terça-feira, 17 de julho de 2012

Turismo na Grande São Paulo


É possível aproveitar outras veias da Região Metropolitana que não as da correria, do trânsito e da perplexidade diante de lugares abarrotados de pessoas


Casa das Rosas, na Paulista


Texto e fotos por Roseli Costa

Ao organizar minhas (longas) férias de professora, pude rapidamente perceber que as economias não dariam para bancar grandes viagens, a não ser a primeira visita a Buenos Aires – e a primeira em solo não brasileiro –, no início de agosto. Então, decidi passear por São Paulo e pelo Grande ABC sem lenço, sem dinheiro, com documento e com minha câmera em punho e, o principal, um olhar diferente: não julgador, não neurótico, não defensivo com relação à maior metrópole do Brasil...

E para “tocar” São Paulo, tive (e continuo tendo) de sair literalmente do salto, calçar confortavelmente, esquecer os points turísticos manjados por mim e por todos os que gostam de passear, tais como os maravilhosos mas não únicos Ibirapuera, MASP, Pinacoteca, Museu da Língua Portuguesa etc.

Restaurante Flutuante - Riacho Grande
Minha primeira intenção foi (re)visitar o bairro Riacho Grande, subdistrito de São Bernardo do Campo, cidade onde moro. Lá há cantinas-bares aconchegantes, com música ao vivo, tais como o Cantinho do Luiz e a Cantina do Pintor. Há também um restaurante-barco ancorado na represa Billings, do qual se tem uma vista mais panorâmica do Riacho e onde se podem comer frutos do mar e tomar drinques bem caseiros, próprios da região. Para arrematar a visita, pode-se caminhar por uma pitoresca feirinha de artesanato, onde se encontram tapetes, plantas, cerâmicas de muito bom gosto.

Um segundo ponto foi a Casa das Rosas – Espaço Haroldo de Campos, um dos poucos casarões da Avenida Paulista remanescentes, que acondiciona, além de um belo jardim de rosas dos mais variados tamanhos e matizes, um museu que celebra a poesia, a literatura e as artes em geral com vários eventos e que contém muita história acerca daquela região paulistana que floresceu com a riqueza dos barões do café. Ali também tem um aconchegante café que enriquece o espírito contemplativo.


Utensílio indígena no Museu Casa do Tatuapé
Outra grata surpresa foi conhecer o Museu Casa do Tatuapé. É um casarão antigo incrustado no bairro, agressivamente invadido pelas residências, cujos moradores queriam na verdade que ruísse, transformando-o em depósito de lixo destelhado, bastante carcomido pelas águas das calhas para lá desviadas. Tais moradores compraram os terrenos de forma ilícita, sem conhecimento, já que era uma fazenda tombada há muito, sendo que seus primeiros proprietários foram vendendo pedaços de terra ilegalmente. Lá, se tem notícias dos costumes de construção (taipas de pilão), de utensílios, de acomodações do século XVII e de muita informação que fica bem mais prazerosa de receber longe dos livros didáticos.

Num outro momento, em visita ao bairro Campos Elíseos, além dos inúmeros e magníficos casarões, comuns em boa parte dos bairros nobres de São Paulo, deparei-me (essa é a palavra, pois foi uma surpresa) com o Museu da Energia. É um lindo casarão que pertenceu a Humberto Dummont, irmão de Santos Dummont.

Casarão pertenceu ao irmão de Santos Dummont

Além da beleza externa e interna da construção, com suas paredes decoradas, corrimãos de madeira nobre, piso elaborado com material já nem mais encontrado e muitos outros encantamentos que tais casarões podem nos causar, há em cada sala a história das conquistas advindas da luz, tais como TV de plasma, fotografia, tecnologias de ponta etc.

Ainda no Campos Elíseos, é possível cortar caminho seguindo sempre pela Alameda Nothmann para alcançar a famosa Rua José Paulino, onde há uma “orgia” de lojas de roupas, sapatos e adereços.

Bem, na verdade continuarei nessa empreitada: microturismo dentro da Grande São Paulo, com um olhar poético, curioso, contemplativo. Sem salto, sem dinheiro e com documento e câmera fotográfica.

É claro que na volta dos passeios, no metrô, em horários mais específicos, senti toda a carga negativa que invade Sampa, decorrente principalmente da falta de investimento na malha metroviária e no sistema de transporte público da capital paulistana. Mas isso ficou bastante diluído em meio ao prazer estético experimentado nos passeios e por não ser tal enfrentamento cotidiano para mim.

Leia (e veja) também, da série São Paulo em Imagens:

Estação da Luz

Escultura de fios

Verão na cidade

Outono na cidade

Nossa Senhora do Crack

3 comentários:

Irene Costa disse...

Adorei ler esse texto porque ele me fez repensar numa nova São Paulo, que tem em cada cantinho uma novidade a ser explorada.

Paulo M disse...

Talvez as coisas mais relevantes na vida sejam os grandes (ou pequenos) pormenores. São Paulo guarda detalhes importantes escondidos pela civilização do stress, do malufista "dormir tarde e levantar cedo" e do fascismo kassabista (que parece fazer ressurgir a alma de Jânio Quadros) de manter a cidade limpa e varrida de carroceiros e craqueiros da Luz. Eu mesmo trabalho há 15 anos na região e não conheço esse casarão histórico da rua Nothmann. É uma bela cidade, mas temos de encontrá-la.

Daniel Brazil disse...

Belo passeio!