*Publicado originalmente às 14:18 de 07/02/11
Em 1973, o cineasta e pensador italiano Pier Paolo Pasolini fazia o seguinte comentário sobre a televisão e seu papel culturalmente desagregador e brutalmente destrutivo, analisando a massificação e a padronização da Cultura (e das culturas particulares, seus falares, dialetos e idiossincrasias):
"A responsabilidade da televisão em tudo isso é enorme. Não enquanto meio ‘técnico’, mas enquanto instrumento de poder e poder ela própria. (...) É no espírito da televisão que se manifesta concretamente o espírito do novo poder. (...) O fascismo, no fundo, não foi capaz nem de arranhar a alma do povo italiano: o novo fascismo, através dos novos meios de comunicação e informação (especialmente a televisão) não só a arranhou, mas a dilacerou, violentou, contaminou para sempre." (do livro Os Jovens Infelizes – Antologia de Ensaios Corsários, Editora Brasiliense, 1990.)
Quem leu Pasolini – o grande cineasta diretor de Mamma Roma, Accattone, Salò – os 120 Dias de Sodoma e tantos outros – fica para sempre contaminado por uma irrevogável visão crítica da Cultura, pelo inconformismo e a incapacidade de assistir a certas coisas sem indignar-se.
É com um sentimento de repulsa que escrevo sobre o asqueroso Big Brother Brasil (vulgo BBB), da TV Globo, programa pervertido, boçal e pernicioso ao qual jamais assisti. Dia desses entrei numa padaria para tomar um lanche e eis que a televisão do estabelecimento estava ligada nessa excrescência. Como eu estava morto de fome e a padaria era a única por perto, comi o lanche de costas para a TV. Ao sair, disse à moça responsável pelas “comandas” que da próxima vez que fosse ali nem entraria se a TV estivesse ligada no programa. Ela me olhou em silêncio, com um ar desdenhoso, como se o idiota fosse eu, e não disse nada.
Quem leu Pasolini – o grande cineasta diretor de Mamma Roma, Accattone, Salò – os 120 Dias de Sodoma e tantos outros – fica para sempre contaminado por uma irrevogável visão crítica da Cultura, pelo inconformismo e a incapacidade de assistir a certas coisas sem indignar-se.
É com um sentimento de repulsa que escrevo sobre o asqueroso Big Brother Brasil (vulgo BBB), da TV Globo, programa pervertido, boçal e pernicioso ao qual jamais assisti. Dia desses entrei numa padaria para tomar um lanche e eis que a televisão do estabelecimento estava ligada nessa excrescência. Como eu estava morto de fome e a padaria era a única por perto, comi o lanche de costas para a TV. Ao sair, disse à moça responsável pelas “comandas” que da próxima vez que fosse ali nem entraria se a TV estivesse ligada no programa. Ela me olhou em silêncio, com um ar desdenhoso, como se o idiota fosse eu, e não disse nada.
Como temia Pasolini em relação à sua amada Itália, em nosso país a televisão – uma concessão pública, lembremos – transformou a esmagadora maioria dos brasileiros numa massa amorfa, acrítica e incapaz de julgar por si mesma (por favor, não falo de conjunturas meramente eleitorais), incapaz muito menos de preservar sua cultura e suas tradições, as culturas particulares, a criatividade, os falares. Não sei se o próprio Pasolini podia imaginar o quão baixo a televisão chegaria.
E não venham me dizer que o povo é apenas uma vítima. Como dizia Jean-Paul Sartre, “não há vítimas inocentes”.
Leia também: Favoritos do cinema (5): Pasolini
5 comentários:
Julgo preconceituosamente pessoas que vêem BBBBBBBB...
Poxa, cara, a tv tem tanta coisa ruim, que não deixa de ser muito sensata a postura de evangélicos que não a têm em suas casas, por considerarem-na obra do demo.
Cara... de todas as definições que já ouvi do big brother a tua é a melhor: "excrescência".
Não vou fazer um discurso sobre como uma série de fatores levam a um gosto massivo pelo lixo televisivo. Uma educação pobre é um dos fatores. Educação pobre = transmissão cultural pobre. A pobreza nos espíritos é que faz com que a subprogramação televisiva se torne tolerável e até idolatrada, o que para mim não conduz a uma vitimização do telespectador. Se você adora o lixo, você adora o lixo.
E dizem que o Pedro Bial escrevia poesia e vendia nos barzinhos da boemia carioca na época da faculdade. Para um cara com essa sensibilidade, é triste ver como se tornou o protótipo do subjornalista animador de circo. PRONTOFALEI!
Não tinha visto o post à época, então comento só agora.
Eu gosto de Big Brother. Não sou fã, não me descabelo, mas vejo vez ou outra.
Considero uma forma divertida de entrenimento. Sim, isso mesmo, entretenimento! Como jogar um videogame, assistir a um jogo de futebol ou uma comédia qualquer.
Ao falarmos do BBB, não podemos esquecer que se trata de uma fórmula - como 99% das coisas da TV nacional - importada. Vem de outros países, que veiculam, certamente, mais tranqueira do que a televisão nacional. E nestas nações, mais desenvolvidas que a nossa, a população não ficou burra por causa de big brothers não...
O "Saló", não sei se forçando um pouco a barra, é um anti-Big Brother, porque expõe justamente os podres do entretenimento e da curiosidade doentia pelo prazer sadomasoquista que o BBB, na tela, descreve como um jogo de atrações. A televisão é uma invenção fantástica infelizmente a serviço do grande capital. Me lembro que quiseram, muitos anos atrás, censurar filmes violentos na TV, sob a alegação óbvia de que estes fomentavam a violência social. Aí a democracia ditada pela Globo virou sinônimo de permissividade e falta de ética.
Postar um comentário