sábado, 17 de dezembro de 2011

Jornalismo, futebol e mídia


A um dia de um dos maiores fatos esportivos dos últimos tempos, Santos x Barcelona pela final do Mundial de Clubes, um jogo esperado por todos os que gostam de futebol, a home page da ESPN Brasil dá como destaque o Tite (maior) e a luta UFC.


A um dia de Santos x Barcelona, destaques da ESPN Brasil são Tite e UFC

No caso da ESPN Brasil, existe a justificativa mercadológica, já que a emissora não tem direitos de transmissão do Mundial de clubes da FIFA. Na programação do canal está previsto o seguinte para as 08:30 de domingo (horário de Santos x Barcelona): "Turfe - Troféu Carlos Pellegrini".

Mas se têm justificativa mercadológica, as edições do site da ESPN Brasil pecam jornalisticamente, porque privilegiam um corintianismo irritante. Porque até as pedras sabem que pelo menos hoje o Santos é mais importante do que o Corinthians. Já a TV Globo, que detém o monopólio da transmissão da Libertadores e do Mundial em canal aberto, simplesmente não transmitiu Santos 3 x 1 Kashiwa Reysol na quarta-feira para o Brasil. O jogo foi ao ar apenas para o estado de São Paulo. Os santistas de todo o resto do país que não têm condições de ter TV a cabo ficaram com a Ana Maria Braga.

Essa opção tosca da Globo gerou protestos nas redes sociais da internet que, por sua vez, provocaram até desculpas esfarrapadas da emissora dos Marinho, tentando justificar a não-transmissão do jogo do Santos (nem vale a pena reproduzi-las). Pergunto: se fosse Corinthians ou Flamengo, a Globo optaria por Ana Maria Braga? Não.

No ano que vem a norte-americana Fox entrará pesado na transmissão da Libertadores no Brasil. Sabiam?

Até lá, a Globo talvez entenda que precisa ser mais democrática para, a longo prazo, manter o seu poder. Até porque isso tem tudo a ver com a propalada, e ainda tão distante, democratização dos meios de comunicação, a regulamentação dos artigos 220 a 223 da Constituição de 1988, e por aí vai.

4 comentários:

Felipe Cabañas da Silva disse...

Corintianismo na ESPN Brasil? Não sei, isso me cheira a "lentes distorcidas do anti-corintianismo".

Bom, o Corinthians lota estádios pelo Brasil afora porque tem uma das maiores torcidas do mundo, fazendo com que até os adversários vejam uma boa opção de lucrar com a torcida corintiana, caso do América MG no campeonato brasileiro de 2011.

A torcida do Santos, é fato, é a menor entre os quatro grandes do Estado. Tanto é que até hoje cabe dentro de um estádio de 20.000 pessoas. O Santos é pequeno por isso? Obviamente que não, mas é claro que dentro da sociedade do espetáculo o clube vai sofrer um pouco por isso. (Mas ao mesmo tempo que sofre por um lado, se beneficia por outro, afinal de contas o moicano do Neymar é uma excelente e rentável campanha de marketing. Marketing traz dinheiro para o clube, que traz jogador - ou cria - e MANTÉM o jogador).

Essa é a conjuntura do futebol hoje, onde os clubes estão no caminho de se tornarem verdadeiras empresas. Algo que não me agrada nem um pouco, evidentemente. Dentro do contexto empresarial competitivo que está se instalando, a TV paga zilhões para transmitir os jogos dos times que dão maior audiência. É óbvio que ela não vai deixar de transmitir um programa que vai dar um milhão de pessoas assistindo para transmitir um jogo para 10.000 santistas que moram, sei lá, em Manaus - por que quem iria assistir Santos x Kashiwa em Manaus a não ser os santistas? Seria ingênuo pensar diferente.

E podemos não concordar com isso, mas todos nós legitimamos e reproduzimos esse estado de coisas, quando compramos a camisa do nosso clube e quando ligamos a telinha para sentar no sofá para torcer. Acredite, Edu, isso não tem nada a ver com corintianismo ou anti-corintianismo - francamente, seu time está na final do mundial de clubes, por que você está perdendo tempo em falar desse timinho sem estádio e sem libertadores chamado Corinthians?

Saudações corintianistas.

Eduardo Maretti disse...

Felipe, para além de corintianismo, santistismo, palmerensismo, flamenguismo etc, o que me parece o mais importante notar é que no Brasil não existe democracia dos meios de comunicação, o que é uma das discussões mais importantes hoje no país. O futebol é apenas mais uma área onde essa falta de democracia se manifesta cabalmente. A Argentina fez sua Ley de Medios. Aqui, nem governo nem oposição querem saber de REGULAMENTAR O CAPÍTULO "COMUNICAÇÕES", DA CONSTITUIÇÃO, à espera disso há 23 anos. Não há argumento capaz de justificar o monopólio global.

