sexta-feira, 1 de fevereiro de 2013

A missa católica e a lei seca – recomendações


Por mais sério que pareça, e é (afinal é uma nota oficial da Arquidiocese de Curitiba), não se pode deixar de observar que uma fina ironia perpassa o texto assinado pelo arcebispo Dom Moacyr José Vitti, no qual orienta os religiosos da capital paranaense sobre como se comportar com a nova lei seca, que entrou em vigor em todo o país em 2013. Ou será que não há ironia e estou imaginando coisas, motivado por algum sentimento anticlerical?

Foto: Carmem Machado


A íntegra da nota da Arquidiocese:

"Nossa orientação aos padres é que procurem reduzir ao máximo a ingestão do vinho (com álcool) durante as missas, lembrando de que se trata do sangue de Cristo. É importante também que os padres estejam sempre munidos com a carteirinha de padre, para atestarem que são sacerdotes e estão ao serviço da Igreja. Os que preferirem substituir o vinho com o álcool pelo sem, ou pelo suco de uva, poderão fazê-lo, pois já estão autorizados pelo arcebispo."

Leia também uma recomendação completamente contrária à da Arquidiocese:

Embriagai-vos (de Charles Baudelaire)

O documento no site oficial da Igreja Católica na capital do Paraná está aqui: Nota oficial da Arquidiocese de Curitiba - nova lei seca,

3 comentários:

Paulo M disse...

Apertar ainda mais o nó de uma lei que já era muito rigorosa me parece já demonstrar que a regra tem um segundo propósito, consciente ou não, que acaba sendo alcançado: o de dispersar, isolar as pessoas e torná-las solitárias e evasivas.
A ideia, na verdade, é fazer todos entenderem que "nada pode", quase meio século depois de ouvirmos os tropicalistas bradarem contra isso com o "é proibido proibir".

Fiscalizar o abuso do consumo de álcool ou do próprio sentimento de potência de alguns psicóticos ensinados ao volante é uma coisa. Proibir as pessoas de tomar uma cerveja com amigos e voltar para casa é outra, que atende só ao interesse dos que agradecem à banalização de tudo, seja isso pela imposição disfarçada de práticas fascistas ou pela boa-vontade de poupar vidas inocentes.

Todas as prefeituras do país agora resolveram fechar o cerco às casas noturnas depois da tragédia em Santa Maria. Antes disso, mesmo sob o risco, davam de ombros. É o que convém circunstancialmente.

Não sei se o arcebispo quis ser irônico. Baudelaire é bem melhor.

Eduardo Maretti disse...

Ótimo o comentário, concordo que Baudelaire é bem melhor. Mas que a nota do arcebispo é uma pérola, isso é!

Alexandre M. disse...

Vinho é vinho, suco é suco. Com certeza, Jesus não celebrou a Santa Ceia com suco. Vinho é uma bebida sagrada, suco não é sagrado, é suco, com todo o respeito, adoro sucos, mas vinho é vinho. Como nas hecatombes, nas ilíadas, as odisséias precisam do vinho, há muito tempo. Dom Vitti talvez precise rever seus conceitos, ou então parar de beber.
Ou então não beber, já mais. Não sei de quando é essa nota, mas melhor seria celebrar uma missa às almas jovens que se foram de Santa Maria.
Muito bom seu comentário, Paulo M.