segunda-feira, 28 de abril de 2014

Adeus, Pacaembu


Foto: Edu Maretti



O Corinthians se despede do Pacaembu. Com uma vitória sobre o coirmão carioca Flamengo (por 2 a 0), o “bando de loucos” disse adeus ao estádio que se acostumou a chamar de casa. Tenho um grande carinho pelo Pacaembu, não somente como corintiano, mas sobretudo como amante do futebol. Creio que o Pacaembu é, ao lado do Maracanã e do Mineirão, um dos grandes templos do futebol brasileiro. Poderíamos situar junto desses templos o Morumbi, o Beira-Rio e o velho Olímpico Monumental, mas esses estádios estão por demais carregados pela imagem e história de seus donos. Não são públicos, como os três primeiros, historicamente apropriados por diversos times e diferentes comunidades de torcedores.

Particularmente, não sou um corintiano que valoriza especialmente a “construção da casa própria”. Não penso que todo time tem de ser detentor de um estádio para ser grande, ideia que, para mim, é bastante são-paulina, uma vez que o Morumbi foi por muito tempo considerado o maior estádio particular do mundo, motivo de orgulho e soberba para os torcedores do SPFC. Tenho uma certa visão de que a ideia de que o Corinthians deveria ser dono de um estádio foi de certa forma inoculada em nossa mente por nossos rivais. Creio que seria possível resistir. Conquistamos a América e o mundo sem “casa própria”.

Historicamente, uma nova fase se inicia para o Corinthians. Seus desdobramentos ainda são imprevisíveis, uma vez que o orçamento inicial (já enorme) do novo estádio explodiu durante a construção e, ao contrário do que muitos pensam, o clube terá, sim, de arcar com a maior parte dos recursos captados para erguer a arena. Neste novo contexto, poderemos sentir mais saudades do Pacaembu do que imaginamos.

Não só corintianos conhecem a energia desse charmoso estádio, inaugurado há exatos 74 anos, também num dia 27 de abril, em partida em que o Palmeiras goleou o Coritiba. Infelizmente, na noite em que eu mais desejei entrar no bom e velho Paca, a noite enluarada do dia 4 de julho de 2012, não consegui. Cheguei a clicar sobre o ingresso no site do Fiel Torcedor, mas depois o site caiu e, quando voltou, todos os ingressos estavam esgotados.

De todo modo, embora tenha assistido a uma boa quinzena de jogos do Corinthians no estádio, a memória mais emblemática que conservo dele é televisiva: o estádio inteiro agitando bandeirinhas brancas para receber o time para o segundo tempo da final da Libertadores, os 45 minutos em que o Corinthians despedaçou o poderoso Boca Juniors e conquistou a América pela primeira vez. Por isso, assisti com enorme tristeza a noite mórbida em que o time enfrentou o Millonários com portões fechados (punição justa pela tragédia de Oruro, causada por nossa torcida). Creio que esses dois episódios ilustram a intensidade da história corintiana no estádio que, na simplicidade de sua arquitetura e de suas instalações, recebeu com galhardia algumas das páginas mais significativas da história do Sport Club Corinthians Paulista. A nação corintiana deve dizer obrigado

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A banana, o futebol e o Brasil






Só brasileiro mesmo, pra ter uma atitude de tamanha presença de espírito como a de Dani Alves. Com a disseminação dos atos racistas cada vez mais frequentes e (diga-se) impunes na Europa, o gesto do lateral direito do Barcelona e da seleção brasileira de pegar e comer a banana jogada no campo no jogo contra o Villarreal (vitória do time catalão por 3 a 2) entra para a antologia do futebol.

Por essas e outras é que acho inadmissível que os mal humorados (ou mal intencionados) torçam "contra" o Brasil, seja para a Copa do Mundo dar errado, seja para perdermos o Mundial.

Dani Alves mostrou com ironia e bom humor a alma brasileira para o mundo todo ver que nós adoramos banana, adoramos futebol, adoramos carnaval, somos hospitaleiros e nossa resposta à intolerância e à imbecilidade é essa: comer banana, que é amarela como a camisa da seleção e tem potássio, que evita cãimbras.

