terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

Kadhafi promete banho de sangue



Muammar Kadhafi acaba de se pronunciar sobre a violentíssima situação de seu país. O cenário de onde o ditador líbio discursou parecia um bunker, longe de palácios e ostentações. Disse que vai executar quem descumprir as leis do país. Não pretende renunciar e afirmou que morrerá pela e na Líbia. Autoafirmou-se “o líder da Revolução, sinônimo de sacrifícios até o fim dos dias” e que “esse é o meu país, de meus pais e meus antepassados". Há 41 anos no poder, ele deixa claro com isso que o país “dele” provavelmente deve continuar nas mãos de seu clã. Ontem, seu filho Sayf al-Islam al-Kadhafi fez discurso ameaçador.

"Os aviões de guerra e os helicópteros estão bombardeando indiscriminadamente um setor após o outro. Há muitos mortos." A frase é de uma testemunha citada pela Al Jazeera sobre o mais sangrento conflito no norte da África e Oriente Médio este ano. Apesar de estimativas de "mais de 200", de 400 mortos ou outras, ninguém pode dizer quantos já morreram. Apesar da brutalidade do Estado, que ataca a população com tanques, aviões de guerra e armamento pesado, ontem dois coronéis líbios se recusaram a atacar a população com caças e desertaram. É pouco, mas simbólico*.
Em entrevista à emissora de rádio France Info, o presidente da Federação Internacional de Direitos Humanos, Patrick Baudouin, afirmou: "O que ocorre hoje é um crime contra a humanidade". Ele pediu intervenção do Conselho de Segurança da ONU "para ativar a ação do Tribunal Penal Internacional (TPI)", segundo o site português Diário Digital. A alta comissária para os direitos humanos da ONU, Navi Pillay, pediu uma investigação sobre os brutais ataques contra os manifestantes e a população civil, que, para ela, são crimes contra a humanidade.

O fato é que, com cerca de 46 bilhões de barris de petróleo em suas reservas e com forte exportação para a Europa, a Líbia se tornou o mais preocupante palco dos conflitos contra os ditadores naquela região do mundo, até aqui. O temor de que os conflitos e rebeliões tomem conta do Irã e até Arábia Saudita deve estar deixando muitos líderes mundiais sem sono.

Hoje, terça-feira, 22, o petróleo passou de 108 dólares o barril. O poderio econômico do país de Kadhafi faz com que naturalmente os conflitos lá sejam muito mais violentos do que no Egito.
Os interessados em assistir ao vivo a emissora do Catar Al Jazeera (em inglês) com as informações mais recentes dos acontecimentos podem acessar neste link

* (Atualizado às 15:44) - Segundo a Reuters, soldados líbios na cidade de Tobruk disseram que eles não apoiam mais Muammar Kadhafi. Segundo a agência, soldados disseram que o leste do país está fora do controle do governo. Tobruk já estaria nas mãos da população. "Todas as regiões do leste estão agora fora do controle de Kadhafi... O povo e o Exército estão lado a lado aqui", afirmou o major do Exército, Hany Saad Marjaa.

A cidade de Tobruk (ou Tubruq, Tubruch) se localiza num ponto estratégico, no Mediterrâneo, no Nordeste do país, muito próximo do Egito. Não à toa, foi palco de batalha entre alemães e britânicos pelo seu domínio (na Segunda Guerra Mundial).

Leia também: Mubarak cai e povo egípcio emociona o mundo

6 comentários:

Felipe Cabañas da Silva disse...

Este ser extravante e destemperado chamado Muammar Kadhafi não podia ter um fim discreto. Resignar-se com as revoltas e renunciar ao poder para evitar uma guerra civil??? Não é o estilo de Kadhafi. Seu filho já deixou claro que qualquer protesto será massacrado e que se necessário empurrarão o país a uma guerra civil. Muammar Kadhafi só vai sair com muito estrondo, mas a única coisa que está conseguindo cavar é uma cova maior para ser despejado. Isola-se do mundo, começa a isolar-se de suas próprias forças de segurança, e por fim isola-se da realidade, achando que vai morrer como mártir, quando na realidade vai morrer como um bandidinho qualquer, que é o que ele realmente é.

A Tunísia e o Egito mostram que uma vez nas ruas o que está acontecendo no mundo árabe só tem um final possível: o ditadorzinho da vez escurraçado para a lata de lixo da história. Quando a revolta dos jovens chega ao ponto de tocarem fogo ao próprio corpo, não creio que a maioria vá se intimidar diante dos canhões do exército.

Muammar Kadhafi está agonizando. Mas é uma pena que o povo líbio tenha de sofrer tanto para dar-lhe o final que merece.

Mayra disse...

Só entrei hoje na Al Jazeera. Jornalismo de primeira - pena que meu inglês seja macarrônico, mas dá pra acompanhar um pouco.

Paulo M disse...

Os árabes clamam por liberdade. Liberdade cultural, de comportamento, mais do que política. Virou reação em cadeia. Vivem enfiados em túnicas e turbantes como beduínos. Curioso é que os EUA estão preocupadíssimos com o que acontece na terra do petróleo, e se vêem de mãos atadas, não podem aparentar interferência e estão tendo que engolir a "democracia" que eles mesmos pregam. Vão ter de comer o pão que amassaram. O Novo México do ouro americano do século 19 mudou de endereço (o petróleo do Oriente Médio) e agora está ameaçado. Nessa brincadeira, que se cuide também o Ahmadinejad, que já andou reprimindo manifestações de protesto contra seu governo, semana passada, no Irã. Lá, parece que a cultura é mais sólida, mas talvez não tanto o governo. As coisas estão mudando. Pena (como disse o Felipe Cabañas) que isso custe tantas vidas desnecessariamente.

alexandre disse...

É mais um psic no poder!

Eduardo Maretti disse...

Só para fazer uma remissão ao título deste post, texto de Wálter Maierovitch diz, citando a agência Al Arabyia, que passa de 10 mil (!!!) o número de mortos e são 50 mil os feridos.

A União Européia estima em 1,5 milhão de imigrantes o êxodo dos líbios em fuga da fúria genocida do psicótico.

Neste link: http://bit.ly/eJyFAU

Paulo M disse...

Quem diria? Os árabes estão emocionando o mundo! Bárbaro isso de pilotos e militares líbios desertarem ou tomarem pra si a causa popular. Querem algo mais divino? Sorte que o presidente americano não é mais o Bush. Tudo tem sua hora. Se o tal do Kadafi imaginasse esse seu fim, talvez preferisse ser um homem do povo. E agora, Muammar?