terça-feira, 31 de agosto de 2010

Verdades e mentiras sobre o estádio do Corinthians em Itaquera

A questão do estádio do Corinthians, em Itaquera, gerou um debate de certo modo acalorado no post abaixo [que, aliás, não tinha nada a ver com o estádio, e sim com a rodada do Brasileirão]. Por isso vai aqui uma nota.Para Paulo M, se concretizado, o projeto vai “ajudar a estruturar melhor uma região marginalizada da cidade, que é a zona Leste”. Mas diz ser desagradável “ver gente do tipo Kassab fazendo parceria com o Andres Sanchez pra viabilizar o projeto e se promover”... “A prefeitura de SP está fazendo tudo pra impugnar as obras de reforma do Palestra Itália.”

Estátio em Itaquera (projeto)/Reprodução
Já Felipe Cabañas afirma não se incomodar com o fato do Corinthians “ter tido ajuda política para viabilizar a construção de seu estádio”, lembrando que “o São Paulo também teve, inclusive dinheiro público, o que, até agora, não parece ser o caso no estádio do Corinthians”. Para ele, “o maior auxílio [político] no caso do Corinthians partiu do corintiano mais ilustre, Lula (...) Por que não? Não tem nada escuso aí.”
E diz que “não é a prefeitura que está querendo impugnar as obras [do Palestra Itália], mas a Associação de Moradores de Perdizes e Barra Funda que entrou no Ministério Público alegando que não há estudo de impacto” para tal obra.

Não sei se é a associação de moradores, a prefeitura ou, politicamente, ambos se juntando para atrapalhar as obras do Palestra. O prefeito paulistano, aliás, disse ontem que vai apoiar o Palestra. O que sei, como alguém que morou por mais de 20 anos na região, é que parece quase absurdo se fazer uma obra dessa magnitude naquela confluência entre avenida Sumaré, a rua Turiassu estreita e sufocada pela inauguração de mais um shopping, o Bourbon, e a avenida Pompéia.

A região está quase saturada pela especulação imobiliária que verticalizou o bairro sem que a prefeitura de “dr. Kassab” ou seu antecessor José Serra (sim, ele foi prefeito, lembram?) jamais tenham se preocupado com nada que não fossem os mega interesses ($). É verdade que a cidade tem três estádios históricos, que pedem só reforma, como diz Paulo M no comentário acima citado, e que “de repente, quase do nada (...) aparece assim um quarto como única opção!”

Particularmente, acho que:

1) seria absurdo fazer uma reforma monstro no Pacaembu e seu entorno para abrigar a Copa do Mundo. Aquela região toda é tombada. Um dos poucos locais ainda preservados e aprazíveis da cidade seria destruído. Só se precisa saber o que se vai fazer com o estádio do Pacaembu, que é da população. Se não, uma hora dessas aparece um tucano e privatiza.

2) O projeto da arena do Palmeiras (ao lado) é cercada mesmo por muitos entraves, urbanísticos, burocráticos e até políticos. Se o projeto está sendo boicotado ou não, não tenho condições de dizer. Mas os planos de intervenções na região próxima ao Palestra vão continuar (veja aqui). Nesse contexto, a arena palmeirense teria mais espaço. Mas, a tempo da Copa do Mundo? O presidente do Palmeiras, Luiz Gonzaga Belluzzo, ao oferecer o Palestra, disse que não era para abrir a Copa, mas sediar outros jogos que não o da abertura. A verdade é uma só: não interessa à FIFA e aos investidores aproveitar o que já existe.

3) O Morumbi seria a solução mais óbvia, mas estava rifado desde o início pela FIFA. Por questões políticas, pela velha rixa São Paulo F.C. x Ricardo Teixeira e altos interesses financeiros. A FIFA quer porque quer um estádio novo, e ponto. Interesses, minha gente, interesses econômicos gigantescos. Reportagem da revista CartaCapital mostrou isso, semanas atrás (leia aqui: “A ganância vitima o Morumbi”).

4) Finalmente, o campo do Corinthians. Tecnicamente (urbanisticamente) parece ser a melhor solução. Do ponto de vista dos corintianos, se for viabilizado mesmo, finalmente o clube vai ter onde mandar seus jogos. Eu acho justo que o time de maior torcida do estado tenha seu campo e me parece apropriado que uma Copa do Mundo seja um catalisador desse processo. O clube aproveitou o imbróglio e se lançou. Está em seu direito. Diz que não vai haver dinheiro público. Mas nem tudo são flores: o projeto está orçado em R$ 300 milhões, para 48 mil lugares, que seriam bancados pela Odebrecht. Mas não poderia abrir a Copa com esse tamanho. No mínimo, teria que ter 65 mil, mas aí os custos subiriam para R$ 470 milhões. Quem paga a diferença?

Dogma
Aqui, uma observação: virou moda o discurso, quase um dogma, segundo o qual dinheiro público não pode ser usado nessas obras. É o que dizem os porta-vozes da moralidade. Meio hipócrita, isso.

Primeiro, porque, de uma maneira ou outra, por meio de isenções fiscais, contrapartidas ou parcerias, o dinheiro público sempre estará em projetos muito grandes e/ou importantes. Dizer o contrário é faltar com a verdade. O Estado existe também para investir. Ou acham que é só para vender patrimônio? Dizer que esse dinheiro deveria ir para hospitais, escolas etc é sofisma. Em segundo lugar, o dinheiro pago pelo contribuinte nos pedágios paulistas, por exemplo, não é dinheiro público? Por que os defensores da moralidade não falam disso? A Polícia Militar não está em todos os jogos de futebol? E a PM é paga com que dinheiro?

