sexta-feira, 12 de outubro de 2012

São Paulo deve eleger Fernando Haddad


Enquanto o candidato petista, com 12% de vantagem nas pesquisas em votos válidos, recebe a adesão do PMDB de Gabriel Chalita e herda a maior parte dos votos de Russomanno, o tucano ganha o apoio de PTB e PDT e declarações homofóbicas do pastor Malafaia


A eleição em São Paulo está longe de se definir. Mas a eventual vitória de Fernando Haddad já pode ser vislumbrada no horizonte. Se vier a acontecer, será uma resposta histórica e inédita das urnas ao lacerdismo golpista redivivo que assola o Brasil, amparado pelo circo do julgamento do “mensalão” a fornecer manchetes cotidianas à mídia, que, por sua vez, infelizmente para ela e felizmente para o Brasil, vê sua prepotência reacionária malograr diante das mesmas urnas que julga poder influenciar.

                                                                                        Divulgação
Gabriel Chalita e o PMDB declaram apoio a Haddad na quinta, 11

As boas notícias para a candidatura Haddad se sucederam nos últimos dias, a começar da eleição de domingo, quando ele, que nunca havia chegado ao segundo lugar nas pesquisas do instituto da família Frias, teve 1.776.317 votos (28,98%), contra 1.884.849 (30,75%), diferença de pouco mais de 100 mil votos.

A segunda ótima notícia foram as primeiras pesquisas do segundo turno dando de dez a onze pontos de vantagem de Haddad sobre Serra. Se estiverem corretas, são uma boa vantagem, mas não se pode achar que já ganhou. Isso porque, sendo apenas dois candidatos, a cada ponto que Serra tirar, a diferença cai em dobro. No Ibope, Haddad lidera com 48% a 37% e, em votos válidos, por 56% a 44%, 12 pontos de dianteira nos votos válidos. Então, Serra teria de subir seis pontos sobre Haddad, que cairia seis e a disputa estaria empatada. Mas é uma tarefa inglória para o tucano.

Inglória pelo cenário todo, que favorece o crescimento ou pelo menos a manutenção da liderança do petista.

1) O “grande acordo” (palavras do vice-presidente da República Michel Temer) entre PT e PMDB anunciado ontem e a entrada na campanha de Gabriel Chalita é um fator fundamental. Claro que a transferência de votos não é automática.

Mas o acordo histórico que PMDB e PT não conseguiam fechar em São Paulo desde 2004 é politicamente relevante e isola Serra – que já tem uma rejeição estratosférica – ainda mais. No anúncio, Temer ressaltou que seu partido e Chalita apoiarão a campanha petista "fortemente". Já o tucano conseguiu o minguado apoio do PTB e do PDT. Com a “neutralidade” do PRB e de Russomanno, a tendência é de que os votos deste sejam majoritariamente do PT: segundo o Datafolha, entre os que declaram ter votado em Celso Russomanno (PRB) no primeiro turno, 56% dizem preferir Haddad e apenas 25% Serra.

2) Enquanto o apoio de Chalita deve facilitar que milhares de votos católicos migrem para Haddad, Serra usa o pastor pentecostal Silas Malafaia, um homofóbico fundamentalista (ou seja, “o submundo da política”, nas palavras de Haddad), para atacar o candidato do PT. Malafaia usou o “kit gay” como tema de seu perfil no Twitter, dizendo anteontem: “Neste segundo turno em SP, vote em Serra 45. Haddad é autor do kit gay!”

Na coletiva de ontem, quando o PMDB anunciou o apoio ao PT, Haddad foi perguntado sobre os ataques moralistas de Serra e o pastor e deu sua resposta: “Espero que possamos fazer um debate pela cidade, deixar de lado essa coisa de 'eu arrebento’ (...) Ele [Serra] trouxe do Rio um pastor pra me ofender. Se ele continuar fazendo isso, eu posso responder também. Vamos ter vários debates. Se ele quiser pontuar nisso num debate, ele pode fazer, se for do interesse dele, mas eu não posso responder ao submundo da política (...), se ele quiser pautar o debate sobre tolerância, intolerância, estou disposto a conversar. Mas tem que ser ele. Não pode ser por um preposto”, disse Haddad.

PT no Brasil

Com “mensalão”, Supremo Tribunal Federal e manchetes diárias e tudo o mais, o PT foi o partido mais votado no país no primeiro turno das eleições municipais: somou 17,3 milhões de votos (4,2% a mais do que em 2008). O PMDB foi o segundo, com 16,7 milhões de votos, mas caindo 10% em relação à eleição anterior.

Já o PSDB, aliado do “mensalão” e do ministro do STF Joaquim Barbosa, caiu em relação a 2008 e teve 13,9 milhões de votos nas eleições de domingo, contra 14.6 milhões em 2008, queda de 4,8%.

O PT conquistou um total de 624 prefeituras, 12% a mais do que as 558 em 2008. Número que vai aumentar, já que o partido ainda disputa 22 prefeituras no segundo turno.

Grande SP

O mais simbólico de tudo aconteceu em Osasco. Lá, onde o PT precisou substituir às pressas o candidato João Paulo Cunha, condenado na Ação Penal 470, o “mensalão”, o povo respondeu elegendo Jorge Lapas. Ironia do destino, o tucano Celso Giglio, que tinha sido impugnado pelo TRE-SP por unanimidade, viu ontem o TSE confirmar também unanimemente (7 a 0) a decisão do tribunal paulista e o petista Lapas é o novo prefeito da cidade. Se Haddad ganhar na capital, será uma vitória mais do que espetacular e histórica.

São Paulo e Osasco, com 11,3 milhões e 700 mil habitantes respectivamente, poderão pela primeira vez na história governar juntas com governos populares, revolucionar a região oeste da Região Metropolitana de São Paulo.

Em São Bernardo, Luiz Marinho se elegeu no primeiro turno com 65.79% dos votos, dois terços do eleitorado.

Em Carapicuíba, o prefeito petista Sérgio Ribeiro ganhou de lavada.


Veja Fernando Haddad e Gabriel Chalita no encontro em que o PMDB anunciou seu apoio à candidatura petista, na quinta-feira, 11, no escritório político de Michel Temer, e entrevista de Chalita:



*Atualizado às 02:20

4 comentários:

marco a ferreira disse...

E impressionante a capacidadede Haddadpara responder. Se tiver um debate entre os dois o serrote ta perdido, a menos que o serrote envie um , preposto!

Eduardo Maretti disse...

É, Marco, essa capacidade de responder tem a ver com um estilo mais refinado do que estamos acostumados em política.

Tenho acompanhado como repórter alguns eventos de campanha de Haddad e cada vez mais fica claro pra mim que, se ele for eleito, além do óbvio e histórico significado político, terá uma importância enorme, porque será a demonstração de que se pode fazer política em alto nível.

Pena que do outro lado está o Serrote, essa pústula da política brasileira, com sua truculência e seu estilo covarde e obscuro, que impede um debate digno de uma democracia verdadeira.

Paulo M disse...

O que interessam ao candidato do PSDB as instituições representantes dos trabalhadores de cujos votos ele depende para vencer as eleições e a quem promete mundos e fundos caso seja eleito? Mais uma de suas grosserias:

http://www.abcdmaior.com.br/noticia_exibir.php?noticia=45134

Luciano disse...

Santo André também deve eleger PT. Carlos Grana