Clint Eastwood é um diretor especial. Ele pode desagradar a quem não gosta de violência ou do gênero western. Ou irritar os que evitam os filmes “água-com-açúcar”. Mas Eastwood é tão bom diretor que, paradoxalmente, emociona tanto uns como outros, seja com a brutalidade permeada de poesia de Os Imperdoáveis, seja com a aparente pieguice de Além da Vida (HereAfter, no título original muito melhor), que está em cartaz em São Paulo e Brasil afora.
O médium George Lonegan (interpretado pelo ótimo Matt Damon) recebe comunicações dos mortos, mas sua capacidade de ajudar as pessoas com esse “dom” se torna um peso, "uma maldição" da qual ele tenta se livrar. E as histórias paralelas (de um menino – George McLaren – que perde o irmão gêmeo, de uma jornalista famosa que teve uma experiência de quase-morte, aqui a bela Cécile De France no papel de Marie LeLay) acabam por se encontrar na trama desse drama de Eastwood, com suas sequências longas, fotografia exuberante e direção de atores como sempre muito competente.
Além da Vida, coproduzido por Steven Spielberg (o que explica a espetacular sequência inicial, por exemplo), está muito longe de ser uma obra-prima. Mas há bastante tempo eu desisti de achar que o cinema tem de ser político, esteticamente revolucionário ou veículo de transformação. Cinema pode ser tudo isso, claro; mas não é nenhum pecado que não seja. Cinema tem que ser cinema. Apesar da enorme diferença de gênero e estilo, numa coisa os filmes de Clint Eastwood podem ser comparados aos de Woody Allen: “mesmo quando é ruim, é bom”.
As qualidades sempre presentes nos filmes de Clint (a delicadeza mesmo quando fala de temas ásperos como a morte, a direção de atores, a fotografia) estão também em Além da Vida, filme que trata de um tema tornado absolutamente piegas pela produção brasileira Chico Xavier, dirigido por Daniel Filho, o global. No filme de Clint Eastwood, o tema espiritismo é apenas mais um pretexto para fazer bom cinema.
Como diz André Setaro em post no seu blog: “Clint, o Dirty Harry vingativo dos anos 70, ou o pistoleiro sem lei e sem alma dos westerns de Sergio Leone, transformou-se através do tempo e se tornou um dos cineastas mais respeitados do cinema americano contemporâneo”.
Na série “Favoritos do Cinema” deste blog, ainda preciso postar um texto sobre Os Imperdoáveis, filme que o diretor dedicou a Don Siegel e Sergio Leone, este sim uma obra-prima. Farei isso qualquer hora dessas.
Veja o trailer (legendado) de Além da Vida (HereAfter)
3 comentários:
Para mim, o Clint é um raro caso de competência adquirida.....já que no inicio da sua carreira só fazia papeis fáceis de interpretar, mocinhos, etc,(sempre o mesmo estilo) favorecido pelo seu bom porte físico e um ótimo diretor atrais das câmeras (Sergio Leone).
Mas o Clint foi inteligente e se dedicou a assimilar/aprender tudo o que pode com seus mestres e acabou desabrochando na idade madura no excelente diretor em que se transformou, acrescentando inclusive a sua carreira,atuações sensíveis, como a de "menina de ouro".
Tirando a fase Don Segal, sempre é bom ver o Clint, seja atrais ou na frente das câmeras.
Boa lembrança essa da fase Don Siegel, Daniel.
Filmes como "Meu Nome É Coogan", "Alcatraz, Fuga Impossível", "Os Abutres Têm Fome" são bem ruinzinhos, mas neles Clint só está como ator. Curioso é que o grande filme de Clint Eastwood como diretor, a minha opinião, é "Os Imperdoáveis", e ele dedica esse filme a Leone e ao próprio Don Soegel, né?
Sim Edu, lembro da dedicatória ao Sergio e ao Don, nos créditos de "os imperdoáveis" que alias, concordo contigo como sendo até agora, esta obra, a sublime do Clint....não sei quantas vezes já vi mas, sei que são mais de 10 rsrsrsrs...até decorei algumas falas.
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