segunda-feira, 14 de março de 2011

Reflexões a partir da tragédia japonesa

A tragédia japonesa, cujo saldo nem mesmo as autoridades do país oriental têm condições de precisar no momento, apontam para duas reflexões que transcendem os próprios eventos.

1) Como se sabe, o terremoto e o tsunami que devastaram as cidades da costa leste e nordeste do Japão provocaram explosões no complexo nuclear de Fukushima. Não se sabe ao certo as conseqüências de mais esse acidente nuclear, até porque os discursos oficiais sempre omitirão a verdade. O mundo está em permanente risco devido à quantidade de reatores nucleares existentes hoje. Nós mesmos temos aqui no Brasil, em nosso litoral, a usina de Angra dos Reis, idealizada ainda no regime militar.

Diante do ocorrido no Japão, ganham visibilidade discursos questionadores do modelo disseminado no mundo todo a partir da descoberta da fissão nuclear, em 1938, por Otto Hahn e Fritz Strassmann, na Alemanha, que conseguiram o feito ao bombardear com nêutrons o átomo de urânio (U-235) – descoberta que, ironicamente, foi testada como artefato militar em Hiroshima e Nagasaki.

Thanatos e Eros

Parece claro que o desenvolvimento do mundo no século XX levou o homem no plano coletivo a pender para o lado da morte. Ao desenvolver sua teoria psicanalítica, Sigmund Freud dotou o ser humano de dois instintos básicos ou primordiais: Thanatos (deus grego que simboliza a morte) e Eros (deus grego do amor e da vida). Se a premissa de que a teoria freudiana está correta, esses princípios ao mesmo tempo antagônicos e complementares são determinantes para os rumos da civilização. E o resultado do desequilíbrio, que decorre da prevalência da pulsão da morte sobre a pulsão da vida, é esse que estamos vendo. Usinas nucleares, o próprio câncer, incrustrado em todas as partes do planeta.


2) A segunda reflexão é mais simples. Diante da natureza, nós nada somos.




PS
: (um dia depois da postagem - atualizado às 16h55 de 15/03). "Fala-se de apocalipse e acredito que é um termo particularmente bem escolhido", disse o comissário europeu de Energia, Günther Oettinger, a uma comissão do Parlamento Europeu, em Bruxelas, sobre a situação a que chegou o desastre nuclear em Fukushima. "Praticamente tudo está fora de controle". A situação é de nível seis de gravidade em uma escala que vai até sete. O nível sete da escala da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) só se confirmou uma vez no mundo: na tragédia de Chernobyl, na Ucrânia, em 1986. O presidente da Autoridade de Segurança Nuclear francesa, André-Claude Lacoste, foi enfático: "Estamos em uma catástrofe evidente".

3 comentários:

Victor disse...

O Japão parece que tem no seu destino a questão nuclear, uma vez foi durante a guerra e agora na paz. Acho que esta tragédia nuclear da paz ainda não acabou, os reatores mesmo desligados não param de esquentar, entendo que a destruição será maior ainda esta por vir. Torço para que não aconteça.

Felipe Cabañas da Silva disse...

Curiosamente, a energia nuclear é vista ainda por muita gente (inclusive ambientalistas do peso de James Lovelock) como uma luz no fim do túnel em relação a outras formas de produção energética, e como alternativa à dependência do petróleo, recurso que vai se esgotar - esses parecem ser os gargalos da nossa "civilização" para este século.

Todas as formas de produção energética têm impactos ambientais. No caso da energia nuclear, embora seja uma energia limpa, com fonte segura e possibilidade de reprocessamento, espalhar usinas nucleares pelo mundo gera uma insegurança imensa, pois os acidentes que as envolvem sempre têm conseqüências desastrosas. A energia é uma sinuca de bico...

Paulo M disse...

A tragédia japonesa é tanta que em dois ou três dias o cenário apocalíptico do tsunami e do terremoto ficou meio ofuscado na grande mídia pela ameaça de um terceiro desastre (as usinas). Sempre que ouço falar em Japão vem-me imediatamente ao subconsciente uma idéia de perfeição racional e tecnológica. Pelas imagens, vemos que parece absolutamente impossível deter a tragédia diante da fúria do evento natural. Mas era possível não construir usinas nucleares bem em cima do encontro de duas placas tectônicas ameaçadoras. Como sempre, quem paga o pato é o povo, até no Japão.