sábado, 29 de outubro de 2016

Grandes atores (6): Anthony Hopkins


Fotos: Reprodução
Como o imortal Hannibal Lecter
Já comentei sobre esse monstro da arte dramática num post em que juntei outros monstros (Gene Hackman, Marlon Brando, Rod Steiger). Mas Anthony Hopkins merece um post à parte. Claro que os outros aqui citados também. É que vi anteontem um filme totalmente descartável, que entretanto me remeteu diretamente à infância: A Máscara do Zorro (1998, dirigido pelo medíocre Martin Campbell, diretor hollywoodiano encarregado apenas de executar roteiros pré-fabricados), no qual Hopkins interpreta Don Diego de la Vega/Zorro. Na infância, o Zorro da série de TV que tinha Guy Williams no papel do herói e o eterno sargento Garcia era um de meus programas favoritos na telinha.

Mas, voltando, apesar de A Máscara do Zorro ser um filme muito ruim (uma ideia boa, mas mal aproveitada), com todo tipo de soluções comerciais e clichês made in Hollywood, ver Hopkins compensa: tudo vale a pena se a alma não é pequena. Curiosamente, algo me faz sempre associar esse ator britânico nascido em Port Talbot em 1937 ao nova yorkino Jack Nicholson, coincidentemente nascido no mesmo ano. Porém, apesar da grandeza de Nicholson, acho Hopkins superior.

Enquanto o americano, de certa maneira, é freqüentemente ator de si mesmo, na medida em que seus personagens costumam ser um pouco, sempre, o próprio Nicholson, o inglês parece ser mais capaz de ser tanto um padre, com suas expressões cândidas e santas, como um irremediável romântico ou um psicopata de inteligência sobrenatural e mente fria.

É o caso do papel do serial killer Hannibal Lecter, em O Silêncio dos Inocentes (Jonathan Demme, 1991), um dos grandes thrillers da história do cinema. No filme, Hopkins incorpora o espírito de uma criatura que passa a existir graças ao talento assombroso do ator. Nesse sentido, ele opera na arte dramática o que, na literatura, apenas grandes escritores são capazes de fazer: dar vida a um personagem. Mais do que isso, dotá-lo de alma, de tal modo que é como se fosse um ser real.


Jodie Foster, como a policial Clarice, cujo mestre (e sombra) é Lecter

Hannibal Lecter é um desses personagens do qual não se esquece jamais. Como já escrevi no post citado acima, o personagem Lecter se transforma no mestre da policial Clarice Starling exatamente como o ator Hopkins se transforma no mentor de Jodie Foster, que a interpreta. Isso, de um ator (atriz) monstro parecer conduzir aqueles com os quais contracena, é comum no cinema e no teatro. É com uma fascinação ao mesmo tempo iluminada e sombria que Clarice/Foster interage com o criminoso Hannibal/Hopkins. Isso não se daria se o ator fosse outro, ou um ator menor. Provavelmente o filme sequer teria brilho ou importância.

Como também já escrevi, esse "é um filme paradigmático de uma grande atuação, porque Hopkins opera no personagem uma transformação que vai da brutalidade à doçura, da contemplação à explosão assassina, e ele expressa essas nuances em sua face como se fossem, cada uma, a face mesma da brutalidade, da doçura, da contemplação e da selvageria". É uma das maiores atuações que já vi no cinema.


Como Don Diego de la Vega/Zorro, único motivo para ver o filme

A relação mestre-discípulo da qual falei acima, que se dá entre Hopkins e Jodie Foster em O Silêncio dos Inocentes (The Silence of the Lambs, no original em inglês), acontece também em A Máscara do Zorro, entre o mesmo Hopkins e Antonio Banderas, que é muito bom ator, mas perdeu muito de seu brilho depois de deixar a Espanha (onde atuou em vários filmes sob a direção de Almodóvar) e se transformar num ator secundário de Hollywood, apesar de eu ter lido, não lembro onde, que foi como Zorro que Banderas atingiu importância internacional. Importância em bilheteria, apenas, e decadência como ator.