Cada vez mais me convenço de que o futebol é uma metáfora da vida.

A Veja, esse magnânimo veículo do jornalismo marrom, já deu matéria tentando desqualificar o gesto. Ótimo. A Veja detesta a cidadania. O que é bom para a Veja não é bom para o Brasil... E vice-versa. Logo, se a Veja quer destruir, é porque é bom.

PS: e mais uma coisa: se o gesto é aproveitado pelo marketing, tanto melhor: é marketing do bem.

sexta-feira, 18 de abril de 2014

Pensamento para sexta-feira [50]
Bruta flor


Magnífico. Chico e Caetano interpretam O quereres. Ainda jovens e lindos! Com direito a erro do Chico.





Vídeo resgatado! por Gabriel Megracko no YouTube

Gabriel García Márquez (1927-2014) – está chovendo em Macondo



Foto da edição da novela
A incrível história de Cândida Erêndira
e sua avó desalmada
(Record - 1972)
Por volta das 17h desta quinta-feira da Semana Santa, como constatariam nossos avós, divulgou-se a notícia da morte de Gabriel García Márquez. Nas redes sociais, muita gente se manifestou. Todo mundo queria dizer uma frase para expressar algo, um sentimento ou uma impressão. Li a palavra “triste”, “tristeza” e similares várias vezes.

Não me parece que “triste” seja a palavra adequada para falar da morte dele. García Márquez tinha 87 anos (conta que poucos de nós atingiremos) e escreveu obras fundamentais para a literatura da América Latina e do mundo o qual acaba de deixar. É um espírito que cumpriu plenamente sua missão.

Entre tudo o que li na teia fragmentada das redes sociais, o mais significativo e bonito foi isto, do companheiro João Paulo Soares: “chove em Macondo”.

quarta-feira, 16 de abril de 2014

Coincidências em torno do estranho caso de Mikkel Jensen, o dinamarquês


Muita gente postou em blogs e redes sociais opiniões sobre a estranha história do tal jornalista dinamarquês Mikkel Keldorf, cujo singelo sonho era assistir à Copa do Mundo no Brasil e de repente, em Fortaleza, num acesso de humanismo, se deu conta da injustiça social na capital cearense, e foi embora para a Dinamarca, deixando de “herança” um post no Facebook, uma matéria no Tribuna do Ceará e uma entrevista ao Uol. 

Facebook/Reprodução


O dinamarquês provocou polêmica, mas ninguém sabe ao certo quem é, a que ou a quem trabalha, que interesses tem. Mesmo assim, desde ontem (15), as redes sociais foram tomadas por uma febre. As pessoas espalharam o texto do tal jornalista e/ou sua história sem checar quem é o cara, que intenções tinha ou tem, às vezes baseadas na ingênua justificativa de estarem respaldadas em perfis “confiáveis”, mal se dando conta de que estes também embarcaram na onda, ou por ingenuidade ou simplesmente para conseguir uns pontinhos de audiência a seus perfis ou blogs, ou por outros motivos.

Comecei a achar estranho logo de cara, ao notar que o texto sobre o tal jornalista dinamarquês que, ao lado do post do próprio, detonou toda a celeuma foi publicado no tal Tribuna do Ceará, com a observação: “A pedido de Mikkel, este artigo foi publicado com o jornalista já na Dinamarca”, dando o tom sensacionalista para atrair leitores incautos, incluindo os de “perfis confiáveis”.

Curiosamente, e não por acaso, o Tribuna do Ceará é um veículo ligado ao ex-senador tucano Tasso Jereissati. Apesar da dificuldade de se encontrar a informação, a Wikipedia diz: “No dia 11 de Março de 2012 a emissora [TV Jangadeiro, de propriedade de Jereissati] lança um novo layout para seu site integrando também ao novo portal de notícia do Sistema Jangadeiro de Comunicação, chamado de Tribuna do Ceará”.

Em 2010 já circulavam notícias no estado segundo as quais Tasso Jereissati iria “resgatar o jornal Tribuna do Ceará, começando pela internet”.

