quinta-feira, 27 de dezembro de 2012

Livros (e filmes) à mancheia!


Neste fim de ano dei alguns livros de presente. É legal dar livros de presente, é lúdico. Seguem alguns interessantes:


Carpinteiros, levantem bem alto a cumeeira e Seymour, uma apresentação, de J. D. Salinger (1919-2010), escritor norte-americano mais conhecido pelo best-seller O Apanhador no campo de centeio, que não li. No volume da L&PM, as duas novelas do título, que se passam na primeira metade do século XX, são narradas por um professor universitário recluso relatando reminiscências de sua relação com os seis irmãos, filhos de um casal de artistas. O foco de ambas as histórias é o irmão mais velho e predileto do narrador e de toda a família: Seymour, o irmão-poeta, uma espécie de anjo rilkiano (ver As elegias de Duíno, de Rainer Maria Rilke).

Mas a vida e morte de Seymour não faz da história de Salinger um relato depressivo, ou repleto de comiserações, ou mesmo dramático. Pelo contrário, Salinger não fala da morte, mas da poesia, valendo-se de uma ironia permanente que chega por vezes a tangenciar o sarcasmo (não é por acaso que cita Kierkegaard no segundo relato). “Como é que eu posso registrar o que registrei e ainda sentir-me feliz? Mas me sinto. Alegre, não, nem de leve, porém meu entusiasmo parece ser à prova de qualquer choque”, diz o narrador.

A seta venenosa de Salinger, cuja ponta traz o veneno da ironia, é dirigida a todos, leitor inclusive, críticos literários principalmente. “Você nem pode imaginar os planos grandiosos que eu tinha para estas páginas. Acho que estavam fadados a fenecer no fundo de minha cesta de papéis”, escreve o professor enquanto tenta traçar o perfil do irmão morto (vale observar que o narrador também não esquece, como um de seus múltiplos alvos, da então hegemônica psicanálise, que causou frisson entre intelectuais de todos os segmentos na primeira metade do século passado).

A narrativa da primeira história, Carpinteiros, levantem bem alto a cumeeira, é feita com uma linguagem mais linear – mais fácil de ler – do que Seymour, uma apresentação. Este último relato é daqueles de perturbar editores que amam períodos curtos e parágrafos sucintos, de enervar os resenhistas sem tempo de realmente ler um livro – para uns e outros, é mais prático que o raciocínio obedeça a regras simples de redação e proporcione um entendimento tão imediato quanto raso.


Drácula, de Bram Stoker (1847-1912). Bem, este livro não precisa de muitas apresentações, a não ser que é preciso tomar cuidado com a edição. Recomendo duas: da Nova Cultural (a boa e velha de capa dura) ou a de bolso da L&PM. É a história clássica do vampiro da Transilvânia na qual se basearam depois incontáveis outros autores e os diretores de inúmeros filmes do gênero terror, do qual os melhores filmes são Nosferatu, de Murnau (1922), Nosferatu, de Herzog (1979), e Drácula de Bram Stoker, de Coppola (1992).

O livro Drácula foi publicado em 1897, escrito a partir de pesquisas sobre um nobre do século XV que viveu na região da Transilvânia, na Romênia. Diz a lenda que Vlad empalava seus inimigos e por isso era conhecido como O Empalador. Ele, de fato, existiu, e combateu ferozmente os turcos no século XV. Numa época em que o mercado é inundado de lixos do tipo Crepúsculo, protagonizados por vampirinhos bonitinhos e ordinários, ler o original do autor irlandês Bram Stoker é recomendado. Eu, que na infância adorava assistir a filmes de terror com minha avó Emiliana (só eu e ela na sala), acho imprescindível que os jovens conheçam algo mais denso do que a idiotice dos vampirinhos de crepúsculo, e por isso dei esse livro de presente para uma sobrinha de 15 anos que é uma rara menina que adora ler.


Caninos Brancos, de Jack London (1876-1916). Sobre essa pequena obra-prima, já escrevi neste blog: A natureza selvagem segundo Jack London. As edições recomendadas são: a mais do que esgotada edição do Círculo do Livro (ainda vou escrever um post sobre o saudoso CL), que achei em “ótimo estado” num sebo virtual, e a da L&PM, também em loja virtual. London é um dos escritores mais importantes da essencial literatura norte-americana que se consolida durante o século XX. Ele é precursor de uma linhagem que depois vai passar por Hemingway, Jack Kerouac e Bukowski, por exemplo.

Caninos Brancos é a história de um lobo que tem de conviver com um predador mais poderoso do que ele, o homem. Pode ser lido por adultos e jovens, qualquer um dotado de sensibilidade.

As pessoas que gostam de animais, sobretudo cachorros, vão se envolver muito com a história, sobretudo porque sua narrativa não é a narrativa de qualquer um, é a de Jack London.



Audrey Hepburn é a capa da Cia. das Letras
Bonequinha de Luxo. Eis um pequeno romance, ou uma novela, adorável. É de 1958 e de outro notável escritor norte-americano, Truman Capote (1924-1984), o mais jovem dos citados neste post sobre livros que dei de presente de Natal. Só há um problema no caso desta obra: é que a única edição confiável fácil de achar é da Companhia das Letras: o livro é caro até em sebo, como é normal com as edições desta editora.

É a história de uma “caipira” dos Estados Unidos que vai para Nova York em busca de ambições. Seu “sonho de consumo”, mais do que ser uma atriz de Hollywood, é a famosa joalheria Tiffany's (daí o título do original em inglês, tanto do livro de Capote como do filme dirigido por Blake Edwards: Breakfast at Tiffany's).

A versão hollywoodiana (o filme) acrescenta soluções menos dramáticas do que a história contada por Capote. O conto mostra um cotidiano em que não existe um happy end como quer Hollywood, porque Capote vê a vida em Breakfast at Tiffany's apenas como a vida que flui e se transforma e acaba. Capote era implacável, e não foi à toa que escreveu talvez a obra mais importante da chamada literatura de não ficção, A sangue frio.

Porém, depois de ler o livro de Capote, veja o filme Bonequinha de luxo! Tirando o hollywoodianismo, a película de Blake Edwards conta com uma atuação ma-ra-vi-lho-sa de Audrey Hepburn. Poucas vezes vi uma atriz encarnar uma personagem tão bem como Audrey incorporou a Holly Golightly criada por Capote. Mas se você viu o filme e ainda não leu o livro, leia-o. Comigo aconteceu nessa ordem, e não foi menos encantador.

Por hoje, fico por aqui.


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