No meio de discussões nos comentários a post anterior a respeito do barulhento caso Erundina-Haddad-Maluf-Lula, escrevi que, naquele momento, a discussão era “para lá de inconclusiva” e que todas as posições eram “passíveis de ser relativizadas, inclusive a minha”.
Digo isso porque temos a tendência de falar e entender política sob um viés maniqueísta e às vezes purista, quando sabemos que tanto uma lente como outra distorcem a realidade.
Enfim, o episódio Erundina desta semana foi marcado pelo purismo e pelo maniqueísmo. E a verdade é que a ingenuidade perpassa tanto o maniqueísmo como o purismo ou “idealismo”. Política não é feita por nem para puros e santos. Não existe democracia sem acordos e táticas. Não se governa um país, um estado ou uma cidade como São Paulo como se governa um grêmio estudantil, como querem fazer parecer os partidos supostamente de extrema esquerda cuja prática, na verdade, serve aos interesses da direita.
Erundina não é santa
Antonio Cruz/ABr
Haddad: à procura de vice |
É preciso, portanto, distinguir o passado político em si do passado histórico como prefeita (nordestina e mulher) que venceu uma eleição democraticamente, para espanto de muitos, e tentou fazer um administração pela primeira vez voltada para as classes menos favorecidas. Pois, como lembrou José Arrabal em post anterior neste blog, o erro de Erundina esta semana foi o segundo grande equívoco político de sua trajetória: ela “errou e quebrou a cara (...) ao aceitar de modo personalista um ministério no governo de Itamar Franco. Nada fez ou pôde fazer de bom no Ministério e deixou o cargo humilhada, ciente de que cometera uma grande bobagem na sua história política pessoal”.
Wilson Dias/ABr
Preterida em nome da renovação |
De Lula, o que cabe notar é que ele tem adotado algumas atitudes até certo ponto caudilhescas. O episódio com Maluf foi uma delas, assim como o foi sua decisão irrevogável e até certo ponto antidemocrática dentro das hostes petistas ao praticamente impor o nome de Fernando Haddad em nome da renovação dos quadros do partido. Esta, se é uma justificativa considerável, é por outro lado um pouco contraditória com a urgência de “derrotar o demo-tucanato em São Paulo”. Pois nunca foi totalmente convincente o argumento de que a taxa de rejeição de Marta Suplicy seria fatal no segundo turno. Marta tem um eleitorado fiel e importante nas periferias da cidade. Haddad, ainda não.
Como Dilma Rousseff, que era chamada de “poste” até alçar vôo por si própria, impor ao processo político sua personalidade discreta mas marcante e descolar-se da figura do presidente Lula, Haddad tem a mesma árdua tarefa pela frente. Como a campanha ainda nem começou, há tempo. O problema é que Dilma, para se eleger, contou com o esmagador apoio do Nordeste do país, mas não se sabe se, analogicamente, as periferias de São Paulo serão tão decisivas como precisam ser para Haddad vencer. Não se sabe, fazendo as contas de quantos votos a aliança com Maluf trará e quantos vai tirar de Haddad, se todo esse imbróglio terá, ao fim e ao cabo, sido positivo ou negativo para a candidatura petista.
Existe um dado sociológico relevante em São Paulo. Aqui, as classes C e D não são tão sensíveis aos benefícios evidentes que os governos Lula e Dilma lhe proporcionaram e continuam proporcionando. Aqui, os pobres, nordestinos ou não, querem ser como os ricos. Não estão tão preocupados em ter um transporte público decente, porque seu sonho é ter um carro O km. E é esse enorme eleitorado, cujo voto é totalmente volátil e sensível a chantagens eleitorais, que Haddad tem de conquistar.
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