sexta-feira, 27 de novembro de 2009

A vida tormentosa de Roman Polanski

Roman Polanski, o cineasta francês de origem polonesa, diretor de O Bebê de Rosemary, deve ser solto segunda-feira, sob fiança de 3 milhões de euros, pela justiça suíça.

As informações são de que, monitorado eletronicamente, ele vai cumprir prisão domiciliar em seu chalé de Gstaad. O cineasta está preso na Suíça desde 26 de setembro, a pedido da justiça dos Estados Unidos, que quer sua extradição. Polanski é acusado de ter mantido relações sexuais com a Samantha Geimer, quando esta tinha 13 anos, em 1977. A então menina teria sido drogada e alcoolizada.

O paradoxal desta história é que a própria Samantha parece ter perdoado o cineasta. Para ela, a mídia é a atual vilã da história. Como lembrou o crítico Ricardo Kalil em seu blog, ela abandonou oficialmente as acusações contra Polanski, defendeu um Oscar de melhor diretor ao cineasta por O Pianista (2003) e declarou que ele já pagou o preço pelo crime.

E disse mais: ao jornal New York Daily News, declarou: “Eu sobrevivi a quaisquer danos que o senhor Polanski pode ter me causado quando criança. Superei isso há muito tempo. Ele fez algo horrível comigo, mas foi a mídia que arruinou minha vida. A publicação continuada de detalhes sobre o caso fere a mim, a meu marido, filhos e mãe”.

Aos 76 anos, Roman Polanski segue uma vida de tormentos, como tem sido desde sua juventude. Em 1969, sua linda mulher, a atriz Sharon Tate, foi barbaramente assassinada, aos oito meses de
gravidez, por um grupo de satanistas liderados por um homem chamado Charles Manson.

Polanski e Sharon Tate

Na foto ao lado, Polanski e Sharon, em foto tirada há 40 anos e que será leiloada pela casa de leilões Christie's em 7 de dezembro, em Nova York.

Os místicos buscam associações com o sobrenatural para sua trajetória. Um ano antes do crime, em 1968, Polanski havia feito sua obra prima O Bebê de Rosemary, que conta a história de um jovem casal (interpretado por Mia Farrow e John Cassavetes) que se muda para um prédio habitado por estranhas pessoas. Estas vão se revelando adoradoras do demônio. A jovem (Mia Farrow) é drogada, concebida e dá à luz uma criança: o filho das trevas.

Detalhe: o filme teve como locação o edifício Dakota, onde moraram Judy Garland e Boris Karloff. O Dakota foi cenário de O Bebê de Rosemary e do assassinato de John Lennon, que morava em um apartamento com Yoko Ono. Lennon foi assassinado por Mark David Chapman em 8 de dezembro de 1980 em frente ao edifício.

PS - Segundo o ministério da Justiça da Suíça, Polanski deve continuar preso até sexta-feira. A justificativa é que ele ainda não depositou os 3 milhões de euros (R$ 7,8 milhões) relativos à fiança. O ministério afirmou nesta terça-feira, 1°, que o pagamento deve ser feito nos próximos dias.

Filmografia de Roman Polanski (como diretor)

Oliver Twist (2005)
O Pianista (2002)
O Último Portal (1999)
A Morte e a Donzela (1994)
Lua de Fel (1992)
Busca Frenética (1988)
Piratas (1986)
Tess - Uma Lição de Vida (1979)
O Inquilino (1976)
Chinatown (1974)
O Bebê de Rosemary (1968)
A Dança dos Vampiros (1967)
Armadilha do Destino (1966)
Repulsa ao Sexo (1965)
A Faca na Água (1962)

Atualizado às 18h39 de 1° de dezembro

7 comentários:

Mayra disse...

Não é só a vida de Polanski que é tormentosa, sua filmografia também vai por aí, como o filme comentado por você, O Bebê de Rosemary, com as atuações impecáveis de Mia Farrow e John Cassavetes – que aliás também era um baita diretor; Uma Mulher Sob Influência (1974), com Gena Rowlands, sua mulher e excelente atriz, é um filme genial. Agora, quem vê O inquilino – com outra atriz magnífica, Isabelle Adjani – não sai incólume. Esse filme, pelo menos pra mim, foi uma das experiências cinematográficas mais significativas, e dolorosas, da minha vida. Uma das sequências mais chocantes é a quela do cara que tenta se matar se jogando do prédio. O problema é que ele não consegue, então se levanta do chão e volta ao apartamento e se joga de novo. E assim vai mais uma vez ou duas. Me diz: você já assitiu a um desespero mais expressivo que esse?? Só alguém com muito tormento na alma mesmo pra conceber uma cena assim...

Eduardo Maretti disse...

Mayra, confesso que preciso rever esse filme.

Como não lembro dele muito bem, quando você falou de desespero pensei imediatamente em "Dançando no escuro", de Lars von Trier. É um desespero diferente do desespero da alma que você menciona? Acho que é, porque é desespero provocado pela sociedade e o sistema norte-americano (e não intimista, "da alma", como de Polanski). Mas, pelo que se sabe, von Trier também não tem a alma lá muito sossegada, não...

Moriti Neto disse...

Olá, Edu. Minha primeira vez aqui no blog e gostei muito. Parabéns pelos textos em geral, a diversidade de temáticas é muito interessante.
Especialmente este sobre o Polanski e o anterior sobre o Já - que precisa mesmo de solidariedade -, são excelentes.

Abraço.

Gabriel Megracko disse...

Quase ouço Lolita nas declarações de Samantha.

Mayra disse...

Edu, desespero é desespero seja por que motivo for. No Dançando no escuro, tive uma catarse no final, não conseguia parar de chorar muito e alto. Quase saí da sala de cinema em respeito às outras pessoas. Pra mim, o von Trier é o melhor diretor vivo porque além de Dançando... ainda fez outra obra-prima que é o Dogville. Aliás, todos filmes sobre a impotência do indivíduo esmagado pela sociedade violenta, sempre, em qualquer momento da história, muito violenta. Bah.

Ozzie Gheirart disse...

oi, edu. interessante vc falar de "almas atormentadas" pq ontem passei pela casa das rosas e vi um exposição do poe. só mesmo a arte para transformar tanto tormendo em beleza. as pessoas não gostam muito desses questionamentos, mas não podem deixar de ver neles a própria incompetência de pensá-los. eu, particularmente, achei uma bobagem todo esse caso do polanski. algo midiático demais, sabe? e o bebê de rosemary é, de longe, um dos meus filmes favoritos. abs

Felipe Cabañas da Silva disse...

grande edu.
achei você e virei seguidor.

Abraço!