.

- A fita branca (Das weisse Band) – (Italia, França, Alemanha e Áustria). Direção: Michael Haneke. Ganhador da Palma de Ouro em Cannes (2009). Às vésperas da Primeira Guerra Mundial, estranhos eventos perturbam a calma de uma pequena cidade na Alemanha. Uma corda é colocada como armadilha para derrubar o cavalo do médico, um celeiro é incendiado, duas crianças são sequestradas e torturadas. O professor do coro de crianças e jovens da escola local investiga os acontecimentos.

- The Ghost Writer, de Roman Polanski (2010). Ewan McGregor interpreta um ghost writer que acaba trabalhando para o primeiro-ministro britânico. Um thriller típico de Polanski. Um post sobre o filme tem aqui.

- Para quem gosta de western, qualquer um dos velhos clássicos de Sérgio Leone, como Quando explode a vingança. Caso você, por incrível que pareça, não conheça Sergio Leone, tem umas linhas neste link.

- Fargo, um clássico dos irmãos Coen (1996). É o filme que mais gosto desses diretores. Vale a pena alugar. Porque...

O brasileiro Viajo porque Preciso, Volto porque te Amo (foto - dir. Marcelo Gomes / Karim Aïnouz - 2009). Imperdível para quem gosta de “cinema de autor”, digamos assim. Escrevi umas linhas sobre esse filme: Viajo porque Preciso...

- De Woody Allen, que “mesmo quando é ruim é bom”, pode ser o clássico Manhattan ou o mais recente Tudo pode dar certo.

É isso aí. Bom carnaval!

*Atualizado às 13h (07/03/2011)

sexta-feira, 4 de março de 2011

Pensamento para sexta-feira: o jornalista no teatro da guerra


É muito bonito e corajoso o trabalho da dupla de enviados especiais da Folha de S. Paulo (Marcelo Ninio e o fotógrafo Joel Silva) à cidade de Brega, na Líbia, um pequeno mas simbólico teatro da batalha do povo líbio contra o tirano Muammar Gaddafi. Assim como é bonito e corajoso o trabalho de Lourival Sant'Anna, do Estadão. A coragem desses profissionais faz pensar numa coisa: como poderia ser maior o jornalismo da “grande imprensa” se ele fosse menos ideologicamente mesquinho do que é na abordagem da política nacional.


Vendo essa reportagem da Folha (que você pode acessar aqui – para assinantes), pensei numa narrativa do livro Ensaios (Editora Leya), de Truman Capote, intitulada “Ouvindo as Musas” (1956):

“Quando os canhões são ouvidos, as musas silenciam; se os canhões estão silenciosos, as musas são ouvidas.”

Foto: Joel Silva (Folha de S. Paulo, 3/03/2011)

Lembrando Robert Capa
*Atualizado às 17h40

Esse adendo ao post é para acrescentar a pertinente lembrança trazida pelo comentário do Alexandre [04 Março, 2011 12:27], lembrando a foto de Robert Capa, abaixo reproduzida, feita na Guerra Civil espanhola em 1936, que mostra o momento em que um miliciano encontra a morte. Sobre essa foto, uma das mais famosas fotografias de guerra, houve até uma polêmica, depois que uns pesquisadores sugeriram que ela teria sido forjada, suspeita nunca comprovada.

Robert Capa, nascido em Budapeste em 1913, fundador da agência Magnum, morreu em pleno teatro de guerra em 25 de maio de 1954, trabalhando na Guerra da Indochina, quando pisou numa mina terrestre. Seu corpo foi achado com a câmera entre suas mãos.

Fico imaginando se um homem que cobriu entre outras a Guerra Civil espanhola, a Segunda Guerra Mundial, a Guerra árabe-israelense de 1948 e a Guerra da Indochina, e tendo morrido como morreu, arriscaria tudo isso falsificando uma foto. Mas no mundo, o talento sempre será perseguido pelos abutres.

Uma célebre frase do  fotógrafo: "Se suas fotos não são suficientemente boas, é porque você não está suficientemente perto".

Robert Capa - Guerra Civil espanhola/ 1936

quinta-feira, 3 de março de 2011

Santos se complica e Fluminense é a maior decepção brasileira na Libertadores

Não se pode dizer que o empate em 1 a 1 entre Santos e Cerro Porteño seja catastrófico para o time da Vila Belmiro. Mas é muito preocupante. Com a vitória na mão até os estertores da partida, deixou escapar dois pontos, que foram para o agora líder do grupo 5 Cerro Porteño, que tem quatro pontos, contra três do Colo Colo, dois do Santos e um do Táchira.