Pois foi justamente esse o veículo que deu a notícia que no dia seguinte (hoje) ganhou credibilidade com a publicação de entrevista no Uol. Observação: o Tribuna do Ceará é hospedado no Uol, além de a TV Jangadeiro , do mesmo grupo, ser afiliada da Rede Bandeirantes.

O tom e o conteúdo das publicações detonadas a partir desse estranho dinamarquês têm o óbvio efeito de denegrir e causar descrédito à Copa do Mundo no Brasil e, particularmente, também, ao governo do Ceará, cujo governador é Cid Gomes, irmão do ex-ministro Ciro Gomes e desafeto de Jereissati.

Costumo dizer que não existem coincidências. Nesse caso, as coincidências parecem falar por si.

Abaixo, segue resultado interessante de pesquisa do jornalista Igor Natusch, publicado em seu perfil no Facebook.



Tanto falaram de Mikkel Jensen, o jornalista dinamarquês que desistiu de cobrir a Copa chocado com os dramas do Brasil, que resolvi pesquisar um pouco o cara. Não fui com uma tese pronta: apenas queria ver qual era. Achei infos que julgo interessantes, que postei no meu perfil do twitter e vou tentar (apesar do sono) compilar aqui. Se eu estiver errado em qualquer coisa, por favor me corrijam, já que não há nenhum AMOR PRÓPRIO meu envolvido. Nâo considero isso senão um levantamento divertido de fazer. Lá vai:

- Antes de mais nada: Mikkel Jensen não é o nome profissional dele. Será bem mais fácil achar referências sob o nome Mikkel Keldorf, que ele usa com bem mais frequência;

- Seu perfil no Facebook (https://www.facebook.com/mtkjensen) parece que não existia antes de fevereiro de 2013. Suas primeiras postagens, já críticas à Copa, são de 19 de novembro.

Antes, só likes. (que o perfil seja novo não é absurdo: muitos criam perfis em redes sociais para uso em viagens ou contato com pessoas em países distantes. Tenho amig@s nessa situação e pode perfeitamente ser o caso aqui. talvez não postasse porque não tinha o que dizer – usava apenas para falar no chat, sei lá);

jornalista-dinamarques-1

- O curioso é que a pessoa creditada como sua namorada, Melanie Festersen Spile (https://www.facebook.com/melanie.spile), também não tinha perfil no Facebook antes de fev/2013. Ela viajou junto com ele? Criou perfil exclusivamente para conversar com o namorado que viajava? É possível;

- O único lugar onde é possível achar contribuições frequentes de Mikkel Keldorf é no Pladepressen (http://pladepressen.dk), que parece ser um site focado na cena musical da região. Mikkel escreveu uns artigos e tirou fotos para o veículo, que durou um ano ou um pouco mais. As últimas atualizações na página do Pladepressen no Facebook (https://www.facebook.com/Pladepressen) são de… Fevereiro de 2013. Ou seja, razoável deduzir que Mikkel Keldorf era um dos sócios do Pladepressen e desistiu da empreitada quando resolveu vir ao Brasil, no começo do ano passado (se quiserem ler uma edição do Pladepressen:http://pladepressen.dk/wp-content/uploads/2012/10/PladePressens-e-mag-oktober.pdf);

- Então Mikkel Keldorf – que tem material esparso publicado em alguns lugares desde 2012, incluindo viagem à China e inclusive uma reportagem sobre Ronaldinho (http://www.tipsbladet.dk/content/druk-og-damer-ronaldinhos-fede-fodboldferie), mas nada antes disso – vem ao Brasil. Edita, até onde consegui puxar, um único material jornalístico entre setembro de 2013 e abril de 2014: uma reportagem em vídeo para a TV2 dinamarquesa (http://nyhederne.tv2.dk/2014-03-31-reportage-sikkerheden-i-rio-vakler-forud-vm) sobre ações policiais na Favela da Maré, no Rio;

- Aí como sabemos, ele se revolta com coisas que descobre em Fortaleza e, ao invés de fazer um material jornalístico bombástico sobre o que achou, decide largar a cobertura da Copa de mão (seu sonho) e volta para casa. Sabe onde sua decisão é noticiada primeiro? Na Dinamarca, mais precisamente no dia 9 de abril: http://ekstrabladet.dk/sport/fodbold/landsholdsfodbold/vm2014/article2258090.ece

