segunda-feira, 1 de maio de 2017

Belchior, a morte e o paradoxo midiático


Belchior é uma figura sem dúvida importante. Não vou me estender sobre isso (a importância ou não do artista) porque a superexposição do assunto Belchior/morte de Belchior se tornou uma histeria midiática tão grande, nas redes, que não há mais o que se possa acrescentar.

A questão é: Belchior voluntariamente se retirou faz tempo. Ele disse adeus a esse mundo de exposição e histeria, ao show business. Não quis mais saber dessa busca obsessiva por mitos e heróis que é a razão de ser da máquina de moer gente e sentimentos que é o showbiz.

É um paradoxo: apesar dessa atitude definitiva e irrevogável (que se pode traduzir como: "deixem-me em paz"), o mundo insiste na mitificação de Belchior (como de todos os mortos ilustres ou que um dia foram ilustres). Cada um a sua maneira, nas redes sociais, procura algum argumento próximo ou distante para justificar por que ele é um deus (com "d" minúsculo, claro, como diria Nietzsche).   

Mas Belchior, conforme suas letras, nunca quis ser herói nem deus. Só que é em herói e num efêmero deus pop post mortem que ele é transformado.

"Eu sou apenas um rapaz / Latino-Americano / Sem dinheiro no banco / Sem parentes importantes", escreveu o compositor.

Tempos depois de escrever isso, Belchior se retirou. Sumiu. E ninguém, ou quase ninguém (tampouco eu), notou sua falta. E depois morreu. E agora que ele morreu, aparecem as demagogias de jornalistas 5 estrelas e os sentimentalismos inconsoláveis, e as opiniões segundo as quais nada nem  ninguém foi tão grande quanto Belchior no universo terreno, nem Chico, nem Caetano, nem Rolling Stones ou Beatles.

Ora, creio que o próprio Belchior talvez achasse isso tudo ridículo, e dissesse: "menos, pessoal". Ao contrário de muitos heróis do mundo pop, onde o que impera é o ego. Ele morreu em silêncio. O resto é mídia e Freud explica.

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