sábado, 15 de junho de 2013

Considerações sobre o confronto polícia x manifestantes



CC/DRAGO/SELVASP



Gostaria de fazer algumas considerações sobre o que estou observando no meu país, com o intuito de contribuir com o debate nas redes sociais.

- Está claro que a juventude não está mais indo às ruas por conta do aumento generalizado de tarifas de transporte pelo Brasil afora. Embora criticar os aumentos abusivos seja uma causa justa, isso está sendo o estopim para a expressão de uma insatisfação política muito maior. A esse estopim vem se somar a postura inflexível dos governantes eleitos pelo povo, mas que com o povo não aceitam sentar para negociar, além da ação truculenta e irresponsável da Polícia Militar.

- Os reprimidos de ontem se tornam os repressores de hoje. Embora o PSDB seja hoje um partido pseudo-social-democrata, que migrou para o liberalismo mas ainda não teve coragem de mudar o nome, ainda tem em seus quadros muita gente que lutou contra a ditadura militar. Sobre o PT, é ainda mais lamentável ver gente como José Eduardo Cardozo tratando manifestantes como vândalos e baderneiros. O problema é que o meu ceticismo me diz que os reprimidos de hoje tendem a se tornar os repressores de amanhã. Essa é uma marcha histórica que infelizmente nunca foi rompida.

- O discurso cínico de restabelecimento da ordem não cola mais. Está claro, até pela cobertura da imprensa (que invariavelmente é intolerante e boçal em relação à rebeldia, mas que teve de engolir a realidade dos fatos), que quem começou a desordem de ontem foram as "forças da ordem", que aplicaram força desproporcional e contribuíram para generalizar o caos ao contrário de garantir que uma manifestação pacífica continuasse transcorrendo de forma pacífica, sem degenerar em violência.

- O movimento está crescendo, e a truculência e intolerância com que está sendo tratado é que está contibuindo para que vire uma bola de neve. Uma hora os donos do poder vão ter que sentar para conversar com os "baderneiros", ou então a tendência é que a situação se agrave cada vez mais. Não é com tropa de choque e cacetadas que se tratam as manifestações democráticas. E isso prova que o governador do Estado não tem moral para falar jamais em "aula de democracia".

*Felipe Cabañas da Silva, 29 anos, é professor de Geografia

6 comentários:

Paulo M disse...

Me lembro da música de Titãs, que diz: "Quem quer manter a ordem/Quem quer criar desordem".
O texto do Felipe aborda bem o assunto. E, claro, "isso está sendo o estopim para a expressão de uma insatisfação política muito maior".
Tenho dúvidas sobre o limite entre o conceito de vandalismo e o de revolta. Há décadas os professores do Estado fazem greves e passeatas pacíficas e 'legítimas' e nada se resolve, muito pelo contrário, têm ganhos até reduzidos e levam borrachada da cavalaria da polícia. Paciência tem limite.

Vi pela TV um cartaz significativo entre os manifestantes: "Vandalismo é andar amassado nos trens do metrô".

Quanto ao movimento em si, não sei quanto têm de política esses protestos. Confesso que não entendi ainda sua origem e seu objetivo. Aparentemente são estudantes de classe média pra cima, "contaminados" pelo poder do Facebook, com apoio do PSTU e do Psol. Segundo o jornal ABCDMaior, "manifestantes da Região (do ABC) irão se concentrar nesta segunda-feira (17/06), às 17h, no Paço Municipal de Santo André. O objetivo é seguir até o 5º Ato Contra o Aumento das Tarifas, marcado para as 18h no Largo da Batata, na Capital."
Segundo o mesmo jornal, "a Prefeitura de São Paulo irá convocar uma reunião extraordinária do Conselho da Cidade na próxima terça-feira (18/06) para discutir o transporte público em São Paulo. Por determinação do prefeito Fernando Haddad (PT), o MPL (Movimento Passe Livre) será convidado para fazer uma apresentação diante dos conselheiros para explicar suas propostas para o setor".

Creio que, para o MPL, se estiver de fato interessado em melhores condições para o transporte público na Grande São Paulo, é uma oportunidade única para expor os problemas e exigir soluções rápidas. Aí é que se vai definir se há, no movimento, interesse pelo bem-estar da população ou se é vandalismo mesmo. O fato é que os protestos atravessam o país de norte a sul. Resta a governos estaduais, municipais e federal dialogar e atender às carências nos grandes aglomerados.

Brasil, boa sorte amanhã, contra o Japão, e sempre.

Eduardo Maretti disse...

Também acho que governos estaduais, municipais e federal têm de dialogar para tentar atender às carências da população.

É preciso prestar atenção em quem NÃO quer dialogar. Porque também acho que "é conversando que a gente se entende", como diz Caetano numa passagem de "Araçá Azul".

Alexandre disse...

Não sei até que ponto isso é verdade ou não, se essas informações são verdadeiras, ou se é balela...
http://www1.folha.uol.com.br/cotidiano/2013/06/1295714-servico-secreto-da-pm-diz-que-psol-recruta-punks-para-protestos.shtml

Eduardo Maretti disse...

Acho que faz sentido.

A reportagem é boa. Ressalva que "o serviço reservado da PM, frisa que não há envolvimento do PSOL como partido, mas de militantes avulsos".

A considerar.

Eduardo Maretti disse...

PS: Alexandre, curioso que só depois de fazer o comentário acima me dei conta de que a reportagem da Folha, no link que você colou, é do Mário Cesar Carvalho.

Ou seja, e reportagem tem muita credibilidade, pois é assinada por um senhor repórter, com o qual, aliás, tive a oportunidade de trabalhar na Folha, lá se vão uns 20 anos (como o tempo passa, meu deus!).

Alexandre disse...

O que falei que poderia ser balela, não foi a metéria informativa do jornalista, até mesmo pque dei uma conferida no crédito, depois que li, achei muito bem embasada, mas as fontes de onde foram tiradas essas informações.
Mas hoje é um dia histórico, com todo esse movimento popular. É estranho e ao mesmo tempo oportuno essas manifestações, considerando que isso, como já foi dito nesse blog, vai além das exigências de uma simples redução do aumento das tarifas dos transportes públicos.
Estão batendo nas portas de Brasília. Bobear, vão estourar as trancas do palácio.