Neste fim de ano dei alguns livros de presente. É legal dar livros de presente, é lúdico. Seguem alguns interessantes:
Mas a vida e morte de Seymour não faz da história de Salinger um relato depressivo, ou repleto de comiserações, ou mesmo dramático. Pelo contrário, Salinger não fala da morte, mas da poesia, valendo-se de uma ironia permanente que chega por vezes a tangenciar o sarcasmo (não é por acaso que cita Kierkegaard no segundo relato). “Como é que eu posso registrar o que registrei e ainda sentir-me feliz? Mas me sinto. Alegre, não, nem de leve, porém meu entusiasmo parece ser à prova de qualquer choque”, diz o narrador.
A seta venenosa de Salinger, cuja ponta traz o veneno da ironia, é dirigida a todos, leitor inclusive, críticos literários principalmente. “Você nem pode imaginar os planos grandiosos que eu tinha para estas páginas. Acho que estavam fadados a fenecer no fundo de minha cesta de papéis”, escreve o professor enquanto tenta traçar o perfil do irmão morto (vale observar que o narrador também não esquece, como um de seus múltiplos alvos, da então hegemônica psicanálise, que causou frisson entre intelectuais de todos os segmentos na primeira metade do século passado).
A narrativa da primeira história, Carpinteiros, levantem bem alto a cumeeira, é feita com uma linguagem mais linear – mais fácil de ler – do que Seymour, uma apresentação. Este último relato é daqueles de perturbar editores que amam períodos curtos e parágrafos sucintos, de enervar os resenhistas sem tempo de realmente ler um livro – para uns e outros, é mais prático que o raciocínio obedeça a regras simples de redação e proporcione um entendimento tão imediato quanto raso.
Drácula, de Bram Stoker (1847-1912). Bem, este livro não precisa de muitas apresentações, a não ser que é preciso tomar cuidado com a edição. Recomendo duas: da Nova Cultural (a boa e velha de capa dura) ou a de bolso da L&PM. É a história clássica do vampiro da Transilvânia na qual se basearam depois incontáveis outros autores e os diretores de inúmeros filmes do gênero terror, do qual os melhores filmes são Nosferatu, de Murnau (1922), Nosferatu, de Herzog (1979), e Drácula de Bram Stoker, de Coppola (1992).
O livro Drácula foi publicado em 1897, escrito a partir de pesquisas sobre um nobre do século XV que viveu na região da Transilvânia, na Romênia. Diz a lenda que Vlad empalava seus inimigos e por isso era conhecido como O Empalador. Ele, de fato, existiu, e combateu ferozmente os turcos no século XV. Numa época em que o mercado é inundado de lixos do tipo Crepúsculo, protagonizados por vampirinhos bonitinhos e ordinários, ler o original do autor irlandês Bram Stoker é recomendado. Eu, que na infância adorava assistir a filmes de terror com minha avó Emiliana (só eu e ela na sala), acho imprescindível que os jovens conheçam algo mais denso do que a idiotice dos vampirinhos de crepúsculo, e por isso dei esse livro de presente para uma sobrinha de 15 anos que é uma rara menina que adora ler.
Caninos Brancos, de Jack London (1876-1916). Sobre essa pequena obra-prima, já escrevi neste blog: A natureza selvagem segundo Jack London. As edições recomendadas são: a mais do que esgotada edição do Círculo do Livro (ainda vou escrever um post sobre o saudoso CL), que achei em “ótimo estado” num sebo virtual, e a da L&PM, também em loja virtual. London é um dos escritores mais importantes da essencial literatura norte-americana que se consolida durante o século XX. Ele é precursor de uma linhagem que depois vai passar por Hemingway, Jack Kerouac e Bukowski, por exemplo.
Caninos Brancos é a história de um lobo que tem de conviver com um predador mais poderoso do que ele, o homem. Pode ser lido por adultos e jovens, qualquer um dotado de sensibilidade.
As pessoas que gostam de animais, sobretudo cachorros, vão se envolver muito com a história, sobretudo porque sua narrativa não é a narrativa de qualquer um, é a de Jack London.
Audrey Hepburn é a capa da Cia. das Letras |
É a história de uma “caipira” dos Estados Unidos que vai para Nova York em busca de ambições. Seu “sonho de consumo”, mais do que ser uma atriz de Hollywood, é a famosa joalheria Tiffany's (daí o título do original em inglês, tanto do livro de Capote como do filme dirigido por Blake Edwards: Breakfast at Tiffany's).
A versão hollywoodiana (o filme) acrescenta soluções menos dramáticas do que a história contada por Capote. O conto mostra um cotidiano em que não existe um happy end como quer Hollywood, porque Capote vê a vida em Breakfast at Tiffany's apenas como a vida que flui e se transforma e acaba. Capote era implacável, e não foi à toa que escreveu talvez a obra mais importante da chamada literatura de não ficção, A sangue frio.
Porém, depois de ler o livro de Capote, veja o filme Bonequinha de luxo! Tirando o hollywoodianismo, a película de Blake Edwards conta com uma atuação ma-ra-vi-lho-sa de Audrey Hepburn. Poucas vezes vi uma atriz encarnar uma personagem tão bem como Audrey incorporou a Holly Golightly criada por Capote. Mas se você viu o filme e ainda não leu o livro, leia-o. Comigo aconteceu nessa ordem, e não foi menos encantador.
Por hoje, fico por aqui.
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