Valter Campanato/ Agência Brasil
Os milhões de brasileiros que ajudaram a eleger Dilma Rousseff presidente do país tivemos motivos para estar felizes no primeiro dia de 2011, e orgulhosos por termos ajudado a História chegar onde chegou. Como disse Leonardo Boff meses atrás, “terminou o longo amanhecer”.
Muitos de nós que 20, 25 anos atrás, não víamos esperanças no futuro do país e engolíamos a triste cantilena de que o Brasil era o eterno país do futuro (o que equivalia a dizer: o Brasil não pode dar certo), muitos de nós subimos a rampa com Dilma Rousseff hoje, ao mesmo tempo em que descemos a mesma rampa com o presidente mais popular da história, que, como todo bom brasileiro de fibra e de luta, àquela altura já tinha tomado umas e outras, porque ninguém é de ferro.
O espetáculo remeteu-me à Roma dos césares, aquele império que destruía culturas e nações e colocava homens para lutar com as feras, homens contra homens e feras contra feras. Mas a associação é apenas simbólica. A Brasília de hoje assistiu a um teatro mais humano e democrático, onde os mortos e feridos eram meras metáforas. Mas metáforas grandiosas.
Na série protocolar de fatos e eventos, dois dos ministros nomeados por Dilma e empossados hoje, de maneira respeitosa e/ou irônica,literalmente bateram continência para a mulher, ex-guerrilheira, e ainda por cima solteira, que pouco antes passara as tropas em revista. Uma cena memorável, Dilma Rousseff passando as tropas em revista. Os ministros que bateram continência foram José Elito Carvalho Siqueira (Gabinete de Segurança Institucional) e Paulo Bernardo (Comunicações). O primeiro, uma continência militar, respeitosa, hierárquica, mas que pareceu sincera; o segundo, uma continência política (irônica), num certo sentido mais debochada, mas nem por isso menos sincera, provavelmente mais.
Me chamou a atenção no discurso de Dilma hoje, de modo geral, incluindo as falas no Congresso Nacional e no Parlatório, seu apelo à união, quando disse: “A partir deste momento sou a presidenta de todos os brasileiros”, momento em que teve que parar por um instante para engolir a emoção e o chôro.
O exemplo de Obama
Foi aí que me lembrei de Barack Obama clamando veemente e ingenuamente pela união de democratas e republicanos para tirar os Estados Unidos da crise. A política demasiadamente conciliatória de Obama demonstrou ser um equívoco, por subestimar as táticas inescrupulosas do Partido Republicano, para o qual não interessa os EUA darem certo se isso significar Obama e os democratas darem certo. E Obama sofreu a derrota conhecida nas eleições parlamentares de 2010 nos Estados Unidos.
No Brasil, a partir de agora, não acredito que a oposição, se for inteligente, fará um combate muito explícito contra Dilma. Pois eles sabem que perderam uma grande batalha política com a eleição dela, e por isso, por saber da enorme importância da eleição em 2010, jogaram tão sujo na campanha eleitoral. Daqui para a frente, a oposição tem uma ótima carta na mão, Aécio Neves, o tucano de MG. O governo popular que Dilma continua tem duas cartas: a primeira é a própria Dilma; a segunda carta é o agora ex-presidente Lula, que, se quiser, pode retornar de maneira triunfal daqui a pouco menos de quatro anos. Como diriam os mineiros, 2014 está logo ali.
2 comentários:
Foi bonita a festa, pá! Jamais tinha parado em frente a uma tv pra ver posse de ninguém - nem mesmo do Lula, até porque ele veio comemorar a vitória na Paulista, então já valeu a comemoração e o espetáculo. Mas ontem fiquei a tarde toda junto com amigos assistindo atentamente à cerimônia. Fiquei muito emocionada vendo a emoção e a fibra da nossa presidente. E fiquei feliz em ver que o discurso de posse foi, de fato, uma carta de intenções claras e diretas: o combate à miséria é a meta, dentre tantas outras metas igualmente importantes e devidamente enumeradas. Fico especialmente emocionada em poder viver esse momento. Como você disse, há alguns anos, ninguém da nossa geração acreditava que fosse possível estar vivo pra ver nosso país assim, governado por gente decente que sente vergonha da miséria histórica que existe aqui e que decidiu dedicar a vida pra erradicá-la - como tanta gente que decidiu a mesma coisa antes, mas não está mais por estas bandas (muito lindo que a Dilma tenha rendido homenagem aos companheiros de luta).
Legal. A sorte está lançada. E não a sorte, mas a capacidade de capitanear o país e dar-lhe ainda mais visibilidade. Dilma tem o biótipo de uma capitã. Tomara consiga driblar os malfeitores de boa parte da oposição e da mídia. Bom 2011 a todos. Abrs.
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