A questão é saber usar o investimento, capitalizar, tornar útil socialmente (como Luiza Erundina tentou fazer com o autódromo de Interlagos e foi impedida pelos direitistas da Câmara). Crime não é o estado investir – se houver transparência –, é deixar apodrecendo o que foi investido, como acontece com algumas obras dos Jogos Pan-Americanos. Quando Kassab e o atual governador, Alberto Goldman, garantiram que não ia haver dinheiro público nas obras, receberam aplausos da mídia. Logo quem.

Repercussão: O jornal britânico Financial Times critica o projeto do estádio corintiano aprovado de surpresa e diz que ele não vai ficar pronto no prazo estipulado pela FIFA. Leia aqui.

8 comentários:

alexandre disse...

Pão e circo é fundamental.

João disse...

tudo a ver essa sacada do $$$$$$ público do post. a imprensa só quer saber de zicar tudo. nunca tem nada de bom pra eles. e tem outra coisa boa: os curintiano vão tudo pra zona leste ver jogo. itaquera tá bom, bem longe kkkkkkk. já vo preparar uma bandeira pra estrear na arena do parmera. se vai servir pra copa, tanto faz. o que interessa é o parmera!!!!!!!!

Felipe Cabañas da Silva disse...

Uma análise lúcida sobre a questão do dinheiro público.
Sobre o Corinthians: que fique claro que o estádio corintiano será construído. Se ele será ou não usado para a Copa é outra história. Esse lance da Copa atropelou o mais importante, que o Corinthians vai finalmente construir o estádio. E faço minhas as palavras do parmerense acima... Se vai servir pra copa tanto faz, o que importa é o Corinthians!!!

Particularmente, como corintiano, eu acharia melhor nem ter copa no estádio. Evidentemente, com a copa as obras vão demorar mais, e o corinthians precisa de uma casa pra ontem. Não dá mais pra fazer festa no estádio do tricoflor... saturou...

Sobre o Palestra. Existe uma Operação Urbana em curso, chamada Operação Urbana Água Branca, que pretende trazer mais 60.000 moradores à região (adensamento urbano), alargar avenidas e construir áreas verdes (1/4 do playcenter (salvo engano) será expropriado). O objetivo é constituir uma região de contraponto à Berrini (isso é o que li no projeto e fiquei sem entender). Também terá a linha laranja do metrô que passará por aqui... Brasilândia-Água Branca. Enfim, a região passará por muitas transformações. Na realidade não sei dizer, porque não vi direito o projeto do Parmera, se caberia, urbanisticamente. Só uma coisa é fato: um bairro de classe média a alta, uma faixa da população que tradicionalmente consegue se fazer ouvir mais e impor suas vontades.
Naquela região das indústrias matarazzo está pra sair prédios de moradia de alto padrão. Já pensou, ter que aguentar "olê, porco!" semana sim, semana não??? Eu passo... he he

Paulo M disse...

Hoje estou na paz. Parabéns aos corintianos pelo aniversário, encomendaram um bolo aqui na revisão da editora hoje, está muito bom, he he. Vai um pedacinho aí, Felipe?

Anônimo disse...

Enquanto em São Paulo existe briga para ver quem vai levar um din din na Copa. A Bahia trabalha direito para ter a abertura da Copa. E Olhe que nem precisa de máfia, vejamos: O Ministro dos Esportes é baiano,uma das empreiteiras que irá construir tanto a Fonte Nova quanto o estádio do Corínthians é baiana, O Governador da Bahia é aliado do Presidente, Salvador é a primeira capital do Brasil e nunca recebeu investimento digno da importância histórica e antropológica para o país. É ao lado do Rio responsável pela maior festa de rua do planeta. É uma cidade com inúmeras deficiências como todas as outras, mas é porta de entrada para complexos hoteleiros de alto luxo. A Salvador, empresários, políticos e artistas baianos interessa muito mais economicamente a abertura da Copa do que a São Paulo que de qualquer forma tem turismo de negócios. Enfim Salvador tem projeto técnico estruturado previamente, apoio da população, apoio do Norte e Nordeste...

Eduardo Maretti disse...

Prezado Anônimo, eu adoro a Bahia, São Salvador, a orla, a Barra, a brisa, os baianos... vi poucas coisas tão lindas quanto a Baía de Todos os Santos. Acredito que a Copa do Mundo no Brasil deve dar certo. Acho que não podemos competir entre nós. Sou paulista, mas minha avó materna era baiana. Tem espaço pra todos nós. Não importa quem vai abrir a Copa. Importa que façamos uma Copa do Mundo bonita. E que Neymar, a joia do Santos, entre outros, brilhe.

Abraços

Creisu disse...

Edu, este foi um dos melhores posts que li. demorei em comentar, até pq achei que lá vinha mais ladainha. Ainda ontem falava com amigos que o uso de dinheiro público neste projeto do estádio não seria algo absurdo. De fato 160 milhão, que foi mais ou menos o que o Lalau embolsou só pra ele podem garantir que a abertura da Copa fique em Sampa, o que é um interesse do município e do estado, já que haverá mais visibilidade para a cidade e mais turistas gastando na área.
Isso pra mim é mato, a real é que este investimento vai ajudar a revitalizar uma puta área da ZL e com toda certeza vai atrair mais e mais investimentos para as cercanias, como comércio e serviços, ajudando ainda mais no desenvolvimento daquela que é a região mais populosa e mais carente da capital.
Abraço e valeu!

Ps: vc e o baiano anônimo estão certos.

Eduardo Maretti disse...

Legal, Creisu. Também acho isso, só que temos de tomar cuidado com esse conceito de desenvolvimento... Olhe Perdizes, Pompeia, por exemplo... Daqui a pouco vão construir prédios em cima de prédios...

Mas valeu, apareça sempre por aqui!