No primeiro debate da campanha, o petista Fernando Haddad poderia ter sido mais agressivo. Não com ataques gratuitos, mas estrategicamente mesmo. Por exemplo, no último momento, em que podia fazer uma pergunta a Soninha (PPS), Levy Fidélix (PRTB) ou Gabriel Chalita (PMDB), mas escolheu Fidélix. Aí Haddad jogou na retranca à la Muricy Ramalho. Porque ter perguntado a Soninha ou Chalita daria mais caldo, mesmo que na réplica. Daria debate. E mais votos. Haddad precisa conquistar eleitorado, é urgente que sua campanha se dê conta de que é preciso sair da defesa desde já, principalmente considerando que o julgamento do mensalão está no ar.
Ao ser atacado por Carlos Giannazi (PSOL) em questões como a aliança com Maluf, o mensalão e a corrupção, Haddad foi direto (como deveria ser sempre) e, para resumir, quis dizer que: 1) uma coisa são alianças político-partidárias necessárias para governar um país ou uma grande cidade (e eu acrescento: muito diferente do que gerir um grêmio estudantil, como o PSOL pensa que é o Brasil), e 2) outra coisa bem diferente é de fato governar. Acho que Haddad insistiu demais na tecla de seu currículo como ministro de Lula e Dilma. Ok, quem vota nele sabe disso, mas e quem não vota? Quem não vota precisa ter dele e de seu temperamento mais informações do que isso para votar.*
Sobre corrupção, Haddad lembrou bem: “Marta Suplicy usou colete à prova de balas para combater a corrupção [no transporte público] e criar o bilhete único” em São Paulo. Isso é verdade. O candidato petista foi bem ao rebater o argumento capcioso de Soninha, que acusou o governo federal de estimular a inundação de carros em São Paulo (e portanto o trânsito, contra as benditas bicicletas) ao incentivar a compra de carros novos via benefícios fiscais (redução de IPI). “Na Europa e nos Estados Unidos, comprar carro é incentivado. Mas lá eles não usam o automóvel, que têm, porque eles têm transporte público”, disse Haddad (só acho que quando ele disse EUA quis dizer Nova York).
Gabriel Chalita começou o debate muito bem e terminou com um discurso meio vazio e populista ("quero cuidar das pessoas dessa cidade", disse em suas considerações finais).
O que chamou a atenção em sua performance foi o claro pendor negociador típico do PMDB. Por exemplo ao insistir na necessidade de a prefeitura trabalhar em parceria com os governos do estado e federal.
Chalita (e isso certamente não foi por acaso) também fez questão de expor a fratura do PSDB paulista entre Serra e Alckmin, ao ressaltar sua participação como secretário de Educação de Geraldo Alckmin em outros carnavais, ao mesmo tempo em que criticou duramente José Serra: “Nem a gestão dele [Serra], nem a de Kassab melhoraram em nada a educação em São Paulo”, disse. Chalita não usou essa carta por acaso. Quem vive em São Paulo sabe que o governo do peemedebista Orestes Quercia, embora tivesse contra si incontáveis acusações de corrupção, deu muito alento e trabalho ao povo que trabalha com cultura e educação no estado de São Paulo. Quercia foi para educação e cultura o que Maluf foi para obras e avenidas.
Russomano, ingrato, renegou Paulo Maluf e se manteve numa posição estratégica de não deixar de cutucar ninguém. Disse, por exemplo, que “a Sabesp não tem cumprido o que promete e cobra por serviços [de saneamento básico] que não presta”. Eu trabalhei vários anos na região de Osasco como jornalista, e posso afirmar que nas cidades da Região Oeste da Grande São Paulo isso é fato.