Até aí, ninguém noticiou nada a respeito dele no Brasil;

- Curiosamente, um vídeo de quase 40mins é publicado no canal de Mikkel Keldorf no Youtube no dia 12: https://www.youtube.com/watch?v=SjxWXjeOFc8 Esse vídeo é curiosíssimo e para mim, intrigante. Nele, o jornalista não faz matéria alguma: é entrevistado por figuras ocultas, que em nenhum momento se identificam – o vídeo, embora editado de forma competente, não tem créditos senão o do próprio Mikkel, aqui também Keldorf e não Jensen. Quem o entrevista? Por que esse material (uma boa história em potencial) só aparece na página do próprio Keldorf e não da(s) pessoa(s) responsável(is) pelo vídeo? Por enquanto, não se sabe;

- Finalmente, dois dias depois de postar o vídeo no YouTube, Mikkel faz um desabafo em sua conta no Facebook, que serviu de base para todas as matérias feitas até aqui. Ninguém parece saber que a história foi divulgada semana passada na Dinamarca, nem que um vídeo enorme foi publicado pelo próprio Mikkel no fim de semana. Ou seja, ninguém falou com Mikkel Keldorf Jansen ou foi além do post no facebook para escrever suas matérias.

Meu palpite (e é tudo palpite mesmo, nada além): Mikkel Keldorf é um jornalista eventual – um cara que viaja para lugares distantes como turista e oferece material a jornais dinamarqueses para ajudar a pagar as contas. Posso ter pesquisado mal, mas não achei nenhuma produção jornalística consistente de sua parte, a não ser no Pladepressen, uma pequena revista regional sobre música que parece ter sido projeto dele próprio. Ou seja, dizer que é jornalista é algo que refere-se a parte de suas atividades, talvez sua formação, mas não é exatamente a coisa que ele mais faz na vida. Confiram o perfil profissional dele:http://www.mikkelkeldorf.dk/category/resume/ Veio para o Brasil tentar cobrir a Copa e ganhar dinheiro, o que não conseguiu (vendeu uma só matéria, ao que parece). Acho razoável deduzir que volta à Dinamarca especialmente por isso, ainda que o choque com as mazelas do Brasil possa, é claro, ter influenciado sua decisão.

Antes de ir, alguém descobre sua história e faz o vídeo – pessoas das sombras, que não se identificaram e não fizeram menção de usar o material que fizeram ou jogá-lo na imprensa. Ninguém sabe nada dele além do Facebook – a própria versão que apresentam sobre sua carreira e sua preparação para cobrir a Copa é a que ele próprio oferece, sem nenhuma investigação por cima. E o vídeo – potencialmente bombástico, ainda que (frisemos) sem créditos – passa despercebido. Deduzo que alguém gravou o depoimento para uso futuro, mas não contava que o próprio Keldorf o publicasse – e talvez mais ainda, que os posts de Keldorf no Facebook chamassem atenção. O noticiário dinamarquês descobre o caso primeiro, de qualquer modo. Não é um cara com faro jornalístico – se fosse, tentaria vender sua história e iria atrás da pauta que descobriu, ao invés de voltar correndo para seu país natal.

Não: ele volta depois de vender uma só matéria televisiva, e após gravar um depoimento para pessoas misteriosas. Que acharam sua história ótima para um vídeo de 40mins, mas que perdem a exclusividade dela para um post no facebook – por acidente ou por plano, não sabemos. E que permitem (ou não impedem) que o próprio Mikkel Keldorf publique o vídeo em sua conta pessoal no YouTube.

