quarta-feira, 28 de agosto de 2013

O Brasil racista que envergonha o Brasil



Vergonha. Os brasileiros moralmente sadios só podemos sentir isso diante do povo cubano e principalmente dos médicos cubanos, hostilizados pelos bem nascidos da classe média odiada por Marilena Chaui.

© Jarbas Oliveira/Folhapress

Esse é um dia que vai com certeza entrar para a história.

Uma jornalista potiguar chamada Micheline Borges que diz para todo mundo ler no Facebook: "essas médicas cubanas tem (sic) uma Cara de empregadas domésticas". Notem como é significativo: ela coloca a palavra "Cara" com "C" maiúsculo, graficamente enfatizando o significado que quer dar à palavra, carregando-a de seu preconceito tosco, visceral, a expressar a cara racista da classe média brasileira travestida de doutores.

Negros vindos de Cuba são vaiados, chamados de "escravos" e hostilizados por médicos brancos que não têm noção de quantas vidas podem ser salvas nos rincões em que se negam a trabalhar, nem que seja por um tempo, como forma de devolver, em forma de trabalho, o dinheiro público que pagou muitos dos seus diplomas, que penduram em suas paredes nos consultórios cheirosos dos Jardins, em São Paulo, ou nos bairros classe média de qualquer capital do país.

Aliás, acho que me engano. Esses médicos brancos têm, sim, noção de quantas vidas podem ser salvas por alguns médicos naqueles rincões. Por isso merecem desprezo e repulsa.

Facebook da jornalista
Muito já se falou hoje (na verdade ontem) sobre o assunto. A palavra vergonha foi inclusive muito utilizada para registrar o sentimento de muitos brasileiros indignados com a atitude dessa gente egoísta e cínica e, em duas palavras, racista e xenófoba. Por isso não vou me alongar.

“(...) tem muita truculência, muita incitação ao preconceito e à xenofobia. (...) Lamento veementemente a postura de alguns profissionais - porque eu acho que é um grupo isolado - de ter atitudes truculentas, [que] incitam o preconceito, a xenofobia. Participaram de um verdadeiro 'corredor polonês' da xenofobia, atacando médicos que vieram de outros países para atender a nossa população”, disse o ministro da saúde, Alexandre Padilha.

Faço uma ressalva às palavras de Padilha. Tenho sérias dúvidas se são de fato "um grupo isolado". Pois eles expressam um pensamento disseminado e na maioria das vezes oculto, pronto a aflorar em momentos propícios, como uma doença. A chegada dos médicos cubanos (e não só cubanos, diga-se) serviu como catalisador desse preconceito recalcado e desse corporativismo sem-vergonha.

E, por fim, sim, parte significativa do Brasil é racista. Mas não só. Morre de medo do comunismo, também. Mas isso é o de menos. No fim, vai ser feito o trabalho que precisa ser feito.


4 comentários:

Paulo M disse...

Lamento que um povo de que não canso de sentir orgulho pela receptividade e hospitalidade conhecidas no mundo tenha de ouvir uma comida de rabo de sua presidente justamente por sua falta de receptividade e hospitalidade. Pior, por suas manifestações agressivas, racistas e xenófobas contra povos irmãos de raça, de sangue e de região que vieram aqui prestar serviço e ajuda. Cuba foi o único país na América que teve a coragem de mudar sua história debaixo das barbas da Flórida. Fato é que a meia dúzia representou o país diante de milhões de outros brasileiros, diante da imprensa e aos olhos do mundo. Decepcionante.

Edu Maretti disse...

É, caro Paulo,mas a receptividade e hospitalidade é do povo simples, negros ou brancos, nos sertões, nos interiores e em outros lugares onde o suposto e ilusório poder da classe média (Marilena Chaui) não é ameaçado. Os médicos cubanos ameaçam esse espaço que a tal classe média acha que é dela. Mas isso é um assunto para um post para sexta-feira.
abraços

Daniel Razon disse...

Os médicos cubanos, fizeram o juramento de hipócrates, já os que os vaiaram fizeram o de "hipocritas".....os cubanos e outros que vieram o fizeram na sua maioria por solidariedade e também (porque não)pelos 10mil que, para quem vai viver no interior e ter custos de interior é uma baita grana.
Os médicos brasileiros que não querem ir trabalhar no interior por dez paus, estão exercendo seu direito democrático de ir e vir, só que se esquecem que sua missão é heroica (em quaisquer situação) e deveriam respeita-la e honra-la. O que acontece é o mesmo que aconteceu nas manifestações de junho que, como bem disse o Edu, deixou aflorar um sentimento (ou vários)escondido e que acha seu momento de "falsa gloria" à primeira faísca que o acende...do tipo vinte centavos na passagem ou validação de títulos .
A burguesia não esta gostando nada de ver peon pegando avião junto com o patrão....que dirá médico criado a pão de ló ver seu prestigio ameaçado por MÉDICOS vindos de fora para fazer o trabalho que eles se negam a fazer em lugares que não tem o status nem o charme dos grandes centros clínicos....é claro que isto não se aplica a toda a classe medica brasileira mas, infelizmente sabemos que a uma grande maioria.
Por ultimo, esta se falando que os cubanos vieram trabalhar por migalhas e que a maior parte do salario ficara com o governo cubano....ora vejamos; quando um jogador de futebol criado nas bases de um time é vendido a maior parte fica com quem?.....com o time é claro ou com o empresario que o projetou e que bancou os custos no seu inicio.......pois bem em cuba quem banca toda a formação de seus profissionais é o governo, sem isto jamais teria uma das mais afamadas medicinas do mundo, é justo então que se ressarça dos investimentos para assim continuar a produzir médicos para seu povo e para os povos que precisem.

Alexandre disse...

embora tardiamente, acho que vale a pena essa resposta desse professor da Universidade Federal da Bahia . Isso serve para muitos séculos de racismo.

http://www.brasil247.com/pt/247/bahia247/113543/A-resposta-de-um-professor-a-uma-jornalista-racista.htm