Como o professor Van Helsing, em Drácula
Em Drácula de Bram Stoker  (1992), do grande Francis Ford Coppola, Hopkins faz o bondoso e sábio professor Abraham Van Helsing, a antítese de Hannibal Lecter, já que é ele o portador do conhecimento capaz de combater o mal.

Em Drácula, é curioso notar que Hopkins não tem a importância dos filmes citados neste post ou em outros. Mas isso acontece por um motivo simples: é que não é possível, dada a força do personagem central, o vampiro, qualquer outro se sobrepor a ele. Gary Oldman, de resto, como Drácula, está excelente no papel, assim como Winona Ryder no papel da amada Mina Harker. O que, de resto, não é nenhuma novidade, já que Coppola é um dos maiores diretores de ator do cinema.

 Leia também, da série Grandes Atores:




sábado, 8 de outubro de 2016

Grandes atores (5): Johnny Depp



No mesmo filme, dois personagens: soldado e travesti

Johnny Depp é um ator que enriquece qualquer filme. Ou melhor, é um ator que pode fazer com que um filme medíocre ganhe vida por sua simples presença. No filme Antes do Anoitecer (2000, direção de Julian Schnabel), que não é medíocre, mas é um hollywoodiano cheio de clichês, Depp dá uma mostra do que pode fazer com a arte dramática.

No filme, Javier Bardem interpreta o escritor cubano Reinaldo Arenas, que era gay e viveu agruras no regime comunista de Fidel Castro. Johnny Depp, neste filme, interpreta dois personagens completamente antagônicos: o travesti Bon Bon e um militar tipicamente sul-americano, o  tenente Victor.

Depp não é um ator do tipo que interpreta sempre a si mesmo, característica de vários atores listados entre os grandes, como é o caso de Robert De Niro. Essa característica não necessariamente desqualifica um ator, mas às vezes cansa. Depp não é desse tipo, ele é um camaleão.

O filme que para mim é seu auge é Dead Man (1995, direção de Jim Jarmusch). Não apenas por sua atuação magistral na obra, em que faz uma espécie de reencarnação do poeta William Blake (são várias as interpretações que se podem fazer desse filme, construído sob densa poética), mas pelo filme em si, na minha opinião o melhor de Jarmusch, com a excepcional trilha sonora de Neil Young que é parte intrínseca ao filme.

Em Dead Man, a transformação do personagem William Blake se processa no desenvolvimento da história.

O inocente e tímido caipira que atravessa os Estados Unidos em busca de emprego na distante cidade de Machine...




... se torna o temível e frio Dead Man...




Depp adora fantasia. Sua parceria com o desenhista e diretor Tim Burton é uma das mais bem-sucedidas do cinema contemporâneo. Sob a direção de Burton, Depp atuou em Edward Mãos de Tesoura (1990), A Lenda do Cavaleiro Sem Cabeça, (1999), A Fantástica Fábrica de Chocolate (2005) e Alice no País das Maravilhas, ou Tim Burton's Alice in Wonderland (2010).

Fora o western poético Dead Man, Depp atuou em inúmeros filmes de vários gêneros. No gênero máfia, por exemplo, fez Donnie Brasco (1997, direção de Mike Newell).

Embora não seja um gênero de filme que eu pare para assistir, na franquia Piratas do Caribe, como o capitão Jack Sparrow, Depp dá outro show de atuação, fazendo uma espécie de anti-herói cômico com trejeitos gay.

É um ator extremamente expressivo. Sua face muda de acordo com o personagem ou a cena. Para mim é uma pena que ele dedique tanto tempo a fazer os filmes de fantasia com Tim Burton ou Piratas. Poderia fazer coisas mais interessantes. Mas o ator parece que se apegou a esse gênero de cinema e a essa forma de ganhar dinheiro.