Não acredito na história de Mikkel Keldorf. Para mim, ele voltou por falta de trabalho e romantizou a situação em benefício próprio, convencendo algumas pessoas no meio do caminho – que chegaram a gravar um vídeo, mas não o publicaram. Talvez por acharem que não valia a pena. Chamo a atenção para o fato de que o único trabalho que Keldorf comercializou aqui é… em vídeo. Editado por ele próprio. Talvez ele próprio tenha editado o vídeo, a partir de brutas que os autores originais não quiseram usar. Pode ser tudo um hoax razoavelmente bem elaborado, mas não creio nisso: acho que é apenas a tentativa de um jornalista meia-boca em tirar algo de bom de uma iniciativa profissional fracassada. E uma mostra de como, para ganhar cliques, nossa imprensa brasileira publica qualquer coisa. Inclusive longas matérias cuja única fonte é uma postagem de um desconhecido no Facebook.

É isso. Eu achei divertido. Espero que vocês também tenham achado! Para quem leu esse catatau, meu muito obrigado.

segunda-feira, 14 de abril de 2014

A Lotus de Ayrton Senna





Talvez seja difícil entender que uma pessoa qualquer, de repente, diante de uma máquina como essa dessas fotos, um simples carro, sem poder evitar, sinta de repente os olhos inapelavelmente se encherem de água e a garganta embargar. Pois foi isso que sentimos no sábado, ao chegar perto da Lotus que Ayrton Senna pilotou e com a qual ganhou o primeiro Grande Prêmio de sua carreira na Fórmula 1, em Portugal, no autódromo do Estoril, em 21 de abril de 1985 (veja vídeo abaixo). Saudade dos domingos de manhã.

A Lotus mítica está exposta no Shopping Villa-Lobos até o próximo dia 21 de abril. Se você gosta da coisa, tem uma semana para ver.

Foi muito legal ver pessoas de todas as idades lá, celebrando o mito. Mito, sim, pois que civilização viveu jamais sem mitos? Um menino de uns 10 anos, que só conhece Senna de ouvir falar, perguntou ao pai: "é verdade que ele foi um maiores do mundo, pai?"

Pois é. É quase uma heresia, talvez para alguns um absurdo, dizer isso, mas senti uma emoção semelhante à que senti ao ver obras de artistas gigantes como Renoir ou Van Gogh vendo a máquina pilotada pelo gênio Ayrton Senna.


Clique nas fotos para ampliar















Troféu da vitória do GP da Bélgica de 1985


A primeira vitória, em Estoril (Portugal – 1985)

sábado, 12 de abril de 2014

Juvenal Juvêncio, o fabricante de manchetes, detona José Serra



As entrevistas de Juvenal Juvêncio são impagáveis, como mostra o trecho acima. O presidente do São Paulo é um personagem polêmico. Odiado por muitos, acusado de ser um fanfarrão e de se eternizar no poder como presidente do São Paulo, o dirigente, hoje com 82 anos, porém, tem uma virtude amada por jornalistas. Como escreveu o Sérgio Xavier Filho, da Placar, "basta colocar o microfone à sua frente. Juvenal é manchete garantida".

Na entrevista que deu ao programa Bola da Vez, da ESPN Brasil, que vai ao ar na terça-feira, 15 de abril, o cartola detona José Serra ao contar a história dos porquês políticos que, segundo ele, impediram que o Morumbi fosse o estádio para sediar jogos da Copa do Mundo em São Paulo. Fala de Lula, de Kassab...

José Serra, furioso, emitiu na terça-feira (8) uma nota desmentindo Juvenal. "Sempre apoiei que a abertura da Copa fosse em São Paulo e no estádio do Morumbi. As afirmações em contrário de Juvenal Juvêncio além de desconexas são falsas", disse o simpático tucano. Tá bom.

Por tudo isso é verdade que, como disse o amigo Flávio Fraschetti
no Facebook, com sua ironia costumeira, "pior que esse cara vai fazer falta". É fato.

sexta-feira, 11 de abril de 2014

Pensamento para sexta-feira [49] – De Pelé e Maradona, ao som de Manu Chao


Fotos: Reprodução


Muita gente, com razão, ficou indignada com o que disse Pelé, o “rei” do futebol, no dia 7 (segunda-feira), sobre o acidente que matou um jovem de 23 anos nas obras do Itaquerão dias antes, fatalidade abafada pelas autoridades responsáveis pela construção do estádio e pela realização da Copa do Mundo. Pelé falou literalmente o seguinte:

“O que aconteceu no Itaquerão, o acidente, isso é normal, é coisa da vida, pode acontecer, foi um acidente, morreu, isso aí não acredito que assuste. Mas a maneira que está sendo administrado a entrada e saída de aeroporto e turista no Brasil, eu acho que isso é uma coisa que tá preocupando.”

