terça-feira, 5 de junho de 2012

O trânsito de Vênus e a imaginação do homem


Na cena inicial do filme Visão – sobre a vida de Hildegard von Bingen (2009), um grupo de pessoas está orando à luz de muitas velas. Alguns se penitenciam e a voz do que parece ser um pregador diz: “esperemos por Deus em silêncio”. É a passagem do 11° para o 12ª século de nossa era. Nas trevas mal iluminadas, ouvem-se choros e lamentos. Eles esperam o fim do mundo. Mas eis que o dia amanhece. O mundo não acabou e, para aquelas pessoas, é como se fosse um milagre.

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Imagem do trânsito de Vênus - Reprodução/ NASA

Estamos a mais de 900 anos dos fatos do filme, mais exatamente a 914 anos (considerando que a película fala de uma figura histórica que nasceu no ano de 1098) e nesse exato momento, em 5 de junho de 2012, milhões de pessoas estão fascinadas com o episódio astronômico do trânsito de Vênus pelo Sol – sob a nossa perspectiva, claro, de pobres terráqueos. O trânsito do planeta que em nosso céu também chamamos de Estrela da manhã se dá entre 22h04 GMT (19h04 em Brasília) e terminará às 04h55 GMT (1h55 em Brasília).

Incontáveis conjecturas, fantasias, associações, cálculos e teorias proliferam por todas as partes do mundo. Há quem se lembre dos maias e de interpretações mistificadoras que preveem o fim do mundo para 21 de dezembro de 2012 (mas até essa teoria, para desespero dos adoradores do apocalipse, já parece ter sido superada, com a descoberta recente de uma habitação na Guatemala dentro da qual estaria o calendário maia mais antigo já descoberto: neste, do século IX, não seriam 13, mas 17 os ciclos – chamados baktun –, e portanto não estamos no fim dos tempos nem mesmo segundo os maias).

Voltando ao assunto do post, o trânsito de Vênus nada mais significa que a simples passagem do planeta Vênus entre o Sol e a Terra. Não que, para mim, não haja interferência dos astros na Terra ou de planetas e satélites e o sol, ou sóis, entre si. Negar isso seria negar a matemática. Mas o fato de o Sol, Vênus e a Terra estarem alinhados entre hoje e amanhã só significa que o Sol, Vênus e a Terra estarão alinhados entre hoje e amanhã, fenômeno realmente fascinante que dá margem à imaginação, o que já ocorreu em outros momentos, como nos anos de 1631, 1639, 1761, 1769, 1874, 1882, 2004 e 2012, e só voltará a acontecer em 2117, quando todos vocês que estão lendo este post e eu já estaremos mortos.

O Planeta X, ou Niburu

Sobre fatos fascinantes da astronomia, ainda estamos por saber se existe ou não o planeta X, ou Nibiru, como o chamavam os sumérios. Esse povo que habitou a Mesopotâmia entre 5 e 6 mil anos atrás e deixou a primeira linguagem escrita (cuneiforme) de que se tem notícia conhecia o sistema solar tal como o conhecemos hoje e todos os seus astros: Sol, Mercúrio, Vênus, Terra, Marte, Júpiter, Saturno, Urano, Netuno, Plutão e Lua. Mas eles também conheciam o planeta Nibiru, como o chamavam, que teria uma órbita elíptica e passaria pelo nosso sistema solar a cada 3,6 mil anos.

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Sumérios deixaram legado impressionante

Sabemos que pouco do que a ciência descobre hoje chega ao nosso conhecimento, pois muitas descobertas não são divulgadas por vários motivos e interesses. Às vezes as informações vazam. Em 1982, o jornal The Washington Post publicou matéria com o então cientista-chefe do Infrared Astronomical Satellite (IRAS), Gerry Neugebauer, segundo a qual um corpo celeste do tamanho de Júpiter transitava “na direção da constelação de Órion” (leia aqui).

