quinta-feira, 14 de fevereiro de 2013

Grandes atores (2)


Henry Fonda (1905–1982)


Como Frank, no filme do diretor italiano Sergio Leone

Na cena do duelo final do épico Era uma Vez no Oeste (Sergio Leone, 1968), os dois contendores, Frank (Henry Fonda) e Harmonica (Charles Bronson), estão se preparando para o último embate da vida de um ou outro. Bronson, que talvez tenha feito nesse filme sua única interpretação digna de nota na carreira, olha fixo ao homem com quem tem contas a acertar. Enquanto caminha, na cena impressionante, Bronson fixa o oponente com um olhar penetrante e parado, enquanto Frank/Fonda demonstra apenas com a expressão facial, e principalmente o olhar, que a dúvida assalta seu espírito. A certeza contra a dúvida precede o duelo de fato.

A cena em que culmina o maior western de todos os tempos é simbólica da grandeza de Henry Fonda. O personagem de Bronson evidentemente tinha de ter a certeza, mas não seria qualquer um que poderia interpretar a dúvida. Coube a Fonda, no filme do diretor italiano. A dúvida exige muito de um ator.

Era uma Vez no Oeste, que traz ainda Claudia Cardinale, Jason Robards e outros, vale a pena ser visto se você gosta de assistir a filmes motivado por atuações de grandes atores. Se não fosse suficiente o elenco estelar e a música maravilhosa de Ennio Morricone, Henry Fonda sozinho já bastaria como motivo para assistir a essa obra-prima que é o filme de Leone (post neste link: Favoritos do cinema (3): Era uma vez no Oeste).

Vi recentemente um filme que reúne nada menos do que Henry Fonda com Alfred Hitchcock: O Homem Errado (1956). O protagonista Manny Balestrero (Fonda), um homem pacato de classe média, é envolvido num crime que aparentemente não cometeu, e uma sucessão de acontecimentos kafkianos o vai enredando na trama. Curiosamente (porque é uma película pouco falada) é um dos melhores filmes que vi do mestre Hitchcock. Comparando o icônico Janela Indiscreta, por exemplo, com O Homem Errado, dois filmes do mesmo genial diretor inglês, é possível entender por que um ator pode ser a alma de um filme, enquanto outro apenas “lê” o roteiro.

Demorou muito tempo pra eu entender por que não gostei tanto assim de Janela Indiscreta (um filme intocável para a crítica), e enfim entendi que a atuação limitada e inexpressiva de James Stewart contribui decisivamente para isso, além, talvez, do esquematismo formal e frio que enfraquece a trama e o suspense. Enquanto este filme é prejudicado por esses fatores, em O Homem Errado Hitchcock acerta no ator (Fonda), enquanto no outro erra (Stweart). Assim é com Henry Fonda. Seus personagens ganham vida, enquanto os de outros atores não saem do papel (do roteiro).

 Leia também:

Gandes atores (número zero): Vincent D'Onofrio: um grande ator nem sempre é um superstar

Gandes atores (1): Anthony Hopkins, Gene Hackman, Marlon Brando, Rod Steiger


Gandes atores (3): Paulo José: Macunaíma, Quincas Berro D'Água e O Palhaço

5 comentários:

Paulo M disse...

Esses posts sobre atores são bons também pra gente "brincar", puxar da memória e relembrar bons filmes e grandes interpretações. Muito legal...
Lembrei de um ator rsrs que, acho, tem um trabalho inestimável com tal, embora seja mais famoso por seus filmes: Woody Allen.
Na verdade, nem dá pra dizer que ele "é mais famoso pelos filmes" que fez, porque seus trabalhos como ator e diretor se fundem, são uma coisa só. Certamente Allen não é o único ator exclusivo de suas próprias criações, mas o que tem essa característica de forma mais marcante. Não o imagino interpretando personagens que não sejam seus. Mas também não imagino muitos de seus protagonistas encarnados em outros atores, pois só Woody Allen sabe interpretar os principais alteregos de Woody Allen.
Bom, essa cena de "Era uma vez no oeste" é realmente espetacular. Muito boa a foto (e também a descrição da cena no post) do Henry Fonda.
Do mesmo diretor, Sergio Leone, "Três homens em conflito", ou, em inglês traduzido, "O bom, o mau e o feio", com ótimo trabalho de Clint Eastwood.

