quarta-feira, 16 de março de 2011

O Ministério da Cultura e o compadrio

A volta do coronelismo cultural

Mais uma vez o Ministério da Cultura comandado por Ana de Hollanda é o centro das discussões. O assunto da vez é a cantora Maria Bethania, que em parceria com o cineasta Andrucha Waddington foi aquinhoada com a irrisória verba, pela Lei Rouanet, de nada menos do que R$ 1.356.858,00 para desenvolver o blog “O Mundo Precisa de Poesia”. Que bloguezinho caro, não? Evidente que esse e outros projetos já tramitavam antes, mas as aprovações foram divulgadas agora.

Os defensores de Bethânia, entre eles sua sobrinha e cantora Bellô Veloso, argumentam que a trajetória de Bethânia e o que ela deu à cultura do país justificam que verbas federais, no caso do MinC via Lei Rouanet [*ver Observação abaixo], financiem suas iniciativas. “Maria Bethânia é cultura!”, disse Bellô Veloso no twitter (@belovelloso). Citam outras verbas também aprovadas pelo MinC para justificar o R$ 1,3 milhão da baiana, como a dizer: se fulano recebe tanto, por que Bethania, que é muito mais importante, não receberia?

Um projeto musical chamado “Tchakabum é pura energia” (meu deus!) receberá R$ 1.629.000,00. A dileta filha de Elis Regina, Maria Rita, conseguiu a aprovação de verbas para seus shows na turnê “Redescobrir Elis - Shows de Maria Rita” no montante de R$ 2.195.800,00. E por aí vai (você pode ver a lista de projetos culturais aprovados e os respectivos valores clicando neste link).

Já muitos outros, como o cantor e compositor Lobão, atacaram o MinC. "Ô, Minc! eu quero um blog de poesia pra mim!”, escreveu ele em seu twitter (@lobaoeletrico).

Tudo isso é mais um indicador de que, sob Ana de Hollanda, o MinC voltará a ser o que era, privilegiando o individualismo e o compadrio, as amizades e influências, o Ecad, o privado em detrimento do social e os artistas que se viram órfãos no governo Lula sob a gestão de Gilberto Gil. Esses artistas são, entre muitos outros, o poeta Ferreira Gullar (ex-comunista), o cineasta Luiz Carlos Barreto, o ególatra Gerald Thomas e... Caetano Veloso, o gênio que odeia analfabetos, tio de Bellô Veloso e irmão de Maria Bethania. A equação é simples.

*Observação (às 18:32): há quem argumente que as verbas aprovadas via MinC/Lei Rouanet não são dinheiro público. Isso porque o MinC aprova a verba para que empresas possam abater do Imposto de Renda devido. Assim, se uma empresa deve R$ 100,00, ela dá, por exemplo, R$ 4,00 a Bethânia e R$ 96,00 à Receita Federal. Ora, os R$ 4,00 que o empresário deixou de dar ao governo para financiar o projeto de Bethania ou qualquer outro entram na conta chamada "renúncia fiscal". E isso é, sim, dinheiro público.

PS: Claro, precisa ser muito otário pra achar que as escolhas de projetos culturais beneficiados por leis de incentivo tenham sido, em algum momento, determinadas só pela qualidade e relevância cultural. O problema maior é que, com Ana de Hollanda, o que se vê é um recrudescimento do coronelismo cultural no Brasil e a revogação da democratização que a gestão anterior tentava implementar no setor. Triste.

PS 2:  Após o projeto em questão receber a chancela "aprovar" do MinC, significa o "ok" do Ministério. Portanto, não adianta a assessoria da Bethania vir dizer, como disse ao portal R7, que "por enquanto, ele está sendo avaliado para entrar na Lei Rouanet" e que "ainda precisará de um patrocínio para ser levado em frente". Precisará, é claro, e virá.

Sobre o MinC de Ana de Hollanda, leia também:

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Atualizado às 18:32

3 comentários:

Victor disse...

Vc tem razão, é claro que é dinheiro público. Agora um blog custar tanto assim, como vc disse, eu tb quero. Por outro lado, conseguir esta grana da iniciativa privada é mais difícil, apesar de ser a Bethânia e do incentivo. Vamos ver que vai patrocinar o blog milionário.

alexandre disse...

Pô, será que a M.Bethânia na me daria uma forcinha pra eu fazer meu blogzinho$$$? Ô, mulé, dá uma ajudazinha aí pro moço, hein? Tá pensando nuns incremento.
Palhaçada!

Gabriel Megracko disse...

(Refrão: 3 vezes):
"precisa ser muito otário pra achar que as escolhas de projetos culturais beneficiados por leis de incentivo tenham sido, em algum momento, determinadas só pela qualidade e relevância cultural"

Engraçado como os próprios artistas consagrados (há exceções) se negam (ou se esquecem...?) a abrir espaço pra arte nova (desimportando se é ou não proveniente da elite econômica ou cultural), usando como critério a genuinidade. É como se eles estivessem sendo invejosos... ou... ignorantes em algum ponto obscuro... não sei... sei lá... uai... parece lógico como matemática.

PS: - ôh, 'rouanétes', não preciso nem do seu dinheiro, só quero um cantinho do seu painel, lá me viro sozinho. Passar mal.