sexta-feira, 22 de junho de 2012

Goleiro e cidadão: arqueiro da seleção do Paraguai se manifesta contra golpe


Muito bacana e digno de nota o posicionamento do goleiro da seleção paraguaia de futebol, Justo Villar, contra o impeachment de Fernando Lugo, em sua conta no twitter, logo após o final do processo relâmpago que destituiu o presidente.

“Não aprendemos nunca! Os anos passam e continuamos com o fardo desta gente que só tem interesses pessoais. Nunca pensam no país”, escreveu o goleiro, que também defende as cores do Estudiantes da Argentina (país de um nível cultural bastante superior ao brasileiro).



O arqueiro disse também na rede social: “não merecemos isso! Principalmente o povo que está na praça”, referindo-se à multidão que esperava o resultado da votação do impeachment na praça em frente ao Congresso, cujos protestos foram reprimidos pela polícia.

Fico pensando que distância entre esse futebolista e os nossos brasileirinhos nos gramados do país afora, que só sabem dizer “o senhor me abençoou”, “bom dia amigass! e noixxx”, “na resenha com...” e outras pérolas culturais.

O chefe de Estado do país vizinho foi derrubado pelo Congresso sob o pretexto de “fraco desempenho de suas funções”. Ele foi responsabilizado, entre outros episódios, por um confronto entre forças policiais e trabalhadores sem-terra, há uma semana, que terminou com 17 mortos (11 de trabalhadores e seis policiais na região de Curuguaty).

4 comentários:

Felipe Cabañas da Silva disse...

Infelizmente, os atletas brasileiros com consciência política são contados nos dedos (depois que Sócrates morreu, nos dedos de uma mão só).

É triste. No Brasil, ficamos satisfeitos quando os jogadores conseguem formular um discurso coerente sobre uma peleja sem gaguejar ou soltar meia dúzia de chavões. Posicionamento político, cultural e ideológico? Esquece.

Mas eu acho complicada essa coisa de comparar cultura. Para comparar nível cultural, temos que olhar para a educação (embora sempre tenha os idiotas que acham que cultura se mede pelo número de nobéis), e tenho minhas dúvidas se a educação na Argentina está tão melhor que a brasileira. É fato que a educação brasileira vai mal, mas como professor, sou um sujeito otimista (por incrível que pareça). Os avanços políticos têm sido pífios, mas percebo que, cada vez mais, pelas exigências cada vez mais selvagens do atual famigerado "mercado de trabalho", a sociedade está tomando uma consciência mais forte da importância da educação, do professor, da escola, da formação, o que é um primeiro passo importante. Também creio que o Brasil tem um "diferencial" cultural importante diante da Argentina: a qualidade do ensino superior. Claro que se proliferou nos últimos anos um "mercado de educação superior" de qualidade muito baixa, mas nossas principais universidades são frequentemente avaliadas (por métodos também duvidosos) à frente das argentinas. Acho que tudo isso dá um bom debate, mas tendo, apesar da proliferação dos "tchu tcha tcha" da vida e do baixo nível intelectual dos nossos boleiros, a defender a cultura brasileira. Abraços.

Victor disse...

A generalização é um mal que ataca até os críticos exemplares.

Quantos jogadores do Paraguai falaram sobre a questão? Um goleiro.

Não é só no Brasil que não há interesse pela política é no mundo todo. A política é vista como um mal, é pintada assim todo dia pela mídia e para competir com ela temos o consumo pintado de bom.

A vida é uma coisa sem sentido, alguns procuram este sentido em coisas que enxergam ou que percebem até onde os seus sentidos alcançam. Será que não há mais nada para além disso?

Acho também que isso não é motivo para valorizar ou desvalorizar todos os atletas de um país.
A educação é muito mais do que ensino nas escolas e universidades, é a cultura que a nossa sociedade mostra no seu dia e aqui é ligada, plugada no consumismo. Este é o caldo no qual todos estamos imersos.

Mas isso é só minha opinião. Não diz se estou certo ou errado. É um ponto de vista, como dizem, a vista de um ponto.

Felipe Cabañas da Silva disse...

Victor, infelizmente, esta valorização ou desvalorização dos atletas não é uma mera questão de opção. A realidade está aí. Nossos futebolistas têm dificuldade de falar duas frases em entrevista após o jogo. Jogadores que leem, escrevem, se expressam bem e têm objetivos na vida que vão além de encher as burras de dinheiro ou serem os mais badalados pelo show business, como uma meia dúzia que temos por aí, são ainda peça rara por aqui, e justamente porque nossos boleiros, quando começam a se dar bem nos relvados, abandonam a escola, não vendo nela mais qualquer utilidade.

E nas sociedades contemporâneas, de massa, cultura passa sim pela escola. Não é só uma questão escolar, bem entendido, mas começa na escola. Podemos discutir o que é cultura, claro, mas não dá para imaginar uma sociedade que possa ser definida como detentora de um "nível cultural elevado" sem uma educação decente, do berçário à livre docência.

Eduardo Maretti disse...

O belo projeto comandado pelo técnico Oscar Tabárez, de seleção uruguaia, é um exemplo de nível cultural de um país. Tabárez comanda um projeto que envolve desde as categorias de base da Celeste até o profissional. Os jogadores não são tratados apenas como atletas: a mentalidade desenvolvida passa pela educação e pretende, mais do que fazê-los jogadores, fazê-los homens. São educados desde jovenzinhos a conhecer história, a saber dar entrevistas, falar corretamente, ter consciência das coisas do país. Esse é um exemplo de trabalho coletivo impensável no Brasil, onde os "futebolistas têm dificuldade de falar duas frases em entrevista", como diz Felipe. O crescimento da seleção uruguaia (campeão da Copa América e semifinalista da COpa do Mundo) no cenário internacional, mais do que acaso ou ou fruto de uma geração talentosa, é fruto exatamente deste trabalho.

Outro exemplo, este individual, mostra que não é pq se é atleta que se precisa ser estúpido: O sérvio Petkovic corrigindo a intragável Ana Maria Braga qdo esta, numa entrevista, fez a seguinte pergunta idiota: "como é que é ter nascido num país com tantas dificuldades?" e ouviu em resposta do jogador: "Qdo eu nasci não tinha dificuldade nenhuma, a gente vivia num regime socialista..." (link abaixo)

Compare também, Victor, o comportamento dos argentinos de modo geral com o dos brasileiros de modo geral.

Eu tb discordo desta generalização: "Não é só no Brasil que não há interesse pela política é no mundo todo."

O link de Petkovic e A.M. Braga:

http://www.youtube.com/watch?v=B80AsDP2IaM

abraços