quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

“Primavera árabe” foi apenas um espasmo de luz nas trevas do Oriente Médio?


Não resta dúvida de que, em âmbito internacional, se o hasteamento da bandeira da Palestina na sede da Unesco, semana passada, é simbolica e mesmo politicamente importante, a violência no Egito é um duro golpe na crença de uma verdadeira "primavera árabe".

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A praça Tahrir, centro da capital Cairo, viveu ontem, quarta-feira, 20, o quinto dia concecutivo repressão contra manifestantes que exigem abertura política. O país que derubou Hosni Mubarak (leia aqui) vive hoje a dura realidade de uma ditadura militar. Segundo o Ministério da Saúde egípcio (sic), 13 pessoas morreram na semana passada em decorrência dos conflitos, e 815 ficaram feridas.

O país vive hoje um longo processo de eleições parlamentares previsto para durar um mês e meio e o governo acena com a possibilidade de realizar eleições presidencias em junho. Mas as cenas teríveis da violência (entre as quais se destaca a foto de uma mulher sendo espancada brutalmente por “agentes de segurança”) não deixam margem a otimismos.

No fim de novembro, Kamal Ganzouri foi nomeado primeiro-ministro no país. Hoje com 78 anos, ele já havia ocupado o cargo na ditadura de Mubarak entre 1996 e 1999. A "novidade" foi o estopim para a mais nova revolta. Em entrevista a Brasil de Fato de 8 de dezembro, o jornalista Pepe Escobar falou do início de um período “contrarrevolucionário” nos países árabes. Disse ele:

“Os militares arrumaram um sistema onde botaram uma ditadura militar de fato, se livraram do chefe do regime, e de seu sucessor, que é o Omar Souleiman, hoje isolado. O regime ficou intacto.

“Nada mudou essencialmente para os Estados Unidos porque eles continuaram a cooptar esse regime militar.”

Essa cooptação, destaca Escobar, é feita política e economicamente: “Eles estão cooptando não só diretamente, mas via seu aliado principal na região, a Arábia Saudita, que há pouco ‘doou’ US$ 4 bi para a ditadura militar do Egito se manter nos próximos meses. O Egito é um país quebrado, tem que comprar comida de fora, tem que pagar funcionários públicos e é um país que está à beira da bancarrota”.

Em nossa ingenuidade, imaginamos que o gigante Egito, às portas de Israel no Mediterrâneo, fosse dar um alento nessa estratégica e conflagrada região do planeta. Mas a verdade é que a “primavera árabe” pode ter sido apenas um espasmo de luz nas trevas do Oriente Médio.

2 comentários:

Mayra disse...

Bem, a "primavera" existiu... Agora a resistência vai fazendo seu caminho. Anos de ditadura não vão terminar de uma hora para a outra. E as pessoas continuam na praça - literal e simbolicamente falando. A luta continua.

Paulo M disse...

Tenho um pé e meio atrás com essa insurreição árabe contra seus regimes autoritários com base em um suposto conceito ocidental de liberdade e democracia. Quarenta anos atrás o alvo americano, por motivos diferentes, era a América Latina, tomada então por ditaduras que os Estados Unidos ajudaram a espalhar como arma pra diluir a organização comunista que se propagava pelo mundo. O perigo agora já não é o comunismo, são as crises econômicas e de identidade nos EUA e na Europa que ameaçam os valores, não da liberdade, mas do liberalismo. Quem tiver o petróleo nas mãos vai se dar bem nessa história toda. Abaixo Hosni Mubarak, Saddam Hussein e Muamar Gadafi, mas as coisas com certeza não são tão simples como ditam as aparências. Fico com a conclusão do post. A primavera é árabe, mas e as flores?