Isso foi mote pra uma discussão com amigos por e-mail (o velho, bom e esquecido e-mail nesses tempos de redes sociais). Lá pelas tantas, inevitavelmente, surgiu no debate o nome de Maradona, como é comum acontecer. A dicotomia Pelé x Maradona, que começou no futebol, acabou transcendendo o esporte.

É indiscutível que Pelé foi mais jogador que Maradona. Mas o argentino foi o segundo maior da história. Já como pessoa, homem e cidadão, também é indiscutível que o hermano dá de 10 a 0 no brasileiro, seja como ser político (o que reflete o grau de politização muito maior dos argentinos em relação aos brasileiros), seja como figura humana, o que a amiga Tania Lima, na troca de e-mails acima referida, tão bem definiu: “Maradona, apesar dos percalços, e talvez principalmente pelos percalços, deixa-nos enxergar que existe ali uma figura humana”.

E chegando ao fim desta livre-associação de sexta-feira, convido-os a ver o trecho (de 2’42”) do documentário Maradona by Kusturica (2008), do diretor de cinema sérvio Emir Kusturica, que mostra uma “canja” do músico parisiense Manu Chao com sua linda canção “La Vida Tombola”, que compôs justamente inspirado em Maradona:





terça-feira, 8 de abril de 2014

Terra, Marte, "lua de sangue" e os adoradores do fim do mundo

Reprodução

A oposição de Marte (o deus romano da guerra na mitologia romana) ao Sol e o fato de o planeta vermelho estar mais brilhante em abril, chegando à máxima aproximação no próximo 14 de abril de 2014, antecede o primeiro de quatro eclipses da Lua, no dia 15. 

As oposições ocorrem quando Marte fica a uma distância mínima da Terra. O planeta vermelho aparece, nesses dias, ao Leste ao anoitecer. Cruza o céu, próximo à Espiga, a estrela mais brilhante da Constelação de Virgem, e vai se pôr no Oeste ao nascer do Sol.

O astrônomo Jair Barroso, pesquisador do Observatório Nacional, diz que, olhando para o céu todos os dias por uma ou duas semanas, as pessoas vão notar as diferenças. “Marte vai aparecer praticamente com o mesmo brilho, mas irá mudando de posição em relação à estrela Espiga. Por ser um planeta que está mais perto da Terra, aparenta ter um deslocamento mais rápido”, explica o astrônomo.

O fenômeno se dá uma vez a cada 778 dias. Mas o fato que chama a atenção dos que adoram pensar no fim do mundo é que o evento destes dias antecede as "luas de sangue", um fenômeno que poderá ser visto da terra na semana que vem (dia 15/4) e alguns místicos associam como sinal do fim dos tempos (o que não falta neste mundo são adoradores do fim do mundo...). Trata-se de uma rara sequência de quatro eclipses lunares chamada de tétrade ("luas de sangue"). O ciclo começa na semana que vem, no dia 15 de abril, e terminará apenas no ano de 2015: os eclipses ocorrem 15 abril/2014, 8 de outubro/2014, 4 de abril/2015 e 28 de setembro de 2015.

De acordo com a Nasa, as "quatro luas de sangue" só foram vistas três vezes em mais de 500 anos: 1493, 1949 e 1967. 

Os místicos veem nessas datas importantes associações: em 1493 era Idade Média. E, na ocasião, os judeus foram expulsos da Espanha pela Inquisição; em 1949, nasceu o Estado de Israel na Palestina; e em 1967 ocorreu a Guerra dos Seis Dias entre árabes e israelenses, quando o Egito liderou um ataque a Israel e os árabes foram derrotados em menos de uma semana.


