quarta-feira, 1 de agosto de 2012
Livro Escritores – 43 entrevistas da Revista Submarino já tem uma década
Este post trata de uma efeméride. Uma autopropaganda, coisa que quem me conhece sabe que não gosto muito de fazer. Mas vá lá, merece: há dez anos, em julho de 2002, era lançado o livro Escritores – 43 entrevistas da Revista Submarino, pela editora Limiar, organizado por este escriba que vos fala, em cujo lançamento alguns leitores/colaboradores deste blog estiveram presentes.
Incrível como uma década passa rápido.
Claro que não é intenção deste post fazer uma resenha (para saber um pouco mais do livro, seguem duas resenhas, via links da revista Isto É e do Observatório da Imprensa).
Mas o engraçado é que um amigo (o repórter Fernando Augusto) que não tem nada a ver com aquela história me mandou um e-mail no início de julho dizendo o seguinte: “tô escrevendo porque cheguei do cinema agora há pouco. Vi o filme E aí, comeu?, com o filho do Chico Anysio. Curioso é que numa cena aparece a estante de um dos personagens e lá está o seu livro [Escritores]”.
"E assim se passaram dez anos”, como canta Gal.
Naquele tempo, dez anos atrás, na orelha do livro, Luís Antonio Giron escreveu: “Era o ano da bolha. Bons tempos aqueles do final do século XX, em que a internet inflava e surgia, no Brasil, o site Submarino (...) Aos poucos, amadureceu a idéia de desenvolver uma revista virtual de cultura que complementasse o conteúdo comercial. E veio à luz a Revista Submarino (...) e apareceram nomes novos, alguns enormemente talentosos (...) A equipe, brilhante, produziu o melhor conteúdo cultural na internet brasileira na belle époque da bolha”.
Bem, há uma década, extinta a Revista Submarino, cada um daquela equipe partiu para seu caminho entre as veredas da vida, e por isso Giron ainda escreveu na orelha: “a equipe migrou para outros sites e searas, mas ainda degusta um instante de brilho na cultura brasileira”. Há dez anos.
O livro Escritores é apenas uma pequena parte do que o site (há muito tempo extinto) da Revista Submarino produziu em suas editorias de Literatura, Cinema (cujo editor era Paulo Santos Lima) e Música. As entrevistas publicadas no livro eram, por sua vez, apenas uma parcela da editoria de Literatura. Mas, enfim, algo – infelizmente pouco – se salvou de tanta coisa importante que se produziu e se perdeu naquele projeto. Esse pouco, apenas da editoria Literatura, está em Escritores.
Na gênese do projeto do conteúdo do Submarino estava seu idealizador e coordenador editorial (João Wady Cury), seguido pelos editores Alessandro Greco e Priscila Lambert, Alessandro e Priscila comandando em um contexto posterior, o do projeto subseqüente: a Revista Submarino, com URL própria e tudo, cujo arquivo foi a fonte do livro Escritores.
Alguns então jovens repórteres, com brilhantismo, fizeram entrevistas históricas: Renato Domith Godinho (que entrevistou Paulo Coelho e Tariq Ali), Emerson Lopes Silva (Ferréz), Camila Claro (Millôr Fernandes), Terciane Alves (Milton Hatoum), apenas para citar algumas entrevistas com escritores brasileiros e internacionais que o livro traz.
Outros nem tão jovens entrevistaram Christian Jacq (Mauro Hossepian), e outros menos jovens ainda falaram com Michael Cunningham (Hamilton dos Santos), Lygia Fagundes Telles (José Arrabal) e Maria Kodama (Gerson de Faria).
Deste que vos fala há uma entrevista-testamento feita anos antes com Antonio Callado, até então inédita, com o angolano Pepetela, com Carlos Heitor Cony (junto com a repórter Terciane Alves), entre outras.
Isso tudo é apenas um resumo. O livro, modéstia à parte, vale a pena.
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3 comentários:
Este post me fez ir até a estante, retirar meu exemplar de Escritores, abri-lo e... relembrar. Reli uma das entrevistas de que mais gostei na época (a de Antonio Callado, p. 31), em que o escritor disserta, entre outras coisas, acerca de sua postura religiosa (ou seria não religiosa, já que é ateu?), apontando que seu ateísmo deve-se mais em relação ao entronizamento de conceitos e figuras sagradas que propõem as religiões, principalmente o Cristianismo, do que à espiritualidade. Na época, achei interessante, isso; essa inovada maneira de falar do ateísmo: não descartando a possibilidade da existência de algo superior, mas questionando as crenças impostas pela cultura de forma cega... Na filosofia pode ter a ver com o deísmo... Tempos depois, li uma entrevista de Umberto Eco, em que ele, também ateu, defende a necessidade de haver espiritualidade do ser humano para com tudo e principalmente para com o Universo... Fiz um elo entre as duas entrevistas naquele momento. Então, penso que o livro Escritores serviu de base para um conhecimento que me fez, ao longo do tempo, pensar, refletir e sedimentar idéias religiosas/espiritualistas que precisavam ser mais bem definidas dentro de mim. Um outro ponto que quero ressaltar é que não é só o Escritores que faz dez anos, mas também uma referência do que eu era, do que éramos, pensávamos, sabíamos naquela época em que foi lançado. De modo que tudo que aniversaria traz em seu bojo muito mais coisas do que a si próprio, fazendo completar anos também tudo o que fazia e faz parte de seu contexto. Finalmente, quero dizer que de fato é muito gratificante "fabricar" ideias e conhecimentos com jovenzinhos que estão dando "os primeiros passos" na vida. Vivo isso a cada ano por ser professora e realmente é um alimento para a alma.
Legal ouvir que Escritores serviu de base para reflexões. Pelo menos serviu pra alguma coisa, rs.
Interessante mesmo essa visão do Callado, que, embora se professasse ateu, considerava a religião fundamental em sua dimensão histórica e cultural (claro que ele não diria isso de religiões oportunistas que não têm nenhuma densidade filosófica e espiritual).
Não tenho certeza, pelo que Callado falou, se ele era mesmo ateu ou se era agnóstico. Mas isso, infelizmente, não dá mais pra perguntar a ele.
Só para esclarecer o público, assisti o filme E aí, Comeu? porque era o único disponível no horário e não queria perder a viagem, se é que me entendem rsrs
Abraços
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