Julian Assange (na foto), o fundador do WikiLeaks, foi posto em liberdade, sob fiança, em Londres, nesta quinta-feira. Como se sabe, ele foi preso sob o pretexto de ter supostamente cometido crimes sexuais na Suécia. Em um deles, a suposta vítima reconhece que o ato sexual foi consensual até a camisinha se romper (sic).
Enfim, é óbvio que a acusação é um pretexto e as motivações políticas estão por trás dessa história. Quem quer de fato enquadrar o ciberativista são os Estados Unidos. Pois o WikiLeaks de Assange tornou públicos mais de 77 mil documentos do Pentágono sobre a ocupação do Afeganistão e cerca de 400 mil sobre arquivos expondo ataques, detenções e interrogatórios no Iraque, entre milhares de outros.
Consta que colaboraram para arrecadar a fiança de 236 mil euros Fatima Buttho, sobrinha da primeira-ministra paquistanesa Benazir Bhutto (assassinada em 2007), Bianca Jagger, ex-mulher do rolling stone Mick Jagger, e o cineata Michael Moore.
A abordagem brilhante
Do que tenho lido a respeito do tema Julian Assange/WikiLeaks, recomendo o texto de Washington Araújo, mestre em Comunicação pela UnB, no Observatório da Imprensa. “Não se exigirá mestrado ou doutorado em Comunicação, conferido por Cambridge ou por Harvard, para que não tarde a que a história da diplomacia no século 21 venha a ser ensinada em dois períodos de tempo distintos: antes e depois dos wikileaks”, escreve Araújo no artigo intitulado “A construção do mito Assange”, no qual o autor discorre sobre uma série de considerações e subtemas em torno do assunto principal.
Sobre o significativo silêncio de nossa mídia diante da prisão de Assange:
“Para nossa grande imprensa, que tem elegido a defesa da liberdade de expressão com aquele ardor digno dos seguidores de Antonio Conselheiro no episódio de Canudos, soa patético que não conheçamos nenhum editorial inflamado em defesa de Assange e contra sua prisão, aparentemente causada por suas peripécias sexuais na Suécia e que incluem até uma obscura história de estupro. Qualquer biscoito (cookie, em inglês), além de qualquer cidadão norte-americano medianamente informado e mesmo qualquer dona de casa alemã que assine Der Spiegel, sabe muito bem que sua prisão tem tudo a ver com os transtornos que o WikiLeaks vem causando à imagem e às relações de Washington com governos do resto do mundo”.
Sobre o comportamento do governo dos Estados Unidos, particularmente Hillary Clinton, a respeito da oposição liberdade de imprensa x WikiLeaks:
“Quem não lembra que há apenas um ano, em resposta a ações do governo da China contra o Google, a secretária de Estado americana Hillary Clinton fez apaixonado discurso em defesa da liberdade de expressão na internet? A senhora Clinton não parou por aí. Foi além: ‘Mesmo em países autoritários, governados por ditadores, redes de informação têm ajudado pessoas a descobrir novos fatos e feito governos mais transparentes’. Seria patético, não fosse apenas ridículo, o uso contumaz de dois pesos e duas medidas quando autoridade política trata de atacar governo estrangeiro que é acometido por sua própria enfermidade”.
Enfim, o texto de Washington Araújo merece ser lido na íntegra. O link está aqui.
2 comentários:
O Wikileaks mostra duas coisas fundamentais: que o exército americano está recheado de criminosos de guerra e que a diplomacia americana é fortemente contaminada pela tradição paranóica de espionagem que está na origem da formação da CIA e que é herança da "diplomacia" da Guerra Fria. Ou seja, o bastião da grande democracia ocidental não tem nada de diplomático.
Curto e grosso, os podres poderes tão com o cu na mão com esse Wikileaks, um evento surpreendente. Não há nada mais obsoleto do que guerrilhas armadas, mas sempre vai haver combate. Já devem ter invadido até arquivos da famosa e folclórica área 51 no deserto do Nevada, onde supostamente "vivem" prisioneiros de guerra e segredos secretíssimos da CIA. Imaginem, devem ter libertado o Assange sob chantagem, he he. Tô pagando pra ver...
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