Wilson Dias/ABr
Em 2005, então deputado põe gelo no olho |
A Folha de S. Paulo e o Estadão, como se esperava, saem hoje com manchetes destacando a versão do íntegro, ético e confiável ex-deputado e presidente do PTB, Roberto Jefferson, repercutindo a fala de seu advogado, Luiz Francisco Corrêa Barbosa, no julgamento do “mensalão” no STF.
Manchetes:
O Estado de S. Paulo: “Advogado de Jefferson diz que Lula ordenou mensalão”.
Folha de S. Paulo: “Lula ordenou esquema, diz defesa de Jefferson”.
Já a manchete de O Globo é mais equilibrada e relativiza o destaque (e, por tabela, a própria credibilidade) dado a Jefferson pelos diários paulistas: “Para enfraquecer procurador, Jefferson agora acusa Lula”.
Sempre acho digno de destaque o que os jornais manchetam. Num país em que a leitura de jornais tem índices risíveis, a manchete serve como uma espécie de “verdade” por atacado, e a repetição dessas “verdades” visa enraizá-las na mente das pessoas, no inconsciente coletivo. Fica lá na banca em todos os lugares (“O sol nas bancas de revista/me enchem de alegria e preguiça/Quem lê tanta notícia?” – Caetano, "Alegria, Alegria"), vai para clippings, é repercutida em telejornais etc. Enquanto as manchetes fazem o serviço principal, as ressalvas e outras versões ficam relegadas a espaços secundários e notas internas.
Mas qual a credibilidade de um homem com a “folha corrida” de Roberto Jefferson? Senão, lembremos (uso a Wikipedia como fonte para ficar no neutro, afinal ninguém pode dizer que a Wikipedia é de esquerda...):
“Jefferson passou a ser conhecido nacionalmente durante o processo de impeachment do então presidente Fernando Collor, em que atuou como militante da ‘tropa de choque’ de deputados que tentavam defender o então presidente.”
“Em 1993, seu nome foi citado entre os envolvidos no esquema de propina na CPI do Orçamento.”
“Em 2005, a revista Veja divulgou o suposto envolvimento de Roberto Jefferson num escândalo de corrupção nos Correios, na qual houve fraude a licitações e desvio de dinheiro público. Com a iminência da instauração de uma CPI no Congresso Nacional, Roberto Jefferson denunciou a prática da compra de deputados federais da base aliada ao governo federal (PL, PP, PMDB) pelo partido oficial: o PT. A prática ficou conhecida como o ‘mensalão’.”
“No dia 14 de setembro de 2005, o mandato de Jefferson foi cassado, perdendo seus direitos políticos por oito anos.”
Sete anos depois de cassado, eis que Jefferson retorna à ribalta e tem, talvez, seu último momento de estrelato. E a versão desse homem é a fonte das manchetes dos dois maiores jornais de São Paulo...
Mas, por outro lado, a mesma Folha, em suas páginas internas, informa: “Julgamento do mensalão não afeta avaliação do governo, diz Datafolha” (que pena, hein, Folha?). A matéria revela que “62% classificam administração Dilma como boa ou ótima, índice só 2 pontos abaixo do recorde”. Na pesquisa, diz o jornal, o “Datafolha também pediu para cada entrevistado atribuir uma nota de 0 a 10 ao desempenho da administração Dilma Rousseff. A nota média foi 7,4. Em abril, a nota foi só um pouco melhor: 7,5”.
Resta esperar como Jefferson vai aparecer na próxima edição da Veja, que, com certeza, não vai nos brindar com a verdade e a autocrítica, falando das ligações do jornalista Policarpo Jr., diretor de redação da revista em Brasília, com o presidiário Carlinhos Cachoeira.
Por falar nisso, a Rede Brasil Atual informa que a CPMI do Cachoeira está analisando a convocação de Gurgel, Policarpo, Civita e governadores. Leia aqui .