E outra: estamos em uma época em que as chamadas minorias devem ter os mesmos direitos das maiorias, seja qual for o ramo de atividade em questão. É por isso que lutam inúmeros movimentos sociais e gente comprometida em transformar este país em uma democracia de fato.

A Globo teria todo o direito de pôr no ar o que bem entendesse, se não tivesse o MONOPÓLIO do futebol no Brasil e determinasse o que as pessoas podem ou não assistir. Me espantaria que você não concordasse com isso.

Leia os artigos 220 a 223 da Constituição. Está aqui:

http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constitui%C3%A7ao.htm

PS: sobre a Conferência Nacional de Comunicação (2009):

http://fatosetc.blogspot.com/2009/12/confecom-precisa-dar-respostas.html

abraços!

Leandro disse...

Lembro que em 2000 a Rede Bobo tentou ignorar solenemente o mundial daquele ano porque não detinha os direitos de transmissão, que pertenciam à Bandeirantes.
Nas edições do Globo Esporte do início da competição lembro bem que os apresentadores insistiam em chamá-la de "Torneio da FIFA", passando os gols de forma burocrática durante alguns segundos, com o raro propósito de que tudo passasse quase que despercebido.
Mas o clamor popular, o pênalti defendido por Dida, o gol roubado do zagueiro João Carlos que significaria o 3x2 e o golaço do Edilson na eletrizante partida contra o Real Madri começaram a mudar o quadro, e no final (especialmente, na final contra o Vasco), não restou alternativa à "poderosa" que não ceder à força de mais uma invasão corintiana ao RJ (sede da emisora) e a mais um título do time do povo.

E.T.: Compreendo o que o Felipe quis dizer a respeito do interesse que determnados jogos podem despertar, ou não, em determinadas regiões do país, e o legislador constituinte pensou nisso, porque, estes artigos da CF também falam de promoção da cultura regional e de regionalização da produção cultural, artística e jornalística.
Lembro que no ano passado o jogo do Internacional contra o Mazembe passou aqui para SP, e mesmo sendo maluco por futebol, admito que um jogo assim não causa tanta "espécie" em quem vive em SP e não tem nenhuma relação afetiva com o Internacional. Pior ainda num dia útil com muito trabalho a fazer.
Seria muito bom que tivessem passado este jogo apenas para o RS. A final, numa bela manhã ou tarde de domingo, para os aficionados por futebol como eu, tudo bem. Até para "matar o tempo" e tomar umas (muitas), mas uma semi envolvendo qualquer time de outro estado em plena quarta ou quinta-feira de trabalho eu acho que não tem mesmo "demanda" em casos como estes.
E o legislador, insisto, levou em conta estes fatores.

Victor disse...

Edu, o que vc falou faz todo sentido e mostra a manipulação das emissoras de TV, que são concessões públicas e por isso devem levar em conta o interesse público das maiorias e minorias.
O detalhe é que o Marco Regulatório das Comunicações ainda não existe, por isso as TVs e as Rádios são empresas privadas, buscam o lucro e o interesse privado, os privilegiados "1%" fazem o que lhes interessa pessoalmente ou financeiramente, dane-se o tal do interesse público.
Hoje o presidente da ABRAÇO, Associação Brasileira de Rádios Comunitárias, enviou um e-mail contando que foi indiciado por uma delegada por denúncia da Anatel sobre vários artigos do Código penal, como calúnia , difamação, denunciação caluniosa, e vários outros artigos do Código penal. A pressão sobre as rádios comunitárias é enorme e violenta.
Será que dá para imaginar como será com o Marco, que proporá a divisão da voz do capital?
Tomadas de posição individuais, como não comprar camisa de clube, não resolvem esta questão democrática. A posição precisa ser coletiva, senão nada vai mudar.
As discordâncias precisam dar lugar para o acúmulo de forças.

Os times não têm mais torcedores, têm consumidores, este é um processo de transformação, quanto mais esta posição de consumidor se aprofunda, acredito, menos amor o novo torcedor terá pelo clube, pelo esporte e mais pelo "o que" a marca representa e o que podem ter de vantagem sendo consumidor torcedor.
Semelhantemente, as grifes, darão identidade os consumidor perante a sociedade e seu grupo torcedor.

Na discussão feita no Fórum Aberto do Torcedor - FAT, no Museu do Futebol, este conceito não foi aceito pelos marketeiros dos clubes.

O Neto, diretor de Marketing do Santos, tinha acabado de voltar da apresentação de uma pesquisa que identificava o principal atributo que o Santos tem para as torcidas e mostrava os pontos fracos que, de acordo com ele, seriam estimulados por campanhas publicitárias. Uma empresa.