Esses dois pontos foram entregues ao time paraguaio pelo zagueiro e capitão (eu diria “capitão”) Edu Dracena, que fez um pênalti de várzea no atacante Barreto, do Cerro, aos 47 do segundo tempo. Francamente, minha gente, vocês acham que Edu Dracena deveria ser titular do Santos? O Peixe tinha feito 1 a 0 aos 10min também na etapa final, num pênalti claro do goleiro em Zé Eduardo, convertido com categoria por Elano. Veja os gols:




O Alvinegro encara agora o Colo Colo em Santiago do Chile.
Se por azar perder, ao acabar o “primeiro turno” da fase de grupos o time da Vila ficará quatro pontos atrás da equipe chilena e cinco do paraguaio Cerro Porteño, que em sua casa em Assunção, na mesma terceira rodada, deverá bater o fraquíssimo Táchira da Venezuela, time com o qual Adilson Batista jogou pelo 0 a 0 na estreia (leia aqui) e que o Colo Colo venceu por 4 a 2, na Venezuela mesmo.

Na minha opinião, a disputa com o Colo Colo pode ser uma espécie de mata-mata antecipado para o time ora treinado por Marcelo Martelotte. Com a esquadra chilena, o Peixe ainda tem os jogos de ida e volta a fazer. Se ganhar quatro dos seis pontos em disputa nesse duelo, o Santos poderia descartar o resultado com o Cerro no Paraguai. A situação santista ainda é relativamente tranqüila por isso, porque um brasileiro ser eliminado por um time chileno é quase impensável.

Quer dizer, o favorito Santos começa a fazer contas já após a segunda rodada. Creio que tem todas as chances de se classificar. Pode passar como líder da chave (como crêem os mais otimistas) como sequer ir às oitavas. Mas as coisas não estão fáceis, principalmente pela instabilidade reinante na Baixada. Talvez o grande erro tenha sido a contratação de Adilson Batista, mas ninguém poderia imaginar tanta lambança, e ele foi demitido com justiça, por incompetência (leia aqui). Teve três meses para estudar e armar o time e quando apresentou algo, foi tosco. Martelotte não pode fazer milagre.

Fluminense à beira do abismo

A grande decepção entre os brasileiros é o campeão brasileiro Fluminense. Após a derrota de 1 a 0 para o América-MEX, nesta quarta, o time de Muricy Ramalho soma míseros dois pontos finda a terceira rodada: empate em casa com o Argentinos Juniors (2 a 2) e Nacional-URU (0 a 0). Na volta, enfrentará argentinos e uruguaios fora e os mexicanos no Engenhão. O time do Argentinos Juniors tem sete pontos, contra seis do América, dois do Flu e um do Nacional.

Conjectura: o andar da carruagem pode acabar levando Muricy Ramalho à baixada santista. Desgastado no Fluminense, ele poderia ... vir a ser a tábua de salvação na Vila, talvez tardiamente para a Libertadores (ou não?), mas a tempo de tentar o Brasileiro. Delírio? Eu não gosto do futebol dos times de Muricy, mas no futebol brasileiro tudo é possível.

Ney Franco: com a palavra, Ricardo Teixeira
Parece que se espera ansiosamente a chegada ao Brasil de Ricardo Teixeira, nesta quinta-feira, pois o Santos pretende contar com o ótimo Ney Franco para comandar a equipe até o fim da Libertadores, e só o capo da CBF poderia dar o “sim” . O técnico campeão sul-americano sub-20 seria uma boa solução, tecnicamente. Mas eu tenho minhas dúvidas quanto a tudo o que envolve tal negociação, politicamente falando.

Atualizado às 12:41

quarta-feira, 2 de março de 2011

O governo Dilma e a Comissão da Verdade


Por Felipe Cabañas da Silva

Monumento Tortura Nunca Mais, em Recife (PE)
Ainda neste semestre o governo de Dilma Rousseff pretende articular a criação de uma Comissão da Verdade e Justiça para apurar os crimes da ditadura. A secretária de direitos humanos da Presidência, Maria do Rosário, tomou posse em janeiro já defendendo a instauração de tal comissão. Sem usar em nenhum momento o termo ditadura, a ministra afirmou em seu discurso de posse: “devemos dar seguimento ao processo de reconhecimento da responsabilidade do Estado por graves violações de direitos humanos com vistas à sua não repetição, com ênfase no período 1964-1985, de forma a caracterizar uma consistente virada de página sobre esse momento da história do país”.

Tocar nesse assunto no Brasil continua sendo tabu e quem mexe nele mexe em vespeiro. As reações à fala da ministra foram imediatas, e o general José Elito Siqueira, chefe do Gabinete de Segurança Institucional da Presidência, deu a infeliz declaração de que desaparecidos políticos são um fato do qual o país não tem de se envergonhar, no que foi imediatamente repreendido pela presidente.

O Brasil é talvez o único país da América Latina a não enfrentar uma ampla apuração sobre os crimes de sua ditadura, e é certamente a democracia mais estável a não fazê-lo. A leniência do país é tão gritante que o Estado brasileiro foi condenado pela Corte Interamericana de Direitos Humanos (CIDH) da OEA pelo desaparecimento de 62 pessoas na repressão à Guerrilha do Araguaia entre 1972 e 1974. Por aqui, silêncio.

