Estátio em Itaquera (projeto)/Reprodução

E diz que “não é a prefeitura que está querendo impugnar as obras [do Palestra Itália], mas a Associação de Moradores de Perdizes e Barra Funda que entrou no Ministério Público alegando que não há estudo de impacto” para tal obra.
Não sei se é a associação de moradores, a prefeitura ou, politicamente, ambos se juntando para atrapalhar as obras do Palestra. O prefeito paulistano, aliás, disse ontem que vai apoiar o Palestra. O que sei, como alguém que morou por mais de 20 anos na região, é que parece quase absurdo se fazer uma obra dessa magnitude naquela confluência entre avenida Sumaré, a rua Turiassu estreita e sufocada pela inauguração de mais um shopping, o Bourbon, e a avenida Pompéia.
A região está quase saturada pela especulação imobiliária que verticalizou o bairro sem que a prefeitura de “dr. Kassab” ou seu antecessor José Serra (sim, ele foi prefeito, lembram?) jamais tenham se preocupado com nada que não fossem os mega interesses ($). É verdade que a cidade tem três estádios históricos, que pedem só reforma, como diz Paulo M no comentário acima citado, e que “de repente, quase do nada (...) aparece assim um quarto como única opção!”
Particularmente, acho que:
1) seria absurdo fazer uma reforma monstro no Pacaembu e seu entorno para abrigar a Copa do Mundo. Aquela região toda é tombada. Um dos poucos locais ainda preservados e aprazíveis da cidade seria destruído. Só se precisa saber o que se vai fazer com o estádio do Pacaembu, que é da população. Se não, uma hora dessas aparece um tucano e privatiza.

3) O Morumbi seria a solução mais óbvia, mas estava rifado desde o início pela FIFA. Por questões políticas, pela velha rixa São Paulo F.C. x Ricardo Teixeira e altos interesses financeiros. A FIFA quer porque quer um estádio novo, e ponto. Interesses, minha gente, interesses econômicos gigantescos. Reportagem da revista CartaCapital mostrou isso, semanas atrás (leia aqui: “A ganância vitima o Morumbi”).
4) Finalmente, o campo do Corinthians. Tecnicamente (urbanisticamente) parece ser a melhor solução. Do ponto de vista dos corintianos, se for viabilizado mesmo, finalmente o clube vai ter onde mandar seus jogos. Eu acho justo que o time de maior torcida do estado tenha seu campo e me parece apropriado que uma Copa do Mundo seja um catalisador desse processo. O clube aproveitou o imbróglio e se lançou. Está em seu direito. Diz que não vai haver dinheiro público. Mas nem tudo são flores: o projeto está orçado em R$ 300 milhões, para 48 mil lugares, que seriam bancados pela Odebrecht. Mas não poderia abrir a Copa com esse tamanho. No mínimo, teria que ter 65 mil, mas aí os custos subiriam para R$ 470 milhões. Quem paga a diferença?
Dogma
Primeiro, porque, de uma maneira ou outra, por meio de isenções fiscais, contrapartidas ou parcerias, o dinheiro público sempre estará em projetos muito grandes e/ou importantes. Dizer o contrário é faltar com a verdade. O Estado existe também para investir. Ou acham que é só para vender patrimônio? Dizer que esse dinheiro deveria ir para hospitais, escolas etc é sofisma. Em segundo lugar, o dinheiro pago pelo contribuinte nos pedágios paulistas, por exemplo, não é dinheiro público? Por que os defensores da moralidade não falam disso? A Polícia Militar não está em todos os jogos de futebol? E a PM é paga com que dinheiro?
A questão é saber usar o investimento, capitalizar, tornar útil socialmente (como Luiza Erundina tentou fazer com o autódromo de Interlagos e foi impedida pelos direitistas da Câmara). Crime não é o estado investir – se houver transparência –, é deixar apodrecendo o que foi investido, como acontece com algumas obras dos Jogos Pan-Americanos. Quando Kassab e o atual governador, Alberto Goldman, garantiram que não ia haver dinheiro público nas obras, receberam aplausos da mídia. Logo quem.
Repercussão: O jornal britânico Financial Times critica o projeto do estádio corintiano aprovado de surpresa e diz que ele não vai ficar pronto no prazo estipulado pela FIFA. Leia aqui.