Com Agência Brasil 

Atualizado às 13:31 de 9/04/2014

domingo, 6 de abril de 2014

"Novo capítulo de protelação para manter José Dirceu preso em regime fechado"



Foto: Alexandre Maretti
Em nota divulgada à imprensa neste sábado (5), os advogados de José Dirceu acusam o juiz da Vara de Execuções Penais de Brasília Bruno Ribeiro de nova medida "para manter o ex-ministro José Dirceu preso em regime fechado". Dirceu tem direito ao semiaberto, mas há quase 5 meses cumpre pena mais severa e sofre perseguição que o impede de conseguir trabalho externo e extrapola mandamentos jurídicos.

Leia a nota dos advogados:

Em novo capítulo de protelação para manter o ex-ministro José Dirceu preso em regime fechado no presídio da Papuda, o juiz da Vara de Execuções Penais de Brasília Bruno Ribeiro toma uma decisão contraditória e encaminha ao presidente do Supremo, Joaquim Barbosa, com quase um mês de atraso, o pedido do Ministério Público do DF para que se quebre indiscriminadamente sigilos telefônicos ainda com o propósito de investigar o suposto telefonema recebido por José Dirceu no presídio.

Além de uma clara contradição com o encerramento das investigações conduzidas pela própria Vara, o pedido é extremamente genérico e sem a fundamentação exigida por lei, pleiteando que todas as ligações – de cinco operadoras de telefonia móvel – feitas/recebidas da região da Papuda para a Bahia, de 1 a 16 de janeiro, sejam encaminhadas ao Ministério Público.

O intuito de protelar a regularização do regime semiaberto de José Dirceu torna-se indisfarçável: o pedido pouco razoável do MPDF foi apresentado à VEP em 26 de fevereiro, porém o juiz Bruno Ribeiro só o despachou em 28 de março, quando já havia se declarado impedido de decidir o caso, repassando a decisão para o presidente do Supremo, Joaquim Barbosa.

O encaminhamento ocorre depois que a própria VEP encerrou sua investigação sobre a suposta ‘falta disciplinar’, chegando à mesma conclusão emitida ainda em janeiro pela Secretaria de Segurança Pública do DF: o ex-ministro nunca fez qualquer telefonema de dentro da Papuda.

No dia 11 de março, o juiz Bruno Ribeiro, na presença de um representante do MP, interrogou José Dirceu por videoconferência e ouviu dele a mesma resposta: em nenhum momento fez uso de celular nas dependências do presídio. O ex-ministro também negou o recebimento de qualquer tipo de regalia. Após o interrogatório, a Vara de Execuções Penais encerrou o caso sem objeção por parte do Ministério Público.

No último dia 2, diante do silêncio e demora para se cumprir um direito assegurado ao nosso cliente pela Constituição e pela Lei de Execuções Penais, encaminhamos ao presidente do Supremo Tribunal Federal, Joaquim Barbosa, pedido de prioridade na análise do caso por se tratar de um cidadão idoso. A petição reitera que o pedido de trabalho externo foi apresentado em 19 de dezembro do ano passado e já obteve parecer favorável da Seção Psicossocial e do Ministério Público do Distrito Federal. Diz ainda que a investigação sobre a suposta falta disciplinar está cabalmente encerrada e que a Procuradoria-Geral da República, ciente da apuração, não solicitou diligências nem tampouco apresentou argumentos contrários ao pedido de trabalho externo.

José Luis Oliveira Lima
Rodrigo Dall’Acqua


sábado, 5 de abril de 2014

A pesquisa do Ipea e o esquerdismo da
matemática subjetiva





O erro do Ipea (e posterior retratação) na pesquisa sobre a mentalidade brasileira em relação à mulher provocou reações ilustrativas de que um setor do estilo “tudo ou nada” do esquerdismo brasileiro briga até com a matemática. Ao ser divulgada, a pesquisa dizia num primeiro momento, equivocadamente, que 65,1% dos brasileiros concordam, total ou parcialmente, com a afirmação de que "mulheres que usam roupas que mostram o corpo merecem ser atacadas". Após o instituto vir a público e reconhecer que houve erro (erro lamentável, aliás), e que são 26% (e não 65,1%) os que concordam com a afirmação, algumas reações mostram que a ideologia faz mal à matemática.

