É possível aproveitar outras veias da Região Metropolitana que não as da correria, do trânsito e da perplexidade diante de lugares abarrotados de pessoas
Casa das Rosas, na Paulista |
Texto e fotos por Roseli Costa
Ao organizar minhas (longas) férias de professora, pude rapidamente perceber que as economias não dariam para bancar grandes viagens, a não ser a primeira visita a Buenos Aires – e a primeira em solo não brasileiro –, no início de agosto. Então, decidi passear por São Paulo e pelo Grande ABC sem lenço, sem dinheiro, com documento e com minha câmera em punho e, o principal, um olhar diferente: não julgador, não neurótico, não defensivo com relação à maior metrópole do Brasil...
E para “tocar” São Paulo, tive (e continuo tendo) de sair literalmente do salto, calçar confortavelmente, esquecer os points turísticos manjados por mim e por todos os que gostam de passear, tais como os maravilhosos mas não únicos Ibirapuera, MASP, Pinacoteca, Museu da Língua Portuguesa etc.
Restaurante Flutuante - Riacho Grande |
Um segundo ponto foi a Casa das Rosas – Espaço Haroldo de Campos, um dos poucos casarões da Avenida Paulista remanescentes, que acondiciona, além de um belo jardim de rosas dos mais variados tamanhos e matizes, um museu que celebra a poesia, a literatura e as artes em geral com vários eventos e que contém muita história acerca daquela região paulistana que floresceu com a riqueza dos barões do café. Ali também tem um aconchegante café que enriquece o espírito contemplativo.
Utensílio indígena no Museu Casa do Tatuapé |
Num outro momento, em visita ao bairro Campos Elíseos, além dos inúmeros e magníficos casarões, comuns em boa parte dos bairros nobres de São Paulo, deparei-me (essa é a palavra, pois foi uma surpresa) com o Museu da Energia. É um lindo casarão que pertenceu a Humberto Dummont, irmão de Santos Dummont.
Casarão pertenceu ao irmão de Santos Dummont |
Além da beleza externa e interna da construção, com suas paredes decoradas, corrimãos de madeira nobre, piso elaborado com material já nem mais encontrado e muitos outros encantamentos que tais casarões podem nos causar, há em cada sala a história das conquistas advindas da luz, tais como TV de plasma, fotografia, tecnologias de ponta etc.
Ainda no Campos Elíseos, é possível cortar caminho seguindo sempre pela Alameda Nothmann para alcançar a famosa Rua José Paulino, onde há uma “orgia” de lojas de roupas, sapatos e adereços.
Bem, na verdade continuarei nessa empreitada: microturismo dentro da Grande São Paulo, com um olhar poético, curioso, contemplativo. Sem salto, sem dinheiro e com documento e câmera fotográfica.
É claro que na volta dos passeios, no metrô, em horários mais específicos, senti toda a carga negativa que invade Sampa, decorrente principalmente da falta de investimento na malha metroviária e no sistema de transporte público da capital paulistana. Mas isso ficou bastante diluído em meio ao prazer estético experimentado nos passeios e por não ser tal enfrentamento cotidiano para mim.
Leia (e veja) também, da série São Paulo em Imagens:
Estação da Luz
Escultura de fios
Verão na cidade
Outono na cidade
Nossa Senhora do Crack
3 comentários:
Adorei ler esse texto porque ele me fez repensar numa nova São Paulo, que tem em cada cantinho uma novidade a ser explorada.
Talvez as coisas mais relevantes na vida sejam os grandes (ou pequenos) pormenores. São Paulo guarda detalhes importantes escondidos pela civilização do stress, do malufista "dormir tarde e levantar cedo" e do fascismo kassabista (que parece fazer ressurgir a alma de Jânio Quadros) de manter a cidade limpa e varrida de carroceiros e craqueiros da Luz. Eu mesmo trabalho há 15 anos na região e não conheço esse casarão histórico da rua Nothmann. É uma bela cidade, mas temos de encontrá-la.
Belo passeio!
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