América Latina

Na Argentina, já em 1983/84 foi instaurada uma Comissão Nacional sobre o Desaparecimento de Pessoas (CONADEP), presidida pelo físico e escritor Ernesto Sabato, cuja investigação deu origem ao belíssimo livro Nunca Mais e abriu caminho para o julgamento dos crimes da ditadura argentina. Jorge Videla, que esteve no poder entre 1976 e 1981 e é por muitos apontado como um dos ditadores mais sanguinários da América Latina, foi recentemente condenado a prisão perpétua pela execução de 30 prisioneiros. Nesta semana, Videla começa a ser julgado pelo roubo e mudança de identidade de aproximadamente 500 bebês de presos políticos.

Chile, Uruguai, Peru, Equador, Paraguai e Bolívia já instauraram comissões nos moldes da que propõe o Projeto de Lei 7376/2010, do qual Lula se esquivou deixando o ninho de marimbondos no colo de Dilma Rousseff.  

Visões jurídicas


A discussão sobre a Lei de Anistia é espinhosa. Os militares defendem que a lei decreta “anistia bilateral”, anistiando também os agentes do regime. A lei é de 1979 e foi decretada por Figueiredo. Há o argumento de juristas segundo os quais a Constituição Federal de 1988 veda a anistia a crimes de tortura. Para a Advocacia Geral da União, a CF/1988 não pode retroagir a uma lei de 1979. De qualquer forma, isso deixa transparecer algo que para mim é da ordem da essência do direito: os textos legais não permitem uma leitura unilateral e as forças da sociedade em regime democrático (pelo qual muitos morreram nos porões da ditadura) têm condições de lançar questionamentos.

Gostaria também de discutir um argumento político que já ouvi mais de uma vez, de que a repressão na ditadura foi necessária para conter o “perigo de uma ditadura comunista iminente”. Falácia. A ditadura torturou e matou desde guerrilheiros comunistas até sociais-democratas moderados e não envolvidos diretamente com política. Intelectuais e artistas inofensivos foram parar nos porões dos militares pelo simples fato de parecerem suspeitos – a triste história de Vladimir Herzog é emblemática nesse sentido.

Querer equiparar os crimes de quem tinha o poder do Estado com os crimes dos opositores é um atentado à inteligência de quem ainda não conseguiu enterrar seus mortos. Espera-se que Dilma Rousseff, como uma ex-presa política torturada pelo regime, leve mais a sério este acerto de contas que o Brasil tem com seu passado. Comissão da Verdade já!

terça-feira, 1 de março de 2011

Dilma tem que pôr fim à arrogância de Ana de Hollanda


A presidente Dilma Rousseff precisa dar um telefonema ao presidente do Santos Futebol Clube, Luis Álvaro Ribeiro, e tomar uns conselhos sobre como demitir sem mais delongas funcionários ou subordinados especializados em jogar a comunidade contra uma determinada instituição, os igrejeiros, paneleiros e insubordinados.

Brincadeira à parte, está se tornando algo assustador a sem-cerimônia de Ana de Hollanda à frente do Ministério da Cultura. E também a inação do governo (leia-se Dilma) quanto ao tema. A mais recente medida da ministra foi a exoneração de Marcos Alves de Souza, titular da Diretoria de Direitos Intelectuais do Ministério da Cultura em Brasília. A queda de Souza satisfaz os grupos contrários à reforma da lei dos direitos autorais, amplamente discutida com a sociedade.

Segundo matéria do Estadão, várias pessoas (entre 15 e 20) poderiam se afastar do MinC nos próximos dias em protesto pela saída de Marcos Souza. Detalhe: a toda poderosa autocrata Ana de Hollanda continua intocada e aparentemente intocável em sua arrogância. Para o lugar de Marcos, ela nomeou a advogada carioca Marcia Regina Vicente Barbosa, ex-integrante do Conselho Nacional de Direito Autoral (CNDA) entre 1982 a 1990. Marcia Regina foi secretária executiva do CNDA quando Hildebrando Pontes, “defensor extremado das teses do Ecad”, foi presidente do CNDA, diz a matéria de Jotabê Medeiros.

Em sua página no twitter (@samadeu), o sociólogo Sérgio Amadeu (que já falou a este blog sobre a ministra – link abaixo) continua as críticas hoje: “Ana de Holanda acha que é preciso continuar criminalizando os estudantes que fazem xerox. Ela não quer reformar a lei de copyright...”, escreveu.

Há muita indignação na comunidade cultural. A ministra é acusada de traição eleitoral, já que sua política está mais próxima a grupos que apoiaram José Serra à presidência, e ao mesmo nega toda a política do MinC desenvolvida pelo antecessor, Gilberto Gil (e depois Juca Ferreira), que orientou todo o seu trabalho no sentido da democratização do acesso ao conhecimento.

Portanto, presidente Dilma, creio que está faltando ação para pôr fim à arrogância de Ana de Hollanda. A menos que a senhora concorde com ela. Tenho certeza de que o presidente santista Luis Álvaro não se furtará a ajudá-la na árdua tarefa.

Leia também:

Ato de Ana de Hollanda sobre Creative Commons causa perplexidade e indignação

Atualizado às 14:41 (2/03/2011)