Eduardo Maretti disse...

Bom, eu adoro Woody Allen, como já pude expressar por aqui...

http://fatosetc.blogspot.com.br/2009/12/contra-o-tedio-woody-allen.html

Allen tem a ver com Chaplin, nesse sentido de não ser "o único ator exclusivo de suas próprias criações". Nesse sentido, W.A. é aquele ator que se especializa em interpretar a si mesmo. E, como acontece com Chico Buarque, sempre prefiro as músicas de Chico cantadas por ele.

No ótimo Tudo pode dar Certo (2009), o ator Larry David faz o papel de Allen, se ele atuasse no filme. Por melhor que seja com Larry David, seria melhor com Woody.

Embora seja um ótimo ator, acho que é melhor como diretor. E ele sabe muito de atuação, aliás, pois é um extraordinário diretor de atores – vide Hanna e suas irmãs, Manhattan ou o lindo Simplesmente Alice, com Mia Farrow, entre muitos outros.

Enfim, Woody Allen é um caso à parte.

Abraços

Daniel disse...

Edu, no teu primeiro post sobre “grandes atores” em quanto ia lendo as descrições desta ou daquela cena, eu fui revivendo na minha memória aqueles que eu também tinha visto e me deu uma vontade de assisti-los de novo, mesmo que já os vi algumas vezes, pois bem, creio que é ai que radica o talento ou melhor, é ai que podemos identificar quando um ator/atriz fez um grande trabalho, quando apesar de o filme talvez nem ser tão bom a gente acaba repetindo a dose só pelo gostinho de acompanhar talvez uma única cena que como dizem os cinéfilos ; “salvou o filme”. Muitos atores bons carregam nas costas filmes ruins, é claro que a gente não fica assistindo eles uma e outra vez mas, pelo menos comenta a participação, já atores ruins não carregam nada, pelo contrario, se o filme for bom só evidencia ainda mais sua falta de talento . Muitos trabalhos ruins tem sido elogiados por “críticos de cinema” por algum interesse (político,econômico, sei lá) e vice-versa, por isso insisto em que o talento se mede pelo impacto que um ator/atriz produz no publico a despeito do que os críticos de plantão possam dizer (o único critico que eu considero crível é você....sem puxasaquice..rsrsr).
A profissão de ator tem o dom de nos transportar no tempo, na geografia, no universo dos sonhos, que é a única coisa que ninguém nunca poderá nos tirar “sonhar”.. ..e cinema não é isso, um sonho que por duas horas (ou em torno disso) se realiza?.....ou vai me dizer que já no se viu na pele do mocinho (o do vilão) do filme?.....quem vai me dizer que no sente a alma lavada quando o excelente Wagner Moura aplica uma baita surra no Secretario de Segurança em “tropa de elite II” ?....só para ficar num exemplo tupiniquim....abraços!!

Daniel R.

Eduardo Maretti disse...

Daniel, concordo com tudo o que você diz. Só acrescento que em alguns casos alguns grandes diretores conseguem extrair "suco de pedra", ou seja, fazer atores medianos ou mesmo ruins irem além do que se espera (o caso de John Travolta em Pulp Fiction, por exemplo: quem vê diz: "nossa, o Travolta é muito bom..." - hehe).

Saudades de nossas tertúlias cinematográficas, pena que estás tão longe.

Alexandre M. disse...


Mas será que dá pra imaginar, p ex, Fonda fazendo o mesmo papel que James Stewart faz em Janela Indiscreta? Henry Fonda me parece ser um ator que extrapola sua própria grandeza.
Como Pacino, De Niro, Nicholson, Mastroiani, Bronson em Era uma vês no Oeste, mesmo sendo um filme que o consagrou, mas isso já é o suficiente para uma estrela. Nada tira o brilho de uma estrala, a partir do momento em que ela começa a brilhar. Não há outra pessoa nesse filme, que não fosse Charles Bronson para figurar o Harmônica. Mas essa grandeza se culmina no melhor de Leone. Uma confluência de grandezas num mesmo filme.
Três Homens em conflito, Il buono, il bruto, il Cativo, outra obra de arte de Leone.
Só completando, ao comentário do meu caro Daniel, como diz um amigo meu, pai da minha mulher, 'o conhecimento ninguém nunca não pode tirar da gente', além dos sonhos de um homem.
Abraços