Que meiguice. A entrevista com o ex-governador tucano de São Paulo no Jornal Nacional foi uma aula de cordialidade.
A “entrevista” começou com William Bonner. Questionou o porquê de o candidato evitar críticas ao presidente Lula. Claro que Serra não disse “porque eu não sou trouxa”. Disse, em resumo, que Lula não é candidato. “Não há presidente que possa governar na garupa, ouvindo terceiros ou sendo monitorado por terceiros”, pontificou, tentando reforçar a imagem que ele mesmo tenta desesperadamente plantar em Dilma Rousseff. Quando Serra terminou a resposta, Bonner disse: “entendo”, o que me fez lembrar aquela voz masculina com que uma operadora de telefonia/TV a cabo atende os consumidores. Bonner retoma, quase como um assessor: “O senhor avalia o risco que corre de essa sua postura (de evitar críticas a Lula) ser interpretada como receio de enfrentar a popularidade do presidente Lula? “Não – responde Serra –, as pessoas estão preocupadas com o futuro, quem tem mais condições de tocar o Brasil pra frente”. Cita a saúde. Se fosse uma entrevista de verdade, o que qualquer um perguntaria? Perguntaria: “não seria pelo fato de a população estar pensando no futuro que Dilma está à frente nas pesquisas?”
Aos 02min15 dos 12min previstos, Fátima Bernardes entra perguntando, com uma delicadeza exemplar, por que o candidato evita comparar “o governo atual com o governo anterior”. Passagem notável. Tão temerosa estava ela de desagradar o temível candidato à sua frente citando “governo Fernando Henrique”, que o próprio Serra o mencionou, dizendo que FHC, elogiado por Antonio Palocci, fez muitas contribuições ao Brasil, “entre elas o plano Real”.
Ao contrário da entrevista com Dilma, quando foi agressiva e mal educada (leia e veja aqui), Fátima Bernardes ridícula e timidamente tentava dizer alguma coisa:
“Mas...”
E Serra: “Um momento, Fátima, desculpe”, e continuava.
E outra vez, ela: “Mas...”
E o ex-governador falando. Até que Fátima conseguiu, com uma postura de aluninha dedicada: “Mas, por exemplo, avaliar fracassos e sucessos não ajuda o eleitor na hora de ele decidir pelo voto dele?” E o professor Serra responde, solícito: “Por isso, e é isso que eu tô fazendo”... E aí fala de suas “obras” (genéricos, a campanha contra a Aids. O de sempre).
Bonner pede licença, educadamente, para falar de alianças políticas. “O PT se aliou a desafetos históricos. O seu partido, o PSDB, está ao lado do PTB, partido envolvido no escândalo do mensalão petista... O PSDB errou lá atrás quando condenou o PTB, ou está errando agora quando se alia a esse partido?” Observem: nenhuma menção ao DEM de José Roberto Arruda, que era o preferido de Serra para ser seu vice.
Fátima entra de novo, meiga, para falar da demora na escolha do vice de Serra, atribuída ao “perfil centralizador” do tucano. Que beleza, diria um narrador esportivo. Entre sorrisos, o candidato responde: “Fátima, eu não sou centralizador”. Uma simpatia. Diz que Índio da Costa é jovem e tem ficha limpa, é sua bandeira no Congresso.
Bonner volta para falar do governo de SP. Quase pedindo desculpas: “Seu partido está no poder em SP há 16 anos, então é razoável (vejam bem, razoável, diz Bonner)” avaliar algumas ações dos governos tucanos. Para falar do problema dos pedágios caríssimos nas estradas paulistas, o apresentador, antes, menciona as estradas federais (assunto que Serra adora, para fugir do assunto pedágios paulistas), levantando a bola para o “entrevistado” (sinceramente, fiquei até com saudade do Heródoto Barbeiro). “Não é o assunto concessão que está na ordem do dia”, diz Serra, citando números para mostrar que o governo federal administra mal o setor.
Aí, Fátima, docemente, interrompe para pedir ao ex-governador que faça suas considerações finais. “Já passou?”, pergunta Serra, simpático que só ele. Fala de sua origem modesta, de seus pais, que “nunca sonharam que um dia eu estaria aqui no JN falando como candidato à presidência da República”... A ladainha de sempre.
Uma farsa. Mesmo assim, Serra se perdeu no fim. Estourou o tempo. “O senhor me obriga a interrompê-lo. Me perdoe, me perdoe”, repete um absurdamente doce William Bonner. “É em respeito aos demais candidatos que estiveram aqui. Eu sei que o senhor vai compreender”, explica.
Convenhamos, não seria justo que o ex-governador ligasse para o manda-chuva da Globo para pedir a cabeça de Bonner, pois, se ele fez alguma coisa errada, foi sem intenção.
4 comentários:
Olha só o que saiu no IG, que faz parte da rede PIG:
Uma das principais estrelas da entrevista de José Serra ao Jornal Nacional, o ex-deputado Roberto Jefferson (PTB) acabou de tuitar:
- William Bonner e Fátima Bernardes facilitaram para o meu candidato. Foram mais amenos com ele.
Depois ficam falando por aí que Fernando Henrique Cardoso é quem entende de Maquiavel.
Precisa falar mais alguma coias?
O Josias de Souza falou a mesma coisa na Folha.
Para mim, além da tendenciosidade política, também fica clara a covardia. O "casal JN" sabe que o Serra tem pavio curto e sai pelo mundo pedindo a cabeça de jornalistas.
O debate na Band voltou a dar baixos índices de audiência 2,3%. O Mercadante e mais 3 bateram bastante no demo tucanato paulista. Merca mandou bem.
Envergonhados por terem tido que apoiar a farsa da 'bolinha' do Serra,
Bonner e Fátima nem foram trabalhar ontem. É compreensível.
Postar um comentário