terça-feira, 14 de agosto de 2012

Nas manchetes, Jefferson volta à ribalta


Wilson Dias/ABr
Em 2005, então deputado põe gelo no olho

A Folha de S. Paulo e o Estadão, como se esperava, saem hoje com manchetes destacando a versão do íntegro, ético e confiável ex-deputado e presidente do PTB, Roberto Jefferson, repercutindo a fala de seu advogado, Luiz Francisco Corrêa Barbosa, no julgamento do “mensalão” no STF.

Manchetes:

O Estado de S. Paulo: “Advogado de Jefferson diz que Lula ordenou mensalão”.

Folha de S. Paulo: “Lula ordenou esquema, diz defesa de Jefferson”.

Já a manchete de O Globo é mais equilibrada e relativiza o destaque (e, por tabela, a própria credibilidade) dado a Jefferson pelos diários paulistas: “Para enfraquecer procurador, Jefferson agora acusa Lula”.

Sempre acho digno de destaque o que os jornais manchetam. Num país em que a leitura de jornais tem índices risíveis, a manchete serve como uma espécie de “verdade” por atacado, e a repetição dessas “verdades” visa enraizá-las na mente das pessoas, no inconsciente coletivo. Fica lá na banca em todos os lugares (“O sol nas bancas de revista/me enchem de alegria e preguiça/Quem lê tanta notícia?” – Caetano, "Alegria, Alegria"), vai para clippings, é repercutida em telejornais etc. Enquanto as manchetes fazem o serviço principal, as ressalvas e outras versões ficam relegadas a espaços secundários e notas internas.

Mas qual a credibilidade de um homem com a “folha corrida” de Roberto Jefferson? Senão, lembremos (uso a Wikipedia como fonte para ficar no neutro, afinal ninguém pode dizer que a Wikipedia é de esquerda...):

Jefferson passou a ser conhecido nacionalmente durante o processo de impeachment do então presidente Fernando Collor, em que atuou como militante da ‘tropa de choque’ de deputados que tentavam defender o então presidente.”

Em 1993, seu nome foi citado entre os envolvidos no esquema de propina na CPI do Orçamento.”

Em 2005, a revista Veja divulgou o suposto envolvimento de Roberto Jefferson num escândalo de corrupção nos Correios, na qual houve fraude a licitações e desvio de dinheiro público. Com a iminência da instauração de uma CPI no Congresso Nacional, Roberto Jefferson denunciou a prática da compra de deputados federais da base aliada ao governo federal (PL, PP, PMDB) pelo partido oficial: o PT. A prática ficou conhecida como o ‘mensalão’.”

No dia 14 de setembro de 2005, o mandato de Jefferson foi cassado, perdendo seus direitos políticos por oito anos.”

Sete anos depois de cassado, eis que Jefferson retorna à ribalta e tem, talvez, seu último momento de estrelato. E a versão desse homem é a fonte das manchetes dos dois maiores jornais de São Paulo...

Mas, por outro lado, a mesma Folha, em suas páginas internas, informa: “Julgamento do mensalão não afeta avaliação do governo, diz Datafolha” (que pena, hein, Folha?). A matéria revela que “62% classificam administração Dilma como boa ou ótima, índice só 2 pontos abaixo do recorde”. Na pesquisa, diz o jornal, o “Datafolha também pediu para cada entrevistado atribuir uma nota de 0 a 10 ao desempenho da administração Dilma Rousseff. A nota média foi 7,4. Em abril, a nota foi só um pouco melhor: 7,5”.

Resta esperar como Jefferson vai aparecer na próxima edição da Veja, que, com certeza, não vai nos brindar com a verdade e a autocrítica, falando das ligações do jornalista Policarpo Jr., diretor de redação da revista em Brasília, com o presidiário Carlinhos Cachoeira.

Por falar nisso, a Rede Brasil Atual informa que a CPMI do Cachoeira está analisando a convocação de Gurgel, Policarpo, Civita e governadores. Leia aqui .

5 comentários:

Felipe Cabañas da Silva disse...

