sábado, 21 de agosto de 2010

Lula: “Estamos começando hoje, aqui em Osasco”

Numa arena, ou gaiola, em que os jornalistas ficam nos comícios, lá estávamos, no bairro do Rochdale, em Osasco, mais uma vez (como em 28 de setembro de 2008, nas eleições municipais) para cobrir a visita do presidente metalúrgico à cidade. Repórteres de jornais regionais, como o Visão Oeste, e da chamada “grande imprensa”, Folha, Globo, Estadão, Band, RedeTV etc se misturam ali. Uma fauna diversificada.

Antes do comício, às vezes, do alto, na gaiola dos jornalistas em que está, você vê uma pessoa do povo que suplica, quase, para que você a ponha lá em cima, ela quer chegar perto do presidente. Duas mulheres bastante humildes estendem uma faixa com os dizeres: “Meu sonho é tirar uma foto com Lula”. Uma delas me pede para chamar uma repórter que está com uma filmadora. Ela quer que a menina filme a faixa, que a levemos para perto do presidente para realizar seu sonho. Dizemos a ela que é impossível. Impossível. Outras pessoas querem o mesmo, entrar ali. Mal sabem que estamos numa gaiola e que não vamos também chegar perto de Lula.

Quando Lula fala, é uma hipnose coletiva. Fala do Corinthians. Gritos, aplausos e algumas poucas vaias. Diz que o Corinthians perdeu a Libertadores porque menosprezou o primeiro jogo, achando que resolveria no segundo e dançou. Isso para dizer que a campanha não está ganha para Dilma Rousseff, e nem a de Mercadante perdida. No caso de São Paulo, está apenas no início, frisou enfaticamente. "Estamos começando hoje, aqui em Osasco".


Diz que eleição se disputa com o coração, e não só com a cabeça, que os prefeitos e a militância têm que ir pras ruas, para a porta dos trens, para a porta dos ônibus. Lula conclamando a militância é impressionante. “Eleger este companheiro aqui [dirigindo-se a Mercadante] é um desafio que está colocado.” (Lula apavora seus adversários porque até eles sabem que nada podem contra ele.)

E sobre os pedágios em São Paulo: “quem quiser ir agora na festa do peão de boaideiro em Barretos, vai pagar sessenta e cinco reais. Isso não é pedágio, isso é roubo”. Um jornalista não sei de que veículo passa por mim e diz, como para si mesmo, mas alto: “esse é o cara!”

O presidente fala da arrogância do tucanato que governa o estado de São Paulo desde 1982, ainda sob as vestes do PMDB: “um ministro meu, pra marcar audiência com o governador que agora é adversário da Dilma, às vezes passava seis meses e não conseguia uma audiência, porque eles não queriam conversar. A falta de humildade deles... não reconhecem sequer o dinheiro que nós repassamos pro estado de SP”.

Lula diz que o presidente ridicularizado porque não sabia falar inglês e espanhol, e “portanto não ia ser respeitado lá fora, vai passar para a história como o presidente da República mais respeitado no exterior que esse país já teve”. O que é verdade. Quando foi chamado de analfabeto por Caetano, demonstrou claramente ter ficado chateado. Mas Lula sabe de sua grandeza e por isso não precisa de falsa modéstia.

“Eu lembro da eleição de 89, quando a elite que concorria contra nós dizia: ‘a dona Marisa vai ter muito trabalho pra lavar todos os vidros do Palácio da Alvorada’. Desprezando as pessoas pobres porque eles achavam que nós nascemos apenas para servi-los e não para ser servidos por eles”.

Quando assumiu, prometeu que criaria 10 milhões de empregos. Criou 14 milhões. Aumentou o salário mínimo em 74%. 700 mil jovens de baixa renda puderam entrar na faculdade pelo ProUni. (Em sua fala, Dilma lembra que o DEM, partido do vice de Serra, Indio da Costa, tem uma ação para tentar acabar com o ProUni no STF.) Nos 8 anos de Lula, 30 milhões de pessoas ascenderam à classe média. Os números são indefensáveis, por isso a campanha do PSDB está perdida, sem rumo e sem proposta.

Dilma se saiu bem, considerando que é uma neófita em palanques perto de cobras-criadas como Marta Suplicy e Mercadante. Discursou com segurança. “Nós mudamos o país porque não olhamos só números e cifrões, olhamos as pessoas. Atrás dos prédios existem pessoas”, disse a provável futura presidente do Brasil diante de Lula, esse líder que emociona seu povo e a todos os que acreditaram que o Brasil podia mudar.

3 comentários:

Felipe Cabañas da Silva disse...

Uma coisa curiosa que está acontecendo eleitoralmente. Com a divulgação do Datafolha de hoje, vemos que Dilma ultrapassou Serra em todas as regiões. No Sudeste, uma das regiões mais tucanas, é uma lavada, 42% a 33%. A Folha não publicou a estimativa por estado. No entanto, o maior colégio eleitoral do sudeste é São Paulo, e, desta forma, muito provável que a Dilma esteja ganhando por aqui também, mesmo que por uma margem pequena. Por que esses votos não estão sendo transferidos para o Mercadante? Se o PT conseguir a transferência, pode conseguir um segundo turno em São Paulo. Mas é provável que haja um voto "dilmalckmin" expressivo por aqui. E aí o PT vai beber do próprio veneno. São Paulo continuará fazendo falta ao poder do PT, e o que se desenha é que Alckmin vai se entrincheirar por aqui, tentar reunir os cacos da oposição para enfrentar Dilma/Lula em 2014.

Victor disse...

Eduardo copiei a maior parte do seu post no meu blog.
Pois é, o primeiro turno está desenhado, isto porque as outras pesquisas ainda não saíram, mas a vantagem deverá ser maior.
Tb acho que o desafio é o Mercadante, mas com Russomano, Skaf e Mercadante atirando em Alckmin alguma coisa deve acontecer.

Felipe Cabañas da Silva disse...

Só uma correção ao meu comentário. O Serra ainda está vencendo no Sul. Dentro da margem de erro, entretanto: 40% a 38%; ou seja, empate técnico.