Segundo opiniões baseadas na premissa filosófica da matemática subjetiva, os números “pouco importam quando a realidade é machista”. De acordo com essa visão de sociologia de botequim, seja de 65%, 26%, 10%, 5% ou 0,1% o número de brasileiros que acham que "mulheres que usam roupas que mostram o corpo merecem ser atacadas", a indignação é a mesma. Li isso no Facebook de uma amiga. Discordo dessa visão para a qual as estatísticas só contam quando são a favor.

A indignação é um sentimento. Os números são lógicos, não mentem e não enganam.

Ora, 4 + 4 = 8. Assim como 5 + 3 = 8. Raciocine comigo: imagine 8 meninos do mesmo tamanho que vão fazer dois times pra disputar uma pelada na rua (*ver nota), um joguinho de futebol de rua, um “vira 5-acaba 10”. Suponha ainda que por alguma circunstância, talvez uma aposta, os meninos resolvem dividir os times em uma equipe de 5 jogadores pra jogar contra outra equipe de 3. Considerando que os 8 jogadores são mais ou menos equivalentes em termos de habilidade futebolística, qual time teria mais chance de vitória? Evidentemente, o time com 5 jogadores.

É lógico, matemático, que uma sociedade em que 26% (aproximadamente um quarto) das pessoas acham que as mulheres merecem ser atacadas é uma sociedade ainda muito imperfeita, mas sem dúvida menos pior do que uma outra onde esse número chegasse a assombrosos 65%, ou dois terços dos brasileiros! 

4 + 4 = 8
5 + 3 = 8

Uma sociedade em que 65% das pessoas têm essa mentalidade medieval seria uma civilização da barbárie e os machistas doentios seriam uma maioria esmagadora, e isso talvez exista ainda hoje em certos países em que mulheres “adúlteras” são apedrejadas até a morte, como eram nos tempos da Israel bíblica, lugares onde viceja o horror. A outra sociedade, a que apareceu na errata do Ipea, é ainda desigual, mas nela os 26% de imbecis e psicologicamente perturbados são minoria, e portanto mais fáceis de ser combatidos.

Donde se conclui que, se uma mulher vivesse na primeira sociedade “revelada” pelo Ipea, ela teria muito mais motivo para ser indignada, e nesse lugar sua indignação poderia lhe custar caro, a vida mesmo, e a vida tirada de maneira brutal. Já para a mulher que vive no Brasil, país que infelizmente ainda é machista e muitas vezes violento, a luta já não é tão difícil. Existem conquistas históricas e o caminho a percorrer é menos árduo e longo. A indignação não pode ser a mesma.

A violência contra a mulher no Brasil é mais, mas muito mais grave no chamado "Brasil profundo" do que no Sudeste do país. A pesquisa do Ipea mostra a média. Nos lugares mais pobres o índice aumenta, nos mais ricos diminui, isso é sociológica e matematicamente irrefutável também. Detesto brigar com a matemática. 

Vi amigas dizerem "ufa!", ao saber que o Ipea errou, embora com a ressalva assertiva de que muito há que evoluir. Outras preferem simplesmente dizer que "a indignação é a mesma". É o que chamo de esquerdismo da matemática subjetiva.

Sim, é claro que a violência contra a mulher é inaceitável. Assim como é inaceitável a violência contra as crianças. É inaceitável a violência contra os homens. É inaceitável a violência contra os animais. É inaceitável a violência contra os rios, os oceanos, contra os livros, contra o conhecimento.

A violência é inaceitável.

***

Nota* Antes que eu seja acusado de machista, esclareço que, com disputar uma pelada na rua, quero dizer bater uma bola na rua, ou na praia, jogar um jogo contra (tipo a rua de cima contra a rua de baixo), juntar alguns meninos e correr atrás de uma bola, tentando fazer gols em balizas marcadas por duas pedras de um lado e duas pedras de outro da rua (ou da praia), sendo que cada par de pedras representa simbolicamente um conjunto de duas traves e um travessão pelos quais o jogador tem que fazer passar a bola, momento em que se comemora um gol.