sexta-feira, 3 de janeiro de 2014

A gata Tuca





Essa linda gata é a Tuca (em foto de junho de 2012), que nasceu há 18 anos numa casa em que eu morava e pouco depois, quando mudamos para um apartamento, foi para a casa do meu irmão Alexandre e do meu pai. Era de todos nós, da família, e por último era da Luiza, filha do Alexandre, que a chamava de Tuquinha. Enfim, a Tuca desapareceu na semana entre o Natal e o ano novo. Esperávamos que ela não durasse mais muito mesmo, mas como ela sumiu três dias antes da virada do ano, tinha um vazio no Réveillon que fizemos na velha casa do Jardim Aeroporto. A Tuca se foi.

As linhas que se seguem são do Alexandre dando a notícia do desaparecimento da nossa velha Tuca e de Gabriel. O poema é um trecho de Charles Baudelaire.

Alexandre (29/12/2013): "Ela está desaparecida desde ontem à tarde,  poucas horas depois de eu tê-la visto descansando na garagem, na parte externa sem a cobertura, do lado esquerdo, próxima ao carro, quando a Luiza deu por sua falta".

Gabriel (02/01/2014): "quando fui aí e vi ela [no Natal], tive certeza de que ela não chegaria no meu aniversário. Fora isso, tenho o costume de pensar que o que dói é a vida. Morrer faz parte da vida, mas estar morto não dói. E a cada dia que passa tenho mais certeza de que quem morre nunca deseja a tristeza de quem fica. Então, comemoremos que essa linda gata teve uma vida longa e saudável, que veio de um tempo muito longe. Nada pode ser melhor que uma morte por cansaço (...) Ela teve talvez a morte mais natural possível: a do gato que sabe que vai morrer e foge pra morrer sozinho. (...) Ficará guardada no coração, junto com o Siruiz e a Guga. Agora são todos estrelas".


O Gato – parte II do poema 51 de As Flores do Mal - tradução livre
(Charles Baudelaire)

De seu pelo loiro e marrom
Verte um perfume tão doce, que uma noite
Eu estava possuído, por tê-lo
Acariciado uma vez, apenas uma.

É o espírito familiar do lugar;
Ele julga, preside, inspira
Todas as coisas dentro do seu império;
Será uma fada, será deus?

Quando meus olhos, voltados para esse gato que eu amo
Atraídos como por um ímã,
Voltam docemente
E eu me reconheço em mim mesmo,

Vejo com assombro
A luz de suas pupilas pálidas,
Claras lanternas, opalas vivas,
Que me contemplam fixamente.

Um comentário:

Paulo M disse...

O que dizer? Adeus nunca vai ser fácil... Esse poema traduz o espírito indecifrável dos gatos. Tem o Alexandre, o Gabriel e o post para consolo (e esperança de que a Tuca tenha de fato fugido para morrer sozinha).