Bóris Casoy (sic) fez uma pergunta boa para José Serra, sobre pedágios, e Serra garantiu que não vai criar um pedágio urbano. Mas o fato é que o governo tucano de Alckmin (que Serra tanto evocou como aliado no debate) já está criando um pedágio urbano (leia aqui). “Não, não vou criar [pedágio urbano]”, garantiu o ex-prefeito que governou por dois anos e abandonou São Paulo para tentar ser presidente da República. Como diria Macunaíma: “Jacaré acredita?”.
De resto, Serra pareceu hesitante, gaguejava às vezes, e, do ponto de vista do marketing, deve ser difícil trabalhar, porque é uma criatura esquisita. Me pareceu muito mal no debate, insistindo na aliança Serra-Kassab-Alckmin que, no mundo político, todo mundo sabe que é uma aliança fraturada, como Chalita, como quem não quer nada, não deixou de lembrar.
Carlos Giannazi do PSOL começou me motivando a escrever um comentário no Twitter: “Giannazi talvez nem saiba, mas ele é de direita. O resultado de sua práxis, como se diz, e de seu discurso, só interessa a Serra, Veja etc”. Porque, fiel ao discurso de partidos ressentidos como o dele e o PSTU, Giannazi só atacava o PT.
Mas no fim o correligionário de Heloísa Helena resolveu equilibrar, atacando Serra a partir de um embate com Paulinho da Força. O deputado do PSOL detonou Paulinho e Serra ao mesmo tempo, ao dizer que o candidato do PDT (presidente da Força Sindical) apoiou Serra no arrocho ao servidor público. “O seu partido ajudou Serra a massacrar o servidor”, disse Giannazi a Paulinho. E depois mostrou a capa do livro A privataria tucana, de Amaury Ribeiro Jr, enquanto o mediador do debate lhe dizia que seu tempo havia esgotado.
*Atualizado às 13:03
3 comentários:
O Haddad ta querendo perder? Nao ta muito disposto a ser prefeito?
Ainda bem que este jornalista citou o PSTU. Mas, é claro, com seu ranço, deixou de comentar que a Band vetou a participação do PSTU no debate. Isso é a democracia dos poderosos contra os trabalhadores.
Edu, eu até concordo que parte da esquerda, sem perceber, termina fazendo o jogo do conservadorismo. A tática do "quanto pior melhor", na minha opinião, é a melhor linha de frente conservadora, afastando a esquerda da participação política, do povo, da transformação real. A esquerda do "quanto pior melhor" é aquela que dá um marketing fantástico para o conservadorismo, aparecendo como irrealista, antidemocrática, e presa a velhos dogmas mofados. Exemplo fantástico: a última ocupação da reitoria da USP, que só serviu, a bem da verdade, para voltar a opinião pública contra o Movimento Estudantil e legitimar, aos olhos da sociedade, a presença da Polícia Militar no câmpus. Quem estava por trás? Aquela fatia ultrarradical da esquerda, que leu a orelha do manifesto comunista e acha que Mao Tse Tung ainda é uma literatura revolucionária legítima. Se essa esquerda inábil, acrítica, ultrapassada e desinteligente tomasse conta do Movimento Estudantil, acho que o conservadorismo arraigado na estrutura da USP imporia mais facilmente a sua visão de universidade.
Agora, sua afirmação passa a impressão de que "quem não está comigo está contra mim", o que é um tremendo de um ranço stalinista que aparece vez por outra até mesmo no discurso da esquerda mais moderada. Não é porque o cara criticou o PT que ele é de direita. O PSOL é um partido que tenta medir forças com o PT desde o racha partidário que o originou, pois não podemos esquecer que ele é resultado de um racha petista. É natural que o partido tente conquistar o eleitorado de esquerda que ainda se inclina em favor do PT. E, francamente, é preciso reconhecer que o PT deu uma tremenda de uma bola fora, em relação a seu eleitorado de esquerda, se aliando a Maluf para aumentar tempo de TV e conquistar votos conservadores. Por isso, estou muito inclinado a votar no Giannazi no primeiro turno.
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