5 comentários:
Pois é. Mas acho de Roberto Jefferson não se esperava outra coisa. Eu peguei o jornal hoje de manhã, porque ontem nem liguei a televisão, e de início pensei: "como é burro esse Jefferson! Está desesperado, vai e ataca o ex-presidente (com quem, mesmo que fosse culpado, ninguém quer mexer) e o procurador geral. Os togados do supremo vão ficar contra ele!".
Depois, como a minoria da população brasileira, abri o jornal e li a cobertura na íntegra. A análise do Marcelo Coelho, especialmente, é muito lúcida. Jefferson está usando o caráter político do julgamento. Joga, no frigir dos ovos, uma bomba para as manchetes, e para martelar o juízo dos magistrados, alguns deles indicados pelo próprio Lula ou com histórico de vida ligado ao PT (Toffoli). Ninguém mais quer cocô no ventilador do mensalão. Se tiver mais a sair da "boca enorme" de Jefferson, o que compra o seu silêncio? Uma absolvição, é óbvio. Jefferson e seu advogado estão desafiando: alguém quer pagar pra ver?. Não? Então, é melhor pegar leve com esse cara! É uma tática desesperada, mas com um certo grau de brilhantismo. Porém, da mesma forma que quando a "boca grande" de Jefferson se abriu pela primeira vez, naquele longínquo 2005, e como costuma acontecer de fato na "novela da vida real", o cocô sempre acaba respingando na testa de quem fala demais...
Então, mas cabe comentar:
1) "Jefferson joga ... uma bomba para as manchetes." Absurdo que uma imprensa dita séria dê manchete a um elemento como esse. Ele desesperadamente tenta se defender jogando m*** no ventilador e a imprensa pega essa m*** e faz dela manchete.
Surge então (sempre qdo interessa à mídia) um circulo vicioso: denúncias ou factóides sem prova geram manchetes (o ônus da prova cabe ao acusado...), que se alimentam umas às outras em mais manchetes e assim por diante. Na Argentina, a Ley de Medios se fez realidade. Aqui, isso é um sonho e nossa mídia vai continuar a agir inescrupulosamente, com chantagens, mentiras e denuncismo barato.
Interessante este texto de Leandro Fortes: http://www.observatoriodaimprensa.com.br/news/view/_ed707_o_triste_fim_de_policarpo
2) "Nossos" jornais insistem em insinuar ou dizer diretamente que tal ou tal ministro foi nomeado por Lula, querendo com isso colocar a isenção do julgamento em dúvida.
Ora, ministro do STF é um cargo constitucionalmente político. A nomeação de ministro do STF é uma prerrogativa do presidente. Quando um cargo vaga, há uma nomeação. E ponto. É a Constituição quem assim determina.
Edu, eu não critiquei a nomeação política ao STF. Acho até passível de crítica, mas não o fiz acima. Só que é claro que este sistema, ainda que completamente constitucional e bem aceito na maior parte das democracias modernas, dá margem a embustes como as dessa figura lamentável chamada Roberto Jefferson.
Não sou dos que acreditam que o julgamento é inteiramente político e assentado sobre uma campanha difamatória da mídia, como parecem querer muitos petistas. Não adianta espernearmos. Na maior parte das democracias a propalada "liberdade de imprensa" dá margem a táticas ardilosas e sub-reptícias. Mais do que o papel político do jornalismo, identifica-se o papel político da linguagem. E a linguagem desde sempre serve aos mais diversos interlocutores e propósitos. Cabe, mais do que ficarmos melindrados, denunciarmos as táticas baixas que vêm de veículos como a Veja...
Mas também não sou dos que acreditam que o julgamento vai ser inteiramente técnico e livre de politização. Raposas como Roberto Jefferson tentarão usar as intrigas políticas e a tendenciosidade da mídia a seu favor. Cabe aos críticos denunciar, como você bem fez no tópico.
Felipe, eu não disse que você criticou a nomeação política. Só acrescentei a observação, afinal a mídia joga com esse fato (ministros nomeados por Lula) para sugerir suspeição nas entrelinhas, sabendo que muitas pessoas não sabem de onde (raios!) vem um ministro do Supremo...
Militontos, enterrem o Dirceu... já está fedendo!
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