domingo, 19 de dezembro de 2010

Francis Ford Coppola está de volta, com Tetro





Com Tetro, Coppola quer dizer que ainda é possível fazer, ou pelo menos tentar fazer arte com cinema. Que é possível falar da arte, no cinema. Que o cinema, ele mesmo, é arte.

No filme, Tetro (Vincent Gallo – na foto) é um homem solitário e enigmático que vive com sua companheira em Buenos Aires. Seu irmão mais novo Bennie (Alden Ehrenreich) chega na capital argentina em busca do contato perdido com esse primogênito, seu irmão Angie (uma sombra do passado), que em Buenos Aires se transformou em Tetro, abreviação de Tetrocini (seu sobrenome). Tetro, o protagonista, é “um gênio sem realizações”, segundo ele mesmo se define.

A história se passa em preto e branco. Flashbacks coloridos são como que a legenda dessa história. O passado é colorido, o presente é P&B.

Há muitas referências à história do cinema no filme, explícitas ou não, o que fortalece a obra. Uma explícita: Ava Gardner. Uma quase explícita: Fellini, nunca citado, mas quase onipresente, porque Coppola é claro ao insistir na arte como objeto da própria arte, conceito que o filme faz questão de registrar o tempo todo. Outra referência, que parece viagem minha: os atores Vincent Gallo (o irmão mais velho) e Alden Ehrenreich são incrivelmente parecidos com Willem Dafoe e Leonardo DiCaprio, respectivamente. Será casual? Não sei.

Trailer oficial:



O filme não propõe apenas contar a historinha de uma família. Ao dizer que “a linguagem está morta”, por exemplo, numa passagem em que um personagem se questiona, Coppola quer falar o avesso: porra, a linguagem está viva! É possível fazer arte no cinema, seus babacas!

E Coppola faz essa arte, embora faça também concessões à linguagem hollywoodiana, como fez em Drácula, filme genial em que infelizmente introduziu uma espécie de happy end idiota nada a ver com o livro de Bram Stoker.

Seja como for, vá ver Tetro. Vale a pena. É o velho e genial Francis Ford Coppola. E ainda tem para nós, nostálgicos, uma sequência gravada no velho Café Tortoni, o precioso Café Tortoni da avenida de Mayo, em Buenos Aires.

Ficha técnica
Tetro (título original: Tetro)

Origem: EUA
Ano de produção: 2009
Gênero: Drama
Duração: 127 min
Classificação: 14 anos
Direção: Francis Ford Coppola
Elenco: Vincent Gallo, Maribel Verdú, Alden Ehrenreich, Rodrigo De La Serna, Klaus Maria Brandauer.

2 comentários:

Mayra disse...

Delícia pura: um grande Coppola pelo seu texto. E ainda por cima com cenário portenho... Vou correr! Ainda mais que vi o último do Woody Allen e achei beeeem fraquinho - filme de velhinho segundo as amigas que viram comigo. Mas o penúltimo,Tudo pode dar certo, foi delícia também: aquela inabalável fé brega no amor vista com cinismo e benevolência.

Luiz Amaral disse...

Assisti ontem e gostei bastante. Tenho o costume de pesquisar na Internet sobre um filme DEPOIS de assistí-lo, e achei aqui no Google.

Só um cara do talento e da cultura do Coppola para escolher Buenos Aires como locação, o clima cultural e humano da cidade, do Bairro da Boca, das grandes avenidas, dos hilários artistas de cabarés, das cenas de arteterapia no hospício. O ator que faz tanto o pai quanto o tio, Klaus Maria Brandauer, é alemão e um fera do cinema europeu ("Mephisto", de Szabó).

As semelhanças do Bennie com o Leonardo DiCaprio e do Tetro com DeFoe você assinalou muito bem. Quem sabe Coppola quis dizer: posso fazer um grande cinema com atores de talento mas que não cobram 20 milhões de dólares de cachê?