"A senhora, idosa, de véu vermelho, estava parada a polegadas de um tanque M1 fabricado nos EUA, do 3º Exército Egípcio, bem à margem da Praça Tahrir. Os soldados eram paramilitares, alguns com barretes vermelhos, outros com capacetes, barreiras de fuzis apontadas para a praça, metralhadoras pesadas armadas nos tabiques. 'Se atirarem contra o povo egípcio, Mubarak está acabado' – disse ela. 'E se não atirarem contra o povo egípcio, Mubarak está acabado'. O povo no Egito está tomado dessa sabedoria."
Reprodução/ Al Jazeera |
Essa é a introdução do excelente texto de Robert Fisk (link abaixo), do The Independent, sobre a chamada revolução no Egito, que está quase derrubando a ditadura de Hosni Mubarak, há 30 anos chefe de um regime serviçal dos interesses norte-americanos e israelenses no Oriente Médio. O extraordinário movimento no país dos Faraós acontece na esteira daquele que, na Tunísia, derrubou o ex-ditador Zine El Abidine Ben Ali, após 23 anos no poder.
No texto de Fisk há uma passagem emblemática e emocionante da (aparente) indisposição do Exército egípcio em atacar seu povo: “Quando uma longa coluna de soldados formou-se na largura da rua, um homem muito velho e corcunda pediu e obteve licença para aproximar-se. Segui-o e vi abraçar e beijar o tenente nos dois lados do rosto; disse ‘Vocês são nossos filhos. Vocês são nosso povo’. Em seguida andou ao longo da coluna, beijando e abraçando cada soldado, como se fosse seu filho. É preciso ter coração de pedra para não se emocionar com essas cenas de que ontem [dia 30] o dia foi cheio."
Mesmo após a histórica manifestação de entre 1 milhão e 2 milhões de pessoas ontem nas ruas do Cairo (os números variam de fonte para fonte), Mubarak deu indicações de que não pretende renunciar ao cargo. Hoje, confrontos entre “simpatizantes” do ainda presidente Egípcio (acusados de serem policiais a paisana) e o povo que exige o fim de seu governo provocaram cerca de 500 feridos. As Nações Unidas estimam em 300 o número de mortos desde o início do levante.
Se as revoltas se alastrarem a partir de Tunísia e Egito para outras nações (há focos de forte descontentamento e até manifestações na Jordânia por exemplo – outro regime a serviço do sionismo), o Estado de Israel terá motivos para grandes, enormes preocupações, independentemente de o poder cair nas mãos do fundamentalismo islâmico em alguns desses países. Nesta quarta, o rastilho de pólvora continuava a se alastrar no Iêmen: milhares de manifestantes puseram fim nesta quarta-feira às aspirações do presidente do país, Ali Saleh, de se perpetuar no poder. Há um mês, a secretára de Estado americana Hillary Clinton já demonstrava sua preocupação, dizendo que a instabilidade no Iêmen representa uma ameaça global.
Leia o texto de Robert Fisk na íntegra clicando aqui.
Atualizado às 02:20 (4/11/2011)
2 comentários:
Você já imaginou ter um Oriente Médio tomando o rumo que a América do Sul vem tomando nos anos 2000?! Nossa, acho que dá até pra ter esperança de conseguir existir num mundo mais bacana de verdade. Tomara!!!
Sim, sim, Mayra. A única ressalva é que a gente nunca sabe o que pode vir a acontecer num pós-revolução naquelas bandas conflagradas do mundo, vide Irã. Entre os Estados Unidos/Israel e o fundamentalismo islâmico, eu coloco coluna do meio.
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