É muito bonito e corajoso o trabalho da dupla de enviados especiais da Folha de S. Paulo (Marcelo Ninio e o fotógrafo Joel Silva) à cidade de Brega, na Líbia, um pequeno mas simbólico teatro da batalha do povo líbio contra o tirano Muammar Gaddafi. Assim como é bonito e corajoso o trabalho de Lourival Sant'Anna, do Estadão. A coragem desses profissionais faz pensar numa coisa: como poderia ser maior o jornalismo da “grande imprensa” se ele fosse menos ideologicamente mesquinho do que é na abordagem da política nacional.
Vendo essa reportagem da Folha (que você pode acessar aqui – para assinantes), pensei numa narrativa do livro Ensaios (Editora Leya), de Truman Capote, intitulada “Ouvindo as Musas” (1956):
“Quando os canhões são ouvidos, as musas silenciam; se os canhões estão silenciosos, as musas são ouvidas.”
Lembrando Robert Capa
*Atualizado às 17h40
Esse adendo ao post é para acrescentar a pertinente lembrança trazida pelo comentário do Alexandre [04 Março, 2011 12:27], lembrando a foto de Robert Capa, abaixo reproduzida, feita na Guerra Civil espanhola em 1936, que mostra o momento em que um miliciano encontra a morte. Sobre essa foto, uma das mais famosas fotografias de guerra, houve até uma polêmica, depois que uns pesquisadores sugeriram que ela teria sido forjada, suspeita nunca comprovada.
Robert Capa, nascido em Budapeste em 1913, fundador da agência Magnum, morreu em pleno teatro de guerra em 25 de maio de 1954, trabalhando na Guerra da Indochina, quando pisou numa mina terrestre. Seu corpo foi achado com a câmera entre suas mãos.
Fico imaginando se um homem que cobriu entre outras a Guerra Civil espanhola, a Segunda Guerra Mundial, a Guerra árabe-israelense de 1948 e a Guerra da Indochina, e tendo morrido como morreu, arriscaria tudo isso falsificando uma foto. Mas no mundo, o talento sempre será perseguido pelos abutres.
Uma célebre frase do fotógrafo: "Se suas fotos não são suficientemente boas, é porque você não está suficientemente perto".
Robert Capa - Guerra Civil espanhola/ 1936 |
4 comentários:
Vou lá conferir só por conta da sua indicação. Tô longe da grande imprensa desde o 2º turno...
essa foto me lembrou imediatamente uma das mais incríveis fotos de Robert Capa, qdo cobria uma guerra, se não me engano a guerra civil espanhola, na cena de um guerrilheiro tomando um tiro certeiro. Isso é uma coragem para poucos.
É uma pena que os grandes jornais brasileiros tenham se tornado empresas de comercialização de informações e venda de bugigangas.
Um sinal do capitalismo selvagem é administrar uma redação como uma empresa, uma escola como uma empresa, um hospital como uma empresa.
É normal que o capitalismo selvagem chegue à televisão. A televisão sempre foi um símbolo do mundo do consumo. E a televisão sempre se sustentou, desde as raízes, do apelo publicitário, que é o que sustenta o braço jornalístico da TV.
Mas os jornais impressos, por um tempo, conseguiram se manter independentes do "espetáculo", principalmente por terem uma fonte garantida financiamento: o bolso do freguês. Agora isso acabou. Com a internet, o jornalismo impresso perde "freguesia". No início da década de 1990, a Folha chegava a vender mais de um milhão de jornais num dia. Hoje, a média está em 300.000, sendo que continua "líder de mercado", como a própria Folha gosta de se auto-proclamar. Aí entra o excesso irritante de propaganda. Tem dias que o primeiro caderno (o mais importante) vem com quase 10 páginas só de propaganda. A Folha chegou a abrir espaço até para propaganda política, e o que mais apareceu foi um tal de Ricardo Salles, clamando o Brasil por "Uma Nova Direita", colocando-se como o "único candidato assumidamente de direita", e líder de um tal movimento "Endireita Brasil". Coincidência???
PS: Foi mal. Excluí a postagem duas vezes para corrigi-la. Abs.
Muito bom complemento, edu. Bela síntese desse grande fotógrafo. Essa foto do R. Capa é espetacular. A foto do Joel Silva, da Folha, é incrível também.
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