Estaríamos, talvez (mas isso não se confirma nem se desmente), na iminência de conhecer Nibiru, pois há quem diga que ele passaria próximo da Terra em breve. Vamos aguardar, minha gente. Eu adoraria poder comprovar algo tão fantástico. Mas estou a anos-luz de distância de profetas do apocalipse. Cruz credo.

6 comentários:

Alexandre disse...

Lembrando que os sumérios(Suméria, hoje o Iraque) sabiam desse evento astronômico há cerca de 5000 anos, sem todo o aparato tecnológico que temos hoje. E curioso saber que o berço da astronomia também vem dos Sumérios, a civilização mais antiga que se tem conhecimento. No entanto somente estamos conhecendo esses fatos hoje, após 2000 anos dc.

Alexandre disse...

Mas esquecendo-me então de todo esse show de Vênus ante aos nossos olhos, saudações à deusa do amor e da beleza. Saudações ao nosso planeta irmão.

Gabriel Megracko disse...

Ufa!, 17 ciclos...
“A única coisa que pode convencer uma pessoa que realmente acredita que o mundo irá acabar no final de 2012 é esperar o início de 2013.” Boa frase, David Stuart, boa frase.
Agora, 7000 anos abarca duas órbitas do Nibiru em redor do Sol, se as informações estiverem certas. De qualquer forma, conheceremos o fim de um baktun, ahn!, que privilégio! Privilégio visto como o odômetro de um carro, nesse comentário do jjj...uão bobão David Stuart “É importante entender que os maias viam os calendários como ciclos. O final de um baktun é um período importante, não um fim. É como o odômetro de um carro. Quando ele chega a 100 mil quilômetros e volta ao zero, você não assume que o carro vai simplesmente desaparecer” foi bastante infeliz, porque utilizar uma comparação dessas é no mínimo ridículo. Enfim, o cara acha que é gênio porque estava numa "equipe" que descobriu algo muito importante, em pesquisa que, sozinho, ele ficaria lá mesmo, na sua universidade, no Texas.
Outra questão é que quando ele fala que as pessoas acreditam que o mundo vai "desaparecer" (ou o carro, ao fim dos 100 mil kms, em seu patético exemplo), ele está falando de quem? De mim, de você? De todos que não são ele e sua equipe, os descobridores do não-fim do mundo? Enfim, eu, pelo menos, nunca acreditei em "fim do mundo" (como o tal David disse que as pessoas pensam) pensando em uma desintegração do planeta, mas sim no fim de um ciclo, de um sistema, de um período, de uma órbita, dos nossos tempos, dos tempos dele, dos tempos do meu gato, das bandas de rock, dos legados do jazz, da literatura, da arquitetura etc. etc. etc.
Isso de que os maias pensavam em produzir algo que proporcionasse a continuidade das coisas e que nós pensamos sempre em um fim, ele tirou da cabeça texana dele, porque se ele for pro outro lado do mundo, ou mesmo ali, na América Central, onde ele esteve, vai encontrar um monte maias.
Os dizeres de David Stuart estão aqui: http://www.piauihoje.com/noticias/encontrado-na-guatemala-o-mais-antigo-calendario-maia-veja-36820.html
Agora, que as Pedras-Guia da Geórgia existem, existem, e que querem dizer algo muito significativo, querem.

Beijos a todos e... VAI PRA CIMA DELES SANTOS!
E, se não for agora, acalmem-se corintianos, tem aí mais uns 4 baktuns pro Corinthians ganhar a Libertadores.

Eduardo Maretti disse...

hahaha... Não tinha pensado nisso. Quatro baktuns é bastante tempo mesmo, apesar de Albert Einstein ter mostrado que o tempo é relativo.

Mas como a fidelidade e a paixão da Fiel crescem com o sofrimento, e o sofrimento, como categoria filosófica, se dá no tempo (relativo ou absoluto), creio que não vai ser muito problema pra eles...

carmem disse...

Vida longa aos baktuns!!!

Gabriel Megracko disse...

Mas, olha, sem entretenimento a gente não fica, porque um baktun corresponde a um ciclo de quase 400 anos (394,26), um quarto da era do Novo Testamento. Tá bom?