O desastre em que terminou o voo 3054 da TAM, há cinco anos, às 18:51 do dia 17 de julho de 2007, me chocou porque eu cresci naquele bairro. Algo dessa magnitude é mais triste quando acontece na nossa “aldeia” (“o Tejo não é mais belo que o rio que corre pela minha aldeia” – Fernando Pessoa).
Foto: Alexandre Maretti - clique para ampliar
Estranhamente, o processo criminal que corre no Tribunal Regional Federal de São Paulo acusa apenas pessoas físicas: a ex-diretora da Anac Denise Abreu; o ex-vice-presidente de Operações da TAM, Alberto Fajerman; e o ex-diretor de Segurança de Voo da TAM, Marco Aurélio dos Santos de Miranda e Castro, isentando as empresas (TAM e Airbus).
Insistiu-se (revista Veja, sempre ela) que a tragédia teria sido causada por erro do piloto, “induzido” por um problema no reversor direito da aeronave. Claro, é mais fácil acusar um homem morto.
Mas o fato é que, pelo que se divulgou também, o Airbus A320 apresentava problemas já fazia tempo. No dia 14 de julho, três dias antes do acidente, segundo o verbete da Wikipedia (mas isso está em outros sites), uma equipe de mecânicos teria detectado um vazamento de óleo no sistema hidráulico do reversor direito. O reversor é um sistema que ajuda a frenagem do avião, falando muito grosso modo, invertendo a força de empuxo das turbinas para o sentido contrário ao deslocamento da aeronave.
Devido ao problema, o reversor foi travado, por recomendação do manual da Airbus. Ao pousar, o manete de controle do reversor travado não deveria estar em posição de aceleração, pois isso causaria efeito contrário ao desejado: a frenagem. O piloto teria cometido o erro ao deixar esse reversor que não funcionava na posição de aceleração, “climb”.
Mas cabe uma pergunta: se no dia do acidente o mesmo piloto – considerado experiente – comandava o mesmo avião num pouso bem sucedido no próprio Aeroporto de Congonhas, como ele pode ter cometido tal erro? Seguiu-se uma pane eletrônica, pois o computador de comando da aeronave “entendeu” que a posição do manete do reversor direito significaria decolagem ou arremetida, e, como conseqüência, os freios mecânicos e os spoilers (freios aerodinâmicos) deixaram de funcionar. E a pista curta, molhada e escorregadia de Congonhas, que estava sem as ranhuras, também teria colaborado para a tragédia.
E, com tudo isso, como se pode atribuir responsabilidade ao comandante do avião?
De resto, sempre lembro da frase do fotógrafo que fez a imagem que ilustra este post, meu irmão, Alexandre Maretti, sobre o sentimento ao fotografar uma tragédia como essa: “Na hora em que está fotografando, você não pensa em nada. Depois é que vem a vontade de chorar.”
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