terça-feira, 11 de setembro de 2012

O 11 de setembro, 11 anos depois


Onze anos se passaram desde aquela terça-feira ensolarada em São Paulo e em Nova York. Muitas vezes perguntei e respondi à pergunta: “onde você estava no 11 de setembro de 2001?”

Eu estava em casa, tinha acabado de tomar café da manhã e liguei o computador para ver as notícias da manhã. Estava frilando. Li num dos portais da rede: “pequeno avião bate em torre do WTC”. A matéria dizia que as estimativas eram de alguns feridos e talvez alguns mortos, menos de dez.

Como as informações rapidamente ficaram mais alarmantes, liguei a TV na CNN e ainda vi o segundo avião bater na torre. Acordei minha mulher, liguei para amigos, meus irmãos, não tinha como falar com meu filho (e isso me incomodou, porque eu queria falar com ele, que estava na escola), telefonei para meu pai, que, com seus 72 anos, disse: “eu acho que é o fim do mundo, Eduardo”. Em todos os lugares, bares, restaurantes, perplexidade.

Naquele dia não trabalhei. Ficamos grudados na TV, feito rãs iluminadas por uma lanterna. Perplexos, dominados por uma estranha emoção, uma emoção até então inédita e difícil de explicar.

Bem mais tarde naquele dia, talvez no dia seguinte, li o belo texto de Paul Auster, que se segue, e que fala por si.


E assim começa o século 21

Notas esparsas
Paul Auster
11 de setembro de 2001, 16h

Nossa filha de 14 anos começou hoje a cursar o ensino médio. Pela primeira vez na sua vida, ela tomou o metrô do Brooklyn para Manhattan -sozinha. Ela não vai voltar para casa esta noite. Os trens do metrô não estão funcionando em Nova York, e minha mulher e eu demos um jeito de ela passar a noite com uns amigos no Upper West Side. Menos de uma hora depois de ela passar sob o World Trade Center, as torres gêmeas caíram por terra.

Do piso superior de nossa casa, podemos ver a fumaça enchendo o céu da cidade. O vento sopra na direção do Brooklyn hoje, e o cheiro do fogo se entranhou em cada cômodo da casa. Um odor terrível, acre: plástico incinerado, fios elétricos, materiais de construção.

A irmã de minha mulher, que mora em TriBeCa, só dez ou 12 quarteirões ao norte do que um dia foi o World Trade Center, nos telefonou para contar sobre os gritos que ela ouviu após a primeira torre desabar. Amigos dela, que vivem em John Street, ainda mais perto do local da catástrofe, foram evacuados pela polícia depois que a porta do edifício deles foi posta abaixo pelo impacto. Eles andaram em direção ao norte em meio a entulho e escombros -os quais, contaram a ela, continham restos humanos.

Depois de ver as notícias pela televisão a manhã inteira, minha mulher e eu fomos dar uma volta pelo bairro. Muitas pessoas cobriam seus rostos com lenços. Alguns usavam máscaras de pintor. Eu parei e falei com o homem que corta meu cabelo, que estava parado em frente à sua barbearia vazia, com uma cara angustiada. Algumas horas antes, ele disse, a dona do antiquário ao lado tinha falado ao telefone com seu genro -que tinha ficado preso em seu escritório, no 107º andar do World Trade Center. Menos de uma hora depois de ela falar com ele, a torre desabou.

O dia inteiro, enquanto eu via as imagens horríveis na tela da televisão e observava a fumaça pela janela, eu fiquei pensando sobre meu amigo, o equilibrista Philippe Petit, que caminhou na corda-bamba entre as torres do World Trade Center em agosto de 1974, logo depois de concluída a construção dos edifícios. Um homenzinho dançando em um arame a mais de uma milha de altura do solo -um ato de beleza indelével. Hoje, o mesmo ponto se tornou um lugar da morte. Fico assustado ao ponderar quantas pessoas morreram. Todos nós sabíamos que isso poderia acontecer. Nós falamos da possibilidade por anos, mas agora que a tragédia nos atinge, é muito pior do que qualquer um jamais imaginou. O último ataque estrangeiro em solo americano aconteceu em 1812. O que aconteceu hoje não tem precedentes, e a consequência desse assalto será, sem dúvida, terrível. Mais violência, mais morte, mais dor para todos.

E, assim, finalmente começa o século 21.

4 comentários:

Gabriel Megracko disse...

