sexta-feira, 17 de agosto de 2012

Lembrando Carlos Drummond de Andrade,
aos 25 anos de sua morte


Hoje faz 25 anos da morte do (para mim) maior poeta brasileiro da nossa história, Carlos Drummond de Andrade, que se foi em 17 de agosto de 1987. Em homenagem a esse gigante da literatura universal, segue um lindo poema dele, que dá título também a um de seus livros. Viva Drummond!


Sentimento do mundo

Tenho apenas duas mãos
e o sentimento do mundo,
mas estou cheio escravos,
minhas lembranças escorrem
e o corpo transige
na confluência do amor.

Quando me levantar, o céu
estará morto e saqueado,
eu mesmo estarei morto,
morto meu desejo, morto
o pântano sem acordes.

Os camaradas não disseram
que havia uma guerra
e era necessário
trazer fogo e alimento.

Sinto-me disperso,
anterior a fronteiras,
humildemente vos peço
que me perdoeis.

Quando os corpos passarem,
eu ficarei sozinho
desfiando a recordação
do sineiro, da viúva e do microscopista
que habitavam a barraca
e não foram encontrados
ao amanhecer


esse amanhecer
mais noite que a noite.