Pois é. Mas acho de Roberto Jefferson não se esperava outra coisa. Eu peguei o jornal hoje de manhã, porque ontem nem liguei a televisão, e de início pensei: "como é burro esse Jefferson! Está desesperado, vai e ataca o ex-presidente (com quem, mesmo que fosse culpado, ninguém quer mexer) e o procurador geral. Os togados do supremo vão ficar contra ele!".

Depois, como a minoria da população brasileira, abri o jornal e li a cobertura na íntegra. A análise do Marcelo Coelho, especialmente, é muito lúcida. Jefferson está usando o caráter político do julgamento. Joga, no frigir dos ovos, uma bomba para as manchetes, e para martelar o juízo dos magistrados, alguns deles indicados pelo próprio Lula ou com histórico de vida ligado ao PT (Toffoli). Ninguém mais quer cocô no ventilador do mensalão. Se tiver mais a sair da "boca enorme" de Jefferson, o que compra o seu silêncio? Uma absolvição, é óbvio. Jefferson e seu advogado estão desafiando: alguém quer pagar pra ver?. Não? Então, é melhor pegar leve com esse cara! É uma tática desesperada, mas com um certo grau de brilhantismo. Porém, da mesma forma que quando a "boca grande" de Jefferson se abriu pela primeira vez, naquele longínquo 2005, e como costuma acontecer de fato na "novela da vida real", o cocô sempre acaba respingando na testa de quem fala demais...

Eduardo Maretti disse...

Então, mas cabe comentar:

1) "Jefferson joga ... uma bomba para as manchetes." Absurdo que uma imprensa dita séria dê manchete a um elemento como esse. Ele desesperadamente tenta se defender jogando m*** no ventilador e a imprensa pega essa m*** e faz dela manchete.

Surge então (sempre qdo interessa à mídia) um circulo vicioso: denúncias ou factóides sem prova geram manchetes (o ônus da prova cabe ao acusado...), que se alimentam umas às outras em mais manchetes e assim por diante. Na Argentina, a Ley de Medios se fez realidade. Aqui, isso é um sonho e nossa mídia vai continuar a agir inescrupulosamente, com chantagens, mentiras e denuncismo barato.

Interessante este texto de Leandro Fortes: http://www.observatoriodaimprensa.com.br/news/view/_ed707_o_triste_fim_de_policarpo

2) "Nossos" jornais insistem em insinuar ou dizer diretamente que tal ou tal ministro foi nomeado por Lula, querendo com isso colocar a isenção do julgamento em dúvida.

Ora, ministro do STF é um cargo constitucionalmente político. A nomeação de ministro do STF é uma prerrogativa do presidente. Quando um cargo vaga, há uma nomeação. E ponto. É a Constituição quem assim determina.

Felipe Cabañas da Silva disse...

Edu, eu não critiquei a nomeação política ao STF. Acho até passível de crítica, mas não o fiz acima. Só que é claro que este sistema, ainda que completamente constitucional e bem aceito na maior parte das democracias modernas, dá margem a embustes como as dessa figura lamentável chamada Roberto Jefferson.

Não sou dos que acreditam que o julgamento é inteiramente político e assentado sobre uma campanha difamatória da mídia, como parecem querer muitos petistas. Não adianta espernearmos. Na maior parte das democracias a propalada "liberdade de imprensa" dá margem a táticas ardilosas e sub-reptícias. Mais do que o papel político do jornalismo, identifica-se o papel político da linguagem. E a linguagem desde sempre serve aos mais diversos interlocutores e propósitos. Cabe, mais do que ficarmos melindrados, denunciarmos as táticas baixas que vêm de veículos como a Veja...

Mas também não sou dos que acreditam que o julgamento vai ser inteiramente técnico e livre de politização. Raposas como Roberto Jefferson tentarão usar as intrigas políticas e a tendenciosidade da mídia a seu favor. Cabe aos críticos denunciar, como você bem fez no tópico.

Eduardo Maretti disse...

Felipe, eu não disse que você criticou a nomeação política. Só acrescentei a observação, afinal a mídia joga com esse fato (ministros nomeados por Lula) para sugerir suspeição nas entrelinhas, sabendo que muitas pessoas não sabem de onde (raios!) vem um ministro do Supremo...

Alexandre disse...

Militontos, enterrem o Dirceu... já está fedendo!