O espetáculo da guerra. O caso foi mesmo o maior que viram os que nasceram depois da Guerra II... (me engano?).
Eu estava no último ano da escola, com 17 anos, e tinha acabado de sair para o intervalo, provavelmente. Vi uma multidão no pátio olhando para a televisão. Como a filha do Silvio Santos tinha sido sequestrada 21 dias antes, 21 de agosto de 2(00)1, perguntei se "agora" tinham sequestrado ele próprio. Enfim, fui me dando conta, como todos; fiquei exaltado e tentando entender, como todos. Indesculpável como todo ato de violência, simplesmente por haver a possibilidade lógica no raciocínio do homem de usar estratégias mais eficazes e sem violência.
Agora, estas outras estratégias de "libertação" - considerando que não tenha sido um evento forjado - são em quase sua totalidade "exterminadas" pelos impérios: Tibet. Há uma violência generalizada, lenta, sádica e premeditada dos impérios contra aqueles que se opõem aos seus interesses, mesmo que o interesse seja a sua casa porque ela gera dinheiro: bomba atômica, embargo a Cuba, Hollywood, muita fome e muita miséria gerada aos homens e aos animais ao redor do mundo só porque tem o infeliz perturbado, doente, deprimido, enrustido, enganado, que resolveu parar de sentir pra pensar. Eis porque muita gente teve o seu terror aplacado pela sede de vingança saciada. O que mais me deixa triste é a injustiça da morte de inocentes, os inconscientes, ingênuos, como faxineiros e cozinheiros (se é que existia isso lá e não eram robôs secretos e pílulas alimentares astroterrestres) e trabalhadores que de repente conseguiram um subemprego num gigantesco símbolo do dinheiro. Mesmo assim, pode-se dizer que também estavam pela ilusão do grande capital. E mais!: E os inocentes mortos pelo Império? E as ditaduras na América? E o Lennon? E tantos grandes homens mortos misteriosamente pelo Império? E tantos miseráveis que morrem porque alguém gasta meimião num carro? Bom, os grandes símbolos do Império contemporâneo, considerando-se suas nacionalidades, são os que foram atacados, certo? Ó Céus, como, Jesus Cristo, dizzy como, ocê que sabe tudo!, como sentir que não foi a justa compensação quântica das ações unilaterais? Ação e... como é mesmo? Ação e ração! ora ora ora... Seria essa a espada? Ó Cristo. E pior, Jesus morreu fais tempu e seus discípulos indiretos, principalmente os mais "habilitados", tergiversaram com os seus dizeres.

Segunda hipótese: e se foi acordo com o mercado de armas? Será que as redes rastreiam "mercado de armas"?

- Pô, João, não faz assim com o seu irmão!
- Mas ele me deu um soco sem motivo!
- Tá vendo, Jorge, no que dá? Da próxima vez você pensa melhor antes de dar um soco no seu irmão.
- Mas ele chamou minha mãe de puta!
- João!!!
- Calma, gente, não briguem, não leva a nada...
- É verdade, Chico, você tem razão.
- É, Jorge, desculpa. Desculpa mãe!
- Tudo bem, tudo bem...
- Desculpe também, João.
- É isso aí Chico, você é o cara! Nada de brigas! Somos todos da paz.
Agora, tem uma coisa que ninguém se lembrou de dizer, só o narrador, mas ele não consegue entrar na história pra contar: foi o Chico que disse pro Jorge que o João xingou a própria mãe.

Bom dia!

"Pase lo que pase, sea lo que sea, próxima estación..."
Sé.

Gabriel Megracko disse...

E se o Paul Auster fosse afegão? E se eu fosse o pai da filha que passou ali por perto na hora por perto? Mas, enfim, daqui deste Gabriel, São Paulo, Brasil, América, Terra, o ponto de vista é esse.

Felipe Cabañas da Silva disse...

Eu sempre digo aos meus amigos, colegas ou conhecidos que idolatram Bin Laden que eles não sabem o que fazem. Por ódio/rancor/repugnância/antipatia aos Estados Unidos da América, o império da era contemporânea, idolatram o líder de uma mentalidade medieval, segundo a qual ou bem se professa o islã fundamentalista, ou bem se é um infiel inimigo da "guerra santa" (sic). Não, o inimigo do meu inimigo não é necessariamente o meu amigo. Na hipótese absurda de um mundo dominado pelo islã (deixando claro que não acredito nessa hipótese de choque de civilizações do Huntington), certamente, nós, ocidentais, abriríamos o berreiro e implorar pela volta do império do Tio Sam.

Os EUA, como todo império, desde que se alçaram ao topo do mundo em cima dos cacos do que tinha sobrado da Europa após a Segunda Guerra mundial, e mergulhando de cabeça numa guerra política contra o comunismo, vêm de forma periódica e localizada espalhando o terror pelo mundo. Guerra sobre guerra, uma mais despropositada que a outra, a máquina de destruição mais poderosa do mundo se impõe e chama isso de democracia. Guerra do Vietnã, da Coréia, do Golfo, do Iraque e do Afeganistão: todos esses conflitos contemporâneos envolvendo os Estados Unidos, como protagonistas ou aliados (mais como protagonistas que como aliados), já causaram destruição humana equiparável à de uma hipotética terceira guerra mundial.

Por isso, temos que ter cuidado, ao nos solidarizarmos com as vítimas inocentes dos atentados despropositados, para não entrar no jogo do ufanismo barato dos EUA. A indústria de guerra americana soube tirar proveito da súbita posição de vítima que o país ganhou em 11/9/2001, e nesse exato momento em que lamentamos as vítimas das torres gêmeas, o caos ainda está imperando no Iraque e no Afeganistão. E há sempre uma coisa que não muda nos EUA entre Democratas e Republicanos: essa maldita "foreign policy" de bombardear primeiro e perguntar depois. Nem Bin Laden nem Tio Sam: na minha opinião, é necessária uma crítica multilateral.

Alexandre M. disse...

Na segunda feira, na volta para a casa, umas seis horas + /-, na estação santana à espera do próximo trem do metrô, ao meu lado senta-se uma pessoa, uma mulher, com trajes típicos muçulmano, de preto, da cabeça aos pés e de burca, de maneira que só dava para ver seus olhos, claros, azuis. Sentou-se próximo a mim, eu encostado à janela e ela de frente, acompanhada de outra pessoa. lembrei que era dia 10 de setembro, um dia antecendendo ao 11de setembro. Como ando meio paranóico, já logo pensei no pior. "Essa figura pode ser terrorista. Irá detonar uma bomba a qualquer instante". Pensei seriamente em sair do trem. Essa figura estava me incomodando, mais pelo terror que uma vestimenta pode causar, mas as pessoas olhavam surpresas para ela, talvez sentindo medo, respeito. Parecia-se estar olhando para uma amostra de uma cultura milenar. Uma cena surreal. Fui tentando me acalmar, achando que ela poderia estar indo a uma festa à fantasia, ou simplesmente ser uma muçulmana indo a algum evento. Além do mais, estava muito tranquila e descontraída, conversando com seu amigo, não poderia ser um terrorista. E outra, era mulher, não tenho conhecimento de haver atentados causados por radicais muçulmanos mulheres. E ainda estou no Brasil, "aqui não tem essas coisas". Enfim, pensei em muitas hipóteses qdo finalmente chega a estação sé. Ela e seu amigo descem do trem. Não tinha uma câmera nas mãos, mas mesmo que tivesse não poderia sair assim, fotografando a cena, que era bem curiosa. Adormeci e acordei na estação conceição, estação destinada. Ao descer sonolento do trem, notificando-me se estava mesmo na estação certa, qdo subindo as escadas, alguém me toca, me chamando. Como sabemos, o pensamento vem à velocidade da luz, me veio a mente a figura trajada, uma muçulmana, a olhar para mim durante meia viagem de metrô. Olho para traz e então vejo minha prima, Silvia Maria, com um lindo sorriso, parecendo me acordar de um sonho. Fatos que quebraram cenas normais de um dia qualquer.

Onze de setembro desse fatídico episódio de horror real. Na época colaborava como fotógrafo para uma revista de organização de medicina. Nesse dia não tinha nada pra fazer, nenhuma pauta marcada, nada. Dormia tranquilamente. Meu pai me acorda abruptamente dizendo que estava começando a terceira guerra mundial. Levanto sonolento, a caminho da televisão e logo vejo o horror, do qual nunca vou me esquecer. Senti um calafrio imediatamente, uma sensação estranha. Dia de febre e horror para o ocidente.
Hoje começamos o dia com a notícia do atentado na embaixada norte americana na Líbia, matando o embaixador Christopher Stevens e mais tres pessoas em decorrência de um filme, provavelmente de baixo nível, difamando o islamismo. Pode ser só um pretexto. No Egito também houve atentados contra embaixada norte americana. O mundo está cheirando pólvora